Isabel Galriça Neto, Luís Costa, Teresa Bartolomeu e António Medina de Almeida durante a reunião moderada pela jornalista da Sic Notícias Nelma Pinto, ao centro
Sara Fevereiro sicnoticias.pt 22 DEZEMBRO 2022
O ano de 2022 não foi mais fácil que o anterior e o ano que se segue também não se adivinha mais tranquilo. Na saúde, nomeadamente na área da oncologia, os desafios atuais são enormes e os objetivos claros. O novo plano nacional contra o cancro - que ainda não foi implementado - mostra que as metas traçadas requerem muito trabalho e reorganização para serem alcançadas.
Promover estilos de vida saudáveis, melhorar o ambiente, melhorar a cobertura dos rastreios já existentes e a sua acessibilidade, reformular a estrutura nacional de cuidados dentro do SNS, aumentar a capacidade de resposta dos cuidados paliativos, obter mais informação sistematizada sobre os sobreviventes de cancro no país e incluir os cancros pediátricos e hereditários pela primeira vez na estratégia são as propostas mais sonantes.
Mas estará este documento à altura de fazer frente às necessidades? Que balanço podemos fazer de 2022 e como devemos olhar para o futuro?
Para debater estas questões, o Tenho Cancro. E depois? contou com António Medina Almeida,diretor do Serviço de Hematologia do Hospital da Luz, Isabel Galriça Neto, diretora da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz, José Mário Mariz, médico onco-hematologista do IPO do Porto, Júlio Oliveira, presidente IPO Porto, Luís Costa, diretor Serviço de Oncologia Hospital Santa Maria, Maria Rita Dionísio, diretora Médica da Novartis, Teresa Bartolomeu, responsável de Marketing da Médis e Vítor Neves, presidente Europacolon Portugal.
Conheça as principais conclusões do debate:
- 2022 foi um ano pós-pandemia, um ano em que os profissionais se preparam para um fluxo muito grande de doentes, com uma estrutura que era a que existia prévia à pandemia, afetada porque durante o período mais crítico houve ajuste de recursos humanos, procedimentos diferentes e, sobretudo, profissionais muito desgastados;
- Os casos de cancro em estado avançado tem aumentado, assim como as listas de espera. “Estamos a trabalhar no limite em termos de capacidade de resposta”, alerta Luís Costa, diretor do serviço de oncologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa;
- Os cuidados de saúde primários estão a aproximar-se daquilo que era o seu funcionamento antes da chegada da covid-19, mas há um problema, que é a falta de recursos humanos, que se foi agravando durante a pandemia e que continua agora;
- Os especialistas pedem mais autonomia para 2023, sendo depois pedida a responsabilidade por objetivos;
- “As pessoas com cancro deixaram de ser prioritárias por causa da covid”, diz Isabel Galriça Neto, referindo também que, no que toca aos cuidados paliativos, como os doentes não têm resposta do público, fazem um “esforço hercúleo” para serem tratados no privado, que também já está a atingir o limite da sua capacidade;
- O circuito de diagnostico e aprovações “ficou danificado” pela pandemia, explica António Medina de Almeida, e é urgente recuperá-lo;
- Os curadores põe também a tónica na dificuldade de acesso. “Nós sentimos a carência dos especialistas em responder em tempo oportuno e isso resulta em falta de acesso os doentes”, diz Vítor neves. Um acesso que, apesar dos esforços que se têm feito, está longe de ser igualitário;
- A preocupação dos portugueses com o acesso à saúde aumentou significativamente. Antes da pandemia, os seguros “abrangiam 2.5 milhões de portugueses e agora 3.3 milhões”, refere Teresa Bartolomeu;
- Aumentar a literacia e a prevenção primária está entre as prioridades para o próximo ano, uma vez que ainda há muito a fazer nesta área. Hoje temos 1.3 milhoes de pessoas que fumam, diariamente, em Portugal. 67.6% da nossa população tem excesso de peso e 50% da população portuguesa não come fruta ou vegetais;
- Diagnosticar precocemente continua a ser um dos focos principais para 2023, mas para isso, cuidados de saúde primários e rastreios têm que funcionar em pleno;
- Quanto aos novos rastreios anunciados recentemente, os curadores do Tenho Cancro. E depois? acreditam que é um começo, mas que não basta identificar as pessoas, é preciso que depois seja dado o acompanhamento necessário em caso de suspeita de cancro;
- Desburocratizar o sistema de saúde para agilizar processos é mais um dos problemas que migram para o próximo ano. "Tem que haver mudança nesse sentido para conseguirmos avançar mais rápido", acredita o presidente do IPO do Porto, Júlio Oliveira
- Gerir melhor os dados e criar a tão desejada rede de referenciação - que está contemplada no novo plano de combate ao cancro, mas que ainda não existe -, são outras prioridades apontadas. Com a chegada do novo CEO do SNS, Fernando Araújo, há quem acredite a situação da oncologia portuguesa pode mudar finalmente porque ele é alguém “que tem uma capacidade e um conhecimento muito grande no sector”, diz José Mário Mariz, mas há também quem refira que quem está no terreno deve ser ouvido primeiro e que, só assim, se podem tomar decisões mais acertadas.
Saiba mais sobre o futuro da oncologia nacional na edição em papel de 23 de dezembro do Jornal Expresso