segunda-feira, 26 de maio de 2025

Alemanha diz que vai continuar a vender armas a Israel. Tem "a obrigação"

Por LUSA 

A Alemanha vai continuar a vender armas a Israel, apesar dos apelos internacionais para um embargo e da situação em Gaza, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) alemão, Johann Wadephul.

O ministro disse que a Alemanha "considera a segurança e a existência de Israel um princípio fundamental" e tem "a obrigação de ajudar Israel" a garantir a sua segurança e o direito à sua existência como Estado, "o que implica fornecer-lhe armas", afirmou Wadephul, em Madrid.

O MNE alemão falava após um encontro com o homólogo de Espanha, José Manuel Albares, anfitrião no domingo de um encontro de ministros de cerca de 20 países europeus e árabes focado na situação no território palestiniano da Faixa de Gaza.

Espanha apelou a um embargo total de compra e venda de armas a Israel, atendendo à ofensiva militar israelita em Gaza iniciada em outubro de 2023, em resposta a um ataque do grupo islâmico radical Hamas, e na qual já morreram mais de 50 mil pessoas, segundo as Nações Unidas.

O MNE alemão invocou hoje responsabilidades históricas da Alemanha em relação a Israel, por causa do Holocausto, mas ressalvou que também não ignora a situação em Gaza.

"Apoiamos claramente Israel, mas não podemos ignorar o destino dos habitantes da Faixa de Gaza", afirmou, opondo-se a "qualquer expulsão" de palestinianos daquele território.

"Não deve haver uma política de fome e deve haver um fornecimento ativo de ajuda e de bens humanitários", insistiu.

Johann Wadephul disse ainda que a Alemanha defende que deve manter-se o acordo de associação da União Europeia com Israel, que vários países membros do bloco comunitário pediram para ser revisto.

"Com todas as críticas a Israel e às suas políticas, estamos a favor deste acordo de associação e queremos mantê-lo", afirmou Johann Wadephul.

O MNE da Alemanha insistiu em que Berlim partilha da "profunda preocupação" internacional pela situação humanitária em Gaza e prometeu trabalhar pelo fim da guerra no território palestiniano e pela designada solução dos dois Estados (Israel e Palestina).

Wadephul desloca-se hoje à tarde a Lisboa, onde se reunirá com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel.

Também o chanceler alemão, Friedrich Merz, defendeu hoje que o sofrimento de civis em Gaza atingiu um nível que não pode ser justificado pela luta de Israel contra o grupo islamita Hamas, falando em violação do direito internacional.

O chefe de Governo da Alemanha descreveu o bombardeamento israelita de uma escola que albergava pessoas deslocadas como uma "tragédia humana e catástrofe política".

O atentado desta manhã fez pelo menos 31 mortos, muitos deles crianças.

"Sinceramente, não compreendo o objetivo do que o Exército israelita está a fazer em Gaza neste momento. Infligir este tipo de sofrimento à população civil, como tem acontecido cada vez mais nos últimos dias, é algo que já não pode ser justificado na luta contra o terrorismo do Hamas", disse.

Numa das críticas mais duras até agora às ações de Israel, Merz admitiu que a Alemanha deve abster-se, mais do que qualquer outro país, de criticar Israel publicamente, mas afirmou que "se forem ultrapassados limites que violem o direito internacional, o chanceler alemão tem a obrigação de o denunciar".

Merz anunciou que vai falar sobre a situação no Médio Oriente com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, esta semana, e assegurou que repetirá a mesma mensagem que lhe transmitiu noutras ocasiões à porta fechada: "Não exagerem!".

O chanceler alemão afirmou que não há desacordo dentro da União Europeia (UE) sobre a forma como a situação deve ser abordada e que medidas devem ser tomadas para pressionar Israel, mas que a única diferença entre os países é o quão explícitas são as críticas.

Apesar da possibilidade que levantou de que Israel estava a violar o direito internacional, afirmou que a UE está "do lado de Israel" e apelou ao Governo em Telavive para não agir de uma forma "que os seus melhores amigos não estejam dispostos a aceitar".

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