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Fenómeno conduz ao crescimento da opinião pública fraturada e dividida
Os Repórteres sem Fronteiras (RSF) alertaram, num relatório publicado esta terça-feira, para os riscos de um espaço digital desregulamentado, com destaque para os efeitos desastrosos do caos da informação e desinformação espalhados pela internet.
Na 20.ª edição do 'ranking' mundial da liberdade de imprensa, publicado por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a organização não-governamental (ONG) internacional, sediada em Paris, avalia a prática do jornalismo em 180 países.
Os RSF apontaram para o desenvolvimento de meios de opinião, que imitam o modelo da rede norte-americana Fox News, e para a banalização dos circuitos de desinformação.
Estas práticas, "ampliadas pelo funcionamento das redes sociais", estão a conduzir ao crescimento da opinião pública fraturada e dividida, de acordo com o relatório.
"A invasão da Ucrânia [país classificado em 106.º lugar do índice] pela Rússia [155.º], no final de fevereiro é emblemática do fenómeno porque foi preparada por uma guerra de propaganda", sublinhou a ONG na análise da classificação.
Quanto à Rússia, além das perdas humanas, há as "consequências devastadoras" para a imprensa da região, com a morte de cinco jornalistas desde o início da ofensiva russa, mas também o facto de muitos jornalistas terem sido deliberadamente visados pelo exército russo.
A agência observou também que a China (175.º) utilizou um arsenal de legislação para confinar e isolar a população, e mais especificamente Hong Kong (148.º), que deslizou significativamente na classificação de 2022.
Os analistas internacionais que participaram no estudo tomaram, desta vez, em consideração cinco novos indicadores, para dar uma visão geral da liberdade de imprensa, tendo em conta o contexto político, jurídico, económico, sócio-cultural e de segurança.
A situação dos jornalistas é "muito grave" em 28 países, incluindo Rússia e Bielorrússia, cuja classificação foi analisada no início de 2022, na sequência da invasão da Ucrânia; "difícil" em 42 países, como México, Bolívia, Mali e Emirados Árabes Unidos; "problemática" em 62 países, incluindo Israel, Senegal, Panamá e Grécia.
A comparação com os países numa situação bastante boa (40 países) ou muito boa (oito países) mostra o desequilíbrio a nível global.
O caso da Europa
Na Europa, Noruega, Dinamarca e Suécia permanecem no topo da lista como um modelo democrático onde a liberdade de expressão prevalece, e embora haja melhorias na Moldova e na Bulgária, os RSF observou uma polarização dos meios de comunicação social nos Estados Unidos, em França e na Polónia.
A Holanda desceu 22 lugares para 28.º lugar, na sequência do homicídio, em julho passado, do investigador do crime organizado Peter R. de Vries, baleado numa rua de Amesterdão, lembrou os RSF, que está cada vez mais preocupada com os assassínios de jornalistas na UE.
Em países, como Alemanha, França, Itália e Holanda foram também noticiados numerosos ataques a jornalistas por parte de manifestantes contra medidas governamentais anticovid-19.
Em Espanha, no 32.º lugar neste relatório, a liberdade de imprensa é considerada "mais ou menos boa", embora tenha caído três lugares em relação ao relatório anterior.
Os piores países para a imprensa
A pandemia da covid-19 acelerou a censura e em regiões como a América Latina levou a graves dificuldades económicas para a imprensa e piorou o acesso à informação sobre o combate ao novo coronavírus por parte dos governos.
O México (127.º) continua a ser o país mais mortífero do mundo para a imprensa, e na Nicarágua (160.º) e em El Salvador (112.º) a situação está a agravar-se. A única exceção na América Latina é a Costa Rica, que ocupa a oitava posição na lista, entre os melhores.
Nos EUA, "apesar da eleição do Presidente democrata Joe Biden, o aumento das tensões sociais e políticas é acelerado pelas redes sociais e pelos novos meios de comunicação", sendo o mesmo verificado em França, indicou.
Por outro lado, a repressão da imprensa independente é um fator de "polarização intensa", observou o relatório, que citou o exemplo da Polónia e as estratégias para controlar os meios audiovisuais.
Neste contexto, Deloire defendeu a adoção de um quadro legal adaptado a um sistema de proteção dos espaços de informação democrática.
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