quarta-feira, 19 de julho de 2023

Famílias são-tomenses desesperadas por falta de recursos para a saúde: OMS diz que doenças não transmissíveis como as diabetes, cancro, hipertensão e outras estão a empobrecer a maioria das famílias do arquipélago.

Técnicos de Saúde, São Tomé e Príncipe

Por  voaportugues.com  19/07/23

SÃO TOMÉ — A Organização Mundial da Saúde (OMS) conclui que o novo perfil epidemiológico de São Tomé e Príncipe, marcado por doenças não transmissíveis como as diabetes, cancro, hipertensão e outras, está a empobrecer a maioria das famílias do arquipélago.

O país lidera a lista de pequenos Estados insulares em desenvolvimento com custos de saúde muito elevados.

Os dados estão num relatório que serviu de base para a elaboração do novo Plano Estratégico de Cooperação com São Tomé e Príncipe, aprovado na terça-feira, 18.

A OMS concluiu que 54 por cento das famílias são-tomenses não conseguem comprar os medicamentos que necessita e que 10 por cento não têm acesso aos serviços de saúde.

Yuri Will é chefe de uma família de cinco pessoas e lamenta os preços dos medicamentos face ao rendimento do seu agregado familiar.

“Quando é necessário comprar medicamentos é a barriga que sofre. Temos que cortar na alimentação e mesmo assim muitas vezes não conseguimos comprar tudo que vem na receita médica”, disse em entrevista à Voz da América.

Elisete Pires, que cuida de um tio diabético e hipertenso, conta que “temos sempre falta de dinheiro para comprar medicamentos do meu tio e ele não consegue cumprir a medicação, o que tem piorado o seu estado de saúde”.

Ela lamenta o facto de o rendimento total da família não ultrapassar os três mil dobras, cerca de 130 dólares.

Muitas crianças com traumas psicológicos resultantes do abuso sexual também não conseguem ter acesso a medicamentos de que necessitam.

Jéssica Neves, líder da Associação SOS Mulher que apoia mães de crianças abusadas sexualmente, avisa que muitas vítimas que precisam de medicação não têm condições financeiras para o fazer.

As doenças crómicas não transmissíveis são responsáveis pela situação que, segundo a OMS, define um novo perfil epidemiológico no país, visto pelas autoridades como muito preocupante perante a falta de recursos humanos de novos hábitos de vida como o consumo excessivo do álcool e o sedentarismo.

“Oitenta e cinco por cento da populução de São Tomé e Príncipe consome álcool, 54 por cento não consome ou consome menos de 5 porções de frutas ou legumes por dia, cerca de 18 por cento consome regularmente alimentos processados ricos em sal e sete em cada 10 não praticam qualquer tipo de actividade física”, alertou Sara Pereira, médica e consultora da OMS.

Para ele, “se queremos saúde temos que fazer uma abordagem multi-sectorial, não é suficiente tratar a doença se as condições de habitação ou se o acesso a água potável, ouse as condições de ambiente não são suficientes”.

No quadro do novo plano estratégico para a melhoria do sector da saúde em São Tomé e Príncipe, a OMS vai disponibilizar nos próximos cinco anos 10 milhões de dólares ao Governo do arquipélago.


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