quarta-feira, 1 de abril de 2020

Covid-19: adensa-se a suspeita de que o número de mortos na China pode ser muito superior ao oficial

Getty Images
Os alarmes soaram depois de, nos últimos dias, centenas de pessoas se terem concentrado junto às funerárias da cidade chinesa de Wuhan para recolher as cinzas dos familiares que morreram durante a epidemia

Desde a última semana que as autoridades chinesas da cidade de Wuhan, onde o coronavírus surgiu pela primeira vez no final de dezembro, autorizaram as famílias a recolher as cinzas dos parentes que sucumbiram à doença. Segundo os dados oficiais, dos cerca de 11 milhões de habitantes da cidade, 50 mil terão ficado infetados e mais de 2535 resultaram em mortes.

No entanto, avolumam-se as suspeitas de que o número de baixas no país seja muito superior aos dados fornecidos pelo governo chinês depois de, nos últimos dias, centenas de pessoas terem esperado várias horas junto às funerárias da cidade em filas que chegaram a atingir mais de 200 metros de extensão, segundo avançou a revista chinesa Caixin.


How many people died in and ?
Conservative estimation based on numbers of urns being given out at 8 crematoriums in Wuhan by financial analyst @charles984681
Total death in Wuhan: 59K
Total death in China: 97K
Total infection in China: 1.21 M

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Ao mesmo tempo, nas redes sociais começaram a circular imagens de milhares de urnas acumuladas e transportadas por camiões. Segundo os meios de comunicação locais só na última quarta e quinta-feira uma das funerárias da cidade recebeu cerca de 2500 urnas. No entanto, os números não ficam por aqui. Uma imagem divulgada recentemente pela revista Caixin mostra mais de 3500 urnas empilhadas numa outra funerária de Wuhan.


What is the official death count in Wuhan? Doesn’t this picture from Caixin shows 3500 urns with cremated remains? And this truck holds 2500 runs and the driver says this his second delivery

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Questionadas sobre estes números pela Bloomberg, seis das oito funerárias da cidade disseram não terem os dados atualizados do número total de urnas que receberam ou alegaram falta de autorização para fornecer essas informações. Os restantes estabelecimentos não prestaram quaisquer declarações.

Neste momento, há já quem fale de um número que rodará as 45 mil urnas distribuídas apenas na cidade de Wuhan. Todas estas suspeitas servem para alimentar a tese de que a China ocultou a verdadeira dimensão desta crise.

Durante a epidemia o método de contagem dos casos foi revisto várias vezes, sendo por isso difícil determinar a validade dos números apresentados pelo governo. Além disso, para a contagem oficial ficam de fora as pessoas com sintomas da Covid-19 mas que morreram antes de serem testadas, assim como os doentes que faleceram com outras patologias. Oficialmente, a China tem 82.221 casos confirmados.

Restrições ao luto

Depois das restrições impostas pelo governo chinês durante o período mais crítico da epidemia, muitos dos familiares prestam agora as últimas homenagens aos parentes que não resistiram à doença. No entanto, parece que o adeus vai ter que ser mais uma vez adiado. Na última quinta-feira, 26, as autoridades de Wuhan suspenderam as atividades fúnebres até ao dia 31 de abril, o que significa também que o feriado nacional de 4 de abril, reservado à adoração dos finados – Festival Qing Ming –, vai ser cancelado. Outras províncias, incluindo Guangxi e Zhejiang também anunciaram restrições semelhantes.

Dois moradores da cidade de Wuhan, que perderam familiares durante a pandemia, publicaram na rede social chinesa Weibo que as atividades de levantamento dos corpos estão sob fortes medidas de proteção. Ambos receberam das autoridades locais uma informação que alerta todos os habitantes da cidade para o facto de a recolha das urnas ter que ser feita por um único elemento da família devidamente acompanhado pelo seu empregador ou funcionário administrativo da área de residência, uma medida que prevê evitar reuniões públicas, alegaram.

Depois de 70 dias de isolamento com regras bastante mais estritas do que as adotadas pela Europa, a China regressa progressivamente à normalidade. Na última terça-feira, 24, as autoridades da província chinesa de Hubei, onde está localizada a cidade de Wuhan, anunciaram o levantamento definitivo das restrições já a partir de 8 de abril, incluindo a circulação dentro da cidade.

visao.sapo.pt

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