segunda-feira, 3 de abril de 2017

José Mário Vaz: “TENHO UM SONHO DE MUDAR A GUINÉ-BISSAU”

O Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário  Vaz disse, este sábado, 1 de abril de 2017, que tem um  sonho, o de mudar a Guiné-Bissau, para isso apela aos  guineenses que se juntem a ele neste “desafio”.

O chefe de Estado dirigia-se aos populares da ilha de  Bolama, no quadro da “presidência aberta”, inciada em  março último.

“Só com a verdade e o trabalho é que o país pode sair  da situação em que se encontra e tomar um rumo certo. E  será possível transformar o solo pátrio de Amílcar Lopes  Cabral”, defende José Mário Vaz.

Para o chefe de Estado, concretizar este “sonho” de  desenvolver o país, três desafios são fundamentais: Paz e  Estabilidade – elemento que, na opinião de Vaz, já está  quase alcançado – ; rigor na gestão dos recursos  financeiros [‘Dinheiro do Estado deve ser canalizado para  cofres de Estado’]; e o Trabalho.

“Se o dinheiro do Estado não entrar para o cofre do Estado,  como é que podemos conseguir construir a cidade de  Bolama?” questionou Vaz.

José Mário Vaz voltou a criticar a situação de alegados  barcos que pescam ilegalmente nas zonas marítimas exclusivas  da Guiné-Bissau, pedindo que todos os guineenses fiscalizem  o mar.


Os populares da cidade histórica de Bolama,  pediram a  intervenção do Presidente da República para resolver  algumas preocupações, nomeadamente, a asfaltagem do centro  da cidade, meios de transportes de ligação entre Bissau e ilhas  (nomeadamente barcos), reabilitação de muitos edifícios históricos em  avançado estado de degradação.


A população de Bolama propõe  ao Estado guineense que os 50  por cento das receitas de pesca daquela região sejam  aplicados no desenvolvimento regional.

Os habitantes da ilha de Bolama, primeira capital do país,  então Guiné-Bissau [1913-1941], queixam-se de  falta de quase tudo: não dispõem de centros de formação  profissional, meios de transportes adequados e seguros,  falta de internet; falta de uma rádio comunitária; falta  de uma agência bancária; falta de energia; falta de  emprego jovem e falta de um bloco operatório no hospital de  Bolama, que não dispõe de nenhuma vedeta para caso de  evacuação de doentes para Bissau.

Para hoje , 02 de abril, o Presidente da República manterá  encontros com anciões, mulheres e jovens de Bolama. Depois  a comitiva segue-se para as ilhas de Bubaque, Caravela, Uno,  ‘Djiu’ de Galinha. 

Por: Sene Camará
OdemocrataGB

MATADOURO DE GABÚ – UMA ‘MINA’ DE CONTAMINAÇÃO DE DOENÇAS IGNORADA PELAS AUTORIDADES

[REPORTAGEM] Mais de 41 mil habitantes da cidade de Gabú, no leste do país, segundo o último senso do Instituto Nacional de Estatística (INE) de 2009 e, em particular, os grandes consumidores de carne correm o risco de contrair doenças através do consumo de carne de vaca e cabra, que são abatidas no matadouro daquela que é considerada a segunda maior cidade económica do país.

Apesar do ‘visto’ dado pelos médicos veterinários relativamente à questão da saúde dos animais, permitindo o seu abate, o que escapa às ‘lentes’ dos médicos veterinários é a falta de higiene do matadouro. Isso potencia uma ameaça à contaminação da carne por bactérias, dado que o matadouro não dispõe de condições de higiene que o permita funcionar. Aliás, uma conclusão chegada pelos próprios médicos veterinários.

O matadouro da cidade de Gabú foi construído na época colonial e encontra-se situado no bairro de ‘Laiballa’, junto à bolanha.

MATADOURO DE GABÚ TRANSFORMADO EM CASA DE BANHO DE ABUTRES E CIRCO PARA CÃES  


O matadouro da cidade de Gabú constitui uma enorme ameaça à saúde da população local e encontra-se numa situação de quase abandono, no que refere à questão de higiene. Para além de não ter água canalizada, o que permitiria uma melhor limpeza, transformou-se numa casa de banho para os abutres que ali fazem as suas necessidades, bem como em circo e ao mesmo tempo zona de caça para os cães.

A água é quase inexistente no matadouro. Apesar de um pequeno poço feito ao lado das instalações, nota-se que a água é insuficiente para manter a higiene do lugar de onde saiem as carnes consumidas pela população. Aliás, o poço é uma possível ‘fonte de contaminação’, conforme constatou a equipa de reportagem, visto que apresenta sinais de uma degradação avançada e sem nenhumas condições de higiene.

O poço está sem cobertura e a água que dali sai é de uma cor difícil de descrever. Seria preciso um aparelho ou um microscópio para se conseguir determinar a cor da água que é usada para lavar a carne. O chão do matadouro agora transformou-se em cor preta devido ao sangue.

A falta de higiene do matadouro fez com que o lugar se transformasse numa casa das moscas. O cheiro é nauseabundo e não se entende se é por causa da lima que inunda o local ou se sai mesmo do esgoto.

Alguns populares abordados pela equipa de reportagem estranham a forma como os magarefes continuam a abater os animais no matadouro, tendo em conta as condições desumanas que apresenta. Não tem portões que mantenham a sua segurança durante o dia e a noite, impedindo a entrada de estranhos. O matadouro de Gabú está a ‘mercê’ de qualquer pessoa que chegue ao local, assim como de bichos perigosos.

A prova da sua vulnerabilidade é a forma como os abutres se apoderam dele e transformam-no em sua casa, onde fazem as suas necessidades. Um exemplo disso é a quantidade de fezes espalhadas por toda a parte no seu interior.

Os arredores do matadouro também se encontram sujos, cheios de fezes de bovinos e palhas. Na altura da realização desta reportagem havia uns couros de vacas estendidos no chão, no exterior do matadouro. Quem visita o sítio provavelmente deixará, por enquanto, de consumir a carne abatida em Gabú.

CARRINHOS DE MÃO SEM HIGIENE TRANSPORTAM CARNE EM GABÚ


O transporte das carnes não foge à regra, da falta de higiene. Por falta de um meio adequado para o transporte da carne, os operadores do matadouro recorrem muitas vezes aos carrinhos de mão, sem higiene.

Para transportar a carne para o mercado usam carros puxados por burros e carrinhos de mão, sem nenhuma protecção. Apenas colocam cartões por baixo e colocam a carne, que deixam a ‘mercê’ do pó e moscas, até ao mercado. Toda essa situação de falta de cuidado com a carne vendida à população é do conhecimento das autoridades locais que simplesmente alegam ‘Djitu ka ten’.

A nossa equipa de reportagem soube, através de uma pessoa próxima dos operadores do matadouro, que os carrinhos de mão que fazem a remoção do lixo é que são igualmente usados para transportar carnes, do matadouro para o mercado.

Em relação ao mercado, numa visita a maior feira, a nossa reportagem constatou uma situação que reflete a desorganização da cadeia de abate e venda de carne em Gabú. Viu as péssimas condições higiénicas do talho. Os vendedores de carne sentam-se sobre as mesas construídas em cimento e destinadas para deitar a carne. Mas agora, além da carne, também os vendedores deixam-se estar sobre as mesas que também estão sujas e a cor ireconhecível, facto que espelha a falta de higiene do talho.

Já o novo mercado de Gabú, que fica situado no bairro de ‘Algodão’, possui melhores condições em relação a antiga. O talho do novo mercado tem melhores condições para a venda de carne, mas a maior parte dos comerciantes gabuenses prefere continuar no mercado velho.

AUTORIDADES ENCERAM NOVO MATADOURO CONSTRUÍDO PELO PNUD POR FALTA DE ÁGUA


A curiosidade da equipa de reportagem do semanário ‘O Democrata’ é ver o novo matadouro que fica lado a lado do atual. Tem melhores condições que o atual, mas ainda com os portões encerrados.

A construção do novo matadouro contou com o financiamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) através da agência AJEOP, que contratou uma empresa de construção para fazer a obra.

O novo matadouro foi inaugurado em Novembro de 2016, mas as suas portas continuam encerradas por causa da falta de água, o que facilitaria os trabalhos dos magarefes.

A agência das Nações Unidas (PNUD) financiou também a construção do novo talho no mercado novo. Esse tem melhores condições de funcionamento em relação ao do mercado principal, mas igualmente está encerrado.

Uma fonte da administração local contou ao repórter que a razão do encerramento do novo matadouro é que as autoridades estavam a espera de outro financiamento do PNUD para fazer um furo da água, junto das instalações do matadouro e que ajudaria na manutenção da higiene do mesmo.

A fonte reclama que o novo matadouro e o talho construídos pelo PNUD continuam encerrados, deixando as populações expostas à contaminação por doenças que podem apanhar através da carne de animais abatidos no atual matadouro que não oferece nenhuma condição de higiene.

DELEGADO VETERINÁRIO PEDE ENCERRAMENTO URGENTE DO MATADOURO  

O delegado regional da veterinária, Nicolau da Silva, explicou na entrevista concedida ao repórter que a missão da ‘Veterinária’ não é só garantir a saúde do animal, mas também analisar muito bem a carne dos animais abatidos, para que esta possa chegar em boas condições de saúde ao mercado.

Assegurou ainda que outra missão da instituição que representa é inspecionar as carnes verdes, junto dos postos de abate, para que não sejam uma fonte de transmissão de doenças à população.

Acrescentou ainda que estão sempre vigilantes no controlo dos animais para que não sejam infectados por doenças que igualmente poderiam prejudicar a saúde humana, através do consumo da sua carne e ou leite.

Lamenta, no entanto, a falta de condições de trabalho da delegação regional que permitam a mobilidade dos técnicos para o controlo dos postos que existem um pouco por todo o sector. Frisou que, para além do matadouro central da cidade de Gabú, existem ainda postos aleatórios de abate que operam sem condições e que abatem o gado sem que os mesmos sejam inspecionados pelos seus agentes.

“Esforçamo-nos para controlar o matadouro e alguns postos aleatórios, mas não temos meios para nos deslocarmo-nos para as diferentes zonas. Nos últimos tempos, optamos por recensear os magarefes identificados a nível da região e tentar sensibilizá-los sobre a importância ou a razão da inspeção do gado antes que seja abatido. Pedimos a colaboração dos magarefes neste sentido e em particular, de informar sempre aos agentes de veterinária quando querem matar o gado”, notou o responsável da delegacia regional da Veterinária.

Relativamente à cidade de Gabú, informou que não é apenas o matadouro que não está em condições de continuar a funcionar por razões de higiene, mas também o próprio local de venda (o talho) que já não está em condições por falta de higiene. Avançou que o talho deve sempre estar limpo para não permitir a contaminação das carnes verdes, porque isso pode prejudicar a saúde humana.

Questionado se defende as vozes dos cidadãos locais que pedem o encerramento do matadouro por falta de higiene, Nicolau da Silva respondeu que sim, mas pediu abertura urgente do novo matadouro.

“Há um matadouro novo ao lado, com melhores condições. O único problema é a falta da água. É preciso que haja água canalizada para facilitar os trabalhos dos magarefes. Mas espera-se uma nova iniciativa para financiar o projeto de furo da água. O edifício foi muito bem construído e reúne as condições de funcionamento e tem um sistema de canalização da água muito bem instalado”, contou o responsável, que entretanto, asseverou que diariamente podem ser abatidos até dez animais no novo matadouro.

DELEGADO DE VETERINÁRIA PEDE COLABORAÇÃO DE POPULARES PARA A VACINAÇÃO DO GADO

O delegado regional explicou neste particular que uma das maiores preocupações da sua delegacia tem a ver com as doenças dos animais, tantos aves, grupos de pequenos dominantes (cabras e carneiros) e inclusive grupos de grandes dominantes (vacas).

Informou ainda que a delegacia consegue cobrir quatro sectores dos cinco que constituem a região de Gabú, através dos postos de vigilância epidemiológica instalados em alguns sectores como Pirada, Sonaco, Pitche e o sector de Gabú.

Lamentou o facto de não conseguirem cobrir o sector de Boé, tendo em conta a sua situação geográfica. Contou ainda que sua delegacia formou os técnicos chamados ‘para-veterinário’ que trabalham como auxiliares nos sectores, pelo que um dos agentes que está naquela zona receberá orientações para cobrir o sector.

Não obstante ter reconhecido que apenas uma pessoa não consegue cobrir todo sector que é muito grande, adiantou que no momento é tudo que podem fazer devido a insuficiência de meios para materializar os trabalhos.

“Temos poucos médicos e pessoal auxiliar para cobrir uma região muito grande. O pessoal aqui faz um esforço enorme no concernente ao trabalho de inspeção de animais, porque sabemos que esta região tem o maior número de animais a nível do país. Aqui temos nove pessoas que trabalham na delegacia. Imagina se é possível, com esse número, fazer uma cobertura de mais de 500 mil vacas! É muito difícil, mas conseguimos formar mais pessoas que trabalham como auxiliares”, precisou.

Avançou que a formação dos técnicos foi administrada por médicos portugueses que estiveram na região e que trabalharam com o delegado regional. Frisou que, devido às dificuldades, não conseguiram ficar com todo o pessoal formado. Por isso foram obrigados a deixar alguns, mas que são recrutados apenas no período da campanha de vacinação dos animais.

Em relação às zonas da linha de fronteira com o Senegal e a Guiné-Conacri, assegurou que conseguiram colocar pessoas na linha da fronteira, sobretudo nos sectores de Pitche e Pirada, que trabalham na inspeção dos animais.

“Temos para-veterinários nas aldeias próximas das linhas de fronteiras que trabalham na identificação dos casos. Eles trabalham com mínimas condições e, sobretudo estão munidos de meios de comunicação que usam para passar informações sobre a existência de novos casos”, observou.

Interrogado se o sector de Boé que está um pouco mais colado a vizinha Guiné-Conancri não constitui preocupação da sua delegacia e em relação aos riscos de contaminações que os gados daquela zona pode correr, respondeu que a situação do sector Boé preocupa e muito a sua delegacia.

“Os criadores de gado conacri-guineense neste momento entram no território nacional através daquela zona a procura de alimentos para os seus animais, isso demostra a vulnerabilidade daquela zona que corre o risco de ver os seus animais atacados por doenças, a partir dos animais provenientes daquele país vizinho”, advertiu.

Nicolau da Silva disse que, tendo em conta os riscos da contaminação que aquela zona enfrenta, envia sempre os técnicos para o controlo e a inspeção dos animais. Porém, afiançou que recebem igualmente apoio dos elementos da Guarda Nacional instalados naquele sector, o que facilita a deslocação dos seus técnicos. Sublinhou ainda que usa a rádio comunitária local para passar os programas de sensibilização sobre as doenças de animais.

Relativamente às doenças mais frequentes registadas na região, o delegado regional de Veterinária assegurou que para a melhor compreensão, as doenças são divididas em espécies de animais. Para as galinhas (aves) regista-se com a frequência a doença chamada ‘Peste de Aves’ que acaba por matar grande quantidade de galinhas, prejudicando assim a economia dos criadores. Por isso desencadeiam campanhas de vacinação de aves para prevenir a doença.

A nível do grupo de pequenas ruminantes, deparam-se com o problema chamados ‘Pestes de Caprinos’, que também é uma doença grave que causa cerca de 90 a 95 por cento de mortes de cabras e carneiros.

Sustentou ainda que consideram ‘Peste de Caprino’ de uma doença neglicencial, provocada por um vírus e que é contagiosa de animal para animal. Contudo informou que o mesmo não tem consequências para a saúde humana, mas prejudica a economia dos criadores.

“Essa situação leva ao empobrecimento dos criadores. Por isso é que pedimos sempre a colaboração dos criadores para a vacinação do gado, de forma a evitar doenças”, disse.

Em relação ao grupo de grandes ruminantes, nota-se duas grandes doenças. O carbuncro hemático, considerado também de ‘Antrax’ e é muito perigoso, dado que contamina o homem e mata rapidamente. Enquanto o carbuncro sintomático é menos violento e não consegue contaminar o homem.

“Apareceu também uma nova doença chamada ‘Febre Aftosa’. É contagiosa entre as vacas, como também pode afetar o homem e sem causar nenhum dano. Estamos a verificar a doença na nossa região. A doença saiu da região de Bafatá, devido a movimentação das pessoas com os animais, sobretudo para a venda”, referiu.

Lembrou neste particular que há quatro anos a região de Gabú sofreu casos da doença de carbuncro que matou muitas vacas, tendo acrescentado que a referida situação fora registada numa vila que está a sete quilómetros da cidade de Gabú.

Sublinhou que para combater a doença e aumentar a capacidade de vigilância beneficiaram de apoio da União Económica e Monetária Oeste Africana (UEMOA), que permitiu-lhes intensificar os trabalhos de controlo de prevenção.

MUDANÇA DE CRIADORES DE GADO PARA CAMPO AGRÍCOLA EM BOÉ NO PERÍODO DA CHUVA DIFICULTA VETERINÁRIOS

Os trabalhos de inspecção feitos na época da chuva não conseguem contemplar o sector de Boé, dado que naquela altura água da chuva corta todos os troços que dão acesso as tabancas. Também a maioria da população, em particular os criadores de gado, muda-se para a zona da lavoura e fica ali até ao fim das colheitas.

Os veterinários são obrigados a esperar até o fim da chuva e até ao fim da colheita para deslocarem-se àquela zona e prosseguir com os trabalhos de inspeção dos animais e aves, para as campanhas de vacinação.

“Há quinze dias atrás fizemos um trabalho. Levamos uma quantia de 40 plafom de vacina contra o Carbuncro sintomático. Uma caixa de vacina contra o Carbuncro ‘Antrax’ que é considerado o mais perigoso. A equipa conseguiu fazer o trabalho de vacina que correu muito bem. Queremos cobrir o sector Boé, mas como sabem, é um dos maiores sectores da Guiné-Bissau e tem as suas particularidades. É uma zona de difícil acesso e isso tudo dificulta os trabalhos”, notou.

Por: Assana Sambú/Sene Camará
Fevereiro/março de 2017
OdemocrataGB