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Por Lusa 14/06/24
A grande peregrinação anual muçulmana arrancou hoje em Meca e nos arredores, no oeste da Arábia Saudita, com fluxos de fiéis a chegarem ao gigantesco acampamento de Mina sob um calor sufocante.
De autocarro ou a pé, para os mais corajosos, os fiéis deixaram a cidade santa em direção a um vale dominado por montanhas rochosas, a poucos quilómetros da Grande Mesquita, onde uma cidade de lona se estende até onde a vista alcança.
"Deus é grande" ou "Deus, aqui estamos, respondendo ao teu apelo" eram algumas das frases entoadas por peregrinos vindos dos quatro cantos do mundo, tomados pela emoção, um dia antes do ponto alto deste evento religioso, que ocorre no Monte Arafat, segundo o relato das agências internacionais.
"Está muito, muito calor", disse Fahad Azmar, um paquistanês de 31 anos, enquanto o termómetro se aproximava dos 40 graus centígrados, devendo atingir os 44 centígrados, segundo as previsões oficiais.
"Mas estou grato a Deus por me ter dado a oportunidade de estar aqui", reforçou o peregrino.
O 'hajj', que este ano reúne mais de um milhão e meio de muçulmanos, consiste numa série de ritos ao longo de vários dias.
Depois de circundar sete vezes a 'Kaaba', a estrutura cúbica negra no coração da Grande Mesquita, os fiéis passam a noite em Mina, em tendas divididas de acordo com a nacionalidade e os recursos económicos.
Intisham el-Ahi, um paquistanês de 44 anos, partilha a sua tenda com dezenas de compatriotas.
"Devia haver um pouco mais de espaço entre as camas e o ar condicionado não funciona bem (...) mas o 'hajj' é sinónimo de paciência", considerou.
No exterior, foram instalados vaporizadores e os guardas de segurança iam borrifando os transeuntes com garrafas de água.
Prevê-se que o sábado seja um dia particularmente difícil para os peregrinos no Monte Arafat.
No ano passado, foram registados mais de 10.000 casos de doenças relacionadas com o calor durante o 'hajj', 10% dos quais foram insolação, de acordo com Mohammed al-Abdulali, porta-voz do Ministério da Saúde saudita.
Este ano, o 'hajj' decorre no contexto da guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, e muitos peregrinos afirmaram estar a rezar pelos palestinianos.
"Os nossos irmãos estão a morrer, podemos vê-lo com os nossos próprios olhos", lamentou um peregrino.
A guerra foi desencadeada a 07 de outubro de 2023 por um ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, que causou a morte de 1.194 pessoas e mais de duas centenas de reféns, de acordo com os números oficiais israelitas.
A retaliação israelita já matou mais de 37 mil pessoas na Faixa de Gaza em mais de oito meses de conflito, de acordo com o Ministério da Saúde do governo de Gaza liderado pelo Hamas.
Riade afirmou que pagará a peregrinação de 1.000 palestinianos de entre as famílias das vítimas da Faixa de Gaza, elevando para 20.00 o número total de peregrinos palestinianos que participarão no 'hajj' este ano.
O ministro do 'Hajj', Tawfiq al-Rabiah, advertiu que não serão toleradas manifestações políticas, uma vez que a peregrinação deve ser estritamente dedicada às orações.
O 'hajj' é um dos cinco pilares do Islão: os muçulmanos devem efetuar a peregrinação pelo menos uma vez na vida, se tiverem meios para tal.
As autorizações são atribuídas todos os anos pela Arábia Saudita, com base em quotas para cada país.
A organização do 'hajj' é uma fonte de legitimidade para a Arábia Saudita, cujo soberano detém o título de "guardião das duas mesquitas sagradas" de Meca e Medina.
Mas é também um grande desafio logístico para o reino, que recebeu mais de 1,8 milhões de peregrinos no ano passado, cerca de 90% dos quais vindos do estrangeiro.
O 'hajj' foi palco de várias tragédias, nomeadamente em 2015, quando uma enorme debandada causou 2300 mortos.
As autoridades efetuaram entretanto melhorias, nomeadamente na Grande Mesquita, cujas obras de ampliação deverão estar concluídas em 2025, e estão a recorrer a ferramentas de Inteligência Artificial para garantir a segurança e a boa circulação das multidões.
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