sábado, 22 de março de 2025

Trump quer uma "Cúpula Dourada" capaz de defender todo o território dos EUA (mas há vários problemas)

Presidente Donald Trump (Allison Robbert/The Washington Post/Getty Images via CNN Newsource)  CNN 

Os responsáveis militares dos EUA estão a lutar para desenvolver um sistema de defesa chamado "Cúpula Dourada" que possa proteger o país de ataques de mísseis de longo alcance e foram informados pela Casa Branca que nenhuma despesa será poupada para cumprir uma das principais prioridades do Pentágono do presidente Donald Trump, de acordo com várias fontes familiarizadas com o assunto.

A “Cúpula Dourada” é a tentativa da administração Trump de dar uma nova imagem aos vagos planos para desenvolver um sistema de defesa antimíssil semelhante à Cúpula de Ferro de Israel.

Numa altura em que o Pentágono procura cortar orçamentos, a administração Trump ordenou aos militares que garantissem que o financiamento futuro da “Cúpula Dourada” se refletisse nas novas estimativas orçamentais para o período de 2026 a 2030 - mas o próprio sistema permanece indefinido para além de um nome, disseram as fontes.

Neste momento, "a 'Cúpula Dourada' é uma ideia”, revelou uma fonte familiarizada com as discussões internas sobre o projeto, acrescentando que pode haver tecnologia em preparação que, se alguma vez for ampliada, poderá ser aplicada ao sistema, mas até agora as discussões são puramente conceptuais.

Isso torna a projeção de custos futuros quase impossível, acrescentou a fonte, embora seja provável que a sua construção e manutenção custem milhares de milhões de dólares.

Trump tem insistido repetidamente que os EUA precisam de um programa de defesa antimíssil semelhante à Cúpula de Ferro de Israel, mas os sistemas têm ordens de magnitude diferentes. Em termos práticos, a comparação é menos maçãs com laranjas e mais maçãs com porta-aviões.

O sistema de defesa antimíssil Cúpula de Ferro de Israel protege seletivamente áreas povoadas de ameaças de curto alcance num país do tamanho de Nova Jérsia ou mais pequeno que o Alentejo; Trump quer um sistema de defesa antimíssil baseado no espaço capaz de defender todos os Estados Unidos de mísseis balísticos e hipersónicos avançados.

Um soldado israelita posiciona-se em frente a uma bateria de um sistema de defesa aérea Cúpula de Ferro, perto de Jerusalém (Menahem Kahana/AFP/Getty Images via CNN Newsource)

Por um lado, “Israel é minúsculo”, lembrou a fonte familiarizada com as discussões internas em curso sobre o projeto "Cúpula Dourada". “Por isso, é 100% viável cobrir Israel com coisas como radares e uma combinação de intercetores móveis e fixos”.

"Como é que se vai fazer isso nos Estados Unidos? Não é possível fazê-lo apenas nas fronteiras e na linha costeira, porque os mísseis balísticos intercontinentais podem reentrar na atmosfera sobre o Kansas", apontou a mesma fonte.

Ainda assim, Trump emitiu uma ordem executiva durante a primeira semana no cargo, ordenando ao secretário de Defesa Pete Hegseth que apresentasse um plano para desenvolver e implementar o escudo de defesa antimísseis de próxima geração até 28 de março.

E um alto funcionário do Pentágono insistiu no início desta semana que o trabalho está em andamento.

“Consistente com a proteção da pátria e de acordo com a [ordem executiva] do presidente Trump, estamos a trabalhar com a base industrial e [através] dos desafios da cadeia de suprimentos associados à construção da 'Cúpula Dourada'”, afirmou Steven J. Morani, atualmente com funções de subsecretário da Defesa para aquisição e manutenção, esta semana na Conferência de Programas de Defesa McAleese em Washington, DC.

Ao mesmo tempo, os funcionários do Pentágono têm vindo a realinhar a proposta de orçamento do Departamento de Defesa para 2026 de modo a cumprir as prioridades de Hegseth, que foram delineadas num memorando entregue aos líderes seniores na semana passada e que representa uma grande revisão dos objetivos estratégicos dos militares, de acordo com uma cópia obtida pela CNN.

O memorando dá instruções específicas aos líderes do Pentágono para se concentrarem no reforço da defesa antimíssil da pátria dos EUA através da "Cúpula Dourada" de Trump.

“Há um processo analítico rigoroso em curso para rever [o orçamento]”, acrescentou Morani. “Esta é uma prática normal para qualquer nova administração que tome posse.”

Mas ainda não é claro quanto dinheiro o Pentágono vai pedir para a "Cúpula Dourada" de Trump na sua proposta de orçamento ou como os funcionários vão determinar o montante do financiamento necessário.

O contra-almirante reformado Mark Montgomery acredita que a criação de um sistema de defesa contra mísseis balísticos pode ser possível dentro de sete a dez anos, mas, mesmo assim, terá limitações severas, potencialmente capaz de proteger apenas edifícios federais críticos e grandes cidades.

“Quanto mais se quiser aproximá-lo dos 100%, mais caro se tornará”, diz Montgomery, diretor sénior do Centro de Inovação Cibernética e Tecnológica da Fundação para a Defesa das Democracias.

Um sistema abrangente exigirá diferentes conjuntos de satélites para comunicação, deteção de mísseis e lançamento de interceptores, acrescenta Montgomery à CNN. Esses tipos de sistemas são projetos a longo prazo, lembra, exigindo que as defesas existentes preencham a lacuna entretanto.

“É preciso ser responsável”, vinca Montgomery. “Não se vai conseguir defender tudo com estes mísseis terrestres. Defendem um círculo à sua volta, mas não é grande”.

Potencial dia de pagamento para as empresas de armamento

Os fabricantes de armas americanos já estão a ver sinais de dólares. A Agência de Defesa Anti-Míssil organizou um Dia da Indústria em meados de fevereiro para solicitar propostas de empresas interessadas em ajudar a planear e construir a "Cúpula Dourada".

A agência recebeu mais de 360 resumos secretos e não classificados sobre ideias para planear e executar o sistema.

A Lockheed Martin deu um passo em frente, criando um website polido para a "Cúpula Dourada", afirmando que o maior empreiteiro de defesa do mundo tem as “capacidades comprovadas, testadas em missões e um historial de integração para dar vida a este esforço”.

Na década de 1980, o presidente Ronald Reagan anunciou a Iniciativa de Defesa Estratégica para criar uma defesa baseada no espaço contra mísseis nucleares balísticos. O sistema foi ironicamente apelidado de “Guerra das Estrelas” e consumiu dezenas de milhares de milhões de dólares antes de ser cancelado, devido a obstáculos técnicos e económicos insuperáveis.

O presidente Ronald Reagan discursa perante a nação sobre a Iniciativa de Defesa Estratégica em 1983 (Corbis/Getty Images via CNN Newsource)

Laura Grego, diretora sénior de investigação do Programa de Segurança Global da Union for Concerned Scientists, afirma que os mesmos desafios se mantêm e são conhecidos há anos.

“Há muito que se sabe que a defesa contra um arsenal nuclear sofisticado é técnica e economicamente inviável”, explica Grego à CNN.

A atual defesa americana contra mísseis balísticos foi concebida para impedir um pequeno número de mísseis de um Estado não autorizado, como a Coreia do Norte ou o Irão. O sistema baseia-se na Ground-based Midcourse Defense (GMD), que falhou quase metade dos seus testes, de acordo com a Associação de Controlo de Armas, tornando-o incapaz de impedir um grande ataque da Rússia ou da China.

Mas na sua ordem executiva, Trump apelou a um sistema muito mais complexo e robusto - intercetores espaciais capazes de abater um alvo momentos após o seu lançamento.

Tal sistema exigiria milhares de intercetores em órbita terrestre baixa para intercetar até mesmo um único lançamento de míssil norte-coreano, de acordo com a Sociedade Americana de Física (APS), que estudou a viabilidade de defesas contra mísseis balísticos durante anos. Um único intercetor em órbita quase nunca está no local e no momento certos para intercetar rapidamente o lançamento de um míssil balístico, pelo que é necessário um número exponencialmente maior para garantir uma cobertura adequada.

“Estimamos que seria necessária uma constelação de cerca de 16 mil intercetores para tentar contrariar uma salva rápida de dez mísseis balísticos intercontinentais de propulsão sólida como o Hwasong-18 [norte-coreano]”, escreveu a APS num estudo realizado no início deste mês.

Mesmo assim, Grego diz que um sistema de defesa antimíssil baseado no espaço é vulnerável a ataques inimigos antissatélite de sistemas terrestres muito menos dispendiosos.

“A fraqueza mais crítica de um sistema como este é a sua fragilidade, a sua vulnerabilidade ao ataque”, acrescenta Grego.

No Mar Vermelho, os EUA dispararam dezenas de mísseis intercetores de vários milhões de dólares contra drones e mísseis Houthis que custam uma fração do preço. O desequilíbrio fiscal torna-se muito pior quando o sistema está no Espaço, de acordo com John Tierney, um antigo congressista democrata que realizou anos de audiências sobre a defesa de mísseis balísticos.

“É uma anedota. É basicamente um esquema”, garante Tierney sem rodeios. Atualmente diretor-executivo do Centro para o Controlo de Armas e a Não Proliferação, Tierney critica Trump por estar “disposto a gastar biliões e biliões e biliões de dólares em algo que não vai funcionar”.

Adversários suscetíveis de reagir

Enquanto os EUA investem dinheiro na investigação e no desenvolvimento da "Cúpula Dourada", funcionários atuais e antigos dizem que os adversários da América irão provavelmente expandir o seu próprio arsenal de mísseis balísticos num esforço para se manterem à frente.

Mas como os mísseis balísticos ofensivos são muito mais baratos do que os intercetores necessários para os deter, Tierney diz que o sistema rapidamente se torna financeiramente inviável.

De acordo com a fonte familiarizada com as discussões internas de planeamento relacionadas com o projeto, os responsáveis militares dos EUA estão também a avaliar de que forma a "Cúpula Dourada" poderá perturbar a atual estabilidade proporcionada pela dissuasão nuclear.

Atualmente, o principal fator de dissuasão dos EUA contra o lançamento de um ataque nuclear preventivo por parte de outro país é o seu segundo ataque com capacidade de sobrevivência, ou seja, a sua capacidade de retaliação mesmo depois de sofrer um ataque nuclear inicial, disse a fonte.

“Se implementarmos algo que os nossos adversários com armas nucleares acreditem ser uma contramedida fiável que anule o seu arsenal nuclear, acabamos com a estabilidade da dissuasão, porque aumentamos a facilidade de os Estados Unidos lhes enviarem um ataque nuclear com impunidade”, acrescentou a fonte. “E depois temos de nos perguntar: até que ponto confiamos nos EUA para não o fazerem?”

“Se eu for a China, se eu for a Rússia, a minha confiança é cada vez menor, de que os EUA não nos atacarão com um míssil nuclear numa crise”, segundo a mesma fonte.

“Estrategicamente, não faz qualquer sentido. Tecnicamente, não faz qualquer sentido. Em termos económicos, não faz qualquer sentido”, termina Tierney.

Itália: Seis cidadãos nigerianos foram presos em Roma, Brescia e Islândia na sexta-feira no âmbito de uma investigação sobre suspeitas de tráfico de pessoas e exploração da prostituição, anunciou hoje a polícia.

© Jeffrey Greenberg/Universal Images Group via Getty Images  Lusa   22/03/2025 

Polícia italiana prende seis nigerianos suspeitos de tráfico de pessoas

Seis cidadãos nigerianos foram presos em Roma, Brescia e Islândia na sexta-feira no âmbito de uma investigação sobre suspeitas de tráfico de pessoas e exploração da prostituição, anunciou hoje a polícia.

A máfia nigeriana de Itália comanda muitas das redes de prostituição em todo o país, segundo a ANSA.

De acordo com a agência de notícias italiana, a mesma fonte policial explicou que uma das raparigas, atraída para Itália com a promessa de um emprego, denunciou a rede.

Durante as investigações, foram identificadas outras vítimas, incluindo menores, que sofreram violência física, psicológica e sexual.

Assim que chegaram a Roma, as vítimas, muitas oriundas da Nigéria, foram alegadamente forçadas a prostituir-se. E se recusassem, segundo a polícia, seriam trancados numa divisão, privados de comida e impedidos de ter qualquer contacto com os seus familiares.

Uma jovem, que chegou grávida a Itália, foi alegadamente forçada a consumir drogas perigosas para a interrupção da gravidez, arriscando a morte, e obrigada a prostituir-se, relata a ANSA.

Os investigadores afirmaram ainda ter descoberto que o grupo recorreu a violência e intimidação, mesmo contra familiares das vítimas na Nigéria, para extorquir avultadas quantias de dinheiro.

O ministro do Interior, Matteo Piantedosi, elogiou a operação policial.

"A detenção de seis cidadãos nigerianos, membros da organização criminosa 'Maphite', por tráfico de seres humanos, exploração da prostituição, extorsão e auxílio à imigração ilegal, representa um passo significativo na luta contra o crime organizado", afirmou Piantedosi.

"Agradeço às forças policiais e aos investigadores a importante operação realizada nas províncias de Roma e Brescia", acrescentou o ministro.


Mãos às Obras! Futuras instalações do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira em Bissau, já com outros rostos em mudanças positivas. Avante para uma nova progressão, face ao novo desafio contemporâneo.


Eduardo Jorge da Costa Sanca, membro de Conselho Nacional de jurisdição e fiscalização do PAIGC em Conferência de imprensa.


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Radio Voz Do Povo 

Ucrânia/Rússia Zelensky visita soldados na região de Donetsk, anexada pela Rússia

© Volodymyr Zelensky/X  Lusa  22/03/2025 
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deslocou-se hoje à região de Donetsk, uma das quatro que a Rússia anexou depois de ter invadido a Ucrânia em fevereiro de 2022, noticiou a agência local Ukrinform.

"Recebi um relatório sobre a defesa em Pokrovsk, a situação operacional e o progresso das missões", afirmou Zelensky nas redes sociais, citado pela agência francesa AFP.

Zelensky publicou um curto vídeo em que aparece junto a placas com nomes de soldados mortos num posto de comando militar e com elementos das forças armadas na cidade de Pokrovsk.

"Obrigado a todos os nossos defensores. Honra a todos os heróis caídos. Obrigado a todos os que ajudam a Ucrânia e nos apoiam", afirmou Zelensky, citado pela Ukrinform.

Donetsk e Lugansk, no sudeste da Ucrânia, formam o chamado Donbass, onde separatistas pró-russos combatiam as forças de Kyiv desde 2014.

Quando ordenou a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse que estava a responder a um pedido de auxílio das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk.

Em setembro de 2022, Putin declarou a anexação de Donetsk e Lugansk, juntamente com Zaporijia, onde está instalada a maior central nuclear da Europa, e Kherson, ambas no sul.

Moscovo já tinha anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014.

A Ucrânia e a generalidade da comunidade internacional não reconhecem a soberania russa nas cinco regiões anexadas.

A visita ocorre a poucos dias de conversações sobre os termos de uma trégua parcial na guerra na Ucrânia.

As conversações estão marcadas para segunda-feira, na capital da Arábia Saudita, Riade, e envolvem delegações da Ucrânia e dos Estados Unidos, primeiro, seguindo-se uma reunião entre russos e norte-americanos.


Novo estudo aponta que oceanos retiram os microplásticos do ar

© Getty Images   Lusa   22/03/2025 

O oceano atua principalmente como um sumidouro de microplásticos, e não como uma fonte, como se pensava anteriormente, revela um novo estudo liderado por investigadores do Instituto Max Planck de Meteorologia, na Alemanha.

O pó de plástico está a poluir o ambiente global. Os microplásticos (partículas com menos de 5 milímetros de diâmetro) foram detetados não só no solo, na água doce e no oceano, mas também no ar, noticiou na sexta-feira a agência Europa Press.

Este material pode representar uma ameaça para a saúde humana, uma vez que as partículas mais pequenas, em particular, podem entrar no sistema respiratório e na corrente sanguínea.

Os microplásticos atmosféricos são transportados e depositados nos cantos mais remotos do planeta. Em geral, as fontes de microplásticos encontram-se no solo, como fibras sintéticas de vestuário em águas residuais domésticas ou pó de pneus de automóveis nas ruas.

Estudos anteriores sugeriram que uma das principais rotas de entrada de microplásticos na atmosfera era através do oceano: os microplásticos são levados para os rios e para o mar, onde se acumulam. As bolhas de ar criadas pela água do mar, pelo vento e pelas ondas podem levantá-los da água e libertá-los para a atmosfera.

A suposição de que o oceano atua como uma fonte de microplásticos para a atmosfera baseou-se num modelo inverso. Neste método, as fontes de uma substância são inferidas a partir de medições da sua distribuição de concentração atmosférica.

Aplicado aos microplásticos, este método levou os cientistas a acreditar que existia uma fonte oceânica de microplásticos a entrar na atmosfera com centenas de milhões ou mesmo milhares de milhões de quilos por ano.

O mecanismo exato desta transferência foi posteriormente investigado em experiências laboratoriais, o que levou a uma conclusão muito diferente: apenas alguns milhares ou centenas de milhares de quilos por ano pareciam plausíveis.

Utilizando um modelo global de transporte químico atmosférico, a nova investigação centrou-se em determinar se a suposição de uma pequena fonte oceânica resulta numa distribuição atmosférica de microplásticos consistente com as observações.

O resultado foi positivo. Em vez de ser uma fonte, o oceano parecia ser um sumidouro, onde 15% de todos os microplásticos transportados pelo ar são depositados.

O estudo mostra ainda como o tamanho determina o transporte de microplásticos na atmosfera: as partículas maiores depositam-se com relativa rapidez, seja em terra ou perto de costas.

Pequenas partículas de microplásticos podem permanecer na atmosfera até um ano, o que as torna fáceis de transportar pelo planeta.

Por exemplo, o modelo mostra que pequenas partículas, embora emitidas no continente, chegam à região do Ártico e depositam-se na neve e no gelo. Isto demonstra o impacto global da poluição por microplásticos.

Este conhecimento pode informar as estratégias de redução da poluição, que devem focar-se nas fontes interiores e não no papel do oceano como fonte de microplásticos, sublinhou o Instituto Max Planck, em comunicado.


Guiné-Bissau: O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, disse à Lusa que, na próxima revisão constitucional, irá propor que o país adote o semipresidencialismo com pendor presidencial, ao contrário da atual tendência parlamentar.

© Lusa  22/03/2025
 Presidente guineense quer Constituição com pendor presidencial

O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, disse à Lusa que, na próxima revisão constitucional, irá propor que o país adote o semipresidencialismo com pendor presidencial, ao contrário da atual tendência parlamentar.

Numa entrevista à Lusa, em que Embaló admitiu "todas as perguntas", o chefe de Estado guineense comentou a sua visão sobre o regime que o país deve adotar com a revisão constitucional que, disse, irá avançar proximamente.

Em maio de 2020, três meses após assumir a presidência da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló instituiu uma comissão de juristas para propor um novo texto constitucional, mas a medida foi rejeitada pela classe política que defende que o Presidente não pode ter iniciativa de revisão da Constituição, a qual atribui esta prerrogativa à Assembleia Nacional Popular.

Na entrevista à Lusa, Embaló afirmou que "este processo vai avançar, só está adormecido, mas vai avançar".

"Não é para fortificar o Presidente da República, porque o Presidente da República da Guiné-Bissau é o chefe do executivo. Eu defendo esse regime que nós temos aqui com pendor presidencialista, não defendo o presidencialismo", declarou.

A atual Constituição guineense prevê que o Presidente da República pode presidir ao Conselho de Ministros, "quando entender", mas estipula que "o Primeiro-Ministro é o Chefe do Governo, competindo-lhe dirigir e coordenar a ação deste e assegurar a execução das leis".

Sissoco Embaló disse querer que a nova Constituição passe a ter como "novidades" o Tribunal Constitucional e os conselhos consultivos económico e ambiental.

Sem aceitar o rótulo de "chefe único", como em várias ocasiões se autodenominou, Embaló realçou que admite a separação de poderes, contudo, considera-se "a cabeça do Estado" por ser o Presidente da República.

"O Estado tem cabeça, quem está no topo da cabeça é o Chefe de Estado. Aqui não há monarquia, há separação de poderes. Mesmo num sistema mais absolutista, mesmo na Coreia do Norte, há divisão, mas o único órgão é o Presidente, o presidente da Assembleia, primeiro-ministro não são órgãos", enfatizou.

A separação de poderes do Estado existe na Guiné-Bissau, mas Embaló afirmou que, "se quiser", faz um decreto e convoca os deputados ao parlamento, profere o seu discurso e fecha a sessão, mesmo com a assembleia dissolvida desde dezembro de 2023.

A Constituição guineense prevê que o PR pode "convocar extraordinariamente a Assembleia Nacional Popular sempre que razões imperiosas de interesse público o justifiquem".

O Presidente guineense aproveitou para dar o seu ponto de vista sobre o fim do seu mandato de cinco anos, que, para a oposição, ocorreu no passado dia 27 de fevereiro, mas que o próprio defende que só termina no dia 04 de setembro.

Para Umaro Sissoco Embaló, o contencioso eleitoral que se seguiu à segunda volta das presidenciais de dezembro de 2019 motivou "uma situação de suspense" no país, também por existirem, então, dois Presidentes da República.

Embaló fazia alusão ao facto de o então presidente do parlamento, Cipriano Cassamá, ter sido indicado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) - que suportava a candidatura do seu oponente nas presidenciais, Domingos Simões Pereira - como "Presidente da República", já que, segundo a Constituição, em caso de impedimento, o cargo passa a ser assumido interinamente pelo presidente da Assembleia Nacional.

Esta situação, disse Embaló, juridicamente consubstanciou "um ato suspensivo", o que levou elementos da comunidade internacional que o tinham felicitado como novo Presidente da Guiné-Bissau a retirarem as felicitações.

O Presidente guineense lamentou que a situação se tenha arrastado durante nove meses, entre fevereiro e setembro de 2020, quando o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), nas vestes de Tribunal Constitucional, encerrou o contencioso eleitoral, confirmando-o como vencedor.

Embaló salientou que, à luz do atual texto, "é a única pessoa que pode interpretar" para decidir sobre a existência ou não de uma grave crise entre as instituições do Estado.

Foi o que fez quando, em dezembro de 2023, dissolveu o parlamento que havia sido eleito em junho do mesmo ano, mesmo admitindo ter ido contra a norma constitucional que impede a dissolução do órgão num prazo de 12 meses após a sua constituição, salientou.

"O legislador não pode prever tudo (...) aí é que entra a posição política", disse Embaló, em alusão ao facto de ter dissolvido o parlamento com base numa crise política resultante de uma alegada tentativa de golpe de Estado, de que acusou o órgão legislativo de ter sido "coadjuvante".


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