terça-feira, 23 de abril de 2013

Carlos Gomes Júnior diz ser “candidato natural” do PAIGC às presidenciais

                                     

O primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau fala sobre a candidatura e questiona a realização de eleições no país já este ano. Gomes Júnior comenta também a prisão do ex-chefe da Marinha guineense, Bubo Na Tchuto.
O primeiro-ministro guineense deposto e presidente do PAIGC esteve na Cidade da Praia para participar no XIII Congresso do PAICV, o partido que sustenta o Governo cabo-verdiano.
Em entrevista à DW África, RTP e Agência Lusa, Carlos Gomes Júnior falou de tudo um pouco, a começar pela prisão de Bubo Na Tchuto e do alegado mandado internacional contra António Indjai, por presumível envolvimento no tráfico de droga e de armas:
“Tenho acompanhado o que tenho ouvido e visto pela imprensa. Não tenho contacto direto com as coisas que estão a decorrer no dia a dia. Mas, pelas informações na imprensa, só tenho a lamentar.”
“O Governo liderado por Carlos Gomes Júnior foi deposto a 12 de abril de 2012 num golpe de Estado liderado pelo general António Indjai. Desde essa data, Carlos Gomes Júnior nunca mais falou com o homem agora procurado pela justiça norte-americana.
Não gosto de me pronunciar sobre os meus subordinados. Os meus subordinados têm de respeitar a hierarquia e eu sou o chefe. Não me pronuncio sobre seja quem for”, disse Gomes Júnior.
Eleições em 2013?
A comunidade internacional, com as Nações Unidas à cabeça, tem pressionado as autoridades de transição para começarem os preparativos para realizar eleições gerais até ao final do ano. Porém, Carlos Gomes Júnior duvida que o prazo será cumprido.
“Eu tenho as minhas dúvidas. Umas eleições têm custo. As últimas eleições presidenciais tinham um orçamento de cerca de cinco milhões de dólares. Hoje fala-se em eleições gerais, cujo custo se estima em cerca de 20 a 30 milhões de dólares. Alguém tem de o financiar”, afirmou.
Ainda no capítulo das eleições, Carlos Gomes Júnior admitiu, pela primeira vez, que venceu as presidenciais de 2012 na Guiné-Bissau à primeira volta com 54 por cento, mas a Comissão Nacional de Eleições alterou esses resultados para 49 por cento, ao ser pressionada por uma ala militar: “Eu nem gosto de falar disso. Porque, de facto, o povo reagiu em função das suas necessidades. Mas nós, como somos um partido democrático e que já enfrentou sérios desafios, entendemos que o povo da Guiné-Bissau não devia ser confrontado com outras situações. Aceitámos os resultados. Nem questionámos se nos tiraram, ou não, votos, em nome da paz e da estabilidade.”
“Candidato natural”
“”Carlos Gomes Júnior promete regressar ao país assim que as condições de segurança estiverem reunidas e considera-se o candidato natural do PAIGC às próximas eleições presidenciais:
Sou o candidato natural. Eu é que ganhei as eleições presidenciais, isso não há dúvida para ninguém.”
Mas, antes das eleições, Gomes Júnior quer que a comunidade internacional ajude a redefinir o papel dos militares.
“Nós entendemos que há questões prévias que têm de ser analisadas, porque o povo da Guiné-Bissau não se pode manifestar livremente, os jornalistas não podem exercer a sua profissão livremente. Devia-se chegar ao consenso de que as Forças Armadas devem ser apolíticas.”
Sangue novo no PAIGC
Sobre o seu partido, Carlos Gomes Júnior duvida que o Congresso marcado para o mês de maio se concretizará, invocando questões administrativas e financeiras.
O político quer sangue novo no PAIGC: “Nós queremos dar uma nova oportunidade aos jovens. Por isso retirei a minha candidatura.”
Sobre o seu sucessor, Gomes Júnior abriu ligeiramente o véu dizendo que defende um dirigente muito dinâmico.
“Uma personalidade dinâmica, capaz, que tenha convicções e que sirva os ideais do camarada Amílcar Cabral e dos combatentes da liberdade da pátria. Uma pessoa com o objetivo de servir e não servir-se do partido. Não falo de nomes, são todos camaradas do partido”, referiu.
Praia (Deutsche Welle, 22 de Abril de 2013) 

Prisão de Bubo Na Tchuto: PM de Cabo Verde desvaloriza declarações de governantes da Guiné-Bissau

                                                  

O primeiro-ministro, José Maria Neves, desvalorizou as declarações do porta-voz do Governo de transição da Guiné-Bissau, que acusou Cabo Verde de estar envolvido na operação que levou a detenção de Bubo Na Tcuto, considerando-as descabidas de qualquer credibilidade e sem qualquer significado para o Governo cabo-verdiano.

Sobre a acusação de que Cabo Verde foi cúmplice "na passagem pelo seu território de armas e medicamentos destinados aos combatentes do MFDC (independentistas de Casamansa, no sul do Senegal)”, José Maria Neves que não comenta as declarações dos governantes da Guiné-Bissau em relação a essas matérias, “desvalorizo-as, completamente”.

De recordar que ontem, numa conferência de imprensa em Bissau, o porta-voz do Governo, Fernando Vaz, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Faustino Imbali, disseram ter provas de que o antigo chefe da marinha Bubo Na Tchuto, actualmente detido nos Estados Unidos, foi preso em território guineense e com a participação de polícias cabo-verdianos.
Fernando Vaz diz que o Governo de transição quer esclarecimentos cabais sobre as circunstâncias que levaram à prisão de Bubo Na Tchuto, já que "há factos novos" que indicam que a prisão do antigo militar ocorreu em território guineense e foi "realizada por agentes policiais cabo-verdianos".
O Governo "não pretende caucionar a impunidade sobre este ou qualquer outro caso dito de polícia", disse Fernando Vaz, acrescentando: "mas não deixamos de ficar surpreendidos com mais este insólito e provocatório comportamento do Governo cabo-verdiano, quando usa dois pesos e duas medidas na sua contribuição no combate à criminalidade na sub-região".
É que, disse Fernando Vaz, Cabo Verde foi cúmplice "na passagem pelo seu território de armas e medicamentos destinados aos combatentes do MFDC" (independentistas de Casamansa, no sul do Senegal), e o Governo de transição tem provas disso.

Mais de 60 por cento dos guineenses sem registo civil -- Governo

Mais de 60 por cento de cidadãos da Guiné-Bissau não têm registo civil e apenas 320 mil têm Bilhete de Identidade, disse hoje à Agência Lusa Joazinho Mendes, diretor-geral dos serviços de identificação civil, do Ministério da Justiça.
Segundo o responsável, o registo civil da população "tem sido um problema real" para a Guiné-Bissau, por isso o Governo de transição lançou uma campanha de 90 dias para o registo civil gratuito dos "cidadãos invisíveis perante o Estado".
O diretor-geral de Identificação Civil explicou que parte das pessoas não se registou devido ao facto de ter de pagar, optando por gastar o "pouco dinheiro que tenham" na subsistência familiar.
"Por falta de dinheiro, porque o registo civil é pago, as pessoas preferem gastar o pouco dinheiro que têm na sua subsistência, em vez de pagar para o registo. Portanto, as pessoas não dão importância ao registo civil que até aos sete anos é gratuito, dos sete até aos 13 anos custa 4.700 francos CFA (sete euros) e dos 14 para frente custa mais, porque já é feito fora do prazo", afirmou Joãozinho Mendes.
"Para evitar isso tudo, o Governo decidiu, à luz do Plano Nacional de Registo Civil, permitir que todas as pessoas que ainda não tenham um registo civil o façam dentro de 90 dias de forma gratuita. De março a julho", disse.
O responsável adiantou que "é um problema grave" para o Estado já que as pessoas não podem tratar do Bilhete de Identidade porque não têm o registo civil.
"O número de cidadãos da Guiné-Bissau com Bilhete de Identidade não ultrapassa as 320 mil pessoas. Ora, para se ter o BI, primeiro a pessoa tem que ter registo civil e só depois faz o bilhete. E as pessoas que não têm registo civil, numa população de 1,6 milhões de habitantes, talvez serão a volta de 60/70 por cento", admitiu Mendes.
"Estamos a falar de pessoas de todas as faixas etárias. Esta é uma oportunidade para resolverem este problema", assinalou o diretor-geral do registo civil, ressalvando, contudo, que cidadãos de outros países residentes na Guiné-Bissau não estão abrangidos pela campanha de registo civil gratuito.
"A campanha decorre em todo o território nacional, em todas as delegações do Registo Civil. Mas, não inclui os estrangeiros. Sabemos que há muitos estrangeiros tentados a registarem-se como sendo cidadãos nacionais, mas devemos sublinhar que isso não pode ter lugar. Os filhos nascidos cá sim, agora os pais não", frisou Joãozinho Mendes.
Além do problema do dinheiro - que o Governo suprimiu - há um outro problema que é a legislação, que data de 1967. O diretor-geral do registo civil disse que é preciso atualizar a lei do registo porque constitui um entrave em situações de pessoas que se queiram registar tardiamente.
"Essa lei tem sido um obstáculo sobretudo para o registro de pessoas a partir dos 14 anos. Deve remover-se essa barreira legal porque dificulta" o registo, observou.
 
Bissau, 23 abr (Lusa)