quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Discurso do PR Umaro Sissoco Embalo na 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU

  Radio TV Bantaba 


Nova Iorque, 21 de Setembro de 2023.

Senhor Presidente,

Senhor Secretário-Geral,

Excelências Senhores Chefes de Estado e de Governo,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Quero, em primeiro lugar e desta tribuna das Nações Unidas, reiterar as nossas mais sentidas condolências aos governos do Reino do Marrocos e da Líbia e expressar os nossos sentimentos de fraternal solidariedade para com os povos destes dois países amigos e irmãos.

Permitam-me endereçar as minhas felicitações ao Sr. Dennis Francis da Trinidade e Tobago, pela sua eleição na qualidade de Presidente da Septuagésima Oitava Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Desejo-lhe muitos sucessos no exercício do seu mandato. Ao seu predecessor, Sr. Csaba Körösi da Hungria, felicito pelos resultados alcançados durante a sua presidência.

Felicito igualmente o Secretário-Geral António Guterres pelo seu desempenho ao favor da paz e do desenvolvimento no mundo.

Senhor Presidente,

Os ilustres oradores que me precederam fizeram análises e observações pertinentes sobre os desafios atuais e a situação internacional, por isso, vou realçar as ações concretas que eu penso se espera de nós —as Nações Unidas.

Para a Guiné-Bissau, a melhor resposta aos desafios com os quais a comunidade internacional está confrontada, passa pelo reforço do multilateralismo e da cooperação internacional. Para nós o multilateralismo é um instrumento indispensável e um imperativo moral, se, queremos construir juntos um mundo solidário de paz e bem-estar para todos.

Nesse sentido, congratulamo-nos com a escolha e a pertinência do tema da presente Sessão da Assembleia Geral que enaltece a importância da confiança e solidariedade global, prosperidade, progresso e sustentabilidade para todos.

Senhor Presidente,

Excelências,

Espera-se de todos nós, ações concertadas com vista a concretização das nossas decisões, tais como: a realização dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a “Agenda 2063: A África que Queremos” da União Africana; garantir o financiamento do desenvolvimento e proteger de maneira colectiva e melhor o nosso planeta.

A este propósito, é preciso cumprir os acordos de Paris e da COP 27, incluindo o fundo de perda e danos para países vulneráveis, particularmente os insulares como o meu pais a Guiné-Bissau.

Senhor Presidente,

É preciso introduzir as mudanças necessárias na arquitetura da paz, da segurança internacional e no sistema financeiro mundial, para que consigamos dar resposta à atual conjuntura internacional.  

A reforma do Conselho de Segurança, de que há muito se considera como necessária, deverá tomar em conta a posição da União Africana, a fim de garantir uma representação realista e mais justa, em adequação com o papel cada vez mais preponderante da África na construção e manutenção do equilíbrio do mundo.

Senhor Presidente,

Minhas Senhoras e Meus Senhores

Desde que assumi a Presidência da República da Guiné-Bissau em 2020, apostamos no diálogo, na consolidação da paz, da estabilidade política e no desenvolvimento socioeconómico no nosso país, bem como na sub-região da Africa Ocidental e alem. São também estes princípios que nós guiaram durante o exercício do nosso mandato de Presidente da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO que assumimos com determinação e alto sentido de responsabilidade e que terminou no passado mês de julho.

A esse propósito, queremos realçar a nossa grande preocupação perante o ressurgimento de golpes de estado e o retrocesso da Democracia e do Estado de Direito em alguns países da nossa sub-região, em flagrante violação da livre escolha das populações expressa nas urnas.

Senhor Presidente,

Minhas Senhoras e meus Senhores

Apesar dos efeitos nefastos do prolongado embargo imposto ao povo de Cuba, esse país irmão sempre esteve e contínua ao lado dos países da África.

Reiteramos o nosso apelo para pôr fim a este injusto e irracional embargo e acabar com este obstáculo à realização das legítimas aspirações do povo cubano. O mesmo sucede com o povo irmão de Venezuela, a quem também não podemos esquecer e devemos demonstrar a nossa solidariedade.

Senhor Presidente,

Como sabem, faz um ano que assumi o cargo de Presidente da Aliança de Líderes Africanos contra a Malária. Como Chefes de Estado e de Governo, continuamos em África a dar prioridade à luta contra a malária. Graças a esse esforço, mais de 1,5 mil milhões de casos de malária foram evitados e 10,5 milhões de vidas foram salvas em África desde do ano 2000.

E por isso, faço um apelo a África e à comunidade internacional à ação. Se quisermos alcançar as metas globais para 2030 de acabar com as epidemias de malária e alcançar a cobertura universal de saúde, precisamos de agir agora.

Senhor Presidente,

Excelências,

Este ano o povo da Guiné-Bissau comemora os seus 50 anos de existência enquanto Estado independente e soberano. Perante este facto, como mandatário da Nação guineense, agradeço a extraordinária ajuda dada a nossa luta de libertação nacional pela Ex-União Soviética, República da Guine, Cuba, Argélia e Marrocos e outros países, como igualmente as Nações Unidas na sua histórica visita as nossas regiões libertadas, onde confirmou a existência de um controlo político, administrativo e militar efectivo.

Por esta ocasião solene dos 50 anos da nossa independência, o povo guineense, reforça a sua determinação e energia com vista a consolidação da unidade nacional e vai mobilizar-se ainda mais para, como plasmado no hino nacional, “construir na pátria imortal a paz e o progresso”.

Senhor Presidente,

Para terminar, quero, em nome Povo da Guiné-Bissau, reiterar o nosso engajamento e constante disponibilidade em continuar a trabalhar com a ONU e a cooperar com todos os governos e povos amigos, em prol da paz e do desenvolvimento no mundo, bem como da proteção do nosso planeta.

Muito obrigado.


Veja Também:

 Presidência da República da Guiné-Bissau

CANCRO DA MAMA: "Se estão a ler isto é porque morri." Após 5 anos, cancro venceu Nicky... Mulher lutava contra cancro na mama.

© Instagram

Notícias ao Minuto   21/09/23 

Nicky Newman, jovem conhecida por estar a travar, há cinco anos, uma luta contra um cancro na mama, morreu aos 35 anos.

A luta de Nicky começou aos 30 anos, quando sofreu um aborto. Ao deslocar-se ao hospital, acabou por descobrir que tinha um cancro na mama, já sem cura.

Desde esse momento, a mulher decidiu ser uma voz ativa na luta contra a doença.

Sob o lema 'Agarrar a vida', Nicky sempre defendeu a necessidade de ajudar as mulheres a descobrirem precocemente se sofrem de cancro, para evitarem passar pelo mesmo que ela.

A ativista, que contava com mais de 300 mil seguidores, quis deixar uma mensagem a  todos aquando da sua morte. Assim, a mulher escreveu uma mensagem uma semana antes de morrer e que foi agora partilhada.

"Se estão a ler isto é porque morri, embora já tivesse morrido há cinco anos e meio", começa por escrever.

"Acho que nunca estamos preparados para ouvir estas palavras, pensamos que somos indestrutíveis e que vai aparecer uma cura mágica, mas a verdade é que todos nós vivemos esta vida dia após dia", prossegue, pedindo ao seus seguidores que lhe prometam "que vão acarinhar aqueles que vos rodeiam e dar aos vossos amigos e entes queridos os maiores abraços! VIVA A VIDA!".

A publicação foi feito pelo marido de Nicky que numa publicação a seguir partilhou uma imagem dos dois, em homenagem à mulher, e onde diz que esta era o seu pilar.


Exército ucraniano reivindica ataque a aeródromo militar russo na Crimeia

© Reuters

POR LUSA   21/09/23 

O exército ucraniano reivindicou hoje ter atacado um aeródromo militar russo perto da cidade de Saky, na Crimeia, a península ucraniana anexada por Moscovo que serve de base à Rússia para a invasão da Ucrânia.

"As forças de defesa ucranianas realizaram um ataque combinado contra um aeródromo militar dos ocupantes perto da cidade de Saky", disse o centro de comunicações do exército na rede social Telegram, sem avançar mais pormenores.

Uma fonte do serviço de segurança ucraniano (SBU) afirmou à agência noticiosa France-Presse (AFP) que se tratou de uma operação conjunta dos serviços secretos e das forças navais.

Os ucranianos recorreram a um grande número de 'drones' (aeronaves voadoras não tripuladas) "que esgotaram o sistema de defesa aérea russo antes de [as forças de Kyiv] lançarem os projéteis 'Neptune'", um novo míssil de cruzeiro de fabrico ucraniano com um alcance de 300 quilómetros, acrescentou a fonte.

O ataque, ainda não confirmado por fontes russas, infligiu "sérios danos ao equipamento dos ocupantes", enquanto pelo menos 12 caças 'Su-24' e 'Su-30' estavam no aeródromo no momento do ataque, disse a fonte, prometendo que Kyiv iria intensificar os seus ataques contra a península.

A Crimeia, sob controlo de Moscovo desde 2014, é cada vez mais alvo dos ataques ucranianos.

Quarta-feira, as autoridades instaladas pela Rússia na Crimeia anunciaram que tinham frustrado os ataques de mísseis e 'drones' ucranianos contra Sebastopol e a zona em redor deste importante porto utilizado pela frota russa.

De acordo com o governador de Sebastopol, Mikhail Razvojaev, as forças ucranianas atacaram a cidade com mísseis e duas cidades vizinhas, Katcha e Verkhnessadovoye, com 'drones'.

A 13 deste mês, um ataque danificou dois navios e feriu 24 pessoas num estaleiro naval em Sebastopol. Em agosto, um ataque particularmente forte envolvendo 42 'drones' visou a península, na sequência de uma operação de comando das forças ucranianas.

O exército ucraniano também tem atacado repetidamente navios russos que navegam no Mar Negro ou atracados na Crimeia e em portos russos ao longo da costa.


A Comissão CEDEAO organiza, em prol das partes interessadas nacionais, um workshop sobre o quadro continental de resultados relacionados com a agenda das mulheres, paz e segurança (FPS)

Por Ecowas - Cedeao

A Comissão CEDEAO realiza um workshop de três dias sobre o Quadro de Resultados Continentais (CCR) para monitorizar e relatar a Agenda para Mulheres, Paz e Segurança em Abuja, Nigéria. Os participantes incluem representantes de parceiros de desenvolvimento, organizações da sociedade civil, o Ministério Federal dos Assuntos da Mulher e do Desenvolvimento Social da Nigéria, o Ministro Federal dos Assuntos da Mulher, instituições de segurança e outros ministérios, departamentos e agências. O evento, que acontece de 19 a 21 de setembro de 2023, é organizado pela Divisão de Segurança Humana e Sociedade Civil da Comissão CEDEAO, em colaboração com o Projeto de Arquitetura e Operações para a Paz e Segurança (EPSAO) da GIZ, financiado pelo Ministério Federal Alemão Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BMZ).

Na inauguração, a Sra. Funke Oladipo, diretora do Desenvolvimento das Mulheres, representando a Ministra Honorária do Estatuto das Mulheres da República Federal da Nigéria, Uju Kennedy Ohanenye, declarou que desde que a Nigéria adoptou a Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre as mulheres, a paz e a segurança, o ministério, em colaboração com as principais partes interessadas, continua a implementação das iniciativas identificadas no segundo Plano Nacional, cuja terceira edição está a ser desenvolvida. O Ministério também continua a apoiar mulheres trabalhadoras da paz, bem como sobreviventes de violência sexual relacionada com conflitos que procuram justiça; está também a liderar ações para uma participação efetiva das mulheres nos processos de consolidação da paz.

No seu discurso de abertura, o diretor de Assuntos Humanitários e Sociais da Comissão CEDEAO, Dr. Sintiki Tarfa Ugbe, disse que a adoção, em 31 de outubro de 2000, da Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, estabeleceu a agenda global para as mulheres, a paz e a paz. segurança, reconhecendo o impacto desproporcional do conflito violento nas mulheres e meninas, a sub-representação das mulheres nos processos oficiais de paz e a importância de integrar uma perspectiva de género na arquitetura de paz e segurança. Além disso, o Dr. Sintiki salientou que o Quadro Continental de Resultados Simplificados (CCR) foi desenvolvido para servir como uma ferramenta sistemática de acompanhamento e relatórios sobre a Agenda FPS. Ela também mencionou que o EDEAO simplificou a ferramenta para tornar mais fácil de usar. Segundo ela, o objetivo da formação é reforçar a capacidade dos interessados para utilizar a ferramenta e fornecer os dados e informações necessários para a advocacia e mobilização de recursos na África Ocidental.

Por sua parte, Tamwakat Golit, representante do projeto GIZ-EPSAO, reiterou o compromisso da sua organização em ajudar a CEDEAO a criar sociedades justas e fortes na região da África Ocidental, através da sua política de desenvolvimento feminista visando eliminar estruturas discriminatórias contra mulheres, mulheres e mulheres. Garotas e marginais


Seminário Regional de Instrumentos de Desarmamento e Não Proliferação da África Ocidental 2023: CEDEAO e UNIDIR Vejam o Aspecto de "Gênero".

Por Ecowas - Cedeao 

Em colaboração com o Instituto das Nações Unidas para a Pesquisa do Desarmamento (UNIDIR), a Comissão CEDEAO está a organizar, de 19 a 21 de setembro de 2023 em Accra, Gana, a edição anual do seminário regional de desarmamento.

O objetivo deste seminário anual é reunir especialistas de campo para discutir os desenvolvimentos no desarmamento e controlo de armas, com um foco especial na questão do género. Trata-se também de aproveitar este evento para sensibilizar os Estados-Membros para as suas obrigações de desarmamento.

O seminário permitirá que os Estados-Membros troquem ideias e partilhem as melhores práticas e, em última análise, colmatem as lacunas de compreensão e promovam uma cultura de desarmamento, igualdade de género, não proliferação e controlo de armas em todo o mundo. EU DESISTI.

Além disso, o seminário visa estabelecer pontos focais permanentes, que serão responsáveis por acompanhar os sucessos alcançados neste campo e contribuir para perpetuar os ganhos.

A série anual de seminários será também uma oportunidade para realizar debates muito variados sobre vários temas, com análise de especialistas de várias partes do mundo, a fim de rever as questões essenciais.

A agenda deve incluir as seguintes questões, obrigações e compromissos: a) armas de destruição maciça; b) integrar uma perspectiva de "sexo" sobre o controlo de armas convencionais; c) Convenção sobre Armas Químicas (CAC) e Convenção sobre Armas Biológicas e toxinas (CABT); d) armas convencionais; e) armas ligeiras e de pequeno calibre (ALPC).

Os resultados do seminário anual permitirão uma melhor avaliação do controlo regional de armas, bem como dos regimes de desarmamento de armas e não proliferação, com base em prioridades anuais e relacionadas com questões de género.

No seu discurso principal, o Sr. Samuel William Yeboah, Secretário Executivo da Comissão Nacional de Armas Pequenas e Ligeiras do Gana, salientou a importância desta reunião regional, recordando os esforços contínuos do Gana no combate à proliferação de armas ligeiras e pequenas.

Pela sua parte, o Sr. Roben Geiss, diretor da UNIDIR, agradeceu ao CEDEAO por esta colaboração e incentivou os participantes a contribuírem para que a reunião fosse um sucesso. Ele instou-os a prosseguirem ações para combater o tráfico ilícito e o contrabando de armas nos Estados-Membros, bem como a violência baseada no género, que é o seu corolário.

M. Joseph Ahoba, em nome do Embaixador Abdel Fatau Mussa, Comissário para os Assuntos Políticos, Paz e Segurança, recordou a importância deste seminário que abordará uma série de questões e iniciativas de escala nacional e regional, incluindo planos de ação destinados a colmatar o fosso entre o governo. Controle de Armas Leves e Pequenas (ALPC) e Controle de Gênero.

Representando a Ministra do Interior do Gana, Adelaide Anno-Kumi, diretora-geral do Ministério dos Assuntos Internos e do Desarmamento, reconheceu que a proliferação de armas convencionais persiste apesar dos recentes esforços e iniciativas dos Estados e das agências regionais.

Por isso, encorajou os Estados-Membros a prosseguirem os esforços para travar este flagelo de grande preocupação na África Ocidental.

No final destes três (3) dias de trocas, será publicado um relatório pelos participantes e apresentado posteriormente para aprovação da equipe de liderança do CEDEAO.


COMISSÁRIO DA UEMOA DE PLANEAMENTO TERRITORIAL COMUNITÁRIO E TRANSPORTES DEFENDE A RETOMA DA OBRA DE CONSTRUÇÃO DE "ESTAÇÃO DE PESAGEM" NO PAÍS.

Por Ministério das Finanças

- O Comissário da União Económica Monetária Oeste Africana, (UEMOA) do Departamento de Planeamento Territorial Comunitário e Transportes, Jonas Gbian reuniu-se nesta quarta-feira (20.09) com o Ministro da Economia e Finanças, Suleimane Seidi.

Objectivo primordial do encontro, era solicitar a intervenção do Ministro Suleimane Seidi no sentido de viabilizar a construção da "Estação de Pesagem" em Safim, facilitando assim a circulação de mercadorias e controlo de "Gabarito".

A infraestrutura de controlo dos transportes em questão existe em todos os países da UEMOA, exepto na Guiné-Bissau e, desempenha um papel fundamental na circulação dos transportes com mercadorias.

Outrossim, esse projecto da UEMOA, orçado em mais de um bilião de francos é crucial para a conectividade e o desenvolvimento do comércio na comunidade sub-regional.

Face esta situação, o Ministro da Economia e Finanças, Suleimane Seidi prometeu intervir no sentido de materializar a construção desta "Estação de Pesagem" no país, assim como, conhecer de perto o processo de indemnização dos ocupantes tradicionais que impendem ainda o início das obras.


3a Comissão Ministerial de Pilotagem do Projeto de Desenvolvimento de Cabos Submarinos Amilcar Cabral.

Por  Ecowas - Cedeao 

O trabalho foi lançado pelo Ministro Ousman BAH responsável pela Comunicação e Economia Digital da Gâmbia e pela comissária Sédiko DOUKA responsável pela Infraestrutura, Energia e Digitalização do CEDEAO na presença dos Ministros das TIC e/ou Representantes de Cabo Verde, Guiné Bissau Libéria e Serra Leone.

Também estiveram presentes o Sr. Abdou KOLLEY, diretor de Gabinete do Presidente da Comissão CEDEAO, representantes das instituições parceiras (BIDC, BOAD, Banco Mundial) e o setor privado.

20 de setembro de 2023.

O Banjul, na Gâmbia.


Comemoração do Dia Internacional da Paz _ 21 de Setembro. O evento organizado conjuntamente pela Assembleia Nacional Popular e Observatório da Paz sob lema: "A Paz Começa Comigo".

Radio Voz Do Povo 

"O medo passa a fazer parte da vida das famílias de crianças com cancro"

© Reprodução/ Acreditar

Notícias ao Minuto   21/09/23 

Margarida Cruz, diretora-geral da Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro, é a convidada desta quinta-feira do Vozes ao Minuto.

Setembro é o mês internacional de sensibilização para o cancro pediátrico e, por isso, é um momento muito especial para as crianças e jovens com cancro e as suas famílias. A este propósito, a Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro lançou uma campanha com o mote 'O cancro do meu filho mudou tudo', uma vez que o aterrador diagnóstico traz alterações profundas à vida destas famílias.

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, a diretora-geral da associação, Margarida Cruz, destaca que o impacto da doença "é muito maior do que aquele que as pessoas pensam", nomeadamente no que diz respeito à perda de rendimento e aumento das despesas, à falta de apoio psicológico para os pequenos doentes e família, na inclusão dos irmãos no processo de tratamento, na alta e no luto, e na discriminação que os pais sofrem no emprego na sequência de longas ausências.

Apesar de ser uma doença rara em crianças, são diagnosticados cerca de 400 casos por ano em Portugal. A taxa de sobrevivência é de cerca de 80%, no entanto, Margarida Cruz destaca que há um "custo de sobrevivência", uma vez que "dois terços" desses pacientes "têm sequelas e, desses, mais de metade têm sequelas graves", nomeadamente devido à agressividade dos tratamentos a que são submetidos.

"Não posso deixar de referir que continua a haver muito pouco investimento nos tratamentos em idade pediátrica e isso terá seguramente consequências na qualidade dos tratamentos destes jovens", afirmou a responsável da Acreditar, salientando a importância do "investimento na oncologia pediátrica" e ainda os desafios vividos por estes jovens, como a "discriminação económica" porque tiveram um cancro que os irá acompanhar para a vida.

"A vida deles não volta a ser como era, assim como a vida dos pais", lamenta Margarida Cruz.

A vida dos pais de crianças com cancro tem um impacto tremendo, não apenas na questão da saúde, mas do ponto de vista socioeconómico

Setembro é o Mês Internacional de Sensibilização para o Cancro Pediátrico. Este ano o mote é 'O cancro do meu filho muda tudo'. Em que consiste esta campanha? 

É, no fundo, falar sobre a questão de como ter um filho com cancro afeta a vida das pessoas em seu redor e explicar um bocadinho a quem não passou por essa experiência que o impacto é muito maior do que aquele que as pessoas pensam. É claro que quando se pensa num cancro e pensa num filho doente, pensa-se imediatamente em hospital, tratamento e sofrimento físico. E tudo isso está lá presente e é uma coisa que afeta as crianças ou jovens enquanto estão doentes e depois de terem estado doentes, porque há sequelas - dois terços dos jovens sofrem sequelas sobretudo pela agressividade dos tratamentos - e a vida deles não volta a ser como era, assim como a vida dos pais.

Foi, nesse sentido, que um conjunto de mães que passaram por esta experiência quiseram dar voz à campanha de sensibilização que a Acreditar está a realizar, explicando que a vida dos pais de crianças com cancro tem um impacto tremendo, não apenas nestes aspetos que estava a falar que tem a ver com a questão da saúde, mas também do ponto de vista socioeconómico, porque a maioria tem de se deslocar para que os filhos façam tratamentos, que são apenas feitos no Porto, Lisboa e Coimbra, portanto, o resto das famílias tem de se deslocar, o que significa sempre uma despesa acrescida, não só para as deslocações, dependendo da frequência das mesmas, como para arranjar alternativas para os outros irmãos, que ficam em casa e às vezes precisam de um apoio, de um reforço. Tudo isto são acréscimos numa altura em que as pessoas veem de facto reduzidos os seus rendimentos.

Além da questão emocional, a parte económica é a mais preocupante...

A maior parte dos trabalhadores por contra de outrem vê o seu rendimento reduzido a 65% [subsídio para assistência a filho com doença oncológica] ao mesmo tempo que estão a ter mais despesas. No fundo, aquilo que nós estamos a tentar sensibilizar a sociedade e o poder político é pedindo que estas famílias tenham rendimento líquido equivalente ao que tinham antes da doença, não estamos a pedir mais, apesar de eles terem despesas acrescidas, mas pelo menos que mantenham o rendimento líquido disponível. Mas, se nós pensarmos nas pessoas que têm um pequeno negócio, seja qual for, deixam de trabalhar de todo. E portanto essas se calhar nem esse rendimento conseguem. É muito penalizador e não estamos a falar num mês. Estamos a falar de uma doença que requer, em termos médios, uma ausência da mãe ou do pai, às vezes de ambos, durante dois, três anos. Estamos a falar de um tempo longo.

Há ajudas governamentais que apoiem estas famílias, além do recebimento desse subsídio?

Sim, há mais alguns apoios, dependendo das circunstâncias, que as pessoas têm de tratar necessariamente quando entram no hospital e são normalmente as assistentes sociais dos hospitais que agilizam este tipo de informação aos pais. Mas até aí há algumas questões muito relevantes, porque muitas vezes a assistente faz o seu papel profissionalmente e dá a informação, mas quando um pai ou uma mãe entra no hospital com um filho com cancro, a capacidade de absorção de informação não é muito grande, nem sempre se apercebem de tudo aquilo que podem fazer, como é que podem tratar, às vezes a informação não entra e dizem que não a receberam. Às vezes recebem, mas está como se fosse uma nuvem. E, além disso, é muito burocrática. As pessoas têm de se deslocar a determinados locais para tratar de toda essa documentação numa altura em que não podem largar um filho que está doente. Portanto, a própria fórmula é complexa e difícil de obter para algumas destas famílias. Nós, Acreditar, temos dado apoio a bastantes famílias neste ponto de vista, que não sabem exatamente quais são os seus direitos, até onde é que vão, e, em meu entender, podia ser uma coisa mais simples. Mesmo online deveria ter uma linguagem que seja fácil, onde não haja 20 endereços para distribuir em vários locais diferentes.

Por acaso, sei que há hospitais – não é o caso dos Institutos Portugueses de Oncologia (IPO) nem do Hospital Pediátrico de Coimbra – que têm uma pequena divisão com um funcionário da Segurança Social dentro do próprio hospital, uma coisa simples que, para hospitais grandes com muita gente, é uma opção de uma facilidade incrível, mesmo que não seja a tempo inteiro.

O medo que acompanha os pais não acaba quando lhes dizem que o filho está curado. O medo passa a fazer parte inerente da vida destas pessoas

Um diagnóstico de cancro numa criança muda a vida da família inteira e um dos grandes impactos da doença são os irmãos. Quais são os grandes desafios durante e após o processo? 

Falamos muito pouco dos irmãos das crianças com cancro, mas os irmãos sofrem o afastamento dos pais, às vezes durante muito tempo, o facto de estarem longe do irmão ou da irmã doente e serem muitas vezes excluídos do próprio processo de acompanhamento e tratamento. Basta pensarmos que, na maioria das vezes, não podem fazer visitas aos hospitais e estarem com os irmãos, o que aconteceu durante toda a pandemia. Crianças doentes, que estavam com limitações nas visitas, e não puderam ver os irmãos durante praticamente todo o tempo da pandemia são situações muito penalizadoras. Dei o exemplo da pandemia, que é uma exceção, mas o impacto na vida destes irmãos não é uma exceção, em todos eles têm um impacto grande e todos eles se sentem mais ou menos postos de lado. Já cheguei a ouvir irmãos a perguntarem-se em voz alta porque é que não são eles que estão doentes. Isso significa que toda a atenção está concentrada no doente, logicamente, mas às vezes as crianças não percebem e isso vai ter um impacto nelas e na vida delas para o futuro.

Muitas vezes há complexos de culpa por deixar os outros filhos em casa a cargo de outras pessoas. São processos muito complicados para gerir e depois é a própria gestão do medo que os acompanha, que não acaba quando lhes dizem que o filho está curado. O medo passa a fazer parte inerente da vida destas pessoas, até porque muitas crianças, quando estão doentes, não se apercebem da gravidade da doença que têm e acabam por se adaptar de alguma forma, com umas grandes aspas neste adaptar… Mas conheço crianças para quem a vida de hospital é quase a normalidade da sua vida, eles não se apercebem do impacto. Os pais sim, apercebem-se do risco, dos altos e baixos dos tratamentos, num dia parece que as coisas estão a correr muito bem, no dia seguinte as coisas já não estão a correr tão bem, portanto, acho absolutamente essencial que houvesse um apoio psicológico de qualidade.

Os pais tornam-se o pilar dos filhos durante a doença, têm de suportar a dor do filho e a sua própria dor, enquanto a vida dá uma volta de 180º… O apoio psicológico disponível é insuficiente?

O acompanhamento psicológico em Portugal - como se sabe, ainda recentemente, houve notícias sobre isso para a sociedade em geral – é escasso e nos hospitais é muito difícil conseguir obter esse acompanhamento para os doentes, para os cuidadores e depois para a família que está doente também, porque toda a família fica um bocadinho doente também.

Aquilo que se passa nos hospitais é que não há técnicos que cheguem para dar apoio a todas as famílias que precisam. As instituições vão tentando colmatar - no caso da Acreditar temos uma consulta de psicologia para os pais, que criámos há cerca de dois anos, sentindo que isto era uma necessidade premente, mas também não temos a capacidade para suportar todas as consultas de psicologia de toda a gente que precisa e não chegamos a todo o lado como gostaríamos. Penso que se calhar se poderia tentar resolver, não tendo os hospitais capacidade, tentar uma situação de um cheque psicólogo como há um cheque dentista… Estou agora a especular, mas talvez isso ajudasse os pais a procurarem um técnico que pudesse apoiá-los. Mesmo quem tem seguros, a comparticipação destas consultas é muitíssimo baixa e a maior parte das famílias que nós acompanhamos não tem seguro e, na maior parte dos casos, os seguros excluem o cancro.

A discriminação laboral é sempre muito difícil de conseguir provar (...)  É fundamental tornar estas situações cada vez mais públicas para que as pessoas entendam que estamos a falar de uma doença que se prolonga

Outra questão focada na campanha é a discriminação no emprego. Após o período de ausência para assistência, os pais têm de continuar a faltar para acompanhar os seus filhos em consultas e tratamentos, o que também lhes traz novos problemas...

Não quero ser injusta para com as entidades patronais, até porque sei que há muitas que são inexcedíveis quando têm um colaborador que vive uma situação destas, ajudam em tempo, deslocações, em flexibilidade e compreensão, no fundo aquilo que é preciso. Há muitos que têm essa atitude.

No entanto, se pensar na experiência dos últimos mais de 20 anos, a maior parte das famílias que vejo serem afetadas neste ponto de vista, são famílias que têm empregos mais precários e menos especializados. Já têm outro tipo de problemas e passam a contar também com estes. Porque, normalmente, o empregador que tem um trabalhador que é muito especializado, que lhe faz muita falta, tende a ser mais compreensivo e mais flexível. Aquele que tem um trabalhador que cujo trabalho é mais ou menos indiferenciado e que pode contratar A, B ou C de alguma forma, acaba por ter uma atitude de não poder esperar, porque esta pessoa está sempre fora e não está a resolver o problema e assim por diante… Nesses casos, acabam por contratar outras pessoas e arranjar formas de tentarem escapar deste trabalhador. Já temos dado apoio jurídico a algumas pessoas que são alvo deste tipo de discriminação. Noutros casos são os próprios colegas que se sentiram sobrecarregados durante um período de tempo e que entendem que, agora que voltou ao trabalho, a pessoa tem de trabalhar mais, coisas deste género que são complicadas, até porque essa disponibilidade, pelo menos no início, não existe porque a criança pode ir para casa mas precisa de ir ao hospital, precisa de cuidados, de atenção.

Estas questões de incompreensão e, em último caso, de despedimento são fáceis de provar se levadas à justiça?

A discriminação laboral é sempre muito difícil de conseguir provar, não é impossível, mas é difícil, como toda a gente compreende. Muitas vezes são situações encapotadas, alegadamente de más práticas, má execução e outras coisas do género. Por isso é que é fundamental explicar e tornar estas situações cada vez mais públicas para que as pessoas entendam que estamos a falar de uma doença que se prolonga, uma doença que tem impactos muito alargados, sendo que, muitas vezes, a criança requer cuidados e uma presença permanente para dar a medicação a horas, para atender a criança que faz um tratamento e, a seguir, fica muito mal disposta, não tem força, não reage... É muito importante falarmos abertamente, darmos a conhecer, porque poderá levar a que muitos outros empregadores que ainda não assumiram os bons exemplos daqueles que falei no início possam vir a fazê-lo.

Têm-nos chegado não só mais pedidos, mas sobretudo noto que há uma necessidade de valores cada vez maiores

Tendo em conta todos os desafios que temos vindo a falar e até a situação que se vive no país, têm chegado mais pedidos de ajuda à Acreditar? O que visam esses apoios?

Têm chegado mais pedidos de ajuda e em volumes superiores àqueles a que nós estávamos habituados. Os pedidos de ajuda são essencialmente de dois tipos. De pessoas que têm este acréscimo de despesas e precisam de pagar o empréstimo da casa que subiu exponencialmente ou algumas contas que não conseguem pagar e nós tentamos ajudar na medida do possível com dinheiro. Têm-nos chegado não só mais pedidos, mas sobretudo noto que há uma necessidade de valores cada vez maiores. As prestações das casas são um encargo enorme sobre estas famílias e começam a ter muita dificuldade em fazer face. Também nos chegam crescentemente mais pedidos, agora já não das famílias portuguesas, mas das famílias que se deslocam, por exemplo, de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde para tratamento em Portugal.

Ainda há bem pouco tempo tivemos a necessidade de apoio muito substancial para pagamento de um funeral de uma criança que não foi assumido pela Embaixada, não vou dizer o país porque é sempre desagradável, mas há uma criança que esteve cá, foi tratada e que não houve uma responsabilização por parte da Embaixada relativamente à trasladação do corpo, nem tão pouco da deslocação dos pais que acabaram por estar cá a acompanhar a criança no final de vida. São apoios que nós, cada vez mais, temos de dar resposta, porque não podemos dizer que não. Independentemente de onde vêm, são pais e mães de crianças com cancro e não podem ficar sem apoio.

Em alguns casos somos os únicos que os ouvimos. No caso desta família, fomos os únicos que os acolhemos e que lhe resolvemos o problema no momento em que eles precisavam. O pior momento da vida de uma família é quando têm um filho que morre. É cruel.

A Acreditar aloja várias famílias nas suas casas de acolhimento no país. A casa de Lisboa está a ser ampliada para receber mais famílias, certo?

Temos uma casa no Porto, outra em Coimbra e outra em Lisboa. Neste momento, a do Porto acolhe 16 famílias em simultâneo, a de Coimbra 20 e a de Lisboa, até há pouco tempo acolhia 12 famílias apenas. O IPO de Lisboa recebe cerca de metade de todos os diagnosticados do país e, portanto, era claramente uma casa pequena para dar resposta a todas as necessidades. Por outro lado, também sentimos mais a necessidade de apoiar, não apenas crianças - até aos 18 anos -, mas jovens até aos 25 anos, que é uma tendência internacional considerar estes adultos jovens mais próximos da pediatria pela necessidade de acompanhamento de um cuidador e por tantas outras vicissitudes. Sentimos que era uma necessidade premente e estamos a aumentar a casa, que vai passar a acolher 32 famílias, tem alguns quartos inclusivamente muito destinados aos jovens, em que tem uma pequena suíte com um quarto para o pai/mãe e um quarto para o jovem, para não terem de estar a partilhar o mesmo quarto, com duas casas de banho. Críamos ali um modelo para dar resposta a esta população e acho que está a ficar fantástica e sinto-me muito, muito orgulhosa do espaço que estamos a criar. Só tenho pena que não esteja já pronto, porque temos muita gente a precisar, mas contamos que consigamos abrir as portas até ao final do ano.

Estas casas destinam-se apenas às famílias que têm de se deslocar para os grandes centros para fazer os tratamentos ou também para aquelas que não consigam pagar rendas?

É preferencialmente para famílias deslocadas e o nosso alojamento é totalmente gratuito, as famílias não têm de fazer qualquer pagamento. Se nos aparecer uma família que não tem capacidade de pagar a renda e seja da zona da Grande Lisboa, por exemplo, procuramos ajudá-la a pagar a renda e a manter-se na sua casa. Apesar das nossas casas serem fantásticas, não há melhor do que a sua casa e, se as pessoas estiverem aqui por perto, é mais lógico ajudá-las socialmente e economicamente, procurar fazer um apoio temporário e encontrar soluções mais permanentes. Nestes casos, é preferível que se mantenha a criança dentro da sua área de residência, da escola, dos amigos e da família.

Dois terços dos sobreviventes têm sequelas e, desses, mais de metade têm sequelas graves

Apesar de o cancro ser a causa de morte mais frequente por doença em idade pediátrica, a taxa de sobrevivência é elevada.

A taxa de sobrevivência ronda os 80%, portanto é muito boa. Mas como disse há pouco, dentro da sobrevivência, dois terços dos sobreviventes têm sequelas e, desses, mais de metade têm sequelas graves. E esse é o impacto, o custo que tem a sobrevivência, sendo que a maior parte destas sequelas, como eu já disse, tem mais a ver com os tratamentos do que com a doença em si.

Essas sequelas ficam marcadas até à vida adulta…

Sim, e temos de falar em dois tipos de problemas: na saúde propriamente dita que acompanha os jovens, por exemplo, probabilidade de um cancro em adulto, problemas cardíacos, de fertilidade, de crescimento, às vezes até de aprendizagem… E não posso deixar de referir que continua a haver muito pouco investimento nos tratamentos em idade pediátrica e isso terá seguramente consequências na qualidade dos tratamentos destes jovens. Estamos à espera que exista mais informação e mais investimento na oncologia pediátrica, não sabemos em que moldes a pediatria vai integrar o plano oncológico nacional e será muito importante esse sinal – que o plano oncológico contenha disposições importantes para a evolução da oncologia pediátrica em Portugal, de forma a que o investimento não seja muito pequeno porque há poucos números, mas há impacto de muitos anos na vida de muita gente.

E depois há a questão social, como o caso da discriminação económica que é aquela que visa um jovem que teve um cancro com cinco anos de idade, que está curado e vai tentar obter um empréstimo para comprar uma casa, onde lhe é pedido um seguro de vida e não o consegue fazer. É uma discriminação que, à partida, a nossa lei não deveria permitir porque a legislação portuguesa proíbe a discriminação, nomeadamente na contratação de créditos, mas que acontece, mesmo depois de ter sido publicada a Lei do Direito ao Esquecimento, a tal lei que permitia que este tipo de jovem, após cinco anos, não tivesse de declarar sequer que teve um cancro, nem dar qualquer dado sobre a sua doença. Fomos, de facto, pioneiros na publicação dessa lei em janeiro de 2022. No entanto, a lei carecia de regulamentação, não foi regulamentada e a discriminação, de alguma forma, continua. Há seguradoras, empresas financeiras que consideram que a publicação da lei bastou, e há aquelas que entendem que não e continuam a exigir documentação adicional. Aliás, foi anunciado que o Parlamento Europeu iria consagrar o direito ao esquecimento e espero que essa notícia venha voltar a acordar os nossos governantes no sentido de regulamentarem uma lei que é fundamental para a não discriminação destes jovens.

Pais não conseguem fazer luto do filho em 20 dias, nem em 20 meses, nem sei se conseguem fazer em 20 anos

Pioneira foi também a petição 'O luto de uma vida não cabe em 5 dias', lançada pela Acreditar, a qual conseguiu alterar o período de luto pela morte de um filho para 20 dias. Foi uma luta ganha para os pais das crianças com cancro?

Foi fundamental para os pais poderem ter mais este bocadinho de tempo para começarem a pensar em reequilibrar a sua vida. Não conseguem fazer o luto em 20 dias, nem em 20 meses, nem sei se conseguem fazer em 20 anos, agora, o que eu sei é que este tempo era o mínimo e indispensável para que as pessoas pudessem voltar a casa, voltar a estar com os outros irmãos e acolher a sua dor. Se me pergunta... chega? Acho que não, mas é o equilíbrio possível entre ter cinco dias, como tínhamos, e que se calhasse perto de um fim de semana, nem cinco dias eram, e ter os 20 dias, que já dão um bocadinho de folga. Sinto que os pais ficaram confortados, de alguma forma, pelo facto de se terem lembrado deles numa altura tão difícil da sua vida.

Voltando à campanha, o 'Setembro Dourado' tem (novamente) o Alto Patrocínio do Presidente da República e de vários municípios que se associaram à causa. Que importância têm estas 'parcerias' para estas pessoas?

Imensa importância para os pais, o facto de sentirem que não estão sozinhos, de que existe uma sociedade que se preocupa com eles, porque há alturas muito críticas, com muito isolamento e a pessoa pergunta-se muitas coisas 'porquê eu? Porquê o meu filho?' e sente-se só. Quando há um Presidente da República ou uma autarquia que dizem 'nós estamos convosco' – convosco são pais de crianças com cancro, crianças com cancro, jovens com cancro – para eles é fundamental. Até porque este movimento do 'Setembro Dourado' é um movimento internacional, em favor do cancro pediátrico, é o mês de sensibilização para os problemas que existem, portanto, é mesmo fundamental que estas entidades se envolvam com as famílias e com os seus problemas.

De que forma é que as pessoas, nomeadamente os leitores do Notícias ao Minuto, podem ajudar estas famílias através desta iniciativa?

Podem partilhar a informação, que é uma forma de chegar a muito mais gente, podem associar-se a nós, tentando ajudar-nos nas mais diversas formas, e portanto basta irem ao site da Acreditar e verem o que podem fazer. Nós podemos servir de veículo para chegar a estas famílias, a estas crianças e a estes jovens, temos o maior gosto de o fazer e de ter a ajuda da sociedade e de todos os que queiram envolver-se.



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Nada substitui as Nações Unidas e Guterres está a "manter a bola em jogo" ...Marcelo Rebelo de Sousa

© Jeenah Moon/Bloomberg via Getty Images

POR LUSA   21/09/23 

 O Presidente da República considerou na quarta-feira que António Guterres tem conseguido "manter a bola em jogo" nas Nações Unidas, o que no seu entender é "um milagre", e insistiu na necessidade de reforma desta organização.

"Deixar cair as Nações Unidas é deixar cair o único sítio onde todos se podem encontrar. Se se perde isso, substitui-se por quê? Por nada", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas, em Nova Iorque.

Segundo o chefe de Estado, "é um milagre aquilo que tem feito o engenheiro Guterres" enquanto secretário-geral das Nações Unidas, "que é manter a bola em jogo, puxando por aquilo que é convergência", condicionado pelo "veto de alguns membros do Conselho de Segurança".

No seu entender, Guterres tem procurado "não deixar deslaçar o tecido" da organização, colocando na agenda temas como "o clima, o futuro, a situação das mulheres, a proteção das minorias, as migrações, as crianças, as transformações sociais, a ciência e tecnologia" e procurando "intervir quando pode na parte da guerra, que é o mais difícil".

Enquanto Marcelo Rebelo de Sousa falava, à entrada da missão permanente de Portugal junto das Nações Unidas, soavam sirenes à medida que passavam comitivas dos países-membros, o que o levou a observar que, apesar de tudo, "o multilateralismo está vivo".

Para o Presidente da República, "a grande interrogação dos próximos anos" é se os líderes mundiais vão ser capazes de "reformar as Nações Unidas, para as tornar mais operacionais" e de "reformar as instituições financeiras para que os países ricos não fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres".

No discurso que fez na terça-feira, primeiro dia do debate geral anual entre chefes de Estado e de Governo dos 193 países-membros das Nações Unidas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "é tempo de cumprir" essas reformas, apelando a que se passe das palavras à ação.

Pelas reações de outros líderes mundiais, o chefe de Estado ficou convencido de que o ouviram e parecem ter concordado: "Agora, se além de ouvirem e de concordarem, se são capazes e querem e vão dar passos nesse sentido, essa é a minha interrogação".

"Pode ser que sim, eu tenho a esperança de que sim, que tenham percebido que é do interesse de todos. E quando é do interesse de todos é bom que se faça um esforço para mudar aquilo que já se percebeu que não dá. Eu já ouço falar do facto de as Nações Unidas estarem desatualizadas há décadas", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa salientou que o futuro das Nações Unidas também depende de eleições nacionais que aí vêm: "Há eleições presidenciais americanas, há eleições europeias, há eleições presidenciais em vários países do mundo e, portanto, aí joga depois a política interna".

Nos últimos três dias passados nas Nações Unidas, além de discursar na 78.ª sessão da Assembleia Geral, o chefe de Estado interveio em cimeiras sobre o desenvolvimento sustentável e o clima, deixando uma mensagem sobre a responsabilidade dos políticos perante as populações, e num debate aberto do Conselho de Segurança em que reiterou o apoio de Portugal à Ucrânia contra a invasão da Federação Russa.

Sobre este último debate, o Presidente da República atribuiu à China a tentativa de "aparecer como neutral" e identificou a posição da Rússia como "muito defensiva", num contexto em que "a maioria esmagadora foi -- como se esperaria, pelas inúmeras resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas -- ao lado da Ucrânia".



Lula e Zelensky estiveram reunidos. "Conversa franca e construtiva"

© Zelensky / Rede social X

POR LUSA    21/09/23 

O Presidente brasileiro e o seu homólogo ucraniano estiveram hoje reunidos, com Lula da Silva a salientar "a importância dos caminhos para construção da paz" e Volodymyr Zelensky a referir a "conversa franca e construtiva".

Após o encontro, que começou por volta das 16:00 no hotel onde o Presidente brasileiro está hospedado durante a sua estadia na cidade norte-americana para participar da 78.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, os dois chefes de Estados lançaram breves notas nas suas redes sociais.

"Hoje me reuni em Nova Iorque com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Tivemos uma boa conversa sobre a importância dos caminhos para construção da paz e de mantermos sempre o diálogo aberto entre nossos países", escreveu Lula da Silva, na nota, acompanhada por uma fotografia dos dois.

Por outro lado, Volodymyr Zelensky frisou que ambos tiveram "uma conversa franca e construtiva"

"As equipas diplomáticas receberam instruções para trabalhar nas próximas etapas das relações bilaterais e nos esforços para restaurar a paz. O representante brasileiro continuará a trabalhar nas reuniões sobre a Fórmula de Paz", acrescentou.

O encontro entre Lula da Silva e Volodymyr Zelensky, que aconteceu depois da reunião que o líder brasileiro teve com o Presidente norte-americano, Joe Biden, contou ainda com a presença do o chefe de gabinete da Presidência ucraniana, Andrii Iermak, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, um assessor para a política externa e o assessor para assuntos militares da Ucrânia, de acordo com a imprensa brasileira.

A comitiva de Lula da Sila contou com ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o secretário de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e o assessor especial de assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim.

Mais tarde, um comunicado do Itamaraty, relativamente a uma conferência de imprensa do ministro das Relações Exteriores refere "os presidentes instruíram suas equipes a continuarem em contacto e o presidente Lula disse que um representante continuará participando das reuniões do Processo de Copenhaga, para discutir possibilidades de paz".

"O presidente Lula e o presidente Zelensky tiveram uma longa discussão em um ambiente tranquilo e amigável. Trocaram informações sobre os países e a situação do mundo neste momento", acrescentou o ministro.

Esta foi a primeira vez que Lula da Sila e Volodymyr Zelensky terão um encontro bilateral, depois de, em maio, à margem da cimeira do G7, o encontro ter acabado por não acontecer, com Volodymyr Zelensky a referir que "não houve diligências" por parte de Lula da Silva.

Por outro lado, o chefe de Estado brasileiro afirmou ter ficado "chateado" após a delegação ucraniana adiar o encontro até finalmente não aparecer.

Apesar de condenar a invasão da Rússia na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro do ano passado, o Presidente brasileiro já tinha, em abril, admitido a cedência da Crimeia, ilegalmente anexada por Moscovo em 2014, como uma saída para o conflito e, na cimeira dos BRICS, voltou a pedir uma paz negociada e o abandono de uma "mentalidade obsoleta da Guerra Fria".

Lula chegou mesmo a afirmar que "quando um não quer, dois não brigam".

A reunião agora confirmada entre os chefes de Estado do Brasil e da Ucrânia acontece numa altura de relação conturbada entre os dois países, devido a declarações que Lula da Silva tem proferido em relação à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a última das quais ao afirmar que não prenderia o Presidente russo, Vladimir Putin, ao abrigo de uma decisão do Tribunal Penal Internacional, caso este viesse ao Brasil.

O Presidente brasileiro voltou atrás nas declarações dizendo que tal decisão caberia à justiça brasileira, mas insistiu que o país deveria rever a sua presença no Tribunal Penal Internacional.

Putin é alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional emitido em março, por suspeita de crimes de guerra pela deportação de crianças ucranianas.

"Quero muito estudar essa questão deste Tribunal Penal, porque os Estados Unidos não são signatários dele, a Rússia não é signatária dele. Então, eu quero saber por que o Brasil é signatário de um tribunal que os EUA não aceitam. Por que somos inferiores e temos de aceitar uma coisa?", afirmou Lula da Silva, na Índia, durante a sua participação na Cimeira do G20, na semana passada.

Dias antes, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, lembrara o homólogo brasileiro que os ucranianos são vítimas da invasão russa e que "a guerra não é no Brasil", afastando concessões territoriais e pedindo respeito pelos Estados independentes.

"A guerra é em concreto na Ucrânia, as vítimas são concretamente os ucranianos. Não são os brasileiros, ou outros europeus, nem americanos. São concretamente dezenas de milhares de pessoas, centenas de milhares, que morreram ou ficaram feridas, são as nossas casas que foram atacadas ou bombardeadas, não as casas do Brasil ou de outros países", afirmou Zelensky em entrevista à RTP.



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GUINÉ-BISSAU: O presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP) da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, defendeu hoje que, 50 anos após a independência, é chegado o momento de cumprir o prometido e colocar a população como única prioridade no país.

© Lusa

POR LUSA   21/09/23 

Após 50 anos, é preciso cumprir para com o povo da Guiné-Bissau

O presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP) da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, defendeu hoje que, 50 anos após a independência, é chegado o momento de cumprir o prometido e colocar a população como única prioridade no país.

A segunda figura do Estado guineense e presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) vincou, em entrevista à Lusa, a responsabilidade dos políticos nas condições atuais do país, que se prepara para assinalar, no domingo, os 50 anos da independência de Portugal.

Durante todo o fim de semana, deputados, restantes órgãos de soberania e convidados viajam até Lugadjol para recriar o momento da primeira assembleia constituinte, nas matas de Madina do Boé, um local de difícil acesso, que torna o evento "uma missão quase impossível", como admitiu o presidente do Parlamento.

"Mas eu penso que é essa impossibilidade que tem que tocar a nossa mente, tem que tocar a nossa responsabilidade para lembrarmos de onde é que partimos e o que prometemos a nós próprios há 50 anos e ter em conta que este povo já aguarda por nós há muito tempo", afirmou à Lusa.

Se os combatentes que declararam a independência há meio século no mato conseguiram lá chegar "em circunstâncias terríveis", Domingos Simões Pereira considera que os atuais responsáveis pelo país também têm "que conseguir", e sobretudo cumprir o desenvolvimento prometido à população.

"Depende de nós, depende dos guineenses, nós já fomos capazes de colocar muitos desafios e muitas prioridades, é chegado o momento de colocarmos a melhoria da condição de vida da nossa população como praticamente a única prioridade", preconizou.

O presidente da ANP defendeu que é necessário que todos conheçam a história do país, que os alunos possam aprender "a epopeia daqueles que de facto deram tudo o que tinham de mais valioso em troca da sua liberdade".

"Hoje beneficiamos de um quadro de paz, de alguma tranquilidade e tudo isto se deve às mulheres e homens que foram capazes de construir a independência. Ainda falta mudar muito, mas até a capacidade de sonharmos com essa mudança tem a ver com o facto de sermos livres e isso não pode ter preço", sublinhou.

O presidente do parlamento considerou que está por cumprir parte do sonho, que tem como símbolo maior o histórico Amílcar Cabral, pois continuam a faltar à população guineense "coisas concretas" como "uma melhor qualidade de vida, melhores escolas, melhores estradas".

Domingos Simões Pereira lembrou que "quando Cabral convocou o povo guineense para a luta de libertação, que se transformou em luta armada, lançou uma divisa extraordinariamente importante, o princípio da unidade, era a primeira vez que todo o povo guineense se juntava por um desafio".

"Todos nós que ouvimos Cabral dizer que a independência era o programa mínimo, o programa maior era a construção do país, agora estamos a perceber que ele se referia ao facto de nós não termos escolas, não termos urbanidade. Eu vejo, muitas vezes, sermos comparados com outras realidades e dizerem como é que estes conseguiram e como é que eles não estão a conseguir", observou.

"Há 50 anos, a Guiné-Bissau tinha 14 pessoas com formação média oficial, hoje temos milhares e portanto temos que assumir o desafio do momento, temos que rever toda a nossa programação e assumir um compromisso connosco e com a sociedade", acrescentou Simões Pereira.

O presidente da ANP considerou que "o desenvolvimento de uma sociedade não se faz com proclamações, não há como queimar etapas, formar uma geração leva tempo".

"Gostávamos todos de já estar num patamar maior, já estar a celebrar outro tipo de conquistas, mas temos que ter capacidade suficiente para compreender que essas etapas não se conseguem queimar. Estamos a aprender, eu espero que ainda viva o suficiente para conhecer o filho do meu filho e com esse poder falar sem complexo", disse.

Domingos Simões Pereira assumiu como responsabilidade própria "legar às próximas gerações de guineenses uma direção, uma orientação".

HFI // VM

Lusa/Fim