sábado, 23 de setembro de 2023

Cabo Verde defende na ONU alívio da dívida dos países menos desenvolvidos

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POR LUSA   23/09/23 

O primeiro-ministro cabo-verdiano Ulisses Correia e Silva defendeu hoje o alívio da dívida dos países menos desenvolvidos para que o mundo possa alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, apesar do contexto mais imprevisível.

"A umentaram os desafios para o alcance dos ODS", referiu o líder do Governo, ao discursar na 78.ª assembleia-geral das Nações Unidas.

Os desafios devem-se a um "contexto global difícil", que deve ser motivo "para aliviar a dívida dos países menos desenvolvidos", entre outras medidas, tais como "reformas na arquitetura financeira internacional".

"Cabo Verde e Portugal celebraram recentemente um acordo de transformação da dívida bilateral em financiamento climático e ambiental", referiu, como exemplo do que pode ser feito: "Se mais parceiros contribuírem, maior será a dimensão dos investimentos transformadores e mais acelerados serão os efeitos".

Ou seja, "são precisos mecanismos que criem círculos virtuosos", transformando o fardo da dívida num recurso para investimentos transformadores (da economia e sociedade) em África e nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS, sigla inglesa), como o arquipélago cabo-verdiano.

O líder do Governo reiterou que "Cabo Verde mantém firme o seu compromisso de atingir os ODS" até 2030 e mantém como meta "erradicar a pobreza extrema em 2026".

No seu discurso, Ulisses Correia e Silva reiterou a defesa de uma maior representação dos países africanos ao nível do Conselho de Segurança da ONU e das instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial e o FMI.

Por outro lado, condenou os recentes golpes de estado no continente.

"Nestes tempos difíceis por causa de instabilidade e sucessivos golpes de estado em países africanos, Cabo Verde está do lado dos princípios e valores da democracia liberal constitucional. Em nome desses princípios, condenamos o recurso a golpes como forma de acesso ao poder", acrescentou.

A este propósito, o primeiro-ministro elencou medidas para prevenir "crises graves e conflitos extremados" e, ao mesmo tempo, "reforçar a democracia".

"Sistemas eleitorais e judiciais credíveis e confiáveis, liberdade de imprensa promotora do pluralismo e instituições fortes são fundamentais para a confiança dos atores políticos e dos cidadãos nas regras do jogo democrático", destacou. 

O líder do Governo de Cabo Verde reiterou ainda a condenação à invasão russa da Ucrânia.


Avião militar despenha-se ao aterrar em Gao, no Mali

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POR LUSA    23/09/23 

Um avião militar despenhou-se hoje de manhã ao aterrar em Gao, no norte do Mali, segundo várias fontes, que só confirmaram tratar-se de um Iliuchin 76 (IL-76), de fabrico russo.

"As causas ainda não são conhecidas", disse uma fonte aeroportuária local, que afirmou desconhecer quantas pessoas seguiam na aeronave militar e a quem pertence o avião.

Como tal, desconhece-se a existência de vítimas.

Um porta-voz do exército alemão, ainda presente em Gao no âmbito da missão das Nações Unidas no Mali (Minusma), confirmou à AFP a queda do avião durante a manhã. 

"De acordo com as informações de que dispomos atualmente, o avião deve ter ultrapassado a pista", disse, acrescentando que não se tratava de um avião do exército alemão.

"Era um avião IL-76 (de fabrico russo), que é utilizado não só pelos russos, mas também pelas forças malianas e muitas outras", acrescentou.

O aeroporto militar de Gao é utilizado pelo exército maliano, pelos seus parceiros russos e pela Minusma.

A junta no poder do Mali afastou a força anti-jihadista francesa em 2022 e a força da ONU em 2023, para se virar para a Rússia, militar e politicamente. A restauração da soberania é um dos seus objetivos.

O acidente ocorreu num contexto de tensões crescentes entre os diferentes atores armados da região e o exército maliano. 

Desde agosto, as regiões de Timbuktu e Gao têm sido palco de uma série de ataques contra posições do exército e civis.

O exército e os grupos armados lutam pelo controlo do território, numa altura em que a Minusma se prepara para retirar do país.


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Presidente da Republica e Présidente da ALMA participa na Conferência de Imprensa da Organização em Nova Yorque.

  Presidência da República da Guiné-Bissau 

Níger acusa líder da ONU de bloquear presença na Assembleia Geral

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POR LUSA   23/09/23

O regime militar saído de um golpe de Estado no Níger denunciou as "ações pérfidas" do secretário-geral das Nações Unidas, a quem acusam de bloquear a participação do seu representante na Assembleia Geral da ONU.

"O Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria [CNSP, autores do golpe de Estado de julho] e o governo da República do Níger apelam à comunidade nacional e internacional para que testemunhe as ações pérfidas do secretário-geral da ONU, António Guterres, que visam minar todos os esforços para pôr fim à crise no nosso país", defemde-se num comunicado lido na televisão pública.

De acordo com o comunicado, António Guterres "cometeu um erro no exercício da sua missão ao impedir a plena participação do Níger na 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU".

Para esta Assembleia Geral, o regime militar no poder enviou o seu novo ministro dos Negócios Estrangeiros, Bakary Yaou Sangaré, que era o representante do país na ONU antes do golpe de Estado de 26 de julho.

"Guterres não só se recusou a tomar nota da lista oficial de delegados do Níger (...) como, sobretudo, acedeu ao pedido fantasioso do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Hassoumi Massaoudou de revogar a representação permanente do Níger nas Nações Unidas", lamenta-se na mesma nota.

O Níger "rejeita e denuncia veementemente esta ingerência manifesta de António Guterres nos assuntos internos de um Estado soberano", acrescenta-se no comunicado, denunciando "a cumplicidade da França e de dois chefes de Estado francófonos da África Ocidental", sem os nomear.

O porta-voz de António Guterres rejeitou as acusações do regime militar no Níger.

"Em caso de concorrência de credenciais de um Estado membro, o secretário-geral remete o assunto para o comité de credenciais da Assembleia Geral, que delibera sobre a questão. O secretário-geral não decide", declarou Stéphane Dujarric à agência de notícias France-Presse (AFP).

De acordo com uma fonte diplomática, no caso do Níger, a ONU recebeu dois pedidos diferentes para intervir na Assembleia Geral, um de Bakary Yaou Sangaré e outro do governo deposto.

A questão foi, portanto, remetida para o Comité de Credenciais, que geralmente só se reúne no outono, pelo que nenhum representante do Níger consta da lista de oradores da Assembleia Geral.

Este comité, composto por nove Estados membros, examina situações controversas, mas não toma decisões. Por exemplo, adiou várias vezes as suas decisões sobre a Birmânia e o Afeganistão, ambos ainda representados na ONU pelos embaixadores dos antigos governos.



Leia Também: O Presidente deposto do Níger, Mohamed Bazoum, pediu a sua libertação junto do Tribunal de Justiça da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), alegando que foi preso arbitrariamente, assim como a sua família, desde o golpe de Estado de 26 de Julho que levou os militares ao poder.

ANGOLA: Cartões servem de cama a famílias que levam doentes a hospitais de Luanda

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POR LUSA   23/09/23 

Sem dinheiro para pagar hotéis ou transportes, dezenas de pessoas optam por pernoitar em improvisadas "camas" de cartão junto dos hospitais de Luanda, para estarem próximas dos seus familiares e prestar assistência, enquanto aguardam pela hora da visita.

Pelas 06h00 da manhã, na maternidade Lucrécia Paim, a maior de Luanda, a fila das visitas vai engrossando, enquanto nas ruas adjacentes, mães, avós e tias esperam por notícias de grávidas e parturientes.

Como Luzia Manuel, que está acompanhada de mais duas familiares e aguarda que a filha tenha alta para conhecer também a sua nova neta.

"Viemos ontem e já fomos atendidos graças a Deus, a menina já teve (bebé), corre tudo na graça do Senhor", disse à Lusa.

Moradora em Catete, a cerca de uma hora e meia de distância, assume que as dificuldades financeiras não lhe deixam outra alternativa que não a de improvisar um sítio para dormir em frente à maternidade enquanto espera a filha e a neta, para minimizar o custo dos transportes.

"Dormimos nas lonas [cartões]", disse, adiantando que cada um custou 250 kwanzas (cerca de 30 cêntimos).

Consigo trouxe apenas uma mochila com alguma roupa e água, lamentando não ter "valores" para comprar alimentos.

"Não temos o que comer, não temos nada, até o bebé não tem roupa para vestir porque não contávamos que ela ia ter bebé porque eram só sete meses", contou à Lusa, explicando que a filha teve de ser transferida de ambulância a partir de um outro hospital e espera que a restante família a venha apoiar.

Paula Evaristo encontra-se naquele local desde segunda-feira, vinda do "30", bairro a uma hora de distância de Luanda, esperando pela filha que está internada depois de um parto de gémeos que sofreu complicações.

"Estamos aqui mesmo na rua a dormir, não sabemos em que dia vai sair", afirmou, queixando-se que foi "enxotada" da porta do hospital pela polícia e acabou por pagar 200 kwanzas ao dono de um quintal para ali poder estender o seu cartão e passar a noite.

Paula queixa-se do frio de quem dorme ao relento e da falta de dinheiro para comprar comida, dizendo que só lhe resta "mesmo é amarrar o pano na barriga".

A espera das famílias gera também oportunidades de negócio. Há quem cobre por disponibilizar o seu quintal e quem aproveite para vender sandes, bolachas, águas, fraldas e toalhitas para os bebés, tendo clientela quase garantida.

É o caso de Lídia Chova, que só lamenta não ter mais clientes, por que a polícia "lhes dá corrida".

"Por exemplo, ontem à noite não consegui fazer nada, só fizemos 1500 (kwanzas, ou seja, 1,7 euros). Como vou pagar a renda e a escola das crianças?", desabafa.

O cenário é semelhante nas proximidades do Hospital Américo Boavida, onde esta semana um jovem de 25 anos, que se encontrava na parte exterior, morreu após lhe ter sido alegadamente negada assistência pela equipa médica de serviço.

Também ali há cartões ou "luandos" (esteiras) estendidos para a pernoita, vendedores ambulantes e familiares que circulam enquanto aguardam informações sobre pacientes.

José Armando veio acompanhar o sobrinho de 12 anos, que sofreu um acidente há dois dias, quando brincava junto a um muro, e sublinhou que este "foi bem atendido".

"Subiu no bloco (operatório) e já tivemos a informação que foi operado", destacou, dizendo que ficou por ali para acompanhar a família e estar junto ao doente "porque pode acontecer alguma coisa de noite".

Diz que é a segunda vez que um parente seu é assistido no HAB, e que gostou do atendimento, "apesar de ter havido alguma morosidade".

Já "Avô" André Mavinge, que tem uma sobrinha internada há um mês e meio, mostra-se descontente com a demora no tratamento e queixa-se que "para tratar o paciente é preciso encher a mão" (dar dinheiro).

Aponta também as limitações impostas às visitas e adiantou que para ver a sobrinha fora do horário estipulado (das 15h00 às 16h00) tem de dar 100 kwanzas (11 cêntimos) para entrar.

"Se não paga 100 kwanzas não vai entrar", critica, elogiando, no entanto, o trabalho dos médicos "que estão a atender bem", apesar de não terem mãos a medir.

"Nós também estamos doentes, nós, que viemos tomar conta da paciente. Há frio em cima de nós, há sol em cima de nós, não temos direito a entrar onde há sombra. Nós todos temos doenças, Angola não tem pessoas que estão boas", afirma.

A direção do HAB anunciou a suspensão da equipa médica, na sequência da morte do jovem esta semana, e participou a ocorrência, por suposta negligência da equipa médica em serviço, junto do Serviço de Investigação Criminal.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram o cadáver de um jovem no chão na parte exterior do HAB, localizado no Distrito Urbano do Rangel.

A Lusa tentou contactar a direção do hospital, mas foi informada de que está um inquérito em curso e só depois darão mais esclarecimentos à imprensa.