© ARIS MESSINIS/AFP via Getty Images
Por LUSA 30/03/22
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos e a NATO revelaram terça-feira que detetaram uma aparente mudança na movimentação das forças terrestres russas, que apontam para um afastamento da região de Kiev, tal como indicado por Moscovo.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, referiu que "um pequeno número" de forças terrestres russas parecem estar a reposicionar-se para fora da região de Kyiv (Kiev), embora não aparente ser "uma retirada real".
John Kirby acrescentou que ainda é "muito cedo" para perceber a extensão da movimentação por parte da Rússia ou para onde é que as tropas vão ser reposicionadas, após Moscovo ter anunciado hoje uma redução das ações militares no oeste ucraniano, em particular nas proximidades de Kiev.
"Isto não significa que a ameaça a Kiev terminou. Eles ainda podem infligir brutalidade massiva no país, inclusive em Kiev", apontou, citado pela agência Associated Press (AP) garantindo que se mantêm os ataques aéreos russos à capital ucraniana.
Questionado se o Pentágono considera que a campanha militar russa na Ucrânia fracassou, John Kirby referiu que as forças russas falharam o seu objetivo inicial de conquistar Kiev, mas continuam a ser uma ameaça naquele país, incluindo na região do Donbass, no leste, onde parecem estar a concentrar-se em maior número.
O principal comandante militar da NATO e do comando europeu das tropas norte-americanas, Tod Wolters, também confirmou hoje que está a ocorrer "uma mudança de dinâmica" por parte da Rússia nas proximidades de Kiev, o que pode indicar uma possível retirada russa.
Tod Wolters explicou, numa audição na Comissão das Forças Armadas do Senado dos Estados Unidos, as opções tomadas pela NATO para combater a invasão russa da Ucrânia, noticia a agência EFE.
Para o militar da NATO, Moscovo está a gastar entre 70% a 75% da sua capacidade militar na invasão da Ucrânia, a maioria através das suas forças de combate.
"Os ucranianos mantiveram grande parte de sua força de combate. A nossa avaliação é que eles estão a contra-atacar", acrescentou.
O comandante da NATO desenhou, durante a sessão, o mapa do "impasse russo" na Ucrânia e o seu progresso em direção a Kiev.
"No geral, posso dizer que a viagem dos russos para o norte e para o sul em direção a Kiev permanece bloqueada. Segundo as nossas estimativas, os russos não fizeram nenhum progresso geográfico entre as últimas 24 a 36 horas", sublinhou.
Tod Wolters apontou ainda que uma das razões pode ser um reagrupamento intencional para avaliar os motivos para não estarem a fazer progressos.
"Achamos que eles enfrentaram desafios logísticos e de manutenção, desafios que achamos que eles não previram", atirou.
Já no sul do país, o general explicou que os russos não parecem sofrer a mesma resistência do que no norte, embora a NATO estime que a cidade de Kherson continue a ser disputada entre russos e ucranianos, tal como Mariupol.
Também o Ministério da Defesa britânico divulgou hoje que, segundo os seus serviços de inteligência, a ofensiva russa falhou o objetivo de cercar Kiev devido a "repetidos contratempos e contra-ataques ucranianos bem sucedidos.
Para a Defesa do Reino Unido, as declarações da Rússia sobre uma redução das ações militares no oeste ucraniano e os relatos da saída das forças russas em algumas daquelas zonas podem indicar que Moscovo aceitou que perdeu a iniciativa militar naquela região.
"É muito provável que a Rússia procure mudar as forças de combate desde o norte para a sua ofensiva na região do Donbass a leste", destacou ainda.
A Rússia prometeu hoje reduzir "drasticamente" a sua atividade militar em direção às cidades ucranianas de Kiev e Cherniguiv, após a ronda de negociações com a Ucrânia, que decorrem em Istambul.
O chefe da delegação russa e conselheiro presidencial, Vladimir Medinsky, admitiu "discussões substanciais" e referiu que as propostas "claras" da Ucrânia para um acordo seriam "estudadas muito em breve e submetidas ao presidente", Vladimir Putin.
O Presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu hoje "progresso" nas negociações sobre um cessar-fogo na Ucrânia, numa conversa telefónica com o seu homólogo francês, apelando simultaneamente à rendição das tropas "nacionalistas" ucranianas que defendem a cidade de Mariupol.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.179 civis, incluindo 104 crianças, e feriu 1.860, entre os quais 134 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,9 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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