Lisboa, 03 mar (Lusa) - As próximas eleições legislativas na Guiné-Bissau vão contar com 2.143 eleitores registados em Portugal, após um processo de recenseamento que o embaixador guineense em Lisboa, Helder Vaz, considerou o mais difícil em 25 anos de democratização.
"Temos infelizmente apenas 2.143 recenseados contrariamente ao que prevíamos. Este recenseamento foi o mais difícil de todos desde 1994", disse Hélder Vaz, em entrevista à agência Lusa a propósito das eleições legislativas na Guiné-Bissau, marcadas para 10 de março.
O diplomata explicou que os serviços da embaixada tiveram apenas disponível um equipamento para recensear "um universo que se previa de 15 mil pessoas" e que não foi possível sair da região da grande Lisboa.
"Os guineenses sempre afluíram em massa às urnas nos atos eleitorais com vontade de decidir o seu futuro. Acredito que, de entre as pessoas que se conseguiram recensear, haverá afluência grande", disse o embaixador.
Mas Hélder Vaz admitiu que "desta vez haverá uma ansiedade muito grande de muita gente que quererá votar e não poderá porque, infelizmente, não foi possível recensear a totalidade da população com capacidade eleitoral".
"Não tenho memória de em eleições anteriores os cidadãos não poderem votar por não terem oportunidade de se recensear e isto vai acontecer em Portugal", acrescentou.
O diplomata guineense disse ainda acreditar que as mesmas dificuldades também se refletiram no interior da Guiné-Bissau, dificultando a inscrição de eleitores.
"Esperavam-se cerca de 900 mil eleitores, tivemos 725 mil. Ficou abaixo de eleitores recenseados em finais de 2013 para as eleições de 2014", apontou.
Hélder Vaz assinalou ainda o facto de a população abaixo dos 25 anos ter crescido "exponencialmente" na Guiné-Bissau e de, mesmo assim, os números do recenseamento ter ficado abaixo dos de há cinco anos.
"Claro que haverá gente que quererá votar e não poderá porque não consta das listas eleitorais e não tem cartão de eleitor. É a primeira vez que acontece no processo democrático guineense", reforçou.
Os guineenses em Portugal vão poder votar em sete locais, com mesas de voto instaladas na Embaixada da Guiné-Bissau, no Restelo, em Lisboa, e também nos concelhos da Amadora, Sintra, Cascais, Moita, Odivelas e Loures.
Hélder Vaz refutou ainda, na entrevista à agência Lusa, acusações do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) de que terá tentado criar obstáculos ao recenseamento dos guineenses em Portugal.
"A embaixada recebeu a 12 de outubro a credencial da equipa do Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE). Nesse mesmo dia, contactei guineenses para fazerem parte da comissão de recenseamento. Dia 13, convocámos os partidos para lhes propor os nomes. Os nomes foram avalizados e no dia 13 assinei o despacho a nomear a comissão de recenseamento. No dia 14, a comissão reuniu-se na embaixada e marcou o início do recenseamento para dia 15 de outubro", explicou.
Segundo Hélder Vaz, a não disponibilização dos meios financeiros à comissão de recenseamento e a greve do pessoal do GTAPE vieram agravar o cenário e impossibilitaram a inscrição de eleitores fora da região da grande Lisboa.
Depois do adiamento das eleições, previstas inicialmente para 18 de novembro de 2018, o diplomata disse ter proposto a Bissau que fossem disponibilizados pelo menos cinco ou seis equipamentos para o recenseamento e mais uma semana para cobrir o território nacional.
"Infelizmente a proposta não foi aceite", disse, tendo-se limitado a inscrição de eleitores apenas à região da grande Lisboa.
Segundo o GTAPE, haverá cerca de 5.000 eleitores guineenses em Portugal, mas estimativas dos partidos guineenses e das associações da comunidade apontam para 15 mil.
IN LUSA
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