[REPORTAGEM] O bloco operatório do hospital “Arafam Mané” em Buba, região de Quínara, sul da Guiné-Bissau, continua fechado por falta de técnicos especializados, em particular de um médico cirurgião para atender as grávidas. O bloco foi construído pelo Fundo das Nações Unidas de Apoio à População (FNUAP), em Outubro de 2016, e inaugurado em 2017 com o intuito de atender as grávidas que eventualmente precisariam de uma intervenção cirúrgica no momento do parto.
A falta do funcionamento do bloco fustiga as grávidas que não conseguem ter um parto normal. A maioria é evacuada para o hospital regional de Catio, região de Tombali ou para a capital Bissau. No âmbito da ‘Iniciativa H4+/Sida’, o FNUAP construiu o bloco operatório e um edifício para acolher grávidas que aguardam o parto, denominado de “Casa da Mãe”.
Os dois edifícios estão dentro do perímetro do hospital. O bloco operatório tem duas salas de cirurgia, uma de esterilização e duas de recuperação. A construção do bloco custou à agência das Nações Unidas um valor de 33 milhões de francos CFA. A ‘Casa da Mãe’ conta com dois dormitórios, cada uma com a capacidade para seis camas. Também conta com um salão com multifuncional, refeitório, armazém e duas casas de banho.
O custo da ‘Casa da Mãe’ estima-se em 83 milhões de francos cfa. Apesar deste investimento, os dois edifícios continuam fechados devido à falta de condições técnicas.
MULHERES LAMENTAM FALTA DE PARTEIRAS E DE CONDIÇÕES DO SERVIÇO DE MATERNIDADE
Algumas mulheres abordadas pelo repórter de O Democrata lamentaram a falta de parteiras naquele centro de saúde, como também a de condições do serviço de maternidade, razão pela qual solicitaram a abertura, o mais rápido possível, da ‘Casa da Mãe’.
Adama Mané, uma das nossas entrevistadas, revelou ao repórter que o centro conta apenas com uma parteira que, devido ao excesso de trabalho, muitas vezes não consegue atender os pacientes por causa do cansaço, pelo que o hospital solicita sempre os enfermeiros para assistir as mulheres no momento do parto.
“Se a parteira atender os pacientes durante todo o dia e a noite, no dia seguinte não consegue trabalhar. É preciso afetar o hospital de mais parteiras e ampliar a sala da maternidade. A sala onde funciona a maternidade é muito pequena, é preciso aumentar o espaço, tendo em conta o número das mulheres que recorrem aquele serviço”, espelhou.
Maria Sanhá queixou-se, por sua vez, do mau atendimento da parte dos enfermeiros. Segundo a sua explicação, as grávidas são aglomeradas numa sala para serem atendidas. Afirmou ainda que as mulheres sofrem muito por falta de atendimento adequado, particularmente de uma sala de cirurgia para aquelas que não conseguem ter um parto normal.
DELEGADA DE SAÚDE DIZ QUE A REGIÃO DE QUÍNARA TEM UM MÉDICO E DUAS PARTEIRAS
A delegada de saúde na região de Quínara, Venceslandia Ferreira Correia, médica de clínica geral, revelou em entrevista ao repórter que a sua região sanitária depara-se com série de problemas em termos de recursos humanos, sobretudo médicos especialistas para os serviços oferecidos ao nível de diferentes centros de saúde.
Explicou ainda que a região dispõe no total de 14 centros de saúde, dos quais dez (10) estão a funcionar e quatro estão paralisados há muito tempo. E o único centro de saúde de tipo (A) é o de sector de Tite. Quatro centros, nomeadamente de Buba, Fulacunda e Empada são de tipo (B) e os restantes da região são do tipo (C).
Venceslandia Ferreira Correia revelou durante a entrevista que a região conta com três parteiras: duas estão a exercer a profissão, quer dizer, a trabalhar e uma está a ocupar dos serviços administrativos. Informou que das duas em serviço, uma foi colocada no hospital de Buba e outra no centro de saúde de Brandão (Sector de Fulacunda).
“O serviço de maternidade é feito quase por todas as enfermeiras que dispõem de um pouco de treino para o efeito. Na verdade, é preciso afetar os centros de saúde qualificados de mais parteiras e técnicos especialistas, dado que o desejo do país é trabalhar para a redução da mortalidade materna infantil. Mas devido a muitas dificuldades, nomeadamente a falta de parteiras e de médicos especialistas, torna-se difícil”, disse a delegada de saúde da região.
Em termos de doenças mais frequentes na região, Venceslandia Ferreira Correia referiu que o paludismo e as doenças diarreicas são os casos registados com maior frequência na zona. No caso específico do Paludismo, a médica esclareceu a situação tem a ver com a mudança do clima.
Relativamente ao hospital “Arafam Mané” de Buba, disse que actualmente funciona como hospital de referência da região, não obstante ser um centro de saúde do tipo (B) que, segundo ela, tecnicamente tem as suas limitações.
“O hospital é muito pequeno, tendo em conta a dimensão do sector e o número da população que tem crescido muito nos últimos tempos. Para já, o número da população é superior a capacidade de resposta do hospital, por isso é preciso uma intervenção das autoridades no sentido de ampliá-lo e torná-lo num hospital regional”, alertou.
Lembrou, contudo, que no período das chuvas as dificuldades são mais sentidas, porque, segundo adianta, é o período em que se regista mais casos de doenças, em particular o paludismo e em pior das hipóteses, os doentes são obrigados a deitarem-se no chão, por falta de camas, para assistência ou internamento dos pacientes.
“A maternidade é muito pequena. O Hospital tem alguns serviços funcionais, incluindo o de serviço do bloco operatório, mas que infelizmente não está a funcionar devido à falta de técnico especializado para se ocupar desse serviço. A ‘Casa da Mãe’, um centro construído para acolher as grávidas, também não está a funcionar. Aliás, os dois edifícios (bloco operatório e Casa da Mãe ) mantêm-se fechados desde a inauguração”, observou.
Segundo avançou ao O Democrata, estão em curso contatos (pedido de apoios) junto dos parceiros para fazer funcionar o centro- a ‘Casa da Mãe’.
A médica anunciou na entrevista que o centro contará com um banco de sangue, assegurando que os equipamentos para tornar o banco operacional, já foram instalados com apoio de parceiros.
“Também os técnicos de laboratório já receberam a formação que lhes permitirá trabalhar naquele serviço”, afirmou.
Por: Assana Sambú
Foto: AS
Abril de 2018
OdemocrataGB
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