domingo, 27 de outubro de 2024

EXCLUSIVO. “A Ucrânia nunca voltará ao totalitarismo”: a entrevista da primeira-dama ucraniana à SIC

 SIC Notícias

De visita a Portugal, Olena Zelenska, primeira-dama ucraniana, dá uma entrevista exclusiva à SIC, conduzida por Nuno Rogeiro.

A primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, defende que a Ucrânia nunca vai voltar a ser um regime totalitário e que vai manter os valores democráticos, após a guerra. Em entrevista exclusiva à SIC, durante uma visita a Portugal, a mulher de Volodymyr Zelensky falou sobre a reconstrução do país, quando o conflito terminar, e como pode a Ucrânia trabalhar para que a próxima geração seja de vencedores, e não de sobreviventes.

Zelensky: “um líder da nação”

Olena Zelenska começa por recordar os dias mais negros da guerra, logo em 2022, para identificar aquele que diz ter sido o maior sentimento que reconheceu no marido, na altura: a responsabilidade.

A primeira-dama ucraniana defende que o presidente Volodymyr Zelensky assumiu simplesmente a posição de “líder da nação”, que garante que o país “faz o que tem de fazer”: “lutar”. Por acreditar na vitória da Ucrânia.

O “otimismo”, defende – juntamente, com a “consistência” e o “sentido de humor” - são, de resto, as qualidades que Olena Zelenska destaca no presidente ucraniano.

Gastos exorbitantes? “Propaganda russa sem muita verdade”

Olena Zelenska foi questionada quanto aos dedos que lhe têm sido apontados, nomeadamente às críticas de que leva a cabo “gastos exorbitantes” durante as deslocações internacionais – comoesta que agora fez a Portugal.

A primeira-dama ucraniana responde que a guerra “não é só nas trincheiras”, é também “uma guerra de informações”, e “pelas emoções e simpatia das pessoas”. Por isso, afirma, tem sido alvo de “ataques” da propaganda russa, que tentam minar a confiança no presidente ucraniano e na família deste.

“Não há muita verdade nessas notícias”, declara.

A guerra e as crianças (com uma ajuda de Israel?)

Se há quem tente proteger as crianças da guerra, Olena Zelenska é da opinião de que elas têm de compreender o que se está a passar.

“Temos de falar de porque é que aconteceu a agressão, como foi possível, o que é preciso fazer para haver uma vitória justa e paz”, defende.

Para a primeira-dama ucraniana, são as crianças que vão ter de viver nessa paz conquistada após a guerra e, por isso, “têm de ser cidadãos conscientes após a vitória”.

As próximas gerações ucranianas são um tema muito caro a Zelenska, que coordena uma fundação que, além de ajuda humanitária, desenvolve programas que envolvem as crianças e as famílias afetadas pela guerra na Ucrânia - projetos que vão desde a construção de abrigos mais confortáveis nas escolas à promoção da saúde mental.

“Queremos que a próxima geração não seja a geração dos sobreviventes, mas a geração vencedora”, defende.

Na abordagem aos traumas psicológicos da guerra, os ucranianos contaram pegaram no exemplo e nas soluções de especialistas israelitas, a propósito da experiência da guerra naquele território – mas, ressalva Olena Zelenska, “nem tudo serve”. “A nossa guerra é diferente”, nota.

O russo: “É a língua do agressor, mete medo falar”

Olena Zelenska aborda também a rejeição da cultura e da língua russa, que tem marcado a Ucrânia desde o início da invasão, em 2022.

A primeira-dama ucraniana recorda como, já durante a União Soviética, a língua ucraniana foi perseguida. “À nossa volta era tudo russo”, lembra. Ainda assim, garante, não se identifica com “uma personagem da história russa”. “Nunca.”

Hoje, para Zelenska e grande parte dos ucranianos, afirma – apesar das semelhanças e de poderem ser tidos como “povos irmãos” -, o sentimento geral é de renúncia à cultura e à língua russas.

“Neste momento é a língua do agressor, que veio para matar literalmente. Falar essa língua, agora, até mete medo”, declara.

Que futuro para a Ucrânia?

Questionada sobre como vê o futuro do seu país, Olena Zelenska não hesita em responder que olha para a Ucrânia como um “país vencedor”, que “conseguirá o seu direito à existência e o respeito dos outros países”.

Um país “desenvolvido”, descreve, com novas ideias e energia para dar ao mundo.

“Vamos conseguir manter os nossos valores democráticos, nunca voltaremos ao totalitarismo”, assegura.

Apesar de admitir que não será fácil reconstruir o país após a guerra, Zelenska mantém, tal como o marido, o otimismo. “Estou convicta de que nos espera um futuro muito interessante."


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