DW.COM Autoria Braima Darame (Bissau) / Lusa
O ex-Presidente da Guiné-Bissau morreu por volta das três da manhã, hora de Bissau, devido a uma crise cardíaca, segundo fontes familiares. O Governo de transição propõe que sejam decretados três dias de luto nacional.
A morte de Kumba Yalá, de 61 anos, apanhou toda a gente de surpresa. O político guineense sentiu-se mal quando regressou a Bissau na quinta-feira (03.04), depois de ter participado, no sul do país, numa acção de campanha de Nuno Nabiam (às vezes também escrito "Nabian"), candidato independente à presidência da Guiné-Bissau.
Em memória do antigo chefe de Estado, o Governo de transição propõe decretar três dias de luto nacional, adiantou o ministro da Função Pública, Aristides Octante da Silva, após uma reunião de emergência do Conselho de Ministros.
Várias fontes familiares referiram esta manhã aos jornalistas, à porta da residência de Kumba Ialá, no Bairro Internacional, em Bissau, que o ex-presidente morreu devido a uma crise cardíaca.
Sem adiantar mais informações sobre as causas da sua morte, o médico que o assistiu, Martinho Nhanca, disse apenas que Kumba Ialá "pediu para ser sepultado só depois da vitória de Nuno Gomes Nabiam", candidato presidencial que apoiava na campanha para as eleições de 13 de abril.
O corpo do ex-Presidente da República e fundador do Partido da Renovação Social (PRS) encontra-se na morgue do Hospital Militar em Bissau sob vigilância de militares.
Na manhã desta sexta-feira (04.04.), militares patrulhavam as ruas de Bissau, controlando veículos em andamento pelas principais artérias. Algumas discotecas foram fechadas pelas forças de segurança como forma de precaução.
Morte de Ialá a dez dias das eleições
A morte de Kumba Ialá acontece a menos de dez dias da realização do pleito e em plena campanha eleitoral. José Ramos-Horta, representante da ONU em Bissau, pediu já para que não haja nenhum aproveitamento político da morte do antigo Presidente.
O corpo de Kumba Ialá encontra-se na morgue do Hospital Militar em Bissau, sob vigilância de soldados
"É preferível que ninguém politize a morte de Kumba", disse Ramos-Horta, acrescentando que o antigo chefe de Estado “deve ser sepultado com toda a dignidade e respeito“, acrescentou. Por outro lado, considerou que "os vivos devem continuar a fazer a campanha como melhor entenderem.”
Ovídio Pequeno, representante residente da União Africana (UA) no país, não espera distúrbios durante o processo eleitoral com a morte do eterno líder dos renovadores guineenses. “Espero que, de facto, não se aproveitem desta situação para poderem criar perturbações ao processo eleitoral”, afirmou.
O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, também apelou aos guineenses que mantenham a calma após a morte do antigo Presidente. "Encorajamos os guineenses a irem a votos com a consciência tranquila e dever cumprido", disse à agência de notícias portuguesa
“Tudo na vida tem o seu tempo”
Kumba Ialá, que fez 61 anos no passado dia 15.03, abandonou a vida política ativa no início do ano, dizendo na altura que "tudo na vida tem o seu tempo". Porém, Ialá estava a apoiar a candidatura independente de Nuno Nabiam à Presidência da República na campanha para as eleições gerais, marcadas para 13 de abril.
O homem do barrete vermelho recorreu a várias citações da Bíblia para argumentar que chegara a hora de deixar o seu lugar a outros, não deixando de parte a ideia de que poderia vir a ser “senador da República”.
Na política guineense durante duas décadas, Kumba Ialá fundou o PRS e ocupou o cargo de Presidente da República entre 2000 e 2003, tendo sido afastado por um golpe militar.