3 de fevereiro de 2014

União Africana pede à Guiné-Bissau que faça "tudo" para garantir data das eleições

Ovídio Pequeno, representante da União Africana (UA) em Bissau
A União Africana (UA) quer que as autoridades da Guiné-Bissau e os partidos políticos "façam tudo" para que as eleições gerais possam ter lugar no dia 16 de março, declarou hoje Ovídio Pequeno, representante da organização em Bissau.

O diplomata são-tomense falava aos jornalistas no final de uma reunião com embaixadores e representantes de organizações internacionais sediadas na capital, aos quais deu conta da posição da UA relativamente à Guiné-Bissau tomada na cimeira da organização realizada na última semana.

No encontro de hoje, estiveram presentes, entre outros, o encarregado de negócios de Portugal e o representante do secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, José Ramos-Horta.

A questão das eleições, sobretudo o andamento do processo de recenseamento eleitoral, dominou a reunião, tendo Ovídio Pequeno salientado aos presentes que a UA recomenda às autoridades guineenses e partidos políticos que "façam tudo" para que a data de 16 de março não seja alterada.

O responsável da UA afirmou que, tanto o próprio como os presentes no encontro, compreenderam que os prazos previstos na lei eleitoral têm que ser alterados para permitir que seja recenseado "o maior número possível" de eleitores.

"É preciso alterar os prazos de entrega das candidaturas no Supremo Tribunal de Justiça, de fixação dos cadernos eleitorais, de inalterabilidade dos cadernos, das reclamações, mas nunca mexer com a data de 16 de março", observou.

Ovídio Pequeno destacou, no entanto, que pelas informações de que dispõe, já estão registados mais de 700 mil eleitores, número que considera aceitável para realizar eleições. 

O diplomata africano lembrou que nenhum país consegue recensear cem por cento de potenciais eleitores, aludindo-se ao facto de as autoridades guineenses terem previsto registar 810 mil.

O representante da UA enfatizou que, da parte dos parceiros internacionais da Guiné-Bissau, "o empenho é total" no sentido de as eleições terem lugar na data marcada pelo Presidente de transição, Serifo Nhamadjo.

Ovídio Pequeno não aceita que se diga que os parceiros não disponibilizaram o dinheiro para as eleições.

"Uma coisa são os procedimentos dos financiadores para o desbloqueamento das verbas, outra coisa é dizer que não há dinheiro, o que não é o caso", notou o representante da UA.

Presidente em exercício do PAICG pede coesão na abertura do congresso

Manuel Saturnino da Costa
O presidente em exercício do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) Manuel Saturnino pediu hoje "coesão" interna na abertura do oitavo congresso daquela força política. O dirigente espera que, depois da reunião magna, "não haja vencedores nem vencidos" dentro do partido, num apelo à "coesão dos militantes" tendo em conta os próximos embates eleitorais - eleições gerais marcadas para 16 de Março.

O congresso que vai escolher o novo líder e decidir quem se candidatará às eleições começou três dias depois do previsto devido a várias reuniões internas para "limar arestas", justificou no sábado o secretário nacional do PAIGC, Augusto Olivais.

A errática Guiné-Bissau

Francisco Henriques da Silva, Alferes miliciano de infantaria - C. Caç. 2402 - Có, Mansabá e Olossato, 1968-1970. Ex-Embaixador de Portugal em Bissau, 1997-1999 e autor do livro "Crónicas dos (Des)Feitos da Guiné" - Almedina, 2012 1 TEXTO A A Imprimir 

O autor começa por se referir à "intentona/inventona" (?) de 21 de Outubro de 2012, classificando a situação como sendo "confusa" e considerando que "a realidade ultrapassa em muito a ficção". Acrescentaria que estas classificações e considerações são quase eufemísticas perante o caos que é hoje a Guiné-Bissau e do qual teima em não sair. Braga Pires menciona a balantização do Poder político e militar (que, aliás, não é de hoje, mas que se terá acentuado com o "putsch" de 12 de Abril de 2012), em que Kumba Ialá emerge com ambições ao Poder (no meu entender e para que as coisas não aparentem ser tão óbvias, Kumba tem no terreno, como se sabe, gente sua e poderá controlar a situação de fora sem necessidade de grande exposição pessoal, manobra táctica que me parece óbvia). Menciona um sem-número de factos, bem como algumas suposições plausíveis, atenda-se ao contexto. Em primeiro lugar, assistia-se - e assiste-se - a uma tribalização do poder político e militar, donde no conflito balantas-felupes, os primeiros levaram necessariamente a melhor. As danças e contra-danças entre as classes castrense e política, a promiscuidade generalizada sobretudo a este nível, são o que se adivinha e não valerá a pena pôr muito mais na carta. Carlos Domingos Gomes (Cadogo), PM deposto e frustrado candidato presidencial, continua a aspirar elevar-se um dia à cadeira do Poder. A actuação do capitão  Pansau N'Tchama é no mínimo surrealista e as suas ligações a Portugal e à CPLP (leia-se Angola e Cabo Verde) abstrusas. O autor suscita as estranhas coincidências de ter chegado a Bissau com uma equipa de reportagem a escassas horas da "intentona/inventona" e da detenção de Pansau N'Tchama, com alegadas ligações a Portugal, ter precisamente ocorrido na véspera da sua partida.