sexta-feira, 25 de maio de 2018

Cabo Verde promete investigar escândalo de paraísos fiscais

Empresário italiano com negócios em São Vicente é citado numa investigação sobre paraísos fiscais na África Ocidental. Primeiro-ministro cabo-verdiano diz que, "se for o caso", Gilberto Pacchiotti será investigado.


Cabo Verde está entre os países no centro das investigações do "West Africa Leaks", um trabalho de pesquisa jornalística sobre empresários, políticos e poderosas corporações que atuam na África Ocidental. O objetivo é identificar paraísos fiscais através da análise de dezenas de dados de outras investigações jornalísticas, como os Panama Papers, Paradise Papers e SwissLeaks, e acontece em parceria com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI).

De acordo com o portal Cenozo, do grupo de jornalistas investigativos, o empresário italiano Gilberto Pacchiotti será o responsável pela entrada do país africano no maior escândalo de contas em offshores da Suíça.

Segundo a investigação do West Africa Leaks, que verifica documentos do SwissLeaks, o dono da "Cabo Verde Importe, Lda", uma empresa importadora de alimentos situada em Madeiralzinho, na ilha de São Vicente, tem uma conta secreta na Suíça com mais de dois milhões de dólares. No entanto, questiona-se a atividade do empresário em Cabo Verde que justifique o montante numa conta offshore.

Ulisses Correia e Silva: "Cabo Verde não é um paraíso fiscal"

Ainda de acordo com o Cenozo, o empresário italiano não paga impostos, não declara rendimentos e troca de nacionalidade e de passaporte sem que isso seja notado pelas autoridades cabo-verdianas. Segundo a imprensa cabo-verdiana, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, garantiu esta quinta-feira (24.05) que, "se for o caso", Gilberto Pacchiotti será investigado.

"Se for caso de polícia, será para as entidades policiais, se for caso de violação de regras financeira, também será devidamente investigado. Mas eu não quero associar Cabo Verde a este tipo de operações. São casos que as vezes acontecem, mas os protagonistas são devidamente responsabilizados", afirmou Ulisses Correia e Silva, citado pelo jornal "A Semana".

Níger e Costa do Marfim na lista

Além de Cabo Verde, o West Africa Leaks também denuncia empresas e pessoas ligadas a outros países da África Ocidental. No Níger, investiga-se a construção de um matadouro, que terá custado milhares de dólares aos cofres do Estado, mas a obra nunca saiu do papel.

O jornalista Moussa Aksar aponta o período pós-golpe, em 2010, quando os militares assumiram o Governo de transição no país. "Verificamos que o dinheiro previsto para esta construção foi gasto durante a transição. O regime atual não pretende auditar este período, o que explica este caso e prova a má governação a todos os níveis", diz.

Na Costa do Marfim, o empresário e político Noel Akossi Bendjo, secretário-executivo do Partido Democrata, na coligação do partido no poder, é acusado de ter capitais nas Bahamas. Ele ameaça processar o jornalista Diebri Anderson, editor do site de notícias "eburnietoday.com".

"Descobrimos que o senhor Akossi Bendjo detém uma sociedade em paraísos fiscais, incluindo as Bahamas. E vemos que a empresa foi criada em 1997, o mesmo ano em que foi nomeado diretor-geral da Sociedade de Refinaria da Costa do Marfim", observa o repórter.

Políticos envolvidos

Os jornalistas africanos trabalham ainda em investigações na Libéria, Senegal, Nigéria e Gana, entre outros países. Em muitos casos, há políticos envolvidos nas denúncias. No Mali, por exemplo, o candidato presidencial Hamadoun Touré também é apontado como dono de uma empresa offshore.

"Há uma grande diferença entre as informações disponíveis publicamente e o que os jornalistas são capazes de descobrir quando investigam a fundo quase 30 milhões de documentos", salienta em entrevista à DW Will Fitzgibbon, coordenador da parceria entre os jornalistas africanos e o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação. "Revelam não apenas que os políticos possuem empresas offshore, mas também como essas figuras têm usado as empresas".

dw.com/pt

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