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Por LUSA 26/05/22
A Rússia disparou mais mísseis na campanha da Ucrânia do que qualquer outro país em outros conflitos desde a Segunda Guerra Mundial, referem especialistas militares à revista norte-americana Newsweek, que sublinha falhas da campanha russa.
De acordo com a publicação, o elevado número de disparos desde o passado dia 24 de fevereiro não foi suficiente para o invasor vencer o conflito, que se prolonga há mais de três meses, sublinhando que a "campanha de bombardeamentos" conseguiu na prática "poucos" resultados.
"[Um total de] 2.154 mísseis russos atingiram as nossas cidades e comunidades em pouco mais de dois meses", disse na semana passada o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
"O bombardeamento russo da Ucrânia não cessa nem de dia nem de noite", frisou o chefe de Estado da Ucrânia.
Este valor máximo relativo ao número de ataques com mísseis aumentou depois de Volodymyr Zelensky ter anunciado que Kiev tinha abatido aviões de combate russos, um resultado considerado "vergonhoso" pela Newsweek, referindo que a Força Aérea de Moscovo é 15 vezes superior em relação ao mesmo ramo militar ucraniano.
A publicação cita vários especialistas e relatórios de informações militares sobre a Ucrânia.
A falta de êxito na campanha, de acordo com as fontes consultadas, deve-se ao "fracasso" da Rússia no momento em que deveria ter aproveitado a vantagem numérica em termos de efetivos e de material, nomeadamente da Força Aérea.
A Newsweek refere também que se verificou uma diminuição relativa ao abastecimento, no terreno, de armas de precisão.
A Rússia atacou aeródromos e pontos de defesa aérea nos primeiros dois dias da invasão mas não prosseguiu de forma continuada o mesmo procedimento nas semanas seguintes.
A Força Aérea ucraniana, de menor dimensão, esteve em grande parte no solo, mas Kiev conseguiu adaptar-se e melhorar os métodos de dispersão através de mísseis de defesa, em particular os projéteis terra-ar.
"Trata-se da superioridade aérea do pobre", disse um especialista à revista publicada nos Estados Unidos.
Ameaçada pelos mísseis terra-ar ucranianos, a Rússia passou a usar cada vez menos bombardeiros além da linha da frente estabelecida pelo próprio Exército no terreno.
Os relatórios dos serviços de informações militares dos Estados Unidos citados pela revista indicam que "pouco mais de 10% das saídas" dos bombardeiros passou além da linha da frente.
Os ataques de longo alcance da Rússia contra os "objetivos estratégicos" continuaram mas foram levados a cabo através de uma combinação de mísseis disparados desde terra, ar e mar.
Os caças e bombardeiros russos, apoiados pela artilharia de combate, navios, incluindo submarinos, lançaram disparos "sem entrarem no espaço aéreo ucraniano".
Para a Newsweek, as características do atual conflito na Ucrânia vão provocar consequências no futuro que vão permitir a avaliação da eficácia no uso dos diferentes tipos de mísseis ou sobre o controlo dos céus, entre outros aspetos.
Até ao momento, a consequência da guerra aérea na Ucrânia é "duplamente desastrosa" para Moscovo, insistem os especialistas.
"No futuro ninguém vai querer comprar armas russas. A Rússia é o segundo maior exportador de armamento depois dos Estados Unidos e o curso da guerra não tem sido um bom augúrio para o futuro [relativo a venda de material bélico russo[", insistem os especialistas.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas dos locais onde residiam -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,6 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
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Antigo secretário de Estado norte-americano afirmou que a Ucrânia devia ceder território à Rússia para acabar com a guerra.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu na quarta-feira com duras críticas ao controverso ex-secretário de estado norte-americano, Henry Kissinger, depois deste ter sugerido que a Ucrânia devia ceder os territórios no Donbass para acabar com a guerra.
Numa mensagem de vídeo ao Fórum Económico Mundial, que se realiza em Davos, Zelensky afastou cedências e recordou a 'Política de Apaziguamento' - levada a cabo pelo Reino Unido no prelúdio da Segunda Guerra Mundial, no final dos anos 30, que permitiu à Alemanha nazi anexar uma série de territórios sem resistência.
"Parece que o calendário do senhor Kissinger está em 1938, e não em 2022, e ele pensou que estava a falar para uma audiência, não em Davos, mas em Munique", atirou o líder ucraniano.
Através da 'Política de Apaziguamento, o Reino Unido, liderado na altura por Neville Chamberlain, permitiu que a Alemanha anexasse uma parte da Checoslováquia e outros territórios, na esperança de acabar com a hipótese de guerra, no Acordo de Munique. Tal acabaria por não acontecer, e a Alemanha liderada por Hitler invadiu a Polónia menos de um ano depois da assinatura do acordo.
Zelensky, numa tentativa de apontar um eventual paradoxo, referiu ainda o passado da família de Kissinger, que era judaica e fugiu da Alemanha em 1938, quando o diplomata tinha apenas 15 anos.
Na terça-feira, Henry Kissinger criticou o armamento da NATO às forças ucranianas, afirmando que um prolongamento da guerra só dificultaria negociações com a Rússia. Kissinger - conhecido pelo seu papel como secretário de estado dos EUA durante a Guerra Fria, responsável pelo apoio dos norte-americanos a ditadores na América Latina, pela saída do Vietname e pela política de 'Détente' com a União Soviética -, argumentou também novas fronteiras entre a Ucrânia e a Rússia deviam ser definidas no Donbass.
"Prolongar e insistir na guerra muito mais tempo levará a que passe a ser não uma questão de liberdade da Ucrânia mas, sim, uma nova guerra contra a própria Rússia", defendeu o antigo diplomata, agora com 98 anos.
O presidente ucraniano criticou a opinião de países terceiros sobre uma eventual cedência de território para travar a guerra e combater a crise económica mundial - na União Europeia, a Itália tem defendido essa mesma postura.
"Independentemente do que o estado russo faça, há alguém a dizer: 'Vamos ter em conta os seus interesses'. Este ano, em Davos, ouvimos o mesmo. Apesar dos mísseis russos atingirem a Ucrânia. Apesar das dezenas de milhares de ucranianos mortos. Apesar de Bucha, Mariupol, etc.. Apesar das cidades destruídas. Apesar de 'campos de filtração' construídos pelo estado russo, nos quais matam, torturam, violam e humilham", afirmou.
Zelensky, numa mensagem pró-europeia, resumiu dizendo que a Rússia "fez isto à Europa" mas, em Davos, "o senhor Kissinger emerge do passado profundo e diz que uma parte da Ucrânia devia ser dada à Rússia".
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