Sede do Afreximbank, no Cairo
Dw.com 06.04.2022
Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank) anuncia a aprovação de um programa de crédito no valor de 4 mil milhões de dólares para os países africanos lidarem com os impactos da guerra na Ucrânia.
"A crise entre a Rússia e a Ucrânia, que aumentou em 24 de fevereiro, teve um efeito significativo na economia global; dada a importância dos dois países como fontes de petróleo e gás, matérias-primas e cereais, a deflagração do conflito tem repercussões generalizadas à escala global, incluindo um impacto adverso nas economias africanas, especialmente aqueles que dependem fortemente de importações de cereais, fertilizantes e importações de combustível", argumenta o Afreximbank na apresentação, esta quarta-feira (06.04), da linha de crédito de 4 mil milhões de dólares, cerca de 3,6 mil milhões de euros.
Os países africanos, principalmente os do norte do continente, são alguns dos principais importadores de cereais quer da Rússia, quer da Ucrânia, o que, devido à predominância deste alimento na dieta de grande parte da população africana, origina um impacto ainda maior, com vários analistas a alertarem para a possibilidade de instabilidade social devido ao aumento dos preços e à dificuldade de garantir as importações.
"O programa de financiamento comercial para ajustamento de África à crise da Ucrânia (UKAFPA) tem como objetivos ajustar o custo do financiamento, para ajudar os países a cumprirem as necessidades imediatas de importações face ao aumento dos preços enquanto a procura interna se ajusta", lê-se no comunicado enviado à agência de notícias Lusa.
Mais apoios
Além disso, o programa hoje anunciado pelo Afreximbank visa também o financiamento da recompra de petróleo e metais, uma estabilização das receitas de exportações de matérias-primas, o financiamento da quebra do turismo e lançou também um mecanismo de aceleração das receitas de exportação, através de um rápido acesso a moeda estrangeira para garantir o cumprimento dos projetos em curso.
"O UKAFPA é uma resposta aos pedidos urgentes dos Estados-membros para uma intervenção de emergência do banco, cujos pedidos de financiamento já excedem os 15 mil milhões de dólares [13,7 mil milhões de euros]", lê-se no comunicado, que dá conta que "há urgência na resposta a estes pedidos para evitar condições sociais catastróficas em todo o continente e reduzir o risco de evoluírem para desafios políticos".
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.480 civis, incluindo 165 crianças, e feriu 2.195, entre os quais 266 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,7 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária. A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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Por LUSA 06/04/22
O antigo presidente do Burkina Faso Blaise Compaoré foi hoje condenado à revelia a prisão perpétua pelo seu envolvimento no assassinato do seu antecessor, Thomas Sankara, morto com 12 dos seus companheiros num golpe de Estado em 1987.
O tribunal militar de Ouagadougou também condenou a prisão perpétua o comandante da sua guarda Hyacinthe Kafando e o general Gilbert Diendéré, um dos líderes do exército durante o golpe de 1987.
O general Diendéré já está a cumprir uma pena de prisão de 20 anos pelo seu envolvimento numa tentativa de golpe em 2015, um ano após a queda de Blaise Compaoré, na sequência de uma revolta popular.
Blaise Compaoré, no exílio desde 2014 na Costa do Marfim, e Hyacinthe Kafando, em fuga desde 2016, não compareceram neste julgamento, que começou há seis meses.
Os três homens são condenados por "ataque à segurança do Estado". Blaise Compaoré e Gilbert Diendéré foram também considerados culpados de "cumplicidade no assassinato" e Hyacinthe Kafando, suspeito de ter liderado o comando que matou Thomas Sankara, de "assassinato".
Têm 15 dias para recorrer destas pesadas sentenças.
Os juízes foram além das exigências da acusação militar, que tinha pedido 30 anos de prisão contra Compaoré e Kafando e 20 anos contra Diendéré.
Oito outros arguidos foram condenados a penas entre três e 30 anos de prisão. Três arguidos foram absolvidos.
O veredicto foi saudado por aplausos na sala de audiências, segundo relatou a agência AFP.
Afastado do poder em 2014 após uma forte contestação nas ruas, Blaise Compaoré vive desde então na Costa do Marfim e é o grande ausente deste julgamento, tendo os seus advogados denunciado "um tribunal de exceção".
'Braço direito' de Sankara, Blaise Compaoré sempre negou ter sido o mandatário do massacre.
As circunstâncias da morte de Sankara foram mantidas em total segredo durante o período em que Blaise Compaoré esteve no poder e isso, só por si, faz aumentar as suspeitas sobre si.
Thomas Sankara, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1983, foi morto com 12 dos seus companheiros por um comando durante uma reunião na sede do Conselho Nacional da Revolução (CNR) em Ouagadougou. Tinha 37 anos.
Deixou uma marca indelével em África, onde ficou conhecido com o "Che Guevara Africano", que queria "descolonizar as mentalidades" e perturbar a ordem mundial através da defesa dos pobres e oprimidos.
Logo no ano seguinte à sua chegada ao poder, Sankara mudou o nome do país, numa tentativa de enterrar com as insígnias da República do Alto Volta a herança do poder colonial francês. O país de Sankara passou a chamar-se República Democrática e Popular do Burkina Faso, que significa "país do povo honesto".
Sankara é uma referência ainda muito presente junto dos burquinabês - foi citado pelo novo homem forte do país, Sandaogo Damiba, no seu primeiro discurso ao país - mas mantém igualmente um lugar de destaque no panteão dos ícones pan-africanos.
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