quarta-feira, 2 de julho de 2025

Ataques dos EUA "atrasaram" programa nuclear iraniano por dois anos... O programa nuclear do Irão foi adiado cerca de dois anos após os ataques norte-americanos ordenados pelo Presidente Donald Trump, adiantou hoje o Departamento de Defesa (Pentágono), que cita avaliações dos serviços de informação dos Estados Unidos.

© Alex Wong/Getty Images   Lusa   02/07/2025 

"Atrasámos o seu programa em pelo menos um a dois anos, é o que a comunidade de inteligência do Departamento de Defesa está a avaliar", frisou o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell.

 Parnell sublinhou que o atraso causado ao programa nuclear iraniano está "provavelmente está mais perto dos dois anos".

Donald Trump já tinha estimado, no final de junho, que o programa nuclear iraniano tinha sido eliminado e atrasado por décadas, enquanto 'media' norte-americanos, que citaram um relatório confidencial de uma agência de informação norte-americana, estimou o atraso em apenas alguns meses.

A informação do Pentágono foi avançada no mesmo dia que o Presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, deu a aprovação final à legislação que suspende a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), dando sequência a uma votação anterior no parlamento.

A lei promulgada hoje visa "garantir o total apoio aos direitos do Irão" e, "em particular, ao enriquecimento de urânio" ao abrigo do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), segundo os meios de comunicação iranianos.

A ONU considerou preocupante esta decisão do Irão, enquanto Washington considerou inaceitável.

Em 25 de junho, um dia após o cessar-fogo imposto por Donald Trump após uma guerra de 12 dias entre o Irão e Israel, o Parlamento iraniano aprovou por larga maioria um projeto de lei que suspende a cooperação com a agência da ONU responsável pela segurança nuclear.

A decisão do Irão irritou também Israel, inimigo desde a Revolução Islâmica de 1979, e o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, apelou ao mundo para "utilizar todos os meios ao seu dispor para pôr fim às ambições nucleares do Irão".

Apelou à Alemanha, França e Reino Unido, os três países europeus que assinaram o acordo nuclear iraniano de 2015 com a China e os Estados Unidos, para "reinstaurarem todas as sanções contra o Irão" e fazerem-no "agora".

Este acordo tornou-se nulo e sem efeito após a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018, e Teerão começou então a libertar-se das suas obrigações. Berlim classificou a decisão do Irão como um "sinal desastroso".

Afirmando que o Irão estava perto de desenvolver uma arma nuclear, Israel lançou um ataque maciço contra o país em 13 de Junho, atingindo centenas de instalações nucleares e militares.

O Irão, que nega procurar uma bomba atómica, mas defende o seu direito de enriquecer urânio para fins civis, retaliou com ataques de mísseis e drones contra Israel.

Os ataques israelitas fizeram pelo menos 935 mortos no Irão, segundo um relatório oficial. Em Israel, 28 pessoas foram mortas por mísseis iranianos, segundo as autoridades israelitas.

A questão do enriquecimento de urânio está no centro das divergências entre o Irão e os Estados Unidos, que iniciaram negociações indiretas em abril, mas foram interrompidas pela guerra.

As autoridades iranianas denunciaram veementemente o silêncio da AIEA face aos bombardeamentos israelitas e norte-americanos contra as instalações nucleares iranianas.

Teerão criticou ainda a agência por uma resolução adotada em 12 de junho, véspera dos primeiros ataques israelitas, acusando o Irão de incumprimento das suas obrigações na área nuclear.

O Irão rejeitou também um pedido do responsável da AIEA, Rafael Grossi, para visitar as suas instalações nucleares bombardeadas, a fim de apurar o que aconteceu ao seu 'stock' de urânio enriquecido a um nível próximo do limite de projeto para uma bomba atómica.

Grossi estimou que o Irão teria capacidade técnica para retomar o enriquecimento de urânio em "alguns meses".

ONU preocupada com saída de Estados europeus de tratado contra minas antipessoais... O alto-comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou hoje a sua preocupação com a retirada de seis países do leste europeu da Convenção de Otava para a proibição das minas antipessoais.

© Krishan Kariyawasam/NurPhoto via Getty Images    Lusa  02/07/2025

"Estou alarmado com as medidas tomadas ou a ser ponderadas por Estónia, Finlândia, Letónia, Lituânia, Polónia e Ucrânia para saírem da convenção", disse Turk, em comunicado.

Contrapôs que este tratado foi concebido para regular a conduta das partes em conflitos armados, pelo que "cumpri-lo em tempo de paz para depois se retirar em tempos de guerra ou por novas considerações de segurança nacional socava seriamente o quadro do direito internacional humanitário".

Recordou também que estas minas "matam e mutilam indiscriminadamente civis e combatentes e afetam a liberdade de movimento das pessoas, o acesso a terras agrícolas e o direito ao desenvolvimento, inclusive décadas depois do fim das hostilidades".

Aqueles seis Estados defenderam a sua vontade de voltar a usar minas antipessoais, dada a insegurança regional e a necessidade de protegerem as suas fronteiras, desde logo as que têm com a Federação Russa, que não é parte subscritora da Convenção de Otava, tal como, aliás, EUA e China.


Leia Também: Kyiv registou 5 mil drones russos em junho e pede mais defesa aéreas

O chefe da diplomacia ucraniana, Andriy Sybiga, indicou hoje que a Rússia utilizou mais de cinco mil drones e 330 mísseis contra a Ucrânia em junho, um número que diz sobressair a necessidade de Kyiv de mais defesas aéreas.


Um avião abatido, dois irmãos torturados até à morte, jornalistas detidos: Rússia de costas voltadas com importante aliado

Vladimir Putin e Ilham Aliyev (Vyacheslav Prokofyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP)  Por  CNN

Eram, até há bem pouco tempo, parceiros próximos. Mas tudo ruiu nos últimos meses

Poucos diriam, há uns anos, que Rússia e Azerbaijão iriam estar de costas voltadas em 2025.

No final da Segunda Guerra do Nagorno-Karabakh, na qual Baku conquistou vários territórios que tinham sido ocupados por arménios pouco depois da dissolução da União Soviética, o Kremlin emergiu como o grande mediador que, para desagrado da Arménia, seu tradicional aliado no Cáucaso, adotou uma postura muito favorável ao Azerbaijão.

Na ofensiva azeri de setembro de 2023, durante a qual recuperou os últimos territórios ainda controlados pelos arménios no Nagorno-Karabakh, as forças de manutenção de paz russas não se colocaram no caminho das tropas de Baku e, mais uma vez, Moscovo entregou o seu amigo, membro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva - uma espécie de NATO que a Rússia formou com alguns países ex-soviéticos - e ofereceu um cessar-fogo com excelentes condições ao Azerbaijão.

Vladimir Putin e o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, reuniram-se um pouco mais tarde, a 12 de outubro de 2023, à margem de um encontro de ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade de Estados Independentes em Bisqueque, capital do Quirguistão.

Ilham Aliyev e Vladimir Putin durante o seu encontro em Bisqueque, 12 de outubro de 2023 (Pavel Bednyakov, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP)

As fotos oficiais da pequena cimeira mostram Putin e Aliyev muito satisfeitos, com sorrisos de cumplicidade. As relações entre Azerbaijão e Rússia tinham atingido o seu auge. A partir daí, só poderiam cair. E caíram. Literalmente.

No dia de Natal de 2024, o voo 8243 da Azerbaijan Airlines partiu de Baku rumo à cidade de Grozny, na Chechénia. Era um dia de muito nevoeiro na cidade russa e o Embraer 190AR não conseguiu aterrar. Enquanto se faziam os preparativos para um regresso a Baku, passageiros e tripulantes sentiram uma forte explosão. Os pilotos perderam muitos dos controlos da aeronave. Muito provavelmente, tinham acabado de ser atingidos por um míssil terra-ar lançado por militares russos.

O avião acabou por cair perto do Aeroporto de Aktau, no Cazaquistão, do outro lado do Mar Cáspio, para onde foi mandado pelos controladores aéreos. 38 pessoas morreram, 29 sobreviveram.

Imediatamente após o impacto, os pilotos do voo 8243, sem saber o que realmente tinha acontecido, reportaram uma colisão com um bando de aves. A verdade, ainda que não de forma oficial, tornou-se mais clara esta terça-feira, quando o portal de notícias azeri Minval publicou uma carta anónima que recebeu e que detalha, com recurso a testemunhos e gravações áudio, o que realmente se passou naquele dia: houve ordens para abater o avião.

A juntar a toda a situação, já de si bastante crítica, a resposta de Vladimir Putin, que lamentou o incidente, mas não pediu desculpa, gerou grande descontentamento no governo e sociedade civil azeris.

Destroços do voo 8243 da Azerbaijan Airlines (Azamat Sarsenbayev/AP)

Avançado para a atualidade, as tensões entre Moscovo e Baku recrudesceram no dia 27 de junho. Os irmãos Ziyaddin Safarov, de 55 anos, e Huseyn Safarov, de 60, foram detidos em Ecaterimburgo, juntamente com outras dezenas de pessoas, em ligação com os assassínios de vários empresários na cidade há cerca de 15 e 20 anos.

Um pequeno problema: os irmãos Safarov, azeris com nacionalidade russa, morreram durante as detenções. As autoridades russas alegaram que um dos irmãos morreu de ataque cardíaco, mas as autópsias feitas aos dois revelaram uma história negra: os dois homens sofreram hemorragias graves e tinham marcas de violência por todo o corpo.

À Associated Press, o irmão das vítimas, Sayfaddin Huseynli, afirmou que estas mortes foram “um ato desumano e cruel da Rússia contra migrantes - um ato de intimidação. Antes, à televisão estatal ITV, tinha dito que Ziyaddin e Huseyn tinham sido torturados com choques elétricos “mesmo sem investigação ou julgamento”.

A Procuradoria-Geral do Azerbaijão abriu esta terça-feira uma investigação às mortes, alegando que os dois irmãos foram “sujeitos a tortura e a lesões corporais graves” e mortos com “extrema crueldade”.

Dias antes, a 29 de junho, o Ministério da Cultura do Azerbaijão suspendeu todas as atividades relacionadas com a Rússia, como concertos e exposições, citando as duas mortes “extrajudiciais” como motivo, diz o Moscow Times, que noticia também que o governo suspendeu a visita do vice-primeiro-ministro russo Alexei Overchuk.

A mais mediática das reações foi, contudo, a rusga efetuada à sede da Sputnik Azerbaijão, o órgão local deste meio de comunicação estatal russo, na segunda-feira. O Ministério da Administração Interna do governo liderado por Ilham Aliyev alega, segundo a DW, que a Sputnik está a operar no país com recurso a “financiamento ilegal” e após a revogação da sua acreditação em fevereiro deste ano.

Durante o raide, foram detidos o editor da Sputnik Azerbaijão, Yevgeny Belousov, e o seu diretor, Igor Kartavykh. O incidente motivou repúdio do Kremlin, que chamou o embaixador azeri na Rússia, Rahman Mustafayev, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Perante a tensão crescente, alguns inimigos da Rússia procuram capitalizar. Esta terça-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, teve uma conversa telefónica com Aliyev, a quem expressou solidariedade e condolências pela morte dos irmãos Safarov.

“Ilham Aliyev partilhou pormenores que já foram apurados. Estes pormenores demonstram, uma vez mais, o ódio, o chauvinismo e o cinismo dos russos. O presidente do Azerbaijão agradeceu à Ucrânia e ao povo ucraniano pelo seu apoio”, pode ler-se no comunicado da presidência da Ucrânia, que menciona também que Zelensky convidou Aliyev para uma visita à Ucrânia.

Quem também parece estar a tomar o lado de Baku é a Turquia. Alguns meios de comunicação locais reportaram que Arménia, Azerbaijão e Turquia estão perto de um acordo relativo ao Corredor de Zangezur, o que levaria Ancara a substituir Moscovo como principal mediador das tensões entre os dois países do Cáucaso.

Ao Middle East Eye, o analista de política externa azeri Rusif Huseynov apontou que também o Azerbaijão tem interesse em distanciar-se da Rússia.

"A política externa diversificada do Azerbaijão - ancorada em alianças com a Turquia e o Paquistão, parcerias estratégicas com Israel e, mais recentemente, com a China - reduziu ainda mais a sua dependência de Moscovo”, disse Huseynov. “Os responsáveis russos estão provavelmente inquietos com a expansão da influência política e militar da Turquia no Sul do Cáucaso, especialmente através dos seus laços estreitos com o Azerbaijão”.

Guiné-Bissau. Ministério Público declara "ilegais" a Frente Popular e Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil

Por Rádio Capital Fm

O Ministério Público da Guiné-Bissau declarou, esta quarta-feira (02.07), que a organização cívica Frente Popular (FP) e o Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil guineense são "ilegais" e proíbe as duas estruturas de realizar atividades reservadas às entidades legais.

"Por carecerem da Personalidade Jurídica, [as duas organizações] não podem organizar quaisquer atividades relacionadas com a organização das atividades reservadas às entidades com Personalidade Jurídica, sob pena da lei faltando", lê-se numa nota do Gabinete da Imprensa e Relações Públicas do Ministério Público, assinado por seu responsável, Emerson Gomes Correia, à qual a CFM teve acesso.

Segundo a mesma nota, a Frente Popular e Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil terão recusado receber um convite do Ministério Público, que lhes solicitava um encontro para abordar a sua "ilegalidade".

Aquela instância diz ainda ter notificado as duas organizações, no sentido de apresentarem documentos que comprovassem a sua legalidade, nomeadamente os estatutos e comprovativos de que adquiriram a personalidade jurídica. Mas a nota não diz se os documentos solicitados foram entregues ou não.

O Ministro Público, através do seu Gabinete da Imprensa e Relações Públicas alerta as instituições públicas e os parceiros de desenvolvimento da Guiné-Bissau, de que a Frente Popular e o Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil "não são legais" para se manter relações ou cooperação.

"Para o efeito, o Ministério Público alerta a todas as instituições e parceiros de desenvolvimento [da Guiné-Bissau], de que a Personalidade Jurídica das pessoas coletivas não é supra legal e, porque tanto a Frente Popular como o Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil, carecem desta personalidade, as mesmas não podem entrar em relação jurídica com quaisquer entidades, ou seja, não podem praticar atos jurídicos em seu nome próprio ou demandar em juízo", lê-se na nota.

Senegal, país africano mais endividado... Um relatório do banco britânico Barclays avaliou a dívida do Senegal a 119% do PIB em 2024. Os mercados financeiros sancionaram de imediato o país devido a essa informação.

Por  Marco Martins  RFI  02/07/2025 

No Senegal, a dívida pública, estimada pelo tribunal de contas em 99,7% do PIB (ndr: Produto Interno Bruto) em 2023, acabou por ser agora avaliada em 119% do PIB segundo um relatório do banco Barclays.

O Senegal é o país mais endividado em África e um dos três a ultrapassar os 100% com a Zâmbia e Cabo Verde.

Estes números preocupam visto que houve um salto de quase 20%, um aumento vertiginoso. Para calcular esta taxa de endividamento, o banco britânico baseou-se sobre a dívida estimada por Dacar que era de 23 500 mil milhões de francos CFA no fim do ano passado, não havendo indicações sobre o PIB em 2024.

A Barclays não é a primeira instituição a vincar este problema: no mês de Abril, o FMI (ndr: Fundo Monetário Internacional) estimou a dívida em 111,4% do PIB.

A primeira consequência é a sanção nos mercados financeiros. Após a divulgação desse relatório, as obrigações senegalesas perderam 9,1% do seu valor, isto significa mais do que a Ucrânia com 8,6%.

Concretamente, isto significa que o país vai ter de pedir empréstimos com taxas mais elevadas nos próximos meses, enquanto o empréstimo do FMI, avaliado em 1,8 mil milhões de dólares, continua suspenso.

O FMI espera uma maior visibilidade no que diz respeito às finanças senegalesas antes de libertar a ajuda financeira.

Do lado do Governo senegalês, a única reacção foi que há um estudo em curso sobre a dívida pública de 2019 a 2024 e que os números não podem ser apresentados por não serem ainda fiáveis.

Imigrantes "em pânico" com alterações legislativas em Portugal... As alterações às leis da nacionalidade e de estrangeiros que vão ser discutidas no parlamento na sexta-feira estão a gerar "pânico" nas comunidades do subcontinente indiano, com muitos a queixarem-se de já não serem desejados.

Por LUSA 

"Se compararmos com outros países europeus, Portugal não tem os mesmos salários, aqui são mais baixos, mas as pessoas optavam por ficar aqui porque sentiam segurança, poderiam trazer a sua família, construir aqui vida e obter a cidadania, mas agora parece que nada disto vai acontecer", disse à Lusa o presidente da Casa da Índia, Shiv Kumar Singh.

O dirigente associativo é um dos cinco representantes das comunidades imigrantes no Conselho Nacional para as Migrações e Asilo (CNMA), órgão que não foi avisado pelo Governo das propostas de lei, as primeiras iniciativas legais apresentadas pelo governo, que alargam os prazos para a obtenção da nacionalidade, admitem a retirada da cidadania a naturalizados e impõem limites ao reagrupamento familiar.

"Os cinco conselheiros foram eleitos democraticamente e o Governo ignorou-nos", lamentou Shiv Kumar Singh, que se queixa do discurso em torno da regulação das entradas em vez de medidas de integração.

Para o dirigente da Casa da Índia, "a comunidade [indiana] concorda que deve existir respeito pela lei e que a lei deve ser a favor de todos. Mudar estas regras é estar a criar pânico entre as pessoas, que tinham planos, queriam ficar cá e agora não se sentem desejadas" pelo Governo português.

"Estamos a favor de uma imigração regulada e organizada, mas, a nosso ver, estas medidas são unilaterais e não ajudam o país" disse, acusando o executivo de criar regras discricionárias, ao definir prazos diferentes de residência para o acesso à nacionalidade portuguesa (sete anos para de autorização de residência para quem é lusófono e dez anos para os restantes).

Shiv Kumar Singh disse que "o governo fala que tem uma linha humanista, mas criou classes entre seres humanos".

O alargamento dos prazos para o requerimento de nacionalidade é uma das principais queixas, já que a atual lei permite o acesso a quem tenha cumprido cinco anos após o pedido de autorização de residência.

Alam Kazoi, dirigente da Comunidade do Bangladesh do Porto, afirmou que "as pessoas estão preocupadas com este regresso ao passado", numa referência ao facto de as propostas do governo remontarem a prazos de 2007.

"Os imigrantes pensavam que conseguiriam ter a nacionalidade com menos tempo e muitos vieram para cá, mesmo sabendo que Portugal paga mal", recordou o dirigente.

E o pedido de nacionalidade, em muitos casos, nada tem a ver com o desejo de sair de Portugal, mas porque a "burocracia para quem é imigrante é impossível".

"As pessoas estão preocupadas, porque nada funciona, não há renovações de vistos, não há resposta da AIMA [Agência para a Integração, Migrações e Asilo] e conseguir a nacionalidade era acabar com uma burocracia", porque "é possível renovar um cartão de cidadão em poucos dias".

Hoje, "muitos estão presos em Portugal e não conseguem ir a casa ver a família, porque os documentos estão caducados", devido à falta de resposta da AIMA, acusou Kazoi.

O governo português tem prolongado administrativamente a validade dos documentos dos imigrantes, mas essa decisão nem sempre é aceite pelas autoridades de outros países.

A estes problemas soma-se a proposta de introdução de um novo prazo para o reagrupamento familiar por parte do Governo, que quer exigir um período mínimo de dois anos com autorização de residência para poder requerer a vinda de familiares para Portugal.

Apesar das promessas, há dois anos que a AIMA não abre vagas para reagrupamento familiar e por isso, a maioria dos imigrantes é do sexo masculino e está em Portugal sem família, criando problemas de integração e inclusão social.

"As pessoas vieram para cá, estavam à espera de uma coisa e depois fazem isto. Parece que não gostam dos imigrantes", desabafou o dirigente da comunidade do Bangladesh.


Leia Também: O Governo finlandês vai propor a cessação do mandato da embaixadora finlandesa em Lisboa, para "garantir que a embaixada se mantém funcional", após queixas dos funcionários de assédio e comportamento inapropriado da diplomata, anunciou hoje a diplomacia finlandesa.

Redução de armas? Kyiv afirma não ter sido "notificada" pelos EUA... A Ucrânia afirmou hoje não ter sido "oficialmente notificada" pelos Estados Unidos sobre a cessação do fornecimento de certas armas e apelou ao seu aliado para que mantenha um "apoio constante" para pôr fim à invasão russa.

Por LUSA 

"A Ucrânia não recebeu qualquer notificação oficial sobre a suspensão ou revisão dos calendários de entrega da ajuda militar acordada. O caminho para o fim da guerra passa por uma pressão constante e comum sobre o agressor, bem como pelo apoio inabalável à Ucrânia", afirmou o Ministério da Defesa ucraniano, em comunicado. 

Já a Rússia considerou hoje que a redução do fornecimento de determinadas armas à Ucrânia anunciada pelos Estados Unidos (EUA) aproxima o fim da guerra, numa altura em que Kyiv diz estar a tentar clarificar a situação com Washington.

Um alto funcionário da Casa Branca (presidência dos Estados Unidos) disse à televisão norte-americana CNN que o secretário da Defesa, Pete Hegseth, autorizou a suspensão dos fornecimentos de armas à Ucrânia, incluindo mísseis antiaéreos, segundo a agência de notícias espanhola EFE.

"Quanto menos armas forem entregues à Ucrânia, mais próximo estará o fim da operação militar especial", disse o porta-voz do Kremlin (presidência russa), Dmitri Peskov, citado pela agência de notícias France-Press (AFP).

A "Operação Militar Especial" é a designação oficial da Rússia para a invasão da Ucrânia, que Moscovo lançou em fevereiro de 2022.

Peskov acrescentou que, tendo em conta as informações tornadas públicas, "a razão para esta decisão são os arsenais vazios, a falta de armas nos arsenais dos Estados Unidos", o que foi confirmado pela imprensa norte-americana.

Em Kyiv, um conselheiro do Presidente Volodymyr Zelensky disse que a Ucrânia estava a tentar clarificar a situação com Washington, o primeiro apoio militar do país desde 2022.

"Estamos a esclarecer a situação", disse à imprensa Dmytro Lytvyne.

Segundo o conselheiro de Zelensky, "a comunicação com a parte norte-americana prossegue atualmente a todos os níveis".

O fornecimento suspenso inclui intercetores para os sistemas de defesa aérea Patriot, segundo funcionários do Pentágono (defesa), citados pela EFE.

Abrange também projéteis de artilharia guiados com precisão e mísseis que a força aérea ucraniana dispara a partir de aviões F-16 fabricados nos Estados Unidos, acrescentaram as mesmas fontes.

Os Estados Unidos foram o principal fornecedor de armas a Kyiv desde o início da invasão russa, mas as coisas mudaram desde que Donald Trump se tornou Presidente, em janeiro deste ano.

De acordo com o último relatório do Instituto Kiel, que acompanha as entregas de armas ocidentais à Ucrânia, a Europa já ultrapassou os Estados Unidos no total da ajuda prestada.

Os europeus enviaram 72 mil milhões de euros em ajuda militar, contra 65 mil milhões de euros dos norte-americanos, segundo o instituto alemão, citado pela EFE.

Hegseth já tinha anunciado recentemente uma redução da ajuda militar à Ucrânia no próximo orçamento, argumentando que a prioridade deveria ser o exército norte-americano.

"Esta administração tem uma visão muito diferente do conflito. Acreditamos que uma solução negociada e pacífica é do interesse de ambas as partes e da nossa nação", disse ao Congresso dos Estados Unidos.

Volodymyr Zelensky também já tinha afirmado que Washington iria enviar para o Médio Oriente os 20.000 mísseis que deveria fornecer a Kyiv no âmbito de um acordo alcançado com a administração de Joe Biden.


Leia Também: A Rússia considerou hoje que a redução do fornecimento de determinadas armas à Ucrânia anunciado pelos Estados Unidos aproxima o fim da guerra, enquanto Kyiv anunciou que estava a tentar clarificar a situação com Washington.

Estados Unidos: 'Alcatraz dos Jacarés': A prisão para imigrantes cujo perigo está lá fora... Em causa está um centro de detenção para imigrantes ilegais no estado norte-americano da Florida. Esta prisão é cercada por uma região pantanosa, onde vivem jacarés e cobras venenosas.

© ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP via Getty Images   Notícias ao Minuto com Lusa  02/07/2025 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participou, na terça-feira, na abertura do centro de detenção de imigrantes ilegais no estado da Florida conhecido como 'Alcatraz dos Jacarés', numa zona ambientalmente sensível e sagrada para povos indígenas.  

Além de Trump, estiveram também presentes o governador da Florida, Ron DeSantis, promotor do 'Alcatraz dos Jacarés' no coração do parque natural Everglades, e  a secretária da Segurança Interna, Kristi Noem. 

A Casa Branca declarou que o novo centro foi concebido para acolher 5.000 pessoas, enquanto as autoridades da Florida falaram de mil lugares. Os custos de funcionamento da estrutura estão estimados em 450 milhões de dólares (cerca de 383 milhões de euros ao câmbio atual) por ano.

As autoridades estaduais afirmaram que 'Alcatraz dos Jacarés', centro que descreveram como temporário, contará com tendas e roulottes, permitindo ao estado adicionar 5.000 camas de detenção de imigrantes até ao início de julho e libertar espaço nas prisões locais.  

Tal como noutros centros semelhantes no país, as autoridades pretendem deter temporariamente os imigrantes ilegais enquanto aguardam deportação do país.  A estrutura foi montada num antigo aeródromo.

Qual a explicação para o nome?

Tanto a Casa Branca como as autoridades locais apelidaram-no este centro de 'Alcatraz dos Jacarés' numa referência à antiga ilha-prisão de São Francisco que Donald Trump planeia reabrir - a prisão de Alcatraz, a histórica prisão ao largo da cidade californiana de São Francisco, num rochedo no mar, desativada em 1963 e para onde foram durante décadas enviados alguns dos maiores criminosos do país. 

Aos olhos de DeSantis e de outras autoridades estaduais, o isolamento do aeródromo nos Everglades, rodeado de zonas húmidas repletas de mosquitos, cobras venenosas e jacarés (o que explica a citação a este animal no nome do centro), consideradas sagradas para as tribos nativas americanas, torna-o um local ideal para deter imigrantes ilegais.   

"As cobras são rápidas, mas os jacarés (...). Vamos ensiná-los a fugir de um jacaré, ok?"

Ontem, na sua visita ao polémico centro de detenção migratório, Trump ironizou que os imigrantes que tentem fugir do local correm o risco de serem atacados por animais selvagens. Quando questionado pelos jornalistas sobre se o objetivo do centro de detenção de imigrantes era, em caso de fuga, serem atacados pelos répteis, o presidente respondeu: "É esse o conceito".

"As cobras são rápidas, mas os jacarés (...). Vamos ensiná-los a fugir de um jacaré, ok?", afirmou Trump, num tom jocoso.

"Se fugirem da prisão, como escapar: não corram em linha reta e sabem que mais? As vossas hipóteses aumentam em 1%", acrescentou.

Já o governador da Florida congratulou-se por o presidente poder constatar no local que "quando se leva pessoas para lá, não há forma de elas escaparem".

"Claramente, do ponto de vista da segurança, se alguém escapar, sabem, há muitos jacarés", disse DeSantis, que foi um dos principais rivais de Donald Trump na nomeação presidencial pelo Partido Republicano em 2024. 

Note-se que democratas e ativistas condenaram o plano como um espetáculo insensível e politicamente motivado.

Grupos ambientalistas da Florida apresentaram na semana passada uma ação judicial federal para bloquear a construção do centro de detenção de imigrantes até que seja sujeito a uma rigorosa revisão ambiental, conforme exigido pelas leis federais e estaduais. O recurso à Justiça junta o Centro para a Diversidade Biológica e os Amigos dos Everglades.  

O projeto motivou também protestos de povos indígenas que consideram a terra sagrada, incluindo 15 aldeias tribais tradicionais Miccosukee e Seminole remanescentes, para além de locais cerimoniais e de enterro e outros locais de reunião.

Pode ver algumas imagens na fotogaleria👇.



Leia Também:  Trump troça de imigrantes que venham a ser detidos em "Alcatraz dos Jacarés"

O Presidente dos Estados Unidos visitou hoje o polémico centro de detenção migratório construído na Florida conhecido por "Alcatraz dos Jacarés", ironizando que os imigrantes que tentem fugir do local correm o risco de serem atacados por animais selvagens.


"Há países que abusam dos ciclos" e "têm eleições em menos de 4 anos"... O presidente do Conselho Europeu António Costa considera que as atuais mudanças na Europa correspondem a ciclos políticos, "mais à esquerda ou mais à direita", mas há países que "abusam" fazendo eleições em menos de um ciclo eleitoral.

© Jonathan Raa/NurPhoto via Getty Images   Lusa  02/07/2025 

"Em regra, de quatro em quatro anos há eleições em todos os países, depois há países que abusam dos ciclos políticos e têm eleições em menos de quatro em quatro anos", diz António Costa à Lusa numa entrevista de balanço dos primeiros seis meses do seu mandato como presidente do Conselho Europeu.

O político português respondia a uma pergunta sobre a viragem à direita na política europeia e a perda de terreno da social-democracia, de que Portugal foi um dos últimos exemplos.

Para António Costa, a história tem mostrado que os ciclos políticos se sucedem, "uma vez os eleitores votam mais à esquerda, outra vez votam mais à direita", pelo que há que aguardar pelos próximos ciclos eleitorais.

"Os ciclos são assim, às vezes há umas forças dominantes, depois há outras forças, chama-se a isto alternância democrática", destaca.

No atual cargo há seis meses, o político assume que o seu papel fundamental é "focar o debate político" dos 27 chefes de Estado e de governo que compõem o Conselho Europeu, conduzindo os trabalhos para que tendam "todos a ter uma posição comum sobre os diversos temas".

Para tanto fez uma inovação ao limitar as reuniões apenas a um dia e libertar tempo para o que diz ser importante: ter uma discussão política "mais rica e com profundidade (...), fundamental para podermos chegar a acordo".

"Estamos a falar de uma União de 27 Estados que olham para o mundo com posições geográficas muito distintas, culturas muito distintas, que são das famílias políticas mais diversas, portanto, o que é verdadeiramente extraordinário é que, apesar de toda esta dificuldade, temos não só vontade de estar juntos, como de decidir em conjunto e em 99,9% das vezes chegamos a acordo", sublinha o presidente do Conselho Europeu.

Assumindo declaradamente que hoje tem uma visão diferente da Europa de quando era primeiro-ministro -- "antes via-a a partir de Portugal e dos seus interesses" e agora tem "a perspetiva do interesse geral" -- António Costa diz que, apesar de todos os contratempos e imprevistos, a Europa tem cumprido o seu papel.

A título de exemplo, cita a pandemia, o surto inflacionista e, agora, uma potencial guerra comercial com o principal parceiro comercial: isto "também é uma novidade e a Europa está a procurar gerir essa situação".

"Não é a Europa que gera a incerteza. A Europa é mesmo um fator de certeza, estabilidade e previsibilidade neste mundo de incertezas", destaca, para sublinhar que no atual mundo multipolar, o papel da Europa é "defender um sistema internacional baseado em regras, defender o multilateralismo e (...) empenhar-se em desenvolver uma rede de relações multipolares no mundo.

É neste contexto que cita as várias cimeiras realizadas nos últimos tempos, com Reino Unido, Canadá, África do Sul, países da Ásia Central, dos Balcãs Ocidentais, às que se vão seguir, no segundo semestre, com o Japão, China, Brasil, países da América Latina e das Caraíbas e com a União Africana.

Para o presidente do Conselho Europeu, a intensidade das relações internacionais tem sido "verdadeiramente impressionante", o que faz com que o mundo veja a Europa "como um parceiro que é leal, que é previsível e que é de confiança".

António Costa continua a defender a ideia de que a União Europeia é um "edifício multifunções", em que cada país se enquadra naquilo que considera melhor, porque esse dinamismo é "a forma como a Europa tem sido construída".

"Se no futuro quisermos avançar mais para novos domínios, é natural que essa multifuncionalidade se vá desenvolvendo no espaço da União, é uma questão que entrará necessariamente nos debates nos próximos tempos, visto que, em paralelo com as reformas que os países candidatos têm de fazer para concretizar o alargamento, é necessário também fazer a reforma interna das instituições europeias para o poder acomodar", conclui.

No dia 01 de dezembro de 2024, António Costa começou o seu mandato de dois anos e meio à frente do Conselho Europeu, sendo o primeiro socialista e português neste cargo.


Leia Também: "ARússia recusou o cessar-fogo, a Rússia recusou participar em alto nível nos esforços de negociação e a Rússia tem, aliás, intensificado os ataques à Ucrânia e, portanto, isso significa que não parece que esteja no horizonte da Rússia a predisposição para negociar a paz", diz António Costa, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.

"Revisão". EUA suspendem envio de algumas armas prometidas a Kyiv... Os Estados Unidos vão suspender alguns envios de mísseis de defesa aérea e outras munições para a Ucrânia, perante preocupações de que as suas próprias reservas tenham diminuído em demasia, revelaram na terça-feira autoridades norte-americanas.

© Getty Images    Lusa   02/07/2025

Este armamento tinha sido anteriormente prometido à Ucrânia para utilização durante a guerra em curso com a Rússia sob o governo de Joe Biden (democrata).

Mas a suspensão reflete um novo conjunto de prioridades sob o Presidente Donald Trump (republicano).

"Esta decisão foi tomada para colocar os interesses dos Estados Unidos em primeiro lugar após uma revisão do Departamento de Defesa sobre o apoio e a assistência militar da nossa nação a outros países do mundo", detalhou a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, em comunicado.

"A força das Forças Armadas dos Estados Unidos continua inquestionável - basta perguntar ao Irão", acrescentou.

A revisão do Pentágono determinou que os stocks estavam demasiado baixos em alguns artigos prometidos anteriormente, pelo que os envios de alguns artigos pendentes não serão enviados, de acordo com uma fonte oficial norte-amareicana, que falou à agência Associated Press (AP) sob condição de anonimato.

Até à data, os EUA forneceram à Ucrânia mais de 66 mil milhões de dólares em armas e assistência militar desde a invasão russa em fevereiro de 2022.

Na semana passada, Donald Trump admitiu ponderar fornecer mais sistemas de mísseis de defesa aérea, conhecidos como Patriots, para a Ucrânia se proteger dos ataques russos.

Trump já tinha colocado esta possibilidade quando se encontrou com o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Haia (Países Baixos), na quarta-feira passada, à margem da cimeira da NATO.

Os Patriot foram enviados para Kyiv pela primeira vez durante a administração de Joe Biden (2021-2025) e com o apoio de vários aliados europeus.

O Exército russo fez em junho os maiores avanços em território ucraniano desde novembro e acelerou o avanço pelo terceiro mês consecutivo, segundo dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW).

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.  

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kyiv têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.


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