Kiev entende que todos os navios são um alvo militar e eleva o estado de alerta já depois de ter começado a realizar ataques estratégicos em portos russos
Navios de guerra, petroleiros e até cargueiros. A Ucrânia declarou guerra aos navios que a Rússia está a movimentar no Mar Negro, e promete não deixar nenhum alvo para trás. O anúncio foi feito pelo conselheiro económico do presidente ucraniano, que afirmou ao POLITICO que, a partir do momento em que Moscovo mudou a estratégia em relação à exportação de cereais, se tornou legítimo que também Kiev mude de estratégia.
"Tudo o que os russos fizerem entrar ou sair do Mar Negro é um alvo militar válido", afirmou Oleg Ustenko, admitindo que a decisão surge como retaliação à posição russa, que decidiu deixar o acordo para exportação de cereais a 17 de julho, quando começou também uma série de ataques a infraestruturas portuárias da Ucrânia, nomeadamente em Odessa.
O conselheiro de Volodymyr Zelensky lembrou que a infraestrutura marítima da Ucrânia está "constantemente sob ataque", sublinhando que isso não deixa de fora os navios de guerra, mas que também não poupa os portos ucranianos ou até os armazéns onde estão depositadas toneladas de cereais que estavam guardadas para o resto do mundo.
"Esta história começou com a Rússia a bloquear o corredor de cereais", confirmou Ustenko.
A partir de 23 de agosto a Ucrânia vai elevar o alerta no Mar Negro, agora considerada uma “área de risco de guerra". Um alerta que vai permanecer "até ordem em contrário" e que se estende às áreas que são geridas pelos mais importantes portos russos, como é o caso de Novorossiysk ou Sochi.
Desta forma a Ucrânia não fica apenas mais bem-preparada para um cenário de guerra marítima, mas também fica mais perto de ferir a Rússia numa das suas principais fontes de lucro. É que é por alguns dos portos do Mar Negro que saem navios com petróleo ou produtos refinados em direção a todo o mundo, permitindo a Moscovo continuar a alimentar a máquina de guerra.
Exemplo disso é o ataque contra o cruzador Olenegorsky Gornyak, que, entretanto, atracou, visivelmente danificado, em Novorossiysk. Um ataque conduzido pela Ucrânia com recurso a um drone marítimo, uma das mais recentes armas do exército de Kiev, e que pode ajudar a mudar o rumo da guerra.
Caso semelhante aconteceu ao Sig, um petroleiro de bandeira russa que a Rosmorrechflot, que coordena o transporte fluvial da Rússia, confirmou que foi atingido num aparente ataque ucraniano realizado com um drone marítimo perto da península da Crimeia.
Ainda que sem confirmar qualquer relação com o caso, o Ministério da Defesa da Ucrânia escreveu no mesmo dia que "não existem mais águas seguras ou portos pacíficos [para a Rússia] nos mares Negro e de Azov".