quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Génesis e Etimologia da Etnia Balanta


“Os balantas constituíram até recentemente o grupo étnico maioritário na Guiné-Bissau (24 % da população) […]. Existem várias versões e lendas sobre a origem dos Balantas. Pélissier defende firmemente que os Balantas são da origem sudanesa. Ele acredita que a ramificação brassa da Guiné-Bissau aprendeu as técnicas da rizicultura inundada ao chegarem às margens dos estuários da costa e, provavelmente, aprendendo com as populações anteriores estabelecidas nas margens dos “Rios do Sul”. (…). 

Esta tese não está em conformidade com as tradições orais de diversos grupos étnicos da região sobre a origem dos Balantas. Trata-se de uma origem que ainda é confusa. Existem várias versões históricas. De acordo com a sua própria tradição oral, assim como a dos Mandigas, os Balantas seriam Soninkés provenientes do Manden no século XIII com o lendário Sundiata Keita, aquando do seu retiro em Cabu. É então que uma parte dos guerreiros, cansados das guerras sangrentas conduzidas pelo seu chefe, optam por estabelecer em Cabu. Este grupo pertence à ramificação dos Mané, foi denominado Balanto. No final do século XV, o chefe fula vindo de Macina, denominado Koli Tenguela, tê-los-ia empurrado para a costa. Na verdade, outra versão afirma que os Balantas faziam parte do exército deste mesmo Koli Tanguela. Cansados das expedições impostas pelo seu conquistador Fula, eles teriam recusado segui-lo e teriam vindo instalar-se perto da aldeia de Bigéne (Guiné-Bissau). Finalmente, outra lenda descreve os Balantas como antigos cativos dos Fulas de Fouta Djallon, que vieram para a Guiné-Bissau para se entregarem à agricultura e à colheita de produtos florestais. Achando o país agradável, eles ter-se-iam recusado a voltar ao Fouta. A própria origem da palavra Balanta é controversa. De acordo com os Mandigas ou Malinkés, etimologicamente, o termo Balanto significa “aquele que se recusa; um renegado”: balan = “recusa”. Daí Balantakunda “entre aqueles que recusaram”. Para uns, é a recusa de seguir os exércitos de Koli Tenguela ou de deixar o seu país de adopção. Para outros, é a recusa de se converter ao Islão. 

A etnia Balanta é composta por cinco subgrupos: (1) os Balanta-Mané são aqueles que sofreram a influência dos Mandigas ou que foram “mandinguizados”; (2) Mansoancas –  habitantes de Mansoa –  de acordo com João Ameal, os Mansoancas ou Cunantes resultariam de um cruzamento entre os Oincas [d`Oio+nKa] e os Balantas Fora; (3) os Balantas brabo (bravos) ou de dentro – Brabo ou Bravo significa bravo, selvagem. Os Portugueses chamaram-nos desta maneira porque eles eram hostis a qualquer contacto; (4) Os Balantas manso ou de fora – Balanta manso significa dócil, pacifico. Este nome resulta do facto que este grupo era mais permeável aos contactos com os Portugueses. No entanto, o sucessor do Governador Biker, Alfredo Cardoso Soveral Martins [Julho 1903-Abril 1904] escreve a respeito dos Balantas que estes estão divididos em duas categorias para a administração: os mansos e os bravos. «Os mansos são aqueles que nos desprezam, e os bravos são aqueles que nos odeiam; (5) os Balantas Naga”. 

(Tcherno Djaló, in O Mestiço e o Poder [Identidades, Dominações e Resistências na Guiné-Bissau], Veja, 2012, Lisboa, p. 45 e 46). 

Postado por  Térsio Vieira          
  
Marcadores: Citação, Guiné-Bissau, Guineenses, História, Identidade, Pensamentos, Povo 

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