sexta-feira, 22 de março de 2019

Médicos portugueses usam lanterna do telemóvel em operação na Guiné


Estavam em plena cirurgia a uma hérnia inguinal quando falhou a energia elétrica. O resto da operação teve de ser feita com recurso aos telemóveis dos médicos e enfermeiros, para iluminar a sala, e a baterias, para alimentar alguns equipamentos. Mesmo assim, correu bem.

Esta foi uma das muitas peripécias vividas pelos onze profissionais de saúde dos hospitais de Aveiro e de Famalicão que acabam de regressar da missão humanitária "Rumo à Guiné". Ao longo de duas semanas realizaram 140 cirurgias gerais e de ortopedia (várias dezenas das quais a crianças) e centenas de consultas, no Simão Mendes, o maior hospital da Guiné-Bissau.

VIERAM DE TODO O PAÍS

Entre os doentes estavam "pessoas à espera há mais de um ano" para corrigir artroses do fémur ou úmero e doentes internados há meses. Um deles aguardava há três meses para tratar fraturas do fémur e antebraço e "estava para ser enviado para Portugal", conta a ortopedista Suzana Valente. Os médicos e enfermeiros ficaram num hotel a poucos metros do hospital e trabalharam "10 a 12 horas por dia", a operar e a dar formação, conta o anestesista Nuno Fernandes.

Quando souberam da missão, as pessoas "saíram de vários pontos do país" para pedir ajuda, frisa José Manuel In-Uba, o médico guineense que trabalha no hospital de Aveiro, mas não esqueceu a terra natal. Foi ele que lançou o repto aos colegas portugueses e que levou a esta missão.

Alguns dos doentes "saíram de aldeias e perderam-se na cidade, sem conseguir encontrar o hospital", referiu um elemento da missão ao JN. Outros não puderam ser atendidos. "Ficou muito por fazer", desabafa o enfermeiro José Sousa.


O último dia foi abalado pelo choque entre um camião e um autocarro. Doze morreram. Duas dezenas de vítimas foram assistidas.

Acreditam que os ensinamentos que deixaram, na área da higienização, controlo de infeção e técnicas médicas são "sementes" que ajudarão os médicos guineenses a "atuar em situações mais complexas", diz Suzana Valente. Mas agora querem ajudar essas sementes a germinar e, por isso, para além de se irem inteirando do estado dos doentes que trataram, muitos já começam a sonhar com novas ações. Que ajudem os doentes queimados, que "chocaram" José, e os meninos com pés deformados, que comoveram Suzana. E que deem novo alento aos profissionais de saúde com "vontade de aprender" que surpreenderam Nuno. E porque já têm uma "ligação umbilical", como lhe chamou Sousa, ao povo da Guiné.

jn.pt

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