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Por LUSA 17/05/22
O chefe de Estado do Senegal e presidente rotativo da União Africana (UA) visitará a Rússia e a Ucrânia para discutir com as possibilidades de África obter um abastecimento adequado de cereais e fertilizantes, segundo fontes da presidência senegalesa.
O conselheiro encarregado das relações com os media na Presidência, Ousmane Ba, indicou que as datas da viagem ainda não foram finalizadas, mas que estão "a trabalhar nisso".
Macky Sall disse na segunda-feira que tinha recebido um mandato da UA "para pedir ao Presidente (Vladimir) Putin que criasse as condições para permitir à Ucrânia exportar os cereais e fertilizantes de que necessitamos, mas também para levantar certas sanções contra a Rússia, de modo que este país possa comercializar para nos fornecer fertilizantes".
Em declarações relatadas pela Agência de Imprensa do Estado senegalesa (APS), o líder africano reiterou o apelo "urgente" da UA à "desescalada" da crise na Ucrânia e apelou a um cessar-fogo unilateral e a uma solução negociada "para evitar o pior".
Os comentários de Sall vieram durante a cerimónia de abertura da 54ª Conferência dos Ministros Africanos de Economia e Finanças em Diamniadio, a cerca de 30 quilómetros de Dakar.
Sall advertiu que África está "no meio de um conflito em que nada pode fazer".
"Se o gás russo for cortado (...), não podemos obter fornecimentos da Ucrânia, não podemos comprar fertilizantes para a agricultura. O que é que vamos fazer? ", questionou.
Tanto a ONU, como várias organizações não governamentais, já avisaram que esta guerra está a agravar a situação alimentar global, afetando regiões vulneráveis, como a África.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a crise na Europa é suscetível de provocar uma queda na disponibilidade de trigo para seis países da África ocidental que importam pelo menos 30% do seu trigo da Rússia ou Ucrânia (Burkina Faso e Togo) e mesmo mais de 50% (Senegal, Libéria, Benim e Mauritânia).
Outro efeito da guerra na Ucrânia no continente é uma queda acentuada da ajuda internacional, uma vez que muitos doadores indicaram que irão cortar o seu financiamento para o continente africano, em favor das necessidades do país europeu.
Em março passado, Sall falou com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, e apelou a um "cessar-fogo duradouro" na guerra ucraniana.
A 24 de fevereiro, a UA já tinha apelado a um cessar-fogo "imediato" e "sem demora", bem como ao início de negociações políticas para "salvar o mundo das consequências de um conflito global".
A 11 de abril, o Presidente ucraniano, Volodomir Zelenski, chamou Sall e discutiu a necessidade de diálogo para alcançar uma "solução negociada" para pôr fim à invasão russa do seu país.
Zelenski também pediu para "fazer uma comunicação à UA", que reiterou semanas depois e que, por enquanto, ainda não teve lugar.
Muitas nações africanas abstiveram-se em várias votações da ONU, que puniram a Rússia.
Esta posição está ligada não só ao papel político e económico estratégico de Moscovo para grande parte da África, mas também a razões históricas, como o apoio da Rússia aos movimentos anticoloniais e de libertação dos povos africanos no século XX, tais como a luta contra o sistema segregacionista "apartheid" na África do Sul.
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