Por Gaio Martins Batista Gomes
A Guiné-Bissau está a vivenciar o fim de um ciclo político. A geração que emergiu após a independência, uma continuação da que conquistou a liberdade, assumiu o poder do país sem a devida preparação.
Tomada pela ambição e pela sede de poder, essa geração herdou o destino de um Estado que precisava de ser reconstruído, mas, em vez de lançar as bases para uma nação democrática, viu-se imersa em fantasias de riqueza, mulher e estratégias de criação de uma linhagem de substituição familiar.
O país, ao longo das últimas décadas, tornou-se refém dessas figuras que, desprovidas de uma visão estratégica ou de um sentido real de Estado, priorizaram ganhos imediatos e a perpetuação no poder. Sonhos de prosperidade rápida e ilusões de grandeza bloquearam a criação de instituições fortes e o desenvolvimento sustentável.
Contudo, este ciclo está a chegar ao fim. De forma natural, as gerações envelhecem e o tempo traz consigo a inevitabilidade da mudança. Uma nova geração, mais preparada tecnicamente e com uma formação mais robusta, começa a ocupar o cenário político do país. No entanto, esta transição não é isenta de desafios. Estes jovens, embora com melhor formação, trazem consigo uma visão influenciada por fantasias ocidentais e um fascínio pela herança colonial.
É imperativo que essa nova geração deixe de lado o amor abusivo pela democracia. Muitos têm romantizado o conceito, sem compreender que a verdadeira construção de uma democracia exige mais do que discursos idealistas e eleições periódicas. O país não pode prosperar se não houver uma visão fria e realista que lance as bases sólidas de uma democracia funcional.
A Guiné-Bissau precisa mais do que a mera repetição de fórmulas ocidentais, exige líderes dispostos a tomar decisões difíceis, mesmo que impopulares, para garantir a estabilidade institucional e a viabilidade económica.
Esta tarefa requer frieza e pragmatismo. Não basta ter vontade de governar, é preciso ter a vontade de deixar um país viável.
Isso significa fortalecer as instituições, consolidar o Estado de direito e criar um ambiente propício ao desenvolvimento, onde os cidadãos possam participar e prosperar, não como consumidores de uma democracia importada, mas como protagonistas de uma democracia adaptada à realidade guineense.
O grande desafio desta nova geração será encontrar um equilíbrio entre as influências que receberam e o dever de construir um país que reflita as necessidades e ambições reais do seu povo. A democracia na Guiné-Bissau não pode continuar a ser um fim em si mesmo, mas sim um meio para garantir um futuro próspero e estável para todos.
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