quarta-feira, 9 de março de 2022

"Blackout" de Chernobyl pode tornar "fugas de radiação" iminentes? Pode não ser bem assim

▲Empresa estatal ucraniana (de energia atómica) avisa para risco de "nuvem radioativa" que chegue "a outras regiões da Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e Europa.  OLEG PETRASYUK/EPA

Observador.pt 09 mar 2022

Central nuclear de Chernobyl deixou de ter fornecimento de energia elétrica. Ministro avisa: "Guerra de Putin põe toda a Europa em risco". Mas especialista desvaloriza risco de propagação de radiação.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, alertou esta quarta-feira que no prazo de 48 horas podem existir “fugas de radiação iminentes” na Central Nuclear de Chernobyl e que “a guerra bárbara de Putin” pode pôr “toda a Europa em risco”.

O aviso de Dmytro Kuleba surge depois de duas empresas estatais de energia e energia atómica da Ucrânia terem reportado que a central nuclear de Chernobyl ficou sem energia, tendo sido totalmente desligada da rede elétrica. As duas empresas em questão avisaram ainda para o risco de uma “descarga nuclear” e de propagação de doses perigosas de radiação.

A informação não foi ainda confirmada por outros peritos independentes (não ucranianos). E entretanto uma académica britânica, Claire Corkhill da Universidade de Sheffield, já veio contestar os riscos de um grande acidente nuclear ou de fugas de radiação a curto prazo.

Em declarações à BBC, Claire Corkhill defendeu que apesar das atuais condições da central nuclear poderem originar um “vapor radioativo”, este ficará à partida contido no interior do edifício: “Não creio que isto possa levar a uma libertação de radioatividade. Demoraria muito tempo [até que isso pudesse acontecer]”.

Risco de propagação de “nuvem radioativa”, dizia Energoatom

O aviso começou por surgir na conta oficial de Facebook da Ukrenergo, empresa energética estatal da Ucrânia. Na nota informativa, a Ukrenergo garantia: “Devido às ações militares dos ocupantes russos, a central nuclear de Chernobyl foi inteiramente desconectada da rede elétrica. A estação nuclear está neste momento sem qualquer fonte de alimentação energética”.

Posteriormente, também a empresa estatal ucraniana de energia atómica Energoatom avançava a mesma informação, alertando que o combustível ali armazenado requeria refrigeração constante. E essa refrigeração exigia, por sua vez, ligação elétrica.

Caso a situação não se alterasse, existiria um risco de “descarga nuclear” e de libertação de substâncias radioativas, sendo que “o vento pode transferir uma nuvem radioativa para outras regiões da Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e Europa”, indicava ainda a Energoatom.

Todas as pessoas que estiveram nas proximidades “vão receber uma dose perigosa de radiação”, garantia ainda a empresa. “Os combates continuam, o que torna impossível proceder a reparações e restaurar a energia” na central nuclear.

A ideia é contestada por Claire Corkhill, que leciona “Degradação de Materiais Nucleares” na universidade britânica de Sheffield e que, conhecendo bem a estrutura da Central Nuclear de Chernobyl, minimizou os riscos da fuga de radiação para o exterior da central (pouco provável) à BBC

Ministro reforça risco: “Os sistemas de refrigeração vão parar”

Foi através das redes sociais que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, reagiu à notícia relativa ao “blackout” elétrico na central nuclear de Chernobyl.

Através de uma publicação no Twitter, Dmytro Kuleba alinhou com as empresas de energia do Estado ucraniano na enunciação dos riscos, defendendo: “A única rede elétrica que alimentava a Central Nuclear de Chernobyl e todas as suas infra-estruturas ocupadas pelo exército russo está danificada. A Central Nuclear de Cherbobyl perdeu todo o fornecimento de energia elétrica. Peço à comunidade internacional que exija com urgência um cessar fogo à Rússia [naquele local] e que permita que unidades de reparação restaurem o fornecimento de energia”.

Os geradores a diesel de reservas têm uma capacidade de 48 horas para alimentar a central nuclear de Chernobyl. Depois disso, os sistemas de refrigeração da infra-estrutura para o armazenamento de combustível nuclear utilizado vão parar, tornando fugas de radiação iminentes. A guerra bárbara de Putin põe toda a Europa em perigo. Ele tem de travar isto imediatamente”, apontava ainda Kuleba.


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