segunda-feira, 15 de junho de 2020
Carnaval’2020: VENCEDORES DE CARNAVAL RECLAMAM POR PRÉMIOS E CRITICAM O SILÊNCIO DA COMISSÃO
Jornal Odemocrata / 15/06/2020
[REPORTAGEM junho_2020] Os grupos vencedores do desfile nacional do Carnaval’2020 reclamam pela demora da entrega dos seus prémios em diferentes categorias, criticam aquilo que consideram ser o “silêncio” da Comissão Nacional Organizadora do Carnaval 2020 (CNOC) que, de acordo com os responsáveis dos grupos contatados pelo nosso semanário, não se dignou a informá-los da razão do atraso de mais de três meses para a entrega de prémios aos grupos vencedores do maior evento cultural guineense.
O desfile nacional do Carnaval 2020, que decorreu no Estádio Nacional 24 de Setembro, sob o lema “Carnaval do reforço da identidade nacional e transformação social”, reuniu 12 grupos culturais, nomeadamente: a região de Oio (norte), a região de Cacheu (norte), o grupo UNDEMOV das pessoas com deficiência, a região de Bolama Bijagós (zona insular), a região de Bafatá, a região de Gabú (leste da Guiné-Bissau), ” Tchon de Papel Varela” (Bissau), o setor de Bubaque (ilhas), o grupo cultural “Íris de Brá” (Bissau), a região de Biombo (norte), a região de Quinará e a região de Tombali, ambos no sul da Guiné-Bissau.
A Comissão Organizadora do Carnaval fez um orçamento de mais de 150.000.000 (cento e cinquenta milhões) de Francos CFA para cobrir toda a logística e premiações. Segundo informações avançadas na altura, as premiações teriam o maior bolo com um terço do orçamento para o carnaval que decorreu de 13 a 25 de fevereiro, iniciado com a exposição de fotografias do carnaval e máscaras, desfile regional e nacional.
O grupo da região de Cacheu, norte da Guiné-Bissau, venceu o carnaval 2020 com 16,9 pontos e tinha direito a um prémio de seis milhões (6.000.000) de Francos CFA. Em segundo lugar figurou a região de Quinará, sul do país, com 16,7 pontos e que tinha direito a quatro milhões e meio (4.500.000) de Francos CFA. Na terceira posição, com 16, 6 pontos, ficou “Tchon de Papel Varela” com o prémio de três milhões (3.000.000) de Francos CFA.
Na categoria de máscaras, a máscara N°. 21 de Bubaque liderou a lista de posições com 17 pontos e devia receber como prémio oitocentos mil (800.000) Francos CFA. O segundo classificado na mesma categoria foi a máscara N.° 28 do Bairro de Quelele com 16.5 valores e teria como prémio Seiscentos mil (600.000) Francos CFA. Em terceiro lugar figuram duas máscaras que tiveram a mesma pontuação de 15.2 pontos. Trata-se das máscaras N.º 08 de Quinará e 25 de Bolama. O prémio para o terceiro lugar na categoria das máscaras foi fixado em quatrocentos mil (400.000) Francos CFA.
PRESIDENTE DA COMISSÃO RECUSA FALAR DOS 150 MILHÕES DE FCFA ORÇADOS PARA O CARNAVAL
Jorge Handem, presidente da Comissão Nacional Organizadora do Carnaval 2020, disse numa conversa telefónica que não quer pronunciar-se nada sobre o orçamento de mais de 150 milhões de Francos CFA, estimados para cobrir as despesas com o Carnaval, porque “há uma estrutura política e administrativa que está acima da Comissão e que se encarregara do mesmo. O nosso trabalho foi ocuparmo-nos da parte técnica e organizar o carnaval”.
“Somos uma comissão técnica, fizemos trabalhos técnicos. Houve decisões e engajamentos que estavam acima do ponto de vista técnico. Trabalhamos tudo o que tem a ver com aspetos técnicos do carnaval, sobretudo os relatórios. Estamos a trabalhar o relatório neste momento. Não conseguimos fazê-lo antes por causa da pandemia de novo Coronavírus (Covid-19)”, esclareceu.
Solicitado a falar do orçamento de mais de 150 milhões de Francos CFA e se chegou a ser levantado pela Comissão, Jorge Handem afirmou que não pode responder à questão, porque “tudo o que tem a ver com a questão financeira, política e administrativa é da responsabilidade de uma estrutura acima de nós, que politicamente se engajou para organizar o carnaval. Nós, enquanto Comissão engajamo-nos apenas no aspeto técnico da realização do carnaval”, assinalou.
Indagado ainda se a Comissão não chegou a encarregar-se da parte financeira, respondeu: “meu irmão, não quero avançar nada em relação a esse assunto ou tipo de coisas! Nós resolvemos o aspeto técnico, a realização do carnaval. Organizamos o carnaval e correu como correu e aconteceu o que aconteceu…”
“Estamos a trabalhar os documentos (relatórios) para entregar às estruturas competentes a fim de dar sequência aos mesmos”, assegurou.
CACHEU CRITICA O “SILÊNCIO” DA COMISSÃO ORGANIZADORA
O presidente de Comissão Organizadora do Carnaval de Região de Cacheu, Canforí Fofana, revelou ao semanário O Democrata que até este momento, o grupo cultural vencedor do desfile do carnaval 2020 a nível nacional não recebeu o prémio que deveria ter recebido no dia 28 de fevereiro, três dias depois do desfile realizado a 25 de fevereiro.
Em entrevista telefónica, Canforí Fofana referiu que várias vezes tentaram contatar a Comissão Organizadora Nacional do Carnaval, mas esta nunca foi capaz de dar explicações esclarecedoras sobre o assunto e informou que não há ainda nenhum sinal para a entrega de prémios.
Canforí Fofana sublinhou na mesma entrevista que, para ganhar o desfile nacional, a região de Cacheu teve que investir um valor, em dinheiro, aproximadamente de cinco milhões (5.ooo.ooo) de francos CFA, desde trajes, máscaras a instrumentos tradicionais utilizados nas danças tradicionais, na logística, etc.
O presidente de Comissão Organizadora do Carnaval de Região de Cacheu informou que as premiações, a nível regional, também não aconteceram. Segundo as estatísticas, o primeiro lugar receberia um milhão (1.000.000) de francos CFA, o segundo setecentos e cinquenta mil (750. 000) de francos CFA e o terceiro classificado levaria como prémio quinhentos mil (500.000) de francos CFA. Na região de Cacheu, o desfile que decorreu na cidade de Canchungo contou com a participação de sete grupos culturais.
Apesar de ter reconhecido que houve mudança de governo, Canforí Fofana não vê motivos que pudessem atrasar o processo, porque “o governo é continuidade e uma vez disponibilizado um orçamento para a realização do carnaval, os prémios deveriam ter sido entregues aos vencedores”.
Canfoní Fofana exortou o governo a assumir as suas responsabilidades e garantir que todos os grupos vencedores do carnaval nacional e regionais de 2020 recebam os respetivos prémios.
Fofana enfatizou que foi um desafio enorme que a sua região teve que encarar a sério para tirar o carnaval da capital Bissau para o interior do país.
QUÍNARA PEDE INTERVENÇÃO DE GOVERNO PARA DISPONIBILIZAR O DINHEIRO PARA OS GRUPOS
Por outro lado, o responsável do grupo cultural da região de Quínara, Rufner da Silva, expôs com satisfação a dedicação e a determinação da região que saiu da décima posição no carnaval passado, 2019, para o segundo lugar e acusou a Comissão Organizadora Nacional de tirar desculpas com a situação do novo Coronavírus (Covid-19), todas as vezes que é abordada sobre as premiações.
Tal como na região de Cacheu, Rufner da Silva referiu que a nível da região de Quínara os grupos vencedores do desfile regional também não foram premiados, tendo informado que participaram no desfile cinco grupos culturais: Empada, Tite e mais três grupos de Buba.
“Todos os dias recebemos pressões dos grupos, pais e encarregados de educação das crianças que desfilaram no carnaval”, assinalou.
Segundo Rufner da Silva, a região gastou quatrocentos e dezassete mil (417.000) francos CFA na preparação para o desfile nacional.
Rufner da Silva apelou ao governo a esforçar-se e entregar as premiações aos grupos vencedores, porque “participar no desfile nacional é uma questão de defender a nação e erguer a cultura guineense”.
“TCHON DI PEPEL VARELA” REVELA QUE GOVERNO AGUARDA O RELATÓRIO DA COMISSÃO
O responsável de agrupamento cultural “Tchon di Pepel Varela”, Inocêncio Gomes Correia, explicou à repórter que depois de dois meses do silêncio do governo, o grupo produziu uma carta que foi remetida à atual direção geral da cultura, manifestando a sua indignação por não ter recebido o prémio.
Gomes Correia disse que, na audiência que tiveram com a atual direção-geral da cultura, foi-lhes informado que aguardam o relatório da Comissão Organizadora Nacional do Carnaval para que se pudesse desbloquear os prémios, junto do Ministério das Finanças, mas tal não aconteceu porque a entidade que organizou o evento não conseguiu até agora produzir os documentos necessários.
“Aproximadamente gastámos quatro milhões (4.000.000) de francos para preparar o carnaval e tomar parte no desfile nacional, no entanto, até hoje não recebemos o prémio e exigimos que o grupo seja premiado, porque “sacrificámo-nos muito”.
Durante a conversa, Inocêncio Correia revelou que enviaram uma carta, na quarta-feira passada, ao gabinete do Primeiro-ministro para lhe informar do atraso na entrega dos prémios aos grupos vencedores do desfile nacional do carnaval e outras categorias e que estão agora a aguardar a resposta da Primatura.
“Deveríamos receber quatro milhões de Francos CFA como prémio, porque ficamos em terceiro lugar no desfile nacional, três milhões a nível de grupos a nível nacional e um milhão de francos CFA na categoria do vencedor do desfile do Setor Autónomo de Bissau”, contou.
Perplexo com a situação, Gomes Correia apelou ao governo para envidar esforços a fim de entregar os prémios aos vencedores.
No que concerne à categoria de máscaras, o presidente da Comissão Organizadora de Carnaval da região de Bubaque, Nelson António Cabral, confirmou que a sua região não recebeu o prémio e sempre que contacta a Comissão Nacional não recebe respostas satisfatórias. Acrescentou que para participar no carnaval fizeram empréstimos e lamentou que a comissão tenha falhado com os grupos concorrentes, lembrando que também não houve nenhuma premiação a nível do desfile regional.
Apesar de reconhecer a situação difícil que o mundo atravessa derivada do novo Coronavírus, António Cabral foi crítico em relação à Comissão Organizadora do carnaval, porque “não existem desculpas para não entregar os prémios” e pediu que o governo esforce e honre o seu compromisso para com os grupos vencedores do maior evento cultural do país.
Por: Djamila da Silva/Assana Sambú
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