quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Movimento contra Presidente do Mali apoia junta militar que o derrubou

O movimento de protesto que se mobilizou durante semanas contra o Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, disse hoje estar pronto para "acompanhar" a junta militar que o derrubou no processo de transição para devolver o poder aos civis.

© Reuters
"Estamos disponíveis para acompanhar este processo, viemos para trocar e reafirmar que estamos nas mesmas posições" que os militares, disse Issa Kaou Djim, um associado do influente imã Mahmoud Dicko, no final da primeira reunião formal entre a junta e o Movimento de 5 de Junho - Reunião das Forças Patrióticas (M5-RFP).

"Fomos tranquilizados [quanto ao facto] de estes soldados serem patriotas, grandes intelectuais. O Mali, em todas as suas componentes, está nesta dinâmica de federação de todos", referiu Issa Kaou Djim após a reunião.

Modibo Koné, outro membro da delegação desta coligação heterogénea de opositores políticos, líderes religiosos e membros da sociedade civil, acrescentou: "Dissemos à junta que seria útil ter discussões substantivas depois. Eles estão de acordo e disseram que vão consultar o povo".

O encontro, que durou perto de uma hora, realizou-se na sede do campo de Kati, a cerca de 15 quilómetros de Bamako, que se tornou a sede do novo Governo. Será seguido por um outro no sábado, na presença do chefe da junta, o coronel Assimi Goïta, que estava hoje ausente, segundo os participantes.

O M5-RFP tinha liderado uma frente sem precedentes contra o Presidente Keita que durou semanas antes de os jovens oficiais o derrubarem, em 18 de agosto.

O movimento tinha saudado o golpe, dizendo que os militares tinham "completado" a sua luta. Milhares de apoiantes aplaudiram os militares em Bamako, em 21 de agosto.

A junta prometeu devolver o poder a civis dentro de um prazo não especificado e tem vindo a realizar consultas com as forças políticas e sociais e representantes da comunidade internacional desde a semana passada, incluindo o chefe da missão da ONU no Mali (Minusma), Mahamat Saleh Annadif, na terça-feira.

O golpe de Estado começou com a detenção pelos militares de Ibrahim Boubacar Keita e do seu primeiro-ministro, Boubou Cissé, bem como a detenção de altos funcionários civis e militares, que foram levados para o campo militar de Kati, nos subúrbios da capital maliana.

O golpe de Estado de 18 de agosto foi o quarto na história do Mali, que se tornou independente da França em 1960. Os militares tomaram o poder em 1968, 1991 e 2012, tendo o último golpe de estado aberto as portas do país a várias milícias.

Portugal tem no Mali 74 militares integrados em missões das Nações Unidas e da União Europeia.

Antigo primeiro-ministro (1994-2000), Ibrahim Boubacar Keita, 75 anos, foi eleito chefe de Estado em 2013 e renovou o mandato de cinco anos em 2018.

In LUSA

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