segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Tunísia: migrantes subsaarianos vítimas de agressões depois de um discurso de Kaïs Saïed

Membros de grupos de defesa dos direitos manifestant depois de um discurso do presidente tunisino Kaïs Saïed em que apelava a "medidas urgentes" contra a imigração clandestina de cidadãos da África subsaariana. Tunis, 25 de Fevereiro 2023.

Por rfi.fr  27/02/2023

Na Tunísia, vários migrantes relatam ter sido vítimas de agressões, dias depois de o Presidente Kais Saied ter falado em "chegada de bandos de clandestinos" e em "estratégia criminosa para mudar a composição geografica do país". Estas declarações foram condenadas pela União Africana que pediu aos seus Estados-membros para se absterem de "qualquer discurso de ódio de teor racista e que possa prejudicar as pessoas". 

Várias agressões ocorreram em todo o país desde que Kaïs Saïed, presidente da Tunísia, pronunciou na terça-feira, dia 21 de Fevereiro, um discurso que associações alertaram ser "racista e de ódio", em que os imigrantes clandestinos eram designados como "massas incontroláveis" que teriam o objectivo de transformar a Tunísia num "país únicamente africano" arrancando-o às "nações arabo-muçulmanas".

Desde esse dia têm-se multiplicado os testemunhos de vítimas de agressões, todos elas contra migrantes subsaarianos. No sábado, quatro migrantes foram atacados com arma branca em Sfax, a Leste do país, outras quatro jovens estudantes foram agredidas à saída da sua residência universitária em Tunes, na capital, e uma cidadã do Gabão foi agredida quando saía do seu domicílio, também em Tunes.  

Todas estas agressões terão sido silenciadas na Tunísia. Relata-se que os meios de comunicação locais não noticiaram nada acerca dos acontecimentos em Sfax e que as associações foram as únicas a divulgar o testemunho das quatro vítimas, transportadas para o hospital depois do ataque. 

Apelos a não sair de casa

As associações de estudantes apelaram os seus colegas a não sair de casa. Nos arredores da cidade de Tunes, no bairro de Bhar Lazreg, onde habitualmente subsaarianos coabitam com tunisinos, muitos preferem agora fechar-se em casa. Um cidadão marfinense que vive nesse bairro testemunhou: 

Desde que esses acontecimentos começaram, e depois do primeiro discurso do presidente, há agressões todas as noites, há tunisinos a entrarem nas casas, a vandalizarem casas e a cometerem roubos. Actualmente, há pessoas encurraladas em bairros onde nem podem sair à rua para comprar comida.

 O marfinense em causa disse ainda que se vai apresentar esta segunda-feira, 27 de Fevereiro, na embaixada da Costa do Marfim, com a mulher e filha, para regressar ao seu país, depois de 8 anos vividos na Tunísia. 

Desde o discurso de Kaïs Saïed, as autoridades detiveram e colocaram sob custódia policial uma centena de migrantes em situação irregular, acusados de "entrada ilegal no território". 

A União Africana reagiu e condenou as declarações do presidente Kaies Saied que considerou serem "chocantes". 

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