Por SIC Notícias 25/01/2024
Boris Nadezhdine, pouco conhecido do grande público, tem despertado um entusiasmo inesperado nos últimos dias. Um segundo lugar atrás de Putin significará "um país completamente diferente" na ressaca das eleições.
O único opositor à ofensiva na Ucrânia a tentar avançar com uma candidatura às presidenciais de março na Rússia frisou que espera que estas eleições marquem o "início do fim" para o atual chefe de Estado Vladimir Putin.
Boris Nadezhdine, pouco conhecido do grande público, tem despertado um entusiasmo inesperado nos últimos dias, noticiou a agência France-Presse (AFP).
Dezenas de milhares de russos mobilizaram-se para assinar a petição necessária para registar a sua candidatura à votação, que decorrerá durante três dias, de 15 a 17 de março.
Tem poucas ilusões, pois a reeleição de Putin, no poder desde 2000, parece óbvia.
"Sei muito bem que será difícil derrotar Putin em 17 de março deste ano. A força está do seu lado, o sistema de segurança está do seu lado e um número significativo de pessoas que nunca viram nada além de Putin na televisão está do lado dele", salientou o opositor, de 60 anos.
“Talvez o fim, o início do fim da era Putin”
"Mas espero que o dia 17 de março marque talvez o fim, o início do fim da era Putin", acrescentou, numa entrevista à AFP na sua habitação, num edifício soviético da década de 1980, em Dolgoproudny, um pequena cidade a vinte quilómetros de Moscovo, onde era autoridade local eleita.
Para Boris Nadezhdine, um segundo lugar atrás de Putin significará "um país completamente diferente" na ressaca das eleições.
"Serei alguém apoiado por dezenas de milhões de pessoas", lembrou, explicando que avançou para a candidatura em outubro porque nenhuma figura mais famosa que ele arriscou.
Segundo o opositor, se cerca de 120 mil russos assinaram a sua petição de apoio, é porque um grande segmento da população quer mudança.
E assinar a favor da sua candidatura é uma forma legal de protestar num país onde a repressão impiedosa recaiu sobre os críticos do Kremlin, especialmente desde que o ataque à Ucrânia começou, há dois anos.
"Sou o único candidato ainda na disputa que critica sistematicamente as políticas do Presidente Putin e que é a favor do fim da operação militar especial", realçou, utilizando a expressão necessária para se referir à ofensiva na Ucrânia, pois os termos 'guerra' e 'invasão' são puníveis com prisão.
O opositor garante que, como presidente, poria fim ao conflito, negociaria uma solução com Kiev e também com o Ocidente, poria fim à militarização da Rússia e libertaria "todos os presos políticos".
No entanto, não comenta o futuro dos territórios ucranianos, cerca de 20% do país, dos quais Putin reivindicou a anexação.
Surpreendido com o apoio, este antigo conselheiro de Boris Nemtsov, um opositor assassinado em 2015, questionou qual seria a dimensão se pudesse falar nas televisões.
Nadejdine tem até 31 de janeiro para apresentar pelo menos 100.000 assinaturas de apoio à Comissão Eleitoral, mas esta pode rejeitar a sua candidatura se considerar que estas listas de apoio são erradas ou falsificadas.
Opositor de Putin desde 2003, Boris Nadejdine diz não ter confiança no sistema eleitoral, mas observou que quanto mais cidadãos votarem, mais difícil será falsificar o resultado.
"Não conheço outra boa maneira senão as eleições para mudar um país, para mudar o poder".
Questionado sobre a razão pela qual não foi alvo da máquina repressiva russa, Nadezhdine diz que não sabe, mas assume que o Kremlin não o vê como uma ameaça.
"Acho que eles sabem quem eu sou e aparentemente não me consideram uma ameaça terrível. Mas só posso presumir", referiu.
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