sexta-feira, 26 de maio de 2023

Demissão de enviado da ONU no Sudão? Guterres "chocado" com pedido

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POR LUSA  26/05/23 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, está "chocado" com o pedido feito pelo chefe do exército sudanês, Abdel Fattah Al-Burhan, para que substituísse o representante especial das Nações Unidas no país, Volker Perthes.

"O secretário-geral está chocado com a carta que recebeu esta manhã do general Al-Burhan", disse o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, num breve comunicado.

"O secretário-geral orgulha-se do trabalho de Volker Perthes e reafirma total confiança no seu representante especial", concluiu.

Al-Burhan, que é também o presidente do Conselho Soberano de Transição do Sudão, enviou hoje uma carta a António Guterres pedindo que demita o representante especial das Nações Unidas no Sudão, por considerar que "a presença de Volker Perthes à frente da missão da ONU não ajuda a aplicar o mandato da Missão Integrada de Apoio das Nações Unidas (Unitams)".

O líder do exército sudanês acrescentou que o representante especial da ONU tornou-se uma "fonte de repercussões negativas", conforme relatado pelo canal de televisão Al Hadath.

Na missiva, Al Burhan afirmou que Perthes "deu uma impressão negativa do papel e da imparcialidade da organização internacional" ao "praticar desinformação nos seus relatórios, ao alegar que havia um consenso sobre o acordo-quadro".

O líder do Exército afirmou ainda na carta que as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), liderado pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, não se teriam insurgido "se não tivessem encontrado sinais de encorajamento das partes, incluindo Perthes".

Dessa forma, Al Burhan exigiu que Guterres "escolhesse uma alternativa a Perthes para preservar a relação entre as Nações Unidas e o Sudão".

Em causa estão os confrontos iniciados em 15 de abril entre o Exército sudanês e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido, os quais já causaram mais de mil mortos e milhares de refugiados em fuga para os países vizinhos.

Na passada segunda-feira, Perthes falou perante o Conselho de Segurança da ONU, tendo rejeitado culpabilizações à comunidade internacional pela grave situação que o país africano enfrenta, atribuindo exclusivamente responsabilidades às partes em conflito.

"Alguns colocaram a culpa deste conflito na comunidade internacional por não ter visto os sinais de alerta. Outros culpam o processo político, ou o Acordo-Quadro, que pretendia levar a um Governo liderado por civis", disse, na segunda-feira

"Mas sejamos claros: a responsabilidade pela luta é daqueles que a travam diariamente. É das lideranças dos dois lados que compartilham a responsabilidade de escolher resolver os seus conflitos no campo de batalha e não na mesa. É a decisão deles que está a devastar o Sudão", frisou o diplomata alemão.

Na ocasião, Perthes aproveitou para saudar o novo acordo de cessação das hostilidades assinado pelo Exército Sudanês e o grupo RSF e pediu às partes para que se envolvam seriamente em negociações por um "verdadeiro cessar-fogo".

Após a primeira semana de conflito, Perthes foi transferido para a cidade de Porto Sudão por precaução, junto com outras 1.200 pessoas -744 funcionários da ONU e suas famílias, além de membros de organizações não-governamentais - que foram transferidas de Cartum para aquela cidade, onde a situação é relativamente calma.

Antes do início dos combates em 15 de abril, o representante da ONU tinha a seu cargo a mediação entre todos os atores sudaneses envolvidos na transição democrática do país.

No início de março, Perthes disse que as negociações entre civis e militares para selar um acordo que acabaria com o golpe de Estado de 2021 estavam a "avançar muito" e considerou que, se continuassem dessa forma, "uma solução política ser alcançada em breve".

As partes selaram em dezembro passado um acordo-quadro para lançar, de forma preliminar, as bases de uma transição democrática no país e a retirada dos militares do poder, embora o principal obstáculo tenha sido a integração do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido no Exército regular e a rivalidade entre os dois líderes, que resultou no conflito em abril.


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