Um jovem inventor guineense de 31 anos de idade demostrou a sua habilidade criativa através da invenção de máquinas de descasque da castanha de cajú que funciona sem energia elétrica e com a capacidade de produzir até 15 quilogramas da castanha descascada por hora. Ricardo Cá, residente no bairro de Bandim (zona – 05) arredores da famosa “Praça de Bandim”, em Bissau, criou também uma máquina capaz de produzir seis blocos de uma só vez e 180 por hora.
Uma equipa de repórteres do semanário O Democrata visitou a oficina retangular de nove metros do comprimento do jovem inventor em sua casa, no bairro de Bandim e constatou as máquinas, orgulho de Ricardo Cá, bem como dos moradores que não cansam de elogiar o trabalho daquele que é tido como o génio de Bandim.
INVENTOR APOSTA NA TRANSFORMAÇÃO LOCAL DO PRODUTO E PEDE APOIOS PARA CRIADORES
A máquina de descasque da castanha de cajú funciona sem energia elétrica, apenas à pedais, ou seja, o operador senta-se na máquina que tem a estrutura de uma bicicleta, e vai dando os pedais,podendo produzir até 15 quilogramas de castanha descascada em uma hora.
A primeira criação de Ricardo Cá está pintada de verde-escuro e incluí um reservatório com capacidade para cinco quilogramas da castanha de cajú.
O jovem inventor “surpreendeu” os moradores com a criação de outra máquina de descasque da castanha que trabalha a energia elétrica e com a maior capacidade de produção, mas a que ainda se encontra na oficina metalo-mecânica a fim de serem concluídos alguns pormenores técnicos.
Cá, inventou ainda uma máquina de produção de blocos com capacidade produzir seis blocos de uma só assentada e 180 por hora. As habilidades do jovem de Bandim mereceram elogios de diferentes personalidades que passam pela sua oficina e incluindo alguns membros do governo (ministros).
Ricardo Cá disse na entrevista ao Democrata que a Guiné-Bissau, como segundo maior produtor da castanha de cajú na sub-região,um produto de exportação que mais rende ao Estado, deveria apostar mais na política de transformação local da castanha de cajú, o que de acordo com a sua explicação, poderia beneficiar mais em termos de criação de emprego.
Acrescentou que ao apostar na transformação local da castanha, seria preciso igualmente apostar nos inventores nacionais que são capazes de criar máquinas de descasque que poderiam ajudar as pequenas indústrias de transformação da castanha.
Assegurou que o seu sonho é realizar mais criações não apenas para o setor da agricultura, tendo sublinhado que tem planos para o futuro que não pretende revelar agora por ser apenas um sonho.
“A primeira máquina que criei foi uma experiência e houve algumas falhas técnicas, mas nesta segunda corrigi todos os erros e já está a funcionar sem problemas. Muitas pessoas às vezes não acreditam que inventei estas máquinas e até ouvirem explicações detalhadas sobre como funcionam”, contou.
Questionado se já alugou a máquina ou se foi contato para a venda das mesmas, Ricardo Cá diz que a situação do novo Coronavírus não permitiu comercializar ou alugar as máquinas por causa das paralisações, mas revelou que já tem uma pessoa interessada em comprar.
Indagado se chegou a representar o país no estrangeiro, Ricardo Cá explicou que foi uma vez ao Benim em 2018, onde participou num salão Africano de propriedade intelectual, através da Organização Africana de Propriedade Intelectual da Guiné-Bissau (OAPI) que o levou para participar com aquelas mesmas máquinas.
Com um olhar triste, o jovem Inventor revelou que a Guiné-Bissau foi desclassificada nesse evento por nunca ter organizado o salão local, que de acordo com a sua explanação, foi uma das condições para tomar parte no evento.
“O representante de um país deve apresentar um certificado que ganhou no salão do seu país e que o equipamento não foi registado naquela organização a nível local e não dispõe igualmente de um prémio local” lamentou para de seguida lembrar que depois daquela situação em Benin, a OAPI em colaboração com o ministério da Indústria decidiram realizar o concurso de inventores e inovadores em Setembro de 2019 do qual foi vencedor do prémio do salão da Guiné-Bissau.
Assegurou na entrevista que desta vez já reúne todas as condições necessárias para representar o país em qualquer concurso no estrangeiro. Cá, que passa mais tempo na sua pequena empresa industrial denominada “R. CÁ INDUSTRIAL”, enfatizou que tem projetos que pretende lançar no mercado nacional, contudo, não mencionou a data do mesmo.
Criticou os sucessivos governos por falta de espaço e condições para permitir que os inventores e inovadores desenvolvessem mais as suas capacidades, que segundo o jovem, podem servir também para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.
QUEM É RICARDO CÁ – O “INVENTOR DE BANDIM”
Ricardo Cá nasceu a 31 de Agosto de 1989 na secção de Ondame, em Blom (setor de Quinhamel), região de Biombo no norte da Guiné-Bissau. Muito cedo foi levado para a região de Oio, onde fez os estudos primários na escola da aldeia de Malafo.
Regressou a Bissau em 2003, onde morou no bairro de Empantcha. Em 2014 fez o curso técnico profissional de serralharia. No ano 2013, concluiu o 12° ano no liceu Agostinho Neto. Cresceu brincando com as invenções de brinquedos feitos de materiais deitados ao lixo.
Começou a criar de forma séria desde 2006, quando criou um pequeno barco. Representou o país no concurso do salão do Benin, onde foi desclassificado. Em 2019, foi vencedor do primeiro salão de inventor e inovador realizado pela Organização Africana de Propriedade Intelectual OAPI, em Bissau.
Por: Cadidjatu Djamila da Silva
Foto: D. S
Odemocratagb.com
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