Notícias ao Minuto 16/10/22
O nome de Josep Borrell, o alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, tornou-se cada vez mais conhecido nos últimos meses devido à guerra na Ucrânia, com o chefe da diplomacia europeia a ser um dos rostos mais visíveis do apoio da UE ao país invadido pela Rússia.
Mas, na quinta-feira, Borrell quis abordar o tema da multiculturalidade, defendendo que a Europa deve "interagir com o resto do mundo", fazendo-o através de uma comparação que muitos nas redes sociais consideraram infeliz.
"A Europa é um jardim. Construímos um jardim. É a melhor combinação de liberdade política, prosperidade económica e coesão social que a humanidade já construiu", começou por dizer Borrell, no discurso de inauguração de um novo programa académico de diplomacia, no Colégio da Europa, em Bruges.
O diplomata acrescentou depois que "o resto do mundo não é exatamente um jardim".
"A maioria do resto do mundo é uma selva, e a selva pode invadir o jardim. Os jardineiros devem cuidar dele, mas não vão proteger o jardim construindo muros. Um pequeno jardim rodeado por muros altos para impedir a selva de entrar não é uma solução, porque a selva tem uma capacidade de crescimento forte e o muro nunca será alto o suficiente", afirmou, acrescentando ainda que "os jardineiros devem ir à selva" e que "os europeus devem interagir muito mais com o resto do mundo, senão o resto do mundo invade-nos, de uma forma ou de outra".
O comentário de Borrell é uma referência bastante clara às políticas de imigração europeias, e uma crítica à popularização da analogia do 'muro' na fronteira após o mandato de Donald Trump à frente dos Estados Unidos da América. Se o líder europeu pretendia salientar a importância de abrir as portas ao mundo, a forma como o diplomata o disse não foi bem acolhida.
Através do Twitter, um investigador do Instituto Alemão para Estudos Globais (GIGA) explicou o simbolismo em torno das expressões 'selva' e 'jardim' como um legado colonialista, usadas historicamente para descrever a diferença entre a Europa Ocidental e o resto do mundo que acabaria por ser colonizado, e considerado inferior.
Outra utilizadora, uma docente na Universidade Norte-Americana do Afeganistão, questionou que "se o resto do mundo fora da Europa é uma 'selva' de instabilidade e conflito, poderá um homem da idade de Borrell refletir nas razões?".
O vídeo da declaração está a ser muito partilhado, maioritariamente por páginas e contas afetas ao Kremlin, que aproveitaram para apontar o dedo à UE - uma crítica constante feita pela Rússia que, apesar de ser responsável por inúmeros crimes e ataques contra minorias étnicas, tem acusado a Ucrânia e a UE de albergar nazis e extremistas.
Não é a primeira vez que Borrell usa esta comparação para categorizar a força da democracia europeia. Numa entrevista à Euronews, durante uma visita a países da América Latina, em maio, o antigo ministro espanhol já tinha dito exatamente o mesmo: a Europa é "como um jardim francês, ordenado e geométrico", enquanto que "o resto do mundo é semelhante a uma selva".
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