O Governo cabo-verdiano vai tentar vender em janeiro, por pelo menos 635 mil euros, um navio porta-contentores de 100 metros, dado como perdido a favor do Estado após a maior apreensão de droga no arquipélago.
De acordo com o edital do concurso lançado pelo Ministério das Finanças de Cabo Verde e ao qual a Lusa teve acesso esta quarta-feira (23.12), a venda será feita por concurso público mediante proposta fechada, com uma base de licitação de 70 milhões de escudos (635 mil euros), e a abertura das propostas terá lugar no dia 05 de janeiro.
Construído na Alemanha em 1984, o navio cargueiro "Eser" encontra-se ancorado no porto da cidade da Praia desde 31 de janeiro de 2019, após ter sido apreendido com mais de 8,7 toneladas de cocaína em 260 fardos, navegando então com bandeira do Panamá.
A venda do navio pelo Estado cabo-verdiano acontece depois de o tribunal da Praia ter condenado, em 20 de fevereiro deste ano, a penas de 12 e 10 anos de prisão os 11 tripulantes russos daquele cargueiro, na sequência daquela que ainda é considerada a maior apreensão de cocaína em Cabo Verde.
Arguidos agiram "de livre vontade”
Aquando da leitura do acórdão, a juíza presidente do coletivo que julgou este caso, sob fortes medidas de segurança, afirmou, para justificar a decisão, que os 11 arguidos em julgamento agiram em conjunto e de livre vontade, atuando como "correios de droga", mas as penas foram graduadas face às funções de cada um no navio.
Palácio da Justiça na cidade da Praia
O comandante do navio cargueiro "Eser" foi condenado a 12 anos de prisão efetiva. Os restantes 10 tripulantes, também pelo crime de tráfico de estupefacientes agravado, em coautoria material, foram condenados a 10 anos de prisão efetiva, enquanto o processo em relação a um outro tripulante russo, que também foi detido em janeiro de 2019, foi extinto, porque entretanto morreu.
Conforme era pretensão do Ministério Público, o tribunal deu ainda como perdido a favor do Estado cabo-verdiano o navio cargueiro utilizado para o transporte da droga, com 100 metros de comprimento e peso total de 3.800 toneladas, que era então propriedade da empresa Ecolive Panamá, e do seu recheio.
Segundo o tribunal, o navio partiu do porto de Colón, no Panamá, apenas com os tripulantes russos e sem qualquer carga, em 4 de janeiro de 2019. O objetivo seria transportar carga do mar das Caraíbas para o porto de Tânger, em Marrocos, percurso que o tribunal também considerou como suspeito, por estar dentro das rotas internacionais de droga da América do Sul para o continente europeu.
Morte de tripulante levou navio a cabo Verde
Durante os 26 dias de viagem, até atracar no porto da da capita cabo-verdiana, a investigação das autoridades, em colaboração internacional, permitiu concluir, segundo o tribunal, que o navio apresentou movimentos suspeitos, nomeadamente ao longo de 10 dias, ao largo da Colômbia, Venezuela e Aruba, com várias paragens em alto mar.
Para o tribunal, o transbordo da cocaína foi feita precisamente nesse período, tendo todos os tripulantes operado em conjunto no sentido de levar a "carga ilícita ao seu destino". Foi a morte de outro dos tripulantes (13 no total), ainda em alto mar, que levou o navio a seguir para Cabo Verde, onde atracou em 31 de janeiro de 2019, na Praia, onde permanece ancorado desde então.
Após uma revista da Polícia Judiciária no dia seguinte, a droga, segundo o tribunal, foi encontrada dissimulada num compartimento que apenas se destina a dar estabilidade ao navio. Oficialmente, o cargueiro fez uma escala no porto da Praia para cumprir os procedimentos legais relacionados com a morte de um dos tripulantes, mas a PJ afirmou na altura que já tinha informações que se tratava de uma embarcação suspeita.
A operação foi desenvolvida na sequência de um processo de instrução resultante da troca de informação operacional com o Maritime Analysis and Operations Centre - Narcotics (MAOC-N), com sede em Lisboa.
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