Ataque com drones a Moscovo, Rússia (AP)
CNN, 31/05/23
Ataques com drones visaram zonas residenciais da capital e podem ter tido como objetivo identificar as defesas antiáereas. Continua por explicar como uma vaga de drones conseguiu penetrar no espaço aéreo altamente protegido de Moscovo
É uma rotina familiar para os ucranianos: explosões soam na cidade, depois surgem vídeos de drones. As defesas aéreas entram em ação e as autoridades divulgam declarações preliminares que confirmam um ataque.
Mas, desta vez, os estilhaços de vidro e betão estão na capital russa e não em Kiev. Ao que parece, a guerra da Rússia contra a Ucrânia regressou a casa.
Eis o que sabemos até agora. Na manhã de terça-feira, uma vaga de ataques de drones atingiu Moscovo. Segundo a agência de notícias estatal RIA-Novosti, um veículo aéreo não tripulado atingiu os andares superiores de um arranha-céus residencial no sudoeste da capital, danificando a fachada do edifício. Outro atingiu um apartamento no 14.º andar de um bloco de apartamentos na Leninsky Prospekt, uma das principais artérias da cidade.
O autarca de Moscovo, Sergei Sobyanin, foi dando informações atualizadas através do Telegram, dizendo aos moradores que os serviços de emergência estavam no local e que duas pessoas tinham ficado feridas, mas nenhuma hospitalizada. Algumas horas mais tarde, Sobyanin disse que as pessoas retiradas dos edifícios atingidos pelos drones estavam a regressar a casa.
Mas é improvável que Moscovo possa regressar ao seu desconfortável status quo de vida durante aquilo a que o Kremlin eufemisticamente se refere como "operação militar especial" na Ucrânia. Desde que o presidente russo, Vladimir Putin, lançou a sua invasão em grande escala da Ucrânia, em fevereiro do ano passado, a maior parte da Rússia tem sido poupada ao tipo de cenas que os ucranianos enfrentam habitualmente.
Nos últimos meses, regiões da Rússia que fazem fronteira com a Ucrânia foram atacadas, com as autoridades locais a relatarem bombardeamentos ocasionais do lado ucraniano. Na sexta-feira, o Kremlin acusou os helicópteros ucranianos de atacarem dentro do território russo, o que não foi confirmado nem desmentido por Kiev.
E no início deste mês, drones violaram a segurança em torno do Kremlin, a sede do poder na Rússia.
Uma ambulância e veículos de combate a incêndios estacionados no exterior de um prédio após um alegado ataque de drones em Moscovo, Rússia. Maxim Shemetov/Reuters
A Ucrânia negou envolvimento no ataque de terça-feira, mesmo quando um alto funcionário deixou claro que a Rússia estava a provar do seu próprio remédio, depois de meses a bombardear cidades ucranianas.
"É claro que gostamos de ver e prever um aumento dos ataques", assumiu o conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak. "Mas, claro, não temos nada a ver diretamente com isso."
"O que está a acontecer é o carma que a Rússia irá gradualmente pagar por tudo o que faz na Ucrânia", acrescentou.
Os ataques de terça-feira, no entanto, parecem qualitativamente diferentes dos anteriores. Para começar, não se tratou de um golpe simbólico contra o Estado russo, como o ataque de drones ao Kremlin. Em vez disso, parece ter atingido o coração da elite política e económica da Rússia. Aparentemente, alguns dos drones atingiram ou sobrevoaram Rublyovka, uma prestigiada zona suburbana no sudoeste de Moscovo, onde oligarcas, políticos e altos funcionários vivem em luxuosos condomínios fechados. A zona é também muito próxima da residência de Putin em Novo-Ogaryovo, onde o líder russo costuma passar a maior parte do tempo.
O legislador russo Alexander Khinshtein disse na terça-feira que vários drones foram abatidos em Rublyovka, incluindo um em Ilyinskoye, uma aldeia a cerca de três quilómetros e meio de Novo-Ogaryovo. A CNN tem imagens geolocalizadas de Ilyinskoye que mostram um drone a voar.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse aos jornalistas que Putin estava no Kremlin após os ataques, afirmando que o presidente "recebeu informações diretamente das forças da ordem, do Ministério das Situações de Emergência, do autarca de Moscovo e do governador da região de Moscovo", depois de ter começado o seu dia de trabalho mais cedo.
"Todos trabalharam devidamente", acrescentou Peskov. "O sistema de defesa aérea também funcionou bem. É evidente que estamos a falar da resposta do regime de Kiev aos nossos ataques muito eficazes contra um dos seus centros de decisão."
Mas o simbolismo do ataque a Rublyovka não passou despercebido a Yevgeny Prigozhin, o líder da companhia paramilitar russa Wagner.
Em resposta a uma pergunta de um jornalista, o chefe da Wagner lançou-se num discurso retórico carregado de palavrões contra os líderes do Ministério da Defesa russo, na sequência dos ataques.
Prédio de vários andares danificado após um alegado ataque de drones em Moscovo, Rússia. Lev Sergeev/Reuters
"Por que raio estão a permitir que estes drones atinjam Moscovo?", disse. "O facto de estarem a voar para Rublyovka, para as vossas casas, que se lixe! Deixem as vossas casas arder."
Prigozhin nunca perde uma oportunidade. O líder dos mercenários - cujas ambições políticas se tornaram inesperadamente visíveis nos últimos meses - tem estado envolvido numa amarga disputa pública com os militares russos de topo e acusou o Ministério da Defesa de não fazer "absolutamente nada" para modernizar os drones e as defesas russas contra drones.
"Como pessoa que entende um pouco disto, posso dizer-vos que há muitos anos foi necessário lidar com estes programas [de drones] - que agora estamos anos atrás dos nossos adversários, talvez décadas", sublinhou.
Não é claro se este é mais um momento oportuno para Prigozhin prosseguir a sua vingança contra o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu. E muitas questões permanecem sobre como uma vaga de veículos pilotados remotamente conseguiu penetrar no espaço aéreo altamente protegido de Moscovo, de onde foram lançados e quem ordenou o ataque.
O Ministério da Defesa afirmou que as suas defesas aéreas funcionaram, dizendo que todos os drones foram destruídos, cinco deles abatidos com mísseis terra-ar. O especialista russo em drones Denis Fedutinov, frequentemente citado pela agência noticiosa estatal TASS, acredita que os ataques foram um esforço para sondar as defesas aéreas da Rússia.
"O objetivo do ataque era, provavelmente, descobrir as defesas aéreas de Moscovo e revelar as suas vulnerabilidades", considerou.
Mas é evidente que os ataques com drones são um embaraço para os militares russos, independentemente da forma como os veículos pilotados remotamente foram lançados. E resta saber se este ataque é um precursor de ataques mais dramáticos e que vão dar que falar - entre sinais de uma contraofensiva ucraniana iminente.
Sem comentários:
Enviar um comentário