domingo, 21 de agosto de 2022

Secção de Suzana: POPULARES DE DJOBEL ABANDONADOS SEM “SALVA VIDAS” PARA SE PROTEGEREM DAS INUNDAÇÕES

Por: Assana Sambú JORNAL ODEMOCRATA  21/08/2022  

[REPORTAGEM_agosto_2022] As cerca de trezentas pessoas residentes na pequena ilha de Djobel correm sérios riscos de serem engolidas pela água que a cada dia que passa reduz pedaços de terra daquela ilha, e mostram-se apreensivas e com medo de serem um dia “aniquiladas” por causa do conflito de posse da terra que as opõe aos populares da aldeia de Arame que, de acordo com os relatos dos habitantes de Djobel, terão recusado ceder-lhes o espaço definido pelo governo para o reassentamento, alegando  que o terreno lhes pertence.

Djobel é uma pequena ilha banhada pelo rio Cacheu e que faz parte da grande secção de Suzana, Setor de São Domingos no norte da Guiné-Bissau, com uma população estimada em 257 pessoas, de acordo com os dados avançados por agentes da saúde comunitária da aldeia.

A ilha está localizada entre as aldeias de Elia, uma tabanca que consideram aliada, onde compram alguns produtos de primeira necessidade e da aldeia de Arame. Aliás, Arame é a aldeia mais próxima da pequena ilha em termos de distância, mas há vários anos que as duas localidades não se entendem, o que causa medo à população de Djobel ao ponto de não se atreverem a desembarcar no porto improvisado daquela tabanca. 

PEQUENA ILHA DISPÕE DE DEZOITO “MORANÇAS” E CERCA DE CINQUENTA CASAS

A ilha é constituída por dezoito “moranças – famílias”, que totalizam cerca de cinquenta palhotas construídas de arquitetura tradicional, na sua maioria, com moradias de quatro quartos. A aldeia é também dividida em dois bairros, designadamente: Burré e Canhé, este último tem maior número de casas. O bairro de Burré alberga a pequena escola do ensino básico, o cemitério e o campo de futebol, dado que é a zona com mais espaço de terra, e neste período das chuvas é inundado pela água do mar.

A produção do arroz na bolanha e outras atividades agrícolas são feitas no bairro de Burré, inclusive algumas famílias saem de Elia e de outras tabancas para cultivar o arroz naquele bairro, devido à qualidade do solo. A ilha não dispõe de nenhum pomar de cajú, devido à falta de terra para a sua plantação. Por isso, optam pela atividade da pesca e da lavoura do arroz.  

A aldeia tem uma pequena escola do ensino básico construída pela comunidade, que ministra do 1º ao 4º ano e tem duas salas de aulas, com uma lotação de 40 crianças cada. As crianças que concluem o 4º ano, se pretendem prosseguir os estudos são obrigadas a inscreverem-se nas escolas da Elia, que tem o ensino secundário.  

A escola conta apenas com um professor que trabalha a título de “semi-voluntariado”, dado que os alunos pagam a inscrição no valor de 250 francos CFA e a mensalidade é de mil francos CFA para todos os níveis. O jovem professor é natural da ilha, fez os estudos em Bissau e concluiu o 12º ano de escolaridade e por não ter tido oportunidade de fazer uma formação superior voltou para a sua aldeia e dedicou-se a ensinar as crianças, como também a apoiar a sua família na luta pela sobrevivência diária. 

Os alunos residentes no bairro de Canhé e o professor são obrigados a usar uma pequena canoa a remos para chegar à escola. Aliás, a movimentação na ilha, de apenas uma “morança”, para outra é feita frequentemente, sobretudo em períodos da maré cheia, de pirogas, porque cada família tem a sua para as deslocações.

As mulheres e crianças todas sabem andar de piroga, único meio de deslocação na ilha e para viajar fora dela. A nossa reportagem constatou no rio, ao longo da viagem para a ilha, crianças em pequenas pirogas a pescar e mulheres a remar na travessia entre as duas aldeias, Elia e Djobel.

A maior dificuldade da aldeia tem  a ver com a disponibilidade da água potável. Para conseguir este líquido essencial à vida, algumas mulheres remam até Elia. Na época das chuvas, a situação melhora porque aproveitam a água das chuvas, que procuram conservar em tambores, no máximo, até a época da seca.

A aldeia chegou a beneficiar de um projeto da Cruz Vermelha Internacional que construiu um reservatório que permitia conservar uma quantidade limitada de água para a época da seca, mas o reservatório não resistiu à pressão da água salgada e acabou por se estragar e algumas famílias aproveitaram o remanescente da obra, transformando-o em casa de banho improvisada ou em banheiro apenas para tomar banho, enquanto a defecação faz-se nas margens do rio.

ANCIÃO: “PREFERIMOS SER ENGOLIDOS PELA ÁGUA A SERMOS ANIQUILADOS COM CATANAS”

“Nasci nesta aldeia bem como os meus filhos e netos. Antigamente, a situação era melhor e não havia problemas de inundação. Vivíamos da pesca e da lavoura, porque tínhamos espaço para lavrar. Produzíamos arroz nas bolanhas de Burré e conseguíamos a quantidade de arroz necessária para o nosso sustento, mas hoje a situação é totalmente diferente e estamos a viver aqui com muito medo de sermos engolidos pela água”, explicou um ancião residente do bairro de Canhé, de aparentemente 80 anos de idade, durante uma conversa mantida num dos portos daquele bairro, à nossa chegada à ilha, com tradução dos agentes da saúde comunitária da aldeia.    

Ampom – homem grande em felupe, como estava a ser chamado pelos jovens que nos acompanhavam, disse desconhecer a sua verdadeira idade, mas assegurou que testemunhou vários eventos no período da administração colonial naquela zona e que na altura era um homem valente.

Enfatizou que estavam “muito bem”, sem problemas de inundação mas, nos últimos anos, ou melhor, no início da década 2000 começaram a registar a inundação que levou muitas famílias a perderem as suas casas, inclusive algumas famílias tiveram que abandonar a ilha e mudar para outras localidades.

“Estamos cansados e já não temos forças para fazer mais nada! Deixaram-nos para morrermos aqui e vamos morrer todos, porque seremos engolidos pela água a qualquer dia. Disseram-me que o Estado nos concedeu um espaço na estrada principal entre a Elia e Arame, para o nosso reassentamento, mas as populações da Arame não nos permitem trabalhar naquele espaço. Aliás, que nos pertence desde o período colonial. Tudo está nas mãos do Estado que pode decidir sobre este assunto”, disse o ancião com voz trémula, afirmando que não estão em condições de enfrentar os populares da Arame, por isso “preferimos sermos engolidos pela água a sermos aniquilados com catanas por causa da posse de terra”. 

António Djifan, morador de bairro de Canhé e um dos agentes da saúde comunitária, explicou que o espaço que o governo lhes concedeu pertencia aos seus avôs desde o período colonial.

“O espaço foi concedido aos nossos avôs pela administração colonial. Antigamente, a administração colonial cedia uma porção de terra a uns quilómetros na estrada principal para cada aldeia ocupar-se da limpeza daquele espaço. A população desta zona é testemunha que o espaço pertence-nos e é por isso que o Estado foi orientado para nos ceder aquele espaço. Não compreendemos o porque é que a população da Arame não quer que ocupemos aquele lugar”, salientou.

Afirmou que, atualmente, os populares de Arame plantaram pomares de cajú em algumas zonas naquele terreno, por isso estão a reivindicar o espaço, mas toda a gente sabe que o espaço pertence aos populares de Djobel.

“Os régulos de todas as aldeias da secção de Suzana reuniram-se e concluíram que devemos ocupar aquele espaço que nos pertence, mas os populares da Arame continuaram a reivindicar o lugar, desafiando o poder tradicional e o próprio Estado, aliás, o Estado mostrou-nos que não tem capacidade para dirimir essa situação, razão pela qual até hoje não podemos ocupar aquele lugar”, assegurou.

Explicou, neste particular, que os régulos daquela zona decidiram amaldiçoar (mandji) o espaço, impedindo assim que os habitantes da Arame ou de Elia reivindiquem ou que se apropriem do espaço, deixando o terreno exclusivamente para os populares de Djobel, “mesmo assim não temos coragem de voltar, porque estamos com medo de sermos atacados pelos populares da Arame”.

ISABEL: “MINHA FILHA FALECEU NOS MEUS BRAÇOS NA BERMA DA ESTRADA À ESPERA DE TRANSPORTE”

Isabel Nango, a mulher do Comité da aldeia de Djobel, encontrada pela equipa de reportagem na sua casa e uma das poucas que ficaram em casa naquele dia, dado que a maioria estava na feira popular que se realizava em Elia. As mulheres daquela pequena ilha aproveitam os dias da feira popular da Elia para vender o pescado e alguns produtos haliêuticos, como também para a compra de produtos alimentares e alguns materiais para os seus lares.

A nossa equipa encontrou Isabel Nango a fazer trabalhos domésticos e a preparar o almoço com a sua filha de dez anos e a cuidar de uma anciã doente.

Explicou que atualmente a aldeia está em perigo, fortemente ameaçada e vulnerável à inundação, porque não têm espaços (terras) suficientes para trabalhar. Por isso, a maior atividade de rendimento económico é a pesca e de resto, todo o trabalho da lavoura é feito noutro bairro. 

“Estamos a viver muito mal e totalmente isolados da terra. Se tivermos doentes é um grande dilema para evacuá-los ou chegar ao centro de saúde. Levamos as nossas crianças doentes para Suzana para tratamento ou consultas. Atravessamos o rio em pirogas, mesmo à noite ou de madrugada temos que atravessar o rio, por um dos portos de Elia e depois caminhamos a pé até à paragem, numa distância de quase quatro quilómetros, para embarcar num transporte público, que sai de São Domingos ou alugamos uma motorizada. É um sofrimento enorme que estamos a enfrentar”, afirmou.  

“Devido a recorrentes conflitos que se registaram na zona entre Arame e Djobel sobre a posse da terra, não temos a coragem de atravessar os portos daquela aldeia, por medo de sermos agredidas ou mortos. Por isso, desembarcamos sempre nos portos de Elia que, apesar da distância, é mais seguro” contou, acrescentando que a sua filha doente faleceu, porque não conseguiu um transporte para chegar a tempo ao centro de saúde. 

“A minha filha estava doente e saímos daqui à noite, atravessamos o rio para Arame, porque, na altura, entendíamo-nos bem. A criança não resistiu à doença e acabou por falecer nos meus braços na berma da estrada, onde estávamos sentados no chão à espera de transporte público para ir ao centro de saúde de Suzana”, lamentou.

Questionada sobre a situação das grávidas em trabalho de parto, respondeu que normalmente conseguem ter partos normais em maioria dos casos. Acrescentou que quando há uma grávida com dificuldades de dar à luz, ela é evacuada de urgência, de piroga para Elia, onde são transportadas de motorizadas para o centro de saúde de Suzana.

“Mas geralmente as mulheres conseguem ter parto normal sem necessidade de serem evacuadas. Aqui temos uma casa onde as mulheres dão à luz com a assistência de anciãs com experiência em assistência a grávidas em parto”, referiu.

Explicou ainda que, por causa dos níveis de água que sobem a cada dia, são obrigadas a deixar as crianças em casas fechadas, quando falta um adulto em casa para cuidar delas.

“Somos obrigadas a fechar as crianças dentro de casas e trancar as portas, se não tivermos alguém que possa cuidar delas. Os nossos animais, por exemplo, galinhas e patos, são deixados em gaiolas. Construímos uma espécie de gaiolas, usando mosquiteiros velhos para proteger as galinhas e os patos, para que não possam ser levados pela corrente de água”, referiu.

COMITÉ DA ALDEIA: “AMARRAMOS DEFUNTOS COM PAUS PARA QUE NÃO SEJAM ARRASTADOS PELA ÁGUA”

O Comité de tabanca de Djobel e que ocupa igualmente a função de agente de saúde comunitária naquela aldeia, Baciro Nango, explicou à nossa equipa de reportagem que atualmente, a aldeia enfrenta inundações jamais vistas, por isso é urgente encontrar um lugar para viverem e evitar a calamidade que poderá ocorrer a qualquer dia.

Assegurou que na época da chuva, deparam-se com problemas de subida dos níveis da água do mar que estraga as bolanhas e inunda algumas casas.

“A nossa situação é bastante triste. O nosso cemitério é muito pequeno e cova-se um pouco e sai na água. Por isso, ao enterarmos defunto, somos obrigados a amarrá-lo num pau colocado na cova para que não seja arrastado pela água, sobretudo quando é maré alta”, enfatizou.

“Neste momento chove muito, a água sobe e entra nas nossas casas. É por isso que todos os dias somos obrigados a construir diques e reconstruir outros estragados pela água. Não sabemos o que poderá acontecer connosco nesta ilha na próxima maré alta. Eu continuo a afirmar que é urgente sairmos daqui o quanto antes”, enfatizou, responsabilizando o governo guineense por tudo o que vier a acontecer com eles, “porque o Estado não teve coragem de enfrentar as pessoas de Arame, a fim de nos permitir ocupar o espaço que nos foi cedido”.

“Podem imaginar que estávamos a trabalhar na construção das nossas casas no terreno, quando os habitantes de Arame invadiram o local à noite e incendiaram as casas, e partiram os blocos dados pelo governo”, revelou. 

Relativamente à situação da disputa do terreno com a Arame, Nango disse que a decisão de atribuir o espaço à sua aldeia foi tomada numa reunião em São Domingos entre os membros do governo, administrador do setor e representantes da sua aldeia, de Arame e de Elia em 2019.

“No final daquela reunião foi produzido um documento, no qual decidiu-se que Djobel ocuparia o espaço em causa, de quatro quilómetros quadrados, mas como os habitantes de Arame já tinham plantado árvores de fruta naquele lugar, Djobel ficaria com o dois quilómetros quadrados. Decidiu-se igualmente que todos os pomares de cajú e outras plantas que estavam na área de dois quilómetros cedido a Djobel deveriam ser derrubados. Na altura não houve nenhuma objeção de nenhuma das partes à decisão” contou, para de seguida avançar que depois da decisão, mobilizaram toda aldeia e jovens das tabancas vizinhas para limpar o espaço de acordo com as orientações do governo.

“Na medição do espaço não foi cumprida a decisão acordada no encontro de São Domingos. O responsável de tudo isso foi antigo administrador do setor, Domingos Nanco (Dó), que chamou os responsáveis de Arame para fazer a medição, foi dali que decidiram conceder-nos o espaço que está em causa” referiu, criticando a medição feita que supostamente não obedeceu à recomendação do São Domingos, bem como o terreno não corresponde aos dois quilómetros decididos.

Solicitado a pronunciar-se sobre a decisão dos régulos da secção de Suzana de proibir as aldeias de Arame e Elia de reivindicar o referido espaço, Baciro Nango disse que ficaram satisfeitos com a decisão dos régulos.

“Os régulos chamaram-nos para ficar naquele terreno depois de concluírem toda a cerimónia de “mandjidura” e que o espaço doravante passaria a pertencer-nos. Pediram a Arame que nos deixasse ocupar o espaço em paz e que não houvesse retaliação, mas os populares de Arame não concordaram com os régulos e afirmaram que ninguém roubar-lhes-ia os seus terrenos” recordou, afirmando que não podem voltar àquele terreno para trabalhar para não se envolverem em conflito com Arame que continua a reivindicar o espaço.

COMITÉ DE ARAME: “ESPAÇO CONCEDIDO AOS POPULARES DE DJOBEL É NOSSO”

O Comité da aldeia da Arame, Moimo Sanhá, explicou numa conversa telefónica, que a antiga ministra da Administração Territorial, Ester Fernandes, foi quem concedeu aquele terreno aos populares de Djobel em 2019, porque se chegou à conclusão que deviam sair da ilha que sofre ameaças de inundação.

“Foi no mês de fevereiro de 2019 que o governo decidiu conceder o nosso terreno aos populares de Djobel. Na verdade, concordámos com a decisão na altura, até porque eu, em particular, presenciei ao ato da medição do terreno. O espaço total concedido aos populares de Djobel é de quatro quilómetros quadrados. Concordamos todos que era muito pequeno e devia ser estendido para a zona de Elia, mas estes recusaram na altura”, recordou.

Questionado porque recusaram permitir aos populares de Djobel ocupar o espaço, uma vez que já tinham concordado, respondeu que os populares de Djobel não se limitaram apenas a limpar o espaço, mas foram para além do limite e derrubaram os pomares de cajú das pessoas com o propósito de aproveitar mais espaço.

“A primeira coisa que Djobel fez, foi recusar chamar a nossa parte para decidirmos em conjunto a delimitação do espaço, porque nós conhecemos muito bem aquela zona. Eles foram buscar as pessoas da Elia para os ajudar a derrubar árvores e os nossos pomares. É por isso que reagimos, impedindo-lhes de ocupar o espaço. Estavam a causar prejuízos à população da Arame e em reação a essa atitude, as partes envolveram-se em conflito, portanto foi isso que causou este problema”, contou.

Assegurou que foram derrubadas naquele período nove pomares de caju para aproveitar o espaço e deixar-lhes em dificuldades.

“Pode imaginar 250 homens com catanas e manchados a derrubar pomares de cajú durante dois dias. Fizeram um enorme estrago às populações de Arame, aliás naquela altura, o ministro do Interior, Edmundo Mendes, visitou a nossa aldeia para se inteirar da situação e sobretudo dos pomares cortados”, lembrou. 

Sobre as informações recolhidas em como o espaço em causa teria pertencido aos populares de Djobel desde o período colonial, Sanhá confirmou que no período colonial as populações de Djobel é que limpavam aquele espaço, mas garante que o local na verdade pertence à Arame e não Djobel.

“O antigo ministro da Administração Territorial e do Poder Local, Fernando Dias, tinha promovido um encontro entre os régulos de Arame e Djobel para uma negociação, mas o régulo de Djobel recusou participar no encontro. Nós mesmos convidamos o comité e anciões de Djobel para um encontro a fim de encontrarmos soluções para esta situação, mas recusaram. Eles recusaram sentar connosco, porque foram monopolizados por Elia, porque temos um diferendo na justiça com Elia”, contou.

“A população de Djobel são nossos irmãos e convidámo-los para virem povoar connosco, mas recusaram. Dissemos-lhe que cada pessoa vai identificar a sua família em Arame e este vai conceder-lhe um espaço para construir a sua casa, mas infelizmente essa iniciativa não surtiu efeito. Djobel está a ser monopolizado pelos habitantes da Elia e infelizmente não sabemos com que motivo” lamentou o Comité de Arame.

Foto: A.S 

Setor de Prábis: MULHERES CAMPONESAS PEDEM ESPAÇO À ADMINISTRAÇÃO LOCAL PARA A HORTICULTURA

 JORNAL ODEMOCRATA  21/08/2022  

[REPORTAGEM_agosto_2022] Mais de trezentas camponesas agrupadas numa organização denominada na língua pepel “N’daté”, no setor de Prábis, região de Biombo, norte da Guiné-Bissau, pediram à administração do setor que lhes conceda um espaço para o cultivo de produtos hortícolas, dado que o espaço que utilizam neste momento é propriedade privada e que o proprietário poderá querer recuperar o seu terreno a qualquer momento.

N’daté é a Associação de Mulheres Horticultoras do setor de Prábis que agrupa diferentes cooperativas de mulheres que se estima em mais de 300 pessoas que exercem atividades agrícolas naquela zona. O campo da associação situa-se a seis quilómetros da entrada na estrada principal de Prábis. A maioria das camponesas reside na cidade do setor e nas aldeias vizinhas da cidade, pelo que são obrigadas a alugar motorizadas todos os dias pelo valor de 1500 Francos CFA.

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PREOCUPADA COM FALTA DE MERCADO PARA VENDER PEPINOS

A presidente da Associação de Mulheres Horticultoras, Filomena Cá, explicou, na entrevista ao semanário O Democrata, que a maior dificuldade da associação das camponesas prende-se com a falta do espaço para o cultivo, sobretudo um terreno que a organização poderá vedar com arame para impedir que animais estraguem os produtos cultivados.

Informou que a associação trabalha em cooperativas através da qual recebem alguns apoios de Organizações Não Governamentais, como sementes e outros materiais, arames, catanas, regadores e outros utensílios para o trabalho de campo. 

A responsável da associação lamenta as dificuldades enfrentadas pelas horticultoras. Segundo a sua explicação, são obrigadas a pagar um certo valor em dinheiro para limpar o campo e para a vedação do mesmo com arame. 

“Para conseguirmos trabalhar neste campo, foi preciso pagar a alguém que aceitou cortar paus e palhas, depois vedou o espaço. Nem todas as pessoas têm disponibilidade por isso são elas mesmas que cortam os paus e vedam o campo, às vezes solicitam apoios de familiares”, contou.

Explicou que a iniciativa de organizarem-se em Associação que defenda os seus interesses surgiu quando perceberam que tornara-se difícil conseguirem sozinhas, mesmo com a ajuda dos maridos ou familiares trabalhar no campo, por isso criaram a associação para pedir ajuda às organizações não-governamentais.

“Estamos a trabalhar neste campo com o propósito de contribuir para a sobrevivência das nossas famílias na educação dos nossos filhos para que se possam formar-se e serem quadros que possam servir o país e ajudar a própria família”, enfatizou.

Solicitado a pronunciar-se sobre os apoios recebidos das organizações e de que tipo são, respondeu que a sua organização já recebeu o apoio da Associação das Mulheres de Atividade Económica (AMAE) que ajudou a associação com materiais de trabalho e arames para a vedação do campo. 

“A Associação conta com mais de 300 membros inscritos que trabalham no campo e cultivam pepino e outros produtos hortícolas. Cultivamos muitos pepinos e outros produtos hortícolas para que possamos vender muito e pagar as contribuições na associação, comprar materiais e sementes agrícolas para o ano seguinte, dado que produzimos apenas no período da chuva, porque na época da seca cada qual trabalha na sua casa, onde faz um pequeno campo de tomates, pimentas, quiabos e badjiki“, assegurou.

Explicou ainda que devido ao espaço insuficiente, cada associada trabalha apenas no seu campo e não para a associação. A falta de espaço também leva algumas mulheres da associação a trabalhar em campos emprestados nas aldeias de Suro e Quicete. 

Cá revelou que são obrigadas a pagar dez mil francos cfa por ano ao proprietário do espaço, de formas a poderem trabalhar naquele terreno. Por isso, aproveitou a entrevista para implorar ao governo que ordene à administração do setor de Prábis no sentido de conceder-lhes um espaço para poderem trabalhar. 

Questionada se recebem alguma ajuda da administração local, Cá respondeu que até aquele momento não receberam nenhuma ajuda da administração do setor “nem sequer recebemos uma visita de administração no campo, que talvez mostrasse que se preocupa e acompanha o nosso trabalho”.

Lembrou neste particular que a associação chegou mesmo a solicitar à administração que a concedesse um espaço para trabalharem, mas lamenta o facto de até ao momento da entrevista não terem recebido resposta da administração.

Sobre o mercado para a venda dos seus produtos, informou que levam-nos diretamente para os mercados de Caracol e Bandim, onde geralmente têm clientes que os aguardam. Contudo, lamenta que não tenham a forma como conservar os produtos e que muitas vezes acabam por estragar-se, quando não conseguem vendê-los.

“Quando levamos os nossos produtos em grande quantidade, às vezes não vendemos tudo acabam por se estragarem porque não temos onde conservá-los nem temos quem possa tomá-los todos para depois pagar. São pepinos e legumes e muitas vezes não aguentam a forma como os conservamos e acabam por se estragar” contou para de seguida lamentar os “sacrifícios” das mulheres que trabalham duramente no campo e depois verem os seus produtos a estragarem-se sem que tenham conseguido ganhar algum dinheiro.

“A Associação não pode assumir grandes encargos, porque não tem campo de cultivo próprio através do qual associados pudessem trabalhar e pagar algum fundo à organização. É por isso que cada associado trabalha por conta própria e no final de cada mês paga uma quota de 250 f.cfa à associação”, referiu.   

No concernente a formação na área de produção hortícola, afirmou que a sua organização já beneficiou de uma formação ministrada por uma organização cujo nome não lembra, contudo diz que as mulheres foram formadas sobre a forma de preparar os fertilizantes e o terreno para cultivar e o método usado para a plantação de produtos hortícolas. 

Lamentou, por um lado, os prejuízos sofridos por causa de animais que invadem o campo e estragam os produtos, porque o campo não está bem vedado com arames. Acrescentou que já apresentaram uma queixa junto ao régulo local e pedindo que ordenasse as populações a amarrar os seus animais neste período para não estragar os produtos hortícolas, tendo assegurado que a resposta que recebem do régulo é que os animais precisam circular livremente nas suas aldeias. 

Assegurou que, com o dinheiro obtido na venda de seus produtos, algumas mulheres conseguiram mandar os seus filhos estudar no exterior e outros por conta própria, enviando mensalmente, soma grande do dinheiro para pagar despesas e os estudos.

Indagado sobre a quantidade de pepinos produzidos, Filomena Cá não especificou o número em termos de quantidade, de toneladas ou quilos, mas afirmou que algumas mulheres conseguem, nos seus campos, até cinco bacias de pepinos que tiram uma só vez para vender em Bissau.  

“Pedimos as organizações não-governamentais, particularmente ao governo que nos apoiem, que nos prestem atenção e nos ajudem a melhorar a nossa atividade, de forma a nos adotar de maior capacidade para podermos produzir e abastecer o mercado nacional com produtos hortícolas, e assim diminuir as nossas dificuldades”, disse. 

Por: Carolina Djemé

Fotos: Marcelo Naritche               

FORÇAS ARMADAS: FA acompanham navios de guerra russos na passagem por mar português

© Lusa

Por LUSA  21/08/22

As Forças Armadas vão acompanhar dois navios de guerra russos no mar português, com destino ao Mediterrâneo, nos próximos dias, informou hoje o EMGFA, assinalando que se trata de "um procedimento normal".

Em comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) indica que, a partir da madrugada de segunda-feira e durante os dois dias seguintes, meios das Forças Armadas portuguesas vão acompanhar uma Força Naval da Federação Russa enquanto estiver a passar pela Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa.

"Este é um procedimento normal, sempre que navios de guerra de países que não pertencem à NATO navegam dentro da ZEE portuguesa", salienta o texto.

Os dois navios de guerra russos irão transitar de norte para sul, vindos da Biscaia, em Espanha, e em direção ao mar Mediterrâneo, refere o comunicado, acrescentando que o acompanhamento será feito enquanto os navios estiverem dentro da ZEE portuguesa.

“Adoro que me bate De fato, bater é meu remédio. Se Meu Namorado não me bater um dia, ficarei tão nervoso durante todo o dia. – senhora nigeriana

@AYOMIDE SAMUEL  9News Nigeria

Uma senhora nigeriana que atende pelo nome, Lopex Morrissa divulgou no Facebook que gosta de ser batido pelo seu namorado.

Que se o namorado não bater nela um dia, ela fica nervosa.

Ela chama o espancamento do seu namorado de “Love Beating” e isso tornou o seu relacionamento mais forte com ele. Aqui está o que Lopex Morrissa compartilhou no Facebook que deixou a Comunidade Online da Nigéria atordoada e chocada além de qualquer coisa!

“Eu amo que me bate, de fato, bater é meu remédio, se meu namorado não me bater um dia, ficarei tão nervosa ao longo desse dia” Ela passou a lançar mais luz sobre seu “Love Beating”.

Aqui está sua declaração exata no Facebook.

“Adoro que me bate De fato, bater é meu remédio. Se Meu Namorado não me bater um dia, ficarei tão nervoso durante todo o dia. Bater um dia faz o relacionamento crescer mais forte. Chamamos isso de surra de amor Antes de vir aqui falando besteira, é a sua surra?”

REGRESSO A BISSAU: General Umaro Sissoco Embalo regressa à Bissau no falcon da força aerea portuguesa.

@ Gaitu Baldé 

Em atualização...

ANALISTAS - Ucrânia: Seis meses após invasão russa guerra de atrito sem fim à vista

© Reuters

Por LUSA  21/08/22 

Seis meses depois da invasão russa, o conflito na Ucrânia tornou-se numa guerra de atrito, com avanços e recuos dos dois lados, e sem fim à vista, antecipam especialistas ouvidos pela Lusa.

"Nós temos guerra [na Ucrânia] desde 2014, após a anexação da Crimeia e os conflitos no Donbass [leste]. Quando esta nova fase da guerra começou em 24 de fevereiro, inicialmente todos pensaram que, face ao poderio bélico russo, houvesse uma conquista rápida do território", declarou Francisco Proença Garcia, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.

Segundo Proença Garcia, "este pensamento esfumou-se rapidamente devido a brava e corajosa resistência dos ucranianos e veio mostrar-nos que a guerra iria ser prolongada".

"Será uma guerra prolongada porque não temos solução à vista. O Presidente ucraniano não quer ceder território, e está no seu direito, e os russos não querem entregar os territórios conquistados em qualquer tipo de negociação", avaliou Proença Garcia.

"A guerra de atrição é isso mesmo, hoje ganha-se 'x' quilómetros quadrados e amanhã perde-se, isso é a guerra de atrição, é o atrito, naquilo que é a guerra tradicional de conquista e cedência de território", adiantou.

Para Madalena Resende, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, "a previsão mais realista é que esta guerra se mantenha com as características que vemos até agora, como uma guerra de atrito, com a continuação de ganhos e perdas dos dois lados nos cenários oriental e sul".

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas de suas casas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de seis milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

O investigador Pedro Ponte e Sousa, do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), pensa que "o conflito tende cada vez mais para o longo prazo, eventualmente não apenas numa escala de meses, mas até de anos, ainda que seja sempre impossível uma previsão".

"Pelo menos, assim será enquanto ambas as partes entendam ser possíveis avanços - territoriais para a Ucrânia, ou o reconhecimento dos avanços territoriais já obtidos para a Rússia -, que as vantagens que a guerra possa trazer sejam maiores do que o seu fim", referiu Ponte e Sousa, também professor de Relações Internacionais na Universidade Portucalense.

Para Proença Garcia, "há um outro indicativo muito claro de nos diz que esta guerra vai ser prolongada, nomeadamente quando em 25 de abril o secretário da Defesa norte-americano [Lloyd Austin] declara que o grande objetivo é desgastar a Rússia".

"Isto empurra-nos logo para um longo processo de desgaste financeiro, desgaste de equipamentos da Rússia e afastá-la um bocado da ordem mundial", disse à Lusa.

"O (ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei) Lavrov disse, talvez há um mês, que já não querem só o Donbass, querem ir mais além, demonstrando que a guerra não vai parar. É o que estamos a assistir, a guerra está para durar, infelizmente para todos nós", referiu ainda o professor da Universidade Católica.

"Estamos agora, talvez, numa pausa operacional. Os ucranianos estão a ser muito fortalecidos pelo Ocidente, e bem, como mísseis, com aviões, com artilharia e isso está a permitir bater os alvos russos a maior distância, a atacar as suas bases na retaguarda, fazer contra-ofensivas. Entretanto, depois de perder território, reconquistá-lo é sempre mais difícil", sublinhou Proença Garcia.

"Normalmente, para conquistar um território é preciso uma capacidade operacional, um potencial relativo de combate, que é o termo correto, de três para um. Se a Ucrânia já perdeu território, para o reconquistar vai precisar de muito mais forças", referiu o professor da Universidade Católica.

Ponte e Sousa sublinha que este é um conflito cada vez mais arriscado, pela ação de atores externos como os Estados Unidos e potências ocidentais e pelas suas possíveis consequências mais globais, nomeadamente a aceleração de outros conflitos, como Taiwan, e do confronto entre grandes potências.

Segundo o professor da Universidade Portucalense, o risco ocorre também "pela manobra no terreno" onde, por exemplo, há a questão que "envolve a situação da central nuclear de Zaporijia, e os ataques ucranianos às forças russas aí presentes, ou o crescente uso de formas assimétricas de guerra, como se tem visto na Crimeia".

A ONU confirmou que 5.514 civis morreram e 7.698 ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais serão muito superiores e só poderão ser conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 16 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.


Botche Candé está em Lisboa para uma visita de alguns dias com vista a implementar estruturas politicas do Partido dos Trabalhadores Guineenses_PTG em Portugal.


Qual é a arma mais horrível já produzida?

Por Ericles Lima pt.quora.com 

O Projeto Plutão foi um programa secreto dos Estados Unidos, que construiu a arma mais destrutiva já criada.

Durante este programa foi feita uma tentativa de fazer um míssil alimentado pelo calor de um reator nuclear.

O programa começou em 1957 e a arma foi chamada SLAM.

Graças ao calor da reação atômica, o míssil poderia ser impulsionado com um ramjet a velocidades de 3.000 km/h.

Não foi possível interceptar um míssil a essas velocidades.

Apenas o ruído produzido seria letal e chegaria a 162 dB.

Além disso, não possuía blindagem para o reator nuclear, o que teria como consequência a contaminação com alta radiação gama e nêutrons por toda a extensão que o míssil sobrevoou.

Poderia carregar 16 bombas de hidrogênio, cada uma com um poder de destruição de um Megaton!

Isso é o equivalente a 16 milhões de toneladas de TNT.

Quando a arma tivesse descarregado as bombas de hidrogênio, estava programada para sobrevoar a União Soviética por várias semanas e contaminar grandes partes do país.

Graças ao seu reator com 60kg de urânio, tinha autonomia de várias semanas.

Esta é uma foto do protótipo do reator nuclear chamado Tory II para o míssil SLAM.

O reator teve que suportar 1600°C e produziu uma potência de 513MW e uma força de 156kN.

Embora o projeto Plutão tenha construído com sucesso um motor nuclear funcional, o programa foi cancelado.

O Ministério das Relações Exteriores dos EUA considerou essa arma muito provocativa e, portanto, esse projeto terminou em 1964.


@SLAM: The craziest missile of all time