segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Guiné-Conacri: opositores falam em violência pós-eleitoral em caso de vitória de Condé

Após votação sem "incidentes graves", oposição acusa Governo de "estratégia de fraude" para garantir terceiro mandato de Alpha Condé. Eleição na Guiné-Conacri é considerada de "alto risco" por observadores.

A contagem de votos das eleições presidenciais começou na noite deste domingo na Guiné-Conacri, após um dia calmo de votação. No entanto, já há temores de conflitos pós-eleitorais depois que o principal candidato da oposição sugeriu que o candidato à reeleição Alpha Condé, da Assembleia do Povo da Guiné (RPG), poderia fraudar o resultado do escrutínio.

Mais de 5 milhões de eleitores foram chamados às urnas numa eleição considerada de alto risco, após semanas de protesto contra um possível terceiro mandato do atual Presidente. Falando a jornalistas este domingo, Condé apelou à paz.

"Quero que as eleições sejam livres, democráticas e transparentes. Asseguramos que todas assembleias de voto estão protegidas. A Guiné-Conacri só pode se desenvolver se houver paz, segurança e unidade. Apelo a todos os candidatos a absterem-se da violência".

O candidato da União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG), Cellou Dalein Diallo - que pela terceira vez disputa a Presidência da República contra Alpha Condé – acusou o Governo de elaborar uma estratégia de fraude eleitoral.

"Alpha Condé planea a sua presidência vitalícia. Não quero desistir. No entanto, apelo a todos os meus apoiantes para que mostrem contenção e responsabilidade, para que esta eleição aconteça nas melhores condições", disse o líder da UFDG.

O líder da oposição disse temer conflitos pós-eleitorais caso o resultado seja favorável a Alpha Condé. "Tenho grandes preocupações com a paz e coesão se Alpha Condé tentar manter o poder através da violência, porque os meus apoiantes e as pessoas que votaram pela mudança não o aceitariam", disse Dialó.

A Amnistia Internacional divulgou que, entre outubro de 2019 e julho de 2020, pelo menos 50 pessoas foram mortas pelas forças de segurança em protestos contra Alpha Condé. Mais de 200 pessoas ficaram feridas e muitas foram detidas arbitrariamente.

O movimento de oposição Frente Nacional para a Defesa da Constituição estima que 92 pessoas foram mortas desde junho de 2019, mas o Governo contesta estes números.

Logo após o encerramento da votação e antes do início da contagem, os apoiantes da oposição disseram que os seus observadores encontraram várias obstruções nas assembleias de voto. O primeiro-ministro da Guiné-Conacri, Ibrahima Fofana, disse à imprensa local que houve "pequenos incidentes aqui e ali", mas nada grave.

Apoiadores de Alpha Condé fazem festa durante dia de eleição em Conacri

As autoridades da segurança informaram que não houve "incidentes graves” durante a votação no domingo, mas que temiam as declarações da oposição sobre o contexto pós-eleitoral.

As eleições presidenciais em Conacri contaram com a presença de 25 observadores enviados pela União Africana. A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental também enviou observadores.

Além de Condé e Diallo, outros 10 candidatos concorreram no pleito deste domingo. Os resultados preliminares da votação devem ser anunciados em alguns dias. Caso necessário, a segunda volta está agendada para 24 de novembro.

Alpha Condé foi o primeiro Presidente eleito democraticamente em 2010 após décadas de regimes autoritários na Guiné-Conacri, tendo sido reeleito em 2015 para um segundo mandato.

O Presidente cessante, agora com 82 anos, tenta um terceiro mandato depois de uma reforma constitucional bastante contestada no país. A nova Constituição, segundo o Governo e os seus apoiantes, permite a Alpha Condé voltar a concorrer ao escrutínio. Mas, para os adversários, este foi um "golpe de Estado constitucional".

Com/DW

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