Investigadores liderados pelo neurocientista português Rui Costa descobriram, numa experiência com ratinhos, que a execução de movimentos, como correr ou sentar, é guiada no cérebro por um 'mapa' da atividade das células cerebrais, revela um estudo hoje divulgado.
O estudo, publicado na revista científica Neuron, foi coordenado por Rui Costa, que trabalha no Centro Champalimaud, em Lisboa, e na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
As conclusões, apesar de verificadas em ratinhos, podem ser transpostas para as pessoas, uma vez que os humanos, tal como outros animais, têm a mesma estrutura cerebral que é necessária para selecionar e decidir o movimento que se vai fazer, esclareceu à Lusa o neurocientista Rui Costa.
A estrutura em causa chama-se estriado, que se localiza numa zona profunda do cérebro, precisa o Centro Champalimaud em comunicado.
O grupo de investigadores descobriu que no estriado os movimentos estão representados num 'mapa' da atividade dos neurónios (células cerebrais) - no fundo, essa atividade corresponde às coordenadas dos movimentos - e concluiu que os movimentos mais parecidos têm coordenadas semelhantes, estando estas mais próximas no mapa, enquanto os movimentos mais diferenciados têm coordenadas mais distantes e, portanto, mais afastadas no mapa.
Os cientistas viram, pela primeira vez, a atividade de 300 a 400 neurónios em simultâneo de ratinhos a executarem movimentos espontâneos, como andar, correr, sentar, virar a cabeça e mexer a pata.
Para tal, a equipa colocou nos cérebros dos roedores endoscópios minúsculos, que captavam a atividade neuronal. Ao mesmo tempo, os ratinhos estavam equipados com um acelerómetro, um dispositivo que registava os seus movimentos.
Rui Costa e restantes investigadores observaram que havia padrões específicos de atividade dos neurónios para cada tipo de movimento executado: correr e andar são movimentos parecidos, estando representados no cérebro de forma semelhante na atividade neuronal, o mesmo não acontece para correr e sentar, que são movimentos distintos.
Posteriormente, o grupo desenvolveu um método matemático para "classificar todas as ações" que os ratinhos faziam. Com este método, conseguiu prever o tipo de ação que iria resultar a partir da observação de um determinado padrão de atividade neuronal.
Os cientistas já mapearam os movimentos humanos através de sensores colocados nas pessoas por métodos não-invasivos (sobre roupa, relógios, joelho ou cotovelo) que registaram as suas ações diárias.
Apesar de não terem observado a sua atividade neuronal, o que, segundo Rui Costa, implicava métodos cirúrgicos para implantação de elétrodos no cérebro, a equipa crê que a correlação entre determinados movimentos e padrões particulares de atividade dos neurónios, verificada nos ratinhos, possa existir nos humanos, dado que ambos têm em comum a mesma estrutura cerebral.
O próximo passo dos investigadores é ver se ratinhos com dopamina (neurotransmissor envolvido no controlo do movimento) desregulada, que está associada à doença de Parkinson, têm alterações no 'mapa' de atividade dos neurónios.
"Na doença de Parkinson, não há seleção do movimento, a pessoa não consegue decidir o que fazer", assinalou Rui Costa.
Por Lusa
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