Por DW.COM.PT 23.07.2021
Fernando Vaz, porta-voz do Governo, nega que o país esteja a caminhar para a ditadura, como denunciam sociedade civil e analistas. Na Guiné-Bissau, "se calhar, vive-se de uma forma excessivamente democrática", contrapõe.
Desde a instalação, há mais de um ano, das atuais autoridades guineenses, nenhuma manifestação contra o regime foi aceite e em várias ocasiões cidadãos manifestantes foram espancados pelas forças da ordem. A sociedade civil tem vindo a alertar para a violação de direitos dos cidadãos e para o declínio da liberdade de expressão.
Agora, várias vozes consideram que também a liberdade do exercício religioso pode estar em causa na Guiné-Bissau. Isto, depois de o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, ter alegadamente "interferido" nos assuntos da religião muçulmana, indicando 21 de julho, quarta-feira, como dia da celebração de Eid al-Adhua (Tabaski), contra a vontade de uma parte daquela comunidade.
Umaro Sissoco Embaló |
"Foram várias manifestações impedidas pelas forças de segurança, que deviam ser garantia das liberdades e direitos, mas são usadas para violentar os cidadãos", exemplifica Gueri Gomes.
Em declarações à DW África, o porta-voz do Governo guineense, Fernando Vaz, rejeita as acusações: "Mesmo que houvesse a proibição de um dos direitos, o que não houve, isso não quer dizer que estamos a caminhar para a ditadura. Acho que é uma força de expressão que não traduz aquilo que é liberdade".
O responsável vai mais longe: "Aqui na Guiné-Bissau, se calhar, mais do que em qualquer país do mundo, vive-se de uma forma bastante democrática, se calhar, excessivamente democrática".
"Em democracia, o limite deve ser a lei"
Polícia junto à sede da UNTG, a 14 de julho. |
Depois de, no passado 14 de julho, ter sido vítima da carga policial e impedida de realizar a manifestação de rua, contra os impostos e "altos” subsídios dos governantes, a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG) prepara-se para mais um protesto em Bissau. O jurista Luís Vaz Martins apoia a resistência da central sindical, sublinhando a legalidade: "O direito à manifestação é constitucional e não se pede permissão a quem quer que seja".
O jurista considera "positivo que a UNTG continue a persistir no exercício de um direito que lhe é garantido pela Constituição, porque esse direito à resistência faz parte da lógica daquilo que deve funcionar num Estado de Direito e Democrático".
Para o jornalista Assana Sambú, cabe aos governantes resolver a atual tensão política e social: "É preciso que haja um clima de entendimento, que haja um clima facilitado pela boa confiança, transmitida por quem está no poder, permitir sinal de confiança e permitir que sejam criadas condições necessárias para que se sente à mesma mesa e se encontre as possíveis soluções".
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