Li Wenliang era médico oftalmologista no Hospital Central de Wuhan quando, a 30 de dezembro, comentou com outros médicos seus amigos um alerta sobre vários casos de infecção que estavam a ocorrer no hospital. A polícia visitou-o no dia seguinte e impôs-lhe silêncio.
Wenliang acabou por contrair o coranavírus. Morreu esta quinta-feira, uma vítima mais numa contabilidade que todos os dias aumenta. Tinha 34 anos.
O balanço mais recente aponta para 565 mortos e mais de 28 mil infetados na China, de acordo com o South China Morning Post, citando as autoridades sanitárias chinesasA história da denúncia e do que se lhe seguiu foi sendo contada pelo próprio Li Wenliang no site Weibo, a partir da sua cama de hospital.
No final de dezembro de 2019, o médico notou sete casos de infeção hospitalizados e colocados de quarentena, devido a um vírus que ele pensou ser semelhante ao SARS - que em 2003 causou uma epidemia à escala mundial.
A 30 de dezembro comentou o caso num grupo de conversa, avisando os colegas de curso para terem cuidado e usarem vestuário protetor para evitarem a infeção.
Apesar de ter sido publicada num grupo, o alerta depressa começou a circular nas redes sociais.
No mesmo dia em que Wenliang publicou a sua mensagem de alerta aos colegas, as autoridades de saúde locais confirmaram 27 casos de um novo tipo de vírus, todos eles ligados a um mercado de marisco.
Isso não evitou que Li e os outros médicos tivessem sido obrigados a desdizer-se e a remeter-se ao silêncio quanto à nova doença.
Quatro dias depois de publicar a primeira mensagem, Li foi chamado ao Gabinete de Segurança Pública de Wuhan, onde teve de assinar uma carta, na qual era acusado de "fazer comentários falsos" que "pertubavam gravemente a ordem social".
Li Wenliang era então um de oito médicos investigadas pela polícia por "espalhar rumores". A polícia acabou por lhe pedir desculpa.
As autoridades chinesas têm sido acusadas de tentar encobrir a eclosão da epidemia até à última hora, o que poderá ter contribuído para a difusão do vírus.Nas suas publicações no Weibo, o médico descreveu ainda como, a 10 de janeiro, começou a tossir, no dia seguinte tinha febre e dois dias depois estava internado no hospital.
Na semana passada foi diagnosticado com o coronavírus 2019-nCoV. Morreu esta quinta-feira.
"Lamentamos saber da perda de qualquer pessoa que trabalhe na primeira linha de cuidados dos pacientes", reagiu o diretor do programa de emergências da Organização Mundial de Saúde.
"Deviamos celebrar a sua vida e fazer o luto com os seus colegas", acrescentou Michael Ryan, durante uma reunião.
Por RTP
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