sexta-feira, 17 de maio de 2024

Nigéria: Um tribunal nigeriano suspendeu um controverso casamento coletivo promovido por um político do estado do Níger (centro), no qual pretendia casar 100 raparigas órfãs, confirmou hoje uma fonte judicial à agência espanhola EFE.

© Reuters
Por Lusa  17/05/24 
 Polémico casamento coletivo de 100 jovens órfãs na Nigéria foi suspenso

Um tribunal nigeriano suspendeu um controverso casamento coletivo promovido por um político do estado do Níger (centro), no qual pretendia casar 100 raparigas órfãs, confirmou hoje uma fonte judicial à agência espanhola EFE.

O casamento, marcado para sexta-feira, 24 de maio, estava a ser promovido por Abdul Malik Sarkindaju, presidente da Assembleia do estado do Níger, de maioria muçulmana, o qual garantiu aos meios de comunicação locais que nenhuma das raparigas tinha menos de 18 anos.

O político tinha descrito o casamento como um gesto humanitário para apoiar as raparigas - cuja idade exata a EFE não conseguiu determinar -, que tinham perdido os pais em ataques de homens armados que ameaçam a região.

A notícia do casamento provocou indignação no país, especialmente na sociedade civil, com muitas vozes a classificarem-no como uma violação dos direitos das raparigas.

Em particular, a ministra nigeriana dos Assuntos das Mulheres, Uju Kennedy-Ohanenye, condenou a iniciativa e ameaçou ir a tribunal para a impedir.

Uma fonte do seu departamento, que pediu o anonimato, confirmou hoje à EFE que a ministra acabou por recorrer ao tribunal, o qual emitiu uma providência cautelar para impedir o casamento.

"O juiz Abdullahi Mikaili, do Tribunal Superior do Níger, concedeu a providência cautelar com o argumento de que o casamento planeado das 100 raparigas viola os seus direitos", disse a fonte.

Em resposta a este movimento, o Conselho de Imames do Estado do Níger criticou na quarta-feira a ministra, acusando-a de ter feito um gesto islamofóbico.

De acordo com os clérigos, não há nada de negativo em patrocinar casamentos de pobres ou órfãos.

A organização Muslim Rights Concern (MURIC) também criticou a "decisão dura e precipitada" da ministra sobre a questão, considerando que "está totalmente fora do âmbito do seu ministério".

"A tentativa da ministra de demonizar nos meios de comunicação social o casamento de uma centena de meninas pobres e órfãs, em grande parte traumatizadas depois de terem perdido os seus pais devido ao banditismo e à insurgência brutal e sangrenta, revelou a sua ignorância da cultura e das tradições do norte muçulmano", criticou a organização.

A organização acusou ainda Kennedy-Ohanenye de ter "falta de empatia, compaixão e respeito pela cultura e tradições de outras pessoas".

Os casamentos em massa são comuns no norte da Nigéria, onde não é raro ver casamentos de raparigas com apenas nove anos de idade.

De acordo com um relatório da UNICEF, de 2023, a África Subsariana é a região onde o casamento infantil representa a maior ameaça para as raparigas, com países como a Nigéria a liderar este flagelo que encurta a sua educação ou as isola do seu ambiente, entre outros problemas.

Uma em cada três raparigas casa-se antes dos 18 anos na África Subsariana, onde se situam sete dos 10 países do mundo com maior prevalência de casamentos precoces na população total.

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