O DEMOCRATA 12/06/2023
Os sindicatos dos trabalhadores da Central Elétrica de Bafatá denunciaram irregularidades na delegacia regional da energia, desvio de fundos e disseram que foram submetidos à uma autêntica escravatura sem solução.
Os trabalhadores revelaram que não recebem os seus salários a 38 meses (três anos e dois meses), com consequências graves na vida dos funcionários e respetivas famílias e da população em geral, que de igual modo está privada do direito de acesso à energia, revelou em entrevista telefónica ao jornal O Democrata, Adulai Candé, presidente da Associação dos trabalhadores, para falar dos reais problemas da central e dos dos trabalhadores.
Cerca de 60 funcionários efetivos e alguns auxiliares contratados já abandonaram a central. Os auxiliares que eram pagos com as receitas internas ou dinheiro de multas para fazer trabalhos de manutenção e reparação de cabos e instalações também demitiram-se. Os funcionários da central queixam-se da falta de meios, nem sequer uma única viatura têm para movimentar escadas e outros materiais, por isso contrataram auxiliares que carregam materiais a pé para diferentes pontos da cidade, onde existam problemas.
“A cidade de Bafatá tem pequenas rochas e montanhas de pequena dimensão. São os auxiliares que carregam todos os materiais, incluindo as escadas. Submeteram-nos à uma autêntica escravatura na central elétrica de Bafatá”, afirmou.
NÍVEL DA DESORGANIZAÇÃO NA DELEGACIA DA ENERGIA ESTÁ A CEM POR CENTO
O presidente do sindicato dos trabalhadores da central elétrica de Bafatá afirmou que o nível da desorganização na delegacia da energia está a cem por cento, é tanta que levou os trabalhadores a abandonarem a central, porque “as portas da delegacia estão fechadas, os delegados não vão ao trabalho, muito menos se importam com a situação dos trabalhadores”.
“Havia uma única delegacia para Bafatá e Gabú, mas depois foram desmembradas. As duas delegacias eram coordenadas por uma delegacia provincial, que foi extinta pelo ministério para que pudesse reforçar os poderes aos novos delegados que nomeou, mas essa estratégia não deu certo “, afirmou.
Denunciou que o governo tem uma dívida de cento e vinte milhões de francos CFA com o cidadão Selo Djaló, que fornecia combustível à central elétrica e que decidiu cancelar o fornecimento, por falta de transparência, do conhecimento na área da energia, da contabilidade e gestão dos recursos energéticos dos atuais gestores da energia.
“A central está a ser gerida pelos senhores Jorge Cunté, professor do ensino primário, e Samba Buaró, do secundário”, insistiu, para de seguida defender que seria ideal que a gestão fosse entregue aos trabalhadores, que por meio de uma comissão de autogestão conseguiram, no passado, assegurar o funcionamento da central por seis anos sem interrupções e pagar salários aos trabalhadores efetivos e contratados.
“Tudo paralisou a partir do momento em que Jorge Malú nomeou os dois delegados. Depois tudo piorou quando Orlando Mendes Veigas e Augustos Poquena não tiveram coragem de mudá-los, mesmo sabendo que não estavam à altura dos desafios da central nem das suas funções, a pretexto de que não foram nomeados por eles”, frisou.
Segundo Adulai Candé, a falta de luz abriu caminhos para os ladrões cortarem todos os cabos de alta e baixa tensão e acusou os elementos indicados pelo ministério da Energia e Indústria de nada terem feito para mudar a situação da central, e acusou os sucessivos ministros desse setor (Jorge Malú, Orlando Mendes Veigas e Augusto Poquena) de cumplicidade na manutenção dos atuais delegados da energia na região.
“Os dois elementos da energia não fazem praticamente nada, apenas reagem se postes de luz forem derrubados. Cobram os infratores e nunca mais aparecem para solucionar os problemas que os trabalhadores e a central elétrica enfrentam”, acusou.
Adulai Candé disse que a central não tem segurança e corre sérios riscos de a qualquer dia explodir, por falta de evacuação de resíduos e de limpeza externa do perímetro das instalações.
SINDICATO ACUSA DELEGADOS DA ENERGIA DE RETALIAR OS TÉCNICOS DOS GERADORES
Adulai Candé acusou Jorge Cunté e Samba Buaró, delegados da energia de Bafatá, de retaliar os técnicos dos dois grupos de geradores da central de Bafatá e contratar novos técnicos que estragaram um dos grupos e um deles terá sequestrado a placa eletrónica que comanda o motor de um dos grupos para reivindicar o pagamento da dívida.
“Mas nunca encetaram diligências para recuperar a placa elétrica. Estão parados, enquanto a central está a degradar-se aos poucos, deixando milhares de famílias às escuras e em insegurança, sem capacidade para desenvolver pequenas atividades geradoras de rendimento”, lamentou.
“Recentemente, um poste foi derrubado em Bafatá e o motorista foi multado. Pedimos apenas quatrocentos mil francos CFA para contratar um segurança para vigiar os postes de alta tensão, evacuar resíduos e limpar a parte externa das instalações da central, mas antes de os trabalhadores se reunirem para cobrar o dinheiro, já tinha sido levantado por dois elementos da delegacia”, denunciou.
Adulai Candé disse que, não obstante as denúncias dos trabalhadores sobre o roubo de cabos de alta tensão, a delegacia nunca diligenciou tomar medidas para conter a situação, deixando a central sob ameaça de qualquer dia explodir na sequência de um incêndio.
“Neste momento, instalar eletricidade em Bafatá é um problema, um bicho de sete cabeças. Não temos cabos de alta tensão que saem da subestação para a central. Os ladrões levaram quase tudo, por negligência da delegacia regional da energia. Os cabos da parte baixa da cidade foram cortados. Passei 22 noites a vigiar os cabos no bairro de Nema e com a ajuda da polícia, duas pessoas foram detidas e estão a aguardar julgamento na prisão.
Mas não pode ser só os trabalhadores a esforçarem-se para tornar a central ativa, enquanto a parte que tem a grande responsabilidade, a financeira, não se interessa”, criticou Adulai Candé.
De acordo com o presidente do sindicato dos trabalhadores, os incêndios que ocorreram na região de Bafatá derivaram-se de resíduos inflamáveis e da falta de limpeza do centro da cidade.
“Os dois responsáveis têm agido à margem da lei. Provocaram sofrimento no povo, mas não foram nem estão a ser responsabilizados, pelo contrário reforçaram-lhes os poderes. Até parece que pertencem a um determinado partido, a pessoa fica imune às regras, às leis. Roubar bens públicos já não é uma preocupação para muitos, porque ninguém tem medo da justiça. Cada um faz o que quer”, disse.
Dados recolhidos indicam que a comissão de autogestão que geria a central de Bafatá cobrava, por mês, 17.500 francos CFA aos clientes com pouco consumo e os que tinham eletrodomésticos eram obrigados a montar contadores e pagavam o que consumiam.
Neste momento a cidade de Bafatá tem um fornecedor privado, que distribui energia apenas no período diurno, “à noite tudo às escuras”, por isso muitos preferem usar geradores próprios.
Solicitado a pronunciar-se sobre o assunto e esclarecer as acusações do sindicato, o delegado da energia para o setor de Bafatá, Jorge Cunté, disse que não tem nada absolutamente a esclarecer e que se o jornal quisesse informações sobre a central elétrica e a falta de energia que fosse entrevistar o cidadão que forneceu o seu número de telefone à redação do semanário.
Por: Filomeno Sambú
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