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Por LUSA 07/01/21
O Presidente do Níger, Mahamadou Issoufou, 68 anos, deixa voluntariamente o poder ao fim de dois mandatos, manifestando-se "orgulhoso" do que fez e "otimista" quanto ao futuro do seu país e do continente africano.
Mahamadou Issoufou disse que gostaria de ver África desenvolver-se apesar do 'jihadismo', da demografia galopante e da difícil integração continental.
O seu país, um dos mais pobres do mundo, é alvo de ataques 'jihadistas' recorrentes que já provocaram centenas de mortos, tem um recorde mundial de nascimentos, com 7,6 filhos por mulher, o que dificulta o desenvolvimento numa nação que, além disso, está marcada por golpes de Estado.
"Esta é a primeira vez, em 60 anos, que há uma sucessão de um Presidente democraticamente eleito para outro democraticamente eleito. Estamos a criar uma tradição democrática", afirmou Mahamadou Issoufou, regozijando-se por deixar o cargo no final dos dois mandatos, o máximo previsto na Constituição, referindo que não teve a tentação de um terceiro mandato, como alguns dos seus pares africanos, que se agarram ao poder.
"Não se pode ter instituições fortes mexendo nas constituições, alterando as regras do jogo no meio do jogo. Não me posso envolver na aventura de um terceiro mandato. Isso enfraqueceria as instituições que estamos a construir", reforçou.
O grande favorito para a segunda volta das presidenciais no país, que terá lugar em 21 de fevereiro, é nada mais nada menos que Mohamed Bazoum, o braço direito do Presidente, que beneficiou do aparelho de Estado para a sua campanha.
Mahamadou Issoufou rejeitou as acusações dos opositores do Níger de que o país é uma "democracia", onde as manifestações são proibidas e há frequentemente detenções de ativistas da sociedade civil. "A democracia é liberdade e ordem", sublinhou o Presidente. "Não há democracia sem ordem, tal como não há democracia sem liberdade".
Em termos da luta contra o 'jihadismo', apela a uma "coligação internacional".
"O Sahel inteiro está infestado. A segurança é um bem público global. O que acontece no Sahel diz respeito ao resto do mundo. Se o terrorismo conseguir ganhar uma posição em África, ganhará uma posição na Europa", destacou Issoufou, cujo país sofreu o ataque 'jihadista' mais mortífero contra civis no último sábado, que matou 100 pessoas.
O Presidente manifestou ainda o seu descontentamento relativamente às críticas locais sobre a presença de forças estrangeiras, particularmente francesas, no Sahel: "Estas não são intervenções estrangeiras, são intervenções de aliados, temos uma guerra contra um inimigo. Em todas as guerras há alianças", afirmou.
Mahamadou Issoufou disse ainda estar "surpreendido" que aqueles que criticam as operações estrangeiras "não denunciem os terroristas".
A nível económico e social, Issoufou, que tem sido muito ativo na questão da Zona Económica de Livre Comércio Africana, acredita firmemente na integração regional para trazer "o Níger e o continente para primeiro plano".
"O afro pessimismo está ultrapassado", garantiu, apelando a "políticas ambiciosas e ao aprofundamento de certos valores, particularmente democráticos e de direitos humanos".
Mas neste novo mercado prometido, "é preciso ter algo para negociar", disse, assegurando que "existe um plano de desenvolvimento industrial" e "um plano de desenvolvimento agrícola para que África se possa alimentar".
"Com a enorme quantidade de terra arável que temos, África deve ser capaz de produzir os seus próprios alimentos", defendeu Issoufou.
O presidente também está otimista em relação à contenção do aumento da população.
O Níger, que tinha apenas três milhões de habitantes quando se deu a independência do país, em 1960, tem agora 23 milhões. Com uma taxa de crescimento anual da população de 3,9% por ano (um recorde mundial), a sua população atingirá 70 milhões em 2050, se nada mudar.
"Fizemos baixar a taxa de fertilidade. É uma ação a longo prazo (...), temos mobilizado líderes religiosos e tradicionais com argumentos religiosos que justificam a necessidade de transição demográfica".
"O crescimento demográfico está a consumir uma boa parte do crescimento económico" de 6 a 7% nos últimos anos, acrescentou o Presidente, que realçou: "Vamos conseguir controlar este crescimento exponencial nos próximos anos".