quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Guiné-Bissau: Polícia proíbe protesto estudantil com violência

Pelo menos, oito pessoas ficaram feridas, uma em estado crítico e cinco detidas é o balanço de confrontos entre a polícia e um grupo de estudantes que protestavam contra a paralisia no setor do ensino guineense.


As forças de segurança da Guiné-Bissau recorreram nesta quinta-feira (08.11) a granadas de gás lacrimogéneo para dispersar grupos de estudantes de escolas superiores e liceus do país, que queriam protestar contra os atrasos verificados na divulgação das notas e a demora no início das aulas referentes ao ano letivo 2018/2019.

No ano escolar findo, os alunos apenas frequentaram 3 meses de aulas devido às constantes graves dos professores que continuam a exigir aumentos salariais e melhoria das condições de trabalho. O Governo decretou a abertura do ano letivo em outubro, mas devido à greve dos professores as escolas públicas permaneceram encerradas.

Para precaver uma eventual anulação do ano escolar e numa altura em que se fala somente das eleições legislativas no país, dezenas de alunos decidiram sair à rua esta quinta-feira (08.11.) para protestar tendo a polícia reprimido a manifestação de forma violenta, como disse à DW África o coordenador das associações dos alunos das escolas públicas e privadas, Alfa Umaro Sow.


Polícia usa violência para retirar estudantes das salas de aulas na Faculdade de Direito de Bissau.

"Eles impediram-nos de descer as escadas da escola Justado Vieira e permanecer no recinto. Mesmo assim, disseram que ninguém podia ficar lá, que todo o mundo devia ir para casa. Daí, recusamos sair da escola, porque é nossa, e precisávamos de concertar os passos a seguir. Então, começaram a espancar as pessoas e alguns alunos atiraram pedras contra a polícia que começou a lançar gás lacrimogéneo contra nós na sala da Faculdade de Bissau”, explica o jovem estudante em tom de revolta.

Polícia usa violência contra estudantes

Durante os confrontos oito estudantes ficaram feridos um deles em estado crítico tendo sido transportado para o hospital para receber assistência médica. Depois de ter sido impedida, pela polícia local, a manifestação, os estudantes também foram impedidos de realizar qualquer tipo de concentração nos recintos dos estabelecimentos escolares da capital guineense. E, dizem, que foram retirados das salas de aulas onde concertava pela via da força por parte das forças policiais.

Alfa Umaro Sow confirma em entrevista à DW África que houve um uso excessivo de força por parte das autoridades que provocou ferimentos aos jovens.

"Temos uma pessoa em estado grave no hospital, oito feridos e cinco estudantes detidos pelas forças da ordem. Disseram que o caso será encaminhado para o Tribunal”, informa o coordenador das atividades estudantis.

Entretanto, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário da Silva, ao afirmar que compreende a frustração dos alunos, nota contudo que se a manifestação estudantil tivesse lugar os jovens estariam dispostos a ultrapassar os limites, violando as normas legais.

Estudantes com comportamento inadequado

Para Mário da Silva houve excesso de parte a parte: "Os estudantes também praticavam atos que se fossem permitidos configurariam numa situação de vandalismo autêntico. Ninguém me contou, eu vi. Seria queima de pneus nas estradas. Amontoaram pneus na Estrada de Bôr e atearam fogo. Este não é o comportamento adequando para uma manifestação pacífica. Eles têm a liberdade de se manifestar de forma pacífica sem pôr em causa a ordem pública da cidade e a Força de Ordem tem, por lei, a obrigação de garantir a sua segurança".

A Liga guineense dos Direitos Humanos condena ainda a "atuação desproporcional" da força de segurança contra um número que considera reduzido de estudantes, que com o reforço de agentes no terreno seria capaz de controlar a situação sem o uso de força ou de gás lacrimogénio.

Augusto Mário da Silva, presidente da Liga dos Direitos Humanos da Guiné-Bissau.

Só se autoriza marcha dos políticos

Por outro lado, Augusto Mário Silva crítica também o fato da Polícia autorizar manifestações dos políticos e proibir as que são convocadas pela sociedade civil guineense, tendo afirmado que as forças de segurança não podem ser seletivas  na proteção que dão às diferentes manifestações.

"Quando são os políticos a manifestarem, o ministério do Interior garante a proteção dos manifestantes, mas quando é a sociedade civil aparecem com armas para intimidar os cidadãos. Não pode ser assim. Todos são iguais perante a lei e devem poder exercer as suas liberdades dentro dos limites da Lei”, disse numa clara alusão as anteriores autorizações de marcha dos paridos políticos que contestam o recenseamento eleitoral em curso na Guiné-Bissau.

Enquanto isso, os alunos ponderam continuar com os protestos até que se dê uma atenção especial ao crónico problema do ensino público no país. As escolas públicas têm andado de greve em greve nos últimos anos devido a profunda crise politica que afeta o normal funcionamento das instituições do Estado.

m.dw.com/pt

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