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sábado, 1 de outubro de 2022

'Chef' de Putin assume o comando de mercenários russos

Yevgeny Prigozhin e Vladimir Putin (Setembro 2010)


Em 26 de setembro, Yevgeny Prigozhin, um empresário conhecido como “Chef de Putin” por causa dos contratos ganhos de catering (serviço de comida e bebida) do Kremlin pela sua empresa Concord, reconheceu recentemente que ele foi o fundador da empresa militar privada russa conhecida como Wagner Group.

Respondendo a uma pergunta enviada pelo site russo Bloknot.ru, Prigozhin disse que em 2014 queria apoiar o envolvimento militar da Rússia na região de Donbass, na Ucrânia, mas que ninguém ainda havia criado um grupo paramilitar digno do seu apoio financeiro.

“Então eu voei para um campo de treino e fiz isso sozinho. Eu mesmo limpei as armas antigas, descobri os coletes à prova de balas e encontrei especialistas que poderiam ajudar-me com isso”, disse Prigozhin.

“A partir daquele momento, em 1 de maio de 2014, nasceu um grupo de patriotas, que mais tarde adquiriu o nome BTG [Battalion Tactical Group] Wagner.”

Prigozhin também confirmou o envolvimento da Wagner em conflitos na Ucrânia, Síria, África e América Latina, algo que ele havia negado repetidamente.

As conexões de Prigozhin com o grupo Wagner foram amplamente divulgadas, mas ele chegou a processar jornalistas por dizerem que ele criou a empresa. Prigozhin negou qualquer conexão com o Grupo Wagner em 16 de fevereiro, quando processou o grupo holandês de jornalismo investigativo Bellingcat num tribunal de Moscovo, exigindo uma retratação.

“As publicações contestadas contêm informações falsas de que o autor [Yevgeny Prigozhin] é afiliado ao Grupo Wagner, o financia e que o Grupo Wagner lhe pertence”, afirmou o processo judicial.

Os mercenários do Grupo Wagner participaram dos combates de 2014-2021 das tropas russas e separatistas pró-russas em Donbass, e da guerra civil síria ao lado do ditador Bashar Assad.

As tropas de Wagner também entraram em ação na Líbia, na República Centro-Africana e em Moçambique. Eles foram acusados de saques e abusos.

Ainda em 12 de fevereiro, Prigozhin recorreu ao Tribunal Geral da União Europeia exigindo que o Conselho da UE retirasse a redação que o descrevia como patrocinador do Grupo Wagner e justificava sanções contra ele.

“Yevgeny Viktorovich [Prigozhin] sempre negou e continua a negar a existência de quaisquer ligações entre ele e quaisquer estruturas militarizadas ou paramilitares”, disse Concord.

Em junho de 2021, Prigozhin processou Alexei Venediktov e Vitaly Ruvinsky, chefes da estação de rádio Ekho Moskvy, por alegarem no ar que o empresário era dono do Grupo Wagner.

Prigozhin negou o seu envolvimento com o Grupo Wagner em novembro de 2017 em entrevista ao site russo RBK.

“Não temos conhecimento das atividades da organização que você mencionou. Yevgeny Viktorovich [Prigozhin] também me pediu para transmitir que estava extremamente surpreso com o próprio fato da existência desta empresa e não tinha nada a ver com suas atividades”, disse a empresa Concord.

Prigozhin negou não apenas os seus laços com o Grupo Wagner, mas também o envolvimento da empresa na guerra com a Ucrânia.

Em julho de 2022, o site de notícias russo independente Meduza, com sede na Letónia, publicou uma investigação sobre mercenários russos na Ucrânia. Prigozhin exigiu que os autores fossem processados criminalmente.

Os seus representantes citaram as perguntas que Meduza lhe enviou alegando que o Grupo Wagner estava participando da guerra russo-ucraniana.

“As perguntas feitas contêm a informação inicial dos seus autores de que uma certa empresa militar privada, Wagner, está diretamente envolvida na operação especial conduzida pela Federação Russa no território da Ucrânia”, disse Concord, referindo-se à invasão da Ucrânia pela Rússia.

De acordo com analistas e reportagens, o grupo Wagner está intimamente ligado ao Ministério da Defesa russo. Os seus mercenários usam bases militares russas, são transportados por aeronaves militares russas, são atendidos por serviços médicos militares e recebem passaportes como funcionários do Ministério da Defesa, segundo reportou em setembro de 2020, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank de Washington, DC.

Em setembro, surgiu um vídeo mostrando um homem parecido com Prigozhin convidando condenados da colónia prisional russa de Mari El a alistar-se como mercenários. Mais tarde, Prigozhin, disse aos críticos que “ou PMCs (contratados militares privados) e prisioneiros, ou os seus filhos”, iriam combater na guerra da Ucrânia.

O próprio Prigozhin é um ex-criminoso que cumpriu pena na Rússia na década de 1980. Ele está nas listas de sanções dos EUA desde dezembro de 2016, quando foi designado para ajudar nas provocações militares de Moscovo no leste da Ucrânia.

Em fevereiro de 2018, um grande júri federal acusou Prigozhin e a Internet Research Agency, uma empresa de São Petersburgo supostamente controlada por ele e envolvida em campanhas de propaganda e desinformação, além de hacking, por interferir nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA. Concord contestou as acusações, que mais tarde foram retiradas.

Em dezembro de 2018, o Tesouro dos EUA “tomou medidas contra atores russos que tentaram influenciar as eleições de meio de mandato dos EUA em 2018” e impôs sanções à RIA FAN (Agência Federal de Notícias) da Rússia por ligações com a Agência de Pesquisa da Internet. O Tesouro visava os aviões particulares, iates e empresas de fachada associadas a Prigozhin.

A lista dos EUA de empresas sancionadas associadas a Prigozhin expandiu-se depois de ele ter tentado escapar das sanções usando várias empresas de fachada.

No início de 2021, de acordo com o Tesouro dos EUA, “Prigozhin continuou a coordenar mensagens na tentativa de espalhar desinformação sobre o governo dos Estados Unidos”.
A acusação de 2018 colocou Prigozhin na lista de "mais procurados" do FBI.


sábado, 24 de junho de 2023

Quem é Prigozhin, o multifacetado mercenário que desafia Putin?

© Reuters

POR LUSA    24/06/23 

O líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, é um homem multifacetado, com diversos negócios na restauração que lhe deram a alcunha de "chef de Putin" e atividades ilegais que o colocaram sob sanções internacionais.

Empresário, ex-condenado, fundador de uma fábrica de 'trolls' (máquina de desinformação que através da Internet tenta interferir nas opiniões e decisões políticas) e mercenário, Prigozhin é, agora, o rebelde que desafia o Presidente russo, Vladimir Putin.

Com mais de 25 mil homens do seu exército privado, considerado ilegal na Rússia, mas que tem vindo a lutar ao lado das tropas russas na Ucrânia, Yevgueny Prigozhin iniciou na sexta-feira uma rebelião contra o comando militar devido ao "caos" em que, segundo ele, se transformou a guerra e aos "100.000 soldados russos" que diz terem morrido por culpa do Ministério da Defesa.

Nos últimos meses, Prigozhin tem vindo a criticar duramente o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, desafiando-os constantemente em áudios e vídeos repletos de insultos, gritos e acusações de incompetência e de desorganização na estratégia bélica na Ucrânia.

A sua experiência como líder dos temidos mercenários russos, conhecidos pela brutalidade e pelo uso de métodos de tortura contra os seus próprios membros e inimigos, segundo denúncias de ex-combatentes e vídeos do grupo, foi adquirida em países como o Sudão, Mali, República Centro-Africana ou Líbia.

Contudo, Prigozhin nem sempre foi o líder de milhares de combatentes de Wagner, grupo que só em setembro de 2022 reconheceu, finalmente, ter criado em 2014, quando "começou o genocídio em Donbass", segundo disse, alinhado com o argumento usado por Putin em fevereiro de 2022 para lançar a guerra contra a Ucrânia.

Quem é Yevgeny Prigozhin?

Nascido há 62 anos em São Petersburgo, Prigozhin começou por ser um empresário criminoso, tendo passado 10 anos na prisão na década de 1990, sem que nunca tenha sido revelado o motivo.

Quando saiu da prisão, começou a vender cachorros-quentes e ganhava 1.000 dólares por mês, segundo relatou a um portal da sua cidade natal em 2011, numa das raras entrevistas que concedeu na altura.

Yevgeny Prigozhin aspirava, no entanto, a muito mais, e sabia como fazer bons contactos no meio empresarial e, mais tarde, na elite política russa.

Rapidamente, o homem, de extrema direita, conseguiu abrir o seu primeiro restaurante e entrar no mundo do 'catering' para jantares de gala ou com convidados ilustres da Rússia.

Nessa altura, Vladimir Putin já era Presidente e, às vezes, levava os seus convidados, incluindo líderes estrangeiros, como George Bush, a restaurantes de Prigozhin em São Petersburgo, segundo fotografias da altura.

Através da sua empresa Concord, Prigozhin foi ganhando contratos públicos de 'catering' e para fornecimento de escolas em Moscovo, acabando por conquistar o epíteto de "chef de Putin".

De acordo com uma investigação feita em 2017 pelo líder da oposição russa Alexei Navalni, atualmente detido, Prigozhin teria ganhado contratos estatais no valor de, pelo menos, 2.500 milhões de euros, incluindo um para fornecer alimentos ao exército russo.

Fábrica de 'trolls'

No entanto, as suas aspirações não ficavam por aqui. Embora nunca tenha implicado publicamente Putin nas suas iniciativas ilegais, Yevgeny Prigozhin decidiu servir o Estado russo através de uma outra faceta, quando criou a famosa fábrica de 'trolls' de São Petersburgo, que os EUA acusaram de interferir nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016.

Só em fevereiro deste ano Prigozhin reconheceu ter sido o fundador desta estrutura, que lançou uma campanha nas redes sociais, em 2016, para manipular a opinião pública nos EUA antes das eleições presidenciais que Donald Trump viria a vencer.

"Nunca fui apenas o financiador da Internet Research Agency. Eu inventei-a, criei-a, administrei-a por muito tempo. Ela foi criada para proteger o espaço de informação russo da propaganda grosseira e agressiva das teses antirrussas do Ocidente", disse então.

Em novembro de 2022, Prigozhin respondeu pela primeira vez às acusações de suposta interferência nas eleições dos Estados Unidos, dizendo que a Rússia "o fez e fará": "Meus senhores, fizemo-lo, continuamos a fazê-lo e fá-lo-emos no futuro", disse.

Como resultado, os EUA sancionaram Prigozhin e três das suas empresas, incluindo a Concord Management e a Concord Catering, por influenciarem processos políticos no país.

Grupo Wagner

Em fevereiro de 2022, o empresário decidiu voltar a centrar-se no seu grupo de mercenários e enviou os seus combatentes para a Ucrânia, onde começaram os problemas com o comando militar russo, que inicialmente não deu o devido crédito aos 'wagneristas' quando estes tomavam alguma localidade, enfurecendo Prigozhin.

O conflito eclodiu este ano durante o combate pelo controlo de Bakhmut, que acabou por ser tomada pelos mercenários em maio, naquela que foi, até agora, a batalha mais longa na Ucrânia, e em que Prigozhin acusou Shoigu e Gerasimov de deixarem os seus homens morrer por falta de munições.

Conflitos com Putin e governo russo

Desde então, têm sido crescentes os ataques do empresário ao Ministério da Defesa russo, inclusive relativamente aos supostos ataques de drones ucranianos contra o Kremlin e o sul de Moscovo ou à incapacidade da Rússia em defender as regiões fronteiriças com a Ucrânia, como Belgorod, de incursões e bombardeamentos inimigos.

Yevgeni Prigozhin acusa o comando militar de mentir e de enganar os russos e Putin de ocultar a situação real na frente de guerra. Para alguns russos, ele é o único que diz a verdade, enquanto para outros é um homem perigoso e impertinente que, agora, se levanta contra as mais altas estruturas do poder.


Leia Também: Conselho Europeu em contacto com G7 mas diz que rebelião é assunto russo

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Putin decidiu não "eliminar" Prigozhin porque "ia torná-lo num mártir"

© Getty Images

Notícias ao Minuto    28/06/23 

Segundo o ISW, o presidente da Rússia percebeu que não podia "eliminar" Prigozhin e, por isso, vai "destruir a sua reputação" para que este deixe de ter "apoio popular" e para que deixe de ser "seguido" pelos combatentes do grupo Wagner.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu que, nesta altura, não consegue "eliminar" o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, "sem fazer dele um mártir" e, por isso, começa a tentar apresentá-lo como "corrupto e mentiroso para destruir a sua reputação entre o pessoal da Wagner e na sociedade russa", revela uma análise do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês).

Segundo o ISW, o Kremlin "lançou uma campanha de informação doméstica contínua na Rússia para perdoar os combatentes e comandantes da Wagner num esforço" para os atrair a "assinar contatos com o Ministério da Defesa russo". "O esforço deliberado para separar Prigozhin do Grupo Wagner provavelmente visa estabelecer condições informativas para que o Kremlin possa acusar Prigozhin de corrupção ou conspiração com a Ucrânia ou o Ocidente", lê-se.

"Putin provavelmente decidiu que não consegue eliminar Prigozhin diretamente sem torná-lo num mártir neste momento", nota o ISW, que destaca que o líder do Wagner "ainda mantém algum apoio dentro da sociedade russa e das forças regulares russas", e o Kremlin terá de "garantir que esses grupos se desiludem com Prigozhin para privá-lo efetivamente de seu apoio popular na Rússia".

O ISW nota que muito deste apoio terá surgido devido ao facto de Prigozhin ter criticado o comando militar, "uma mensagem que provavelmente atraiu muitos militares e as suas famílias desiludidos com a mobilização, baixas, escassez de suprimentos e grande perda de vidas com pouco para mostrar".

"O Kremlin provavelmente continuará a atacar a personagem de Prigozhin para quebrar o apoio popular, desencorajar o pessoal de Wagner de segui-lo para a Bielorrússia e destruir seu poder financeiro", defende a análise do ISW.

Recorde-se que o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, avançou, na sexta-feira, com uma rebelião na Rússia, que acabou por suspender menos de 24 horas depois, já após ter ocupado Rostov, uma importante cidade no sul do país para a logística da guerra na Ucrânia.

Ontem, Vladimir Putin disse que o grupo Wagner recebeu quase mil milhões de euros de Moscovo num ano. O chefe de Estado russo reconheceu que o Estado tinha "financiado integralmente" o grupo Wagner, realçando que a empresa Concord, do grupo de Yevgeny Prigozhin, tinha "ganhado ao mesmo tempo 80 mil milhões de rublos (cerca de 850 milhões de euros)".

"Espero que durante estas operações ninguém tenha roubado nada ou, por assim dizer, roubado pouco", continuou. "Claro que cuidaremos [da verificação] de tudo isso", alertou.

Antes do conflito na Ucrânia, o Kremlin negou durante anos qualquer ligação com o grupo Wagner, que, além do Dombass, no leste da Ucrânia, tem atuado na guerra da Síria e em vários conflitos em África.

No mesmo dia, o presidente bielorrusso revelou que pediu a Putin para não matar o líder do Grupo Wagner. 

"Disse a Putin: Poderíamos livrar-nos dele [Prigozhin] sem problemas. Se não fosse na primeira tentativa, seria na segunda. Mas eu disse-lhe: Não faça isso", afirmou Lukashenko, durante uma reunião com as autoridades de segurança, de acordo com a imprensa estatal, citada pela AFP.

Lukashenko confirmou que Prigozhin chegou à Bielorrússia na terça-feira, sob um acordo que acabou com a sua rebelião. 


Leia Também: General russo sabia de rebelião? "Boatos", diz Kremlin

terça-feira, 27 de junho de 2023

Ucrânia, Síria, Líbia, Mali… Os "pequenos homens verdes" transformaram-se no Grupo Wagner e só há uma regra: “Entrar a matar”

Yevgeny Prigozhin. Getty

Por cnnportugal.iol.pt   27/06/23

Ficaram conhecidos em 2014, no Donbass. Não tinham “insígnias” e vestiam-se “de verde” e foram inicialmente chamados de “The Little Green Men”. Prigozhin lidera o grupo desde o início, mas após desafiar Moscovo o seu paradeiro é agora desconhecido. A CNN Portugal falou com dois especialistas que conhecem bem este grupo: a sua história, em que países atuam e como ganham dinheiro

Yevgeny Prigozhin era um homem de confiança de Vladimir Putin e criou um grupo de mercenários quando a Rússia precisou. “Quando ocorreu a invasão do Donbass, a Rússia não queria aparecer como invasora, então criou um grupo sem insígnia, de homens armados, vestidos de verde”, recorda Victor Ângelo, especialista na área das Relações Internacionais e ex-secretário geral adjunto da Organização das Nações Unidas (ONU), em entrevista à CNN Portugal.

Os pequenos homens verdes (The Little Green Men), como eram conhecidos em 2014/ 2015, “porque estavam todos vestidos de verde, como militares, mas não tinham qualquer tipo de insígnia” que os identificasse, fosse por país ou batalhão, explica Victor Ângelo. Este especialista recorda que, então, os russos asseguravam não ter nada a ver com o eles e que se tratava de gente do Donbass.

O Grupo Wagner alimenta-se de guerra, conflitos e é pago a peso de ouro, até com diamantes, por quem o contrata. Victor Ângelo acredita que tenham um “financiamento direto do governo russo” e que, além de dinheiro, a remuneração também possa incluir equipamento, armamento, logística e transporte. 

Depois do Donbass, “a primeira grande expedição do grupo foi na Síria, quando a Rússia começou a ajudar o regime de Bashar al-Assad. Foram enviados, já como grupo Wagner, para proteger as bases militares russas na Síria, nomeadamente a base marítima e a base aérea”, conta Victor Ângelo.

“Depois, começaram a entrar na parte leste Líbia para ajudar a rebelião contra Tripoli”. E o caminho continuou. Seguiu-se o Mali, “onde devem estar cerca de dois mil homens” do Grupo Wagner. E depois, “na República Centro Africana”. Fazem também “circulação de logística, de bens e de armas, entre o leste da Líbia e os rebeldes do Sudão” e, neste momento, “estão em negociações com o governo do Burkina Faso”.

Como grupo mercenário “não seguem qualquer tipo de regra internacional em termos de respeito pelos direitos humanos, pelas regras da guerra, pelas questões humanitárias. É pura e simplesmente entrar a matar”, acrescenta o ex-secretário geral adjunto da ONU. Este é mesmo um dos motivos que leva alguns governos a contratarem os seus serviços.

“As Forças armadas russas não têm grande vontade para os integrar”

A grande maioria dos elementos do Grupo Wagner encontra-se agora na Ucrânia, mas os acontecimentos mais recentes podem fazer “desmobilizar” muitos, até porque, segundo informação interna recolhida por Victor Ângelo, estes elementos não deverão ser acolhidos pelo exército russo. “Não serão integrados, são puramente desmobilizados, porque as Forças Armadas russas não têm grande vontade para os integrar”. 

E há vários motivos. “Muitos deles são antigos criminosos e as Forças armadas não querem, que ao lado dos soldados profissionais, estejam a combater antigos criminosos, porque diminui o moral das forças armadas convencionais”.

Mas não só. “A segunda razão é que são pessoas sem preparação militar tradicional. Não passaram por todos os cursos e formação dos militares tradicionais. É gente que foi puramente recrutada e à qual foi dado uma arma e a quem foi dito, agora vais combater”, acrescenta.

Nos últimos “seis, sete meses” foram muitas a vezes que Yevgeny Prigozhin criticou duramente o Ministério da Defesa russo e esse discurso é passado a quem está no terreno. Se houvesse a integração destes homens no exército russo, “a partir desse momento, o ministro e o Chefe do Estado Maior General passariam a ter militares nos quais não poderiam confiar”.

O atual paradeiro de Prigozhin é desconhecido e a Bielorússia nunca poderia ser escolha para o líder do grupo Wagner, segundo Victor Ângelo. “Mais cedo, e provavelmente mais cedo do que mais tarde, acabaria por ser preso por Aleksandr Lukashenko”, próximo de Vladimir Putin, assegura.

E lembra casos recentes em que se tem verificado situações de “muita gente a cair de escadas” e “por razões que não têm comparação em termos de gravidade com aquilo que este homem fez”. Mesmo sem excluir a possibilidade de o líder do Grupo Wagner ter rumado a África, tem dúvidas, porque muitos desses países “estão muito subordinados à Rússia”. E, por isso, este especialista admite que Prigozhin procure provavelmente um dos estados do Golfo ou similar, geografias que têm, apesar de tudo, alguma independência. Independentemente do local onde se encontre, Victor Ângelo tem uma certeza: Prigozhin “está numa situação muito, muito difícil”.

“Na Ucrânia eles faziam aquilo que as tropas russas não podiam fazer, que são os crimes bárbaros”

José Manuel Anes é ex-presidente do Conselho Consultivo do OSCOT - o Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, e o nome Wagner não lhe é nada desconhecido. Para este especialista a ligação do grupo a África é forte e deverá continuar. “Porque ali há matérias-primas”, explica. Recebem dos governos e ainda ficam matérias-primas da zona, seja “diamantes ao ouro”. Exploram minas e é assim que também garantem o financiamento do grupo. “Dinheiro não lhes falta”, afirma. Na região de África devem estar cerca de “cinco mil homens” admite.

Mas a grande maioria dos homens continua na Ucrânia. “Na Ucrânia eles faziam aquilo que as tropas russas não podiam fazer, que são os crimes bárbaros. Portanto, misturam a parte militar com saques, violações, tudo. É realmente um grupo problemático”. E não tem dúvidas que ao nível de grupos mercenários este é “atualmente” o pior de todos.

“Só o grupo Wagner conta. Não têm restrições. Não querem saber se o governo é legítimo, se é ilegítimo, se a ONU tem mandato, se não tem. Estão ali para governar a vidinha, mais nada”, acrescenta.

O futuro parece incerto, principalmente sem se saber onde está Yevgeny Prigozhin. “Ele pode estar na Bielorrússia, pode estar em África”. E para José Manuel Anes este é um destino bastante possível. “Pode ter ido para África porque, na verdade, ali ninguém importuna”.

Quanto aos milhares de homens que ainda permanecem na Ucrânia, assume que alguns poderão regressar a África. Outros talvez permaneçam onde estão, até porque se fala na possibilidade de “serem integrados nas tropas russas”. Mas esta não é uma garantia porque também existe a possibilidade de “conspirarem contra o Putin. É tudo possível. Do Wagner é tudo possível”.

O exército privado de Putin

A organização terá sido fundada por volta de 2007, na Rússia, por um ex-oficial do exército russo, Dmitriy Valeryevich Utkin, com o apoio de Yevgeny Prigozhin, um oligarca russo com laços estreitos ao Kremlin. E é por isso, que muitos tratam o Grupo Wagner como um exército privado de Vladimir Putin.

As informações sobre o ex-oficial do exército russo Dmitriy Valeryevich Utkin são escassas. Terá servido como tenente-coronel das forças especiais do GRU (Direção Central do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia) e recebido quatro Ordens de Coragem. Nasceu a 11 de junho de 1970 em Asbest, na Rússia.

Já Yevgeny Prigozhin é conhecido como "o chef de Putin". A alcunha virá do facto de ter feito fortuna em negócios de catering na década de 90. Terá conhecido Putin em 2001, no seu restaurante de luxo em São Petersburgo, o New Island, e em pouco tempo passou a fazer parte do círculo próximo do líder russo. 

Dmitriy Valeryevich Utkin será o homem responsável pelo nascimento do Grupo, que só se torna visível aos olhos do mundo em 2014, durante a Guerra civil no leste da Ucrânia, o Donbass. É nessa altura que surgem relatos de soldados ucranianos que se cruzaram com homens fardados de verde, mas sem símbolos e que falavam russo. Os tais “Pequenos Homens Verdes”.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

YEVGENY PRIGOZHIN: Tentativa de golpe de Estado no Níger? "Luta contra os colonizadores"

© Mikhail Svetlov/Getty Images

POR LUSA   28/07/23 

Uma organização russa ligada ao grupo paramilitar Wagner difundiu uma mensagem alegadamente do seu líder, Yevgeny Prigozhin, afirmando que a tentativa de golpe de Estado no Níger é uma "luta contra os colonizadores".

A Comunidade de Oficiais para a Segurança Internacional (COSI), considerada pelos Estados Unidos como uma fachada para o grupo Wagner na República Centro-Africana (RCA), partilhou uma mensagem áudio atribuída a Yevgeny Prigozhin no Telegram, na noite de quinta-feira.

A voz e o tom característicos de Prigozhin são reconhecíveis, mas a agência AFP não pode confirmar a total autenticidade da mensagem, uma vez que o chefe do grupo Wagner não emitiu qualquer declaração oficial nas contas da sua organização desde 26 de junho, após a sua tentativa abortada de motim na Rússia.

"O que aconteceu no Níger não é outra coisa senão a luta do povo do Níger contra os colonizadores que estão a tentar impor-lhes as suas regras de vida", afirma alegadamente Prigozhin na mensagem.

"Para manter (os povos africanos) sob rédea curta, os antigos colonizadores estão a encher estes países de terroristas e de vários bandos armados, criando eles próprios uma enorme crise de segurança", afirma.

Segundo ele, os "antigos colonizadores" enviaram missões militares com "dezenas de milhares de soldados que não estão em condições de defender a população de Estados soberanos".

"A população está a sofrer. E é daí que vem o amor pela empresa privada Wagner e a eficácia de Wagner, porque mil combatentes Wagner são capazes de estabelecer a ordem e destruir os terroristas", diz Yevgeny Prigozhin.

Desde quarta-feira à noite, os militares golpistas raptaram o Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, um aliado francês neste país que é o último pivot das operações anti-terroristas da França no Sahel.

Os militares golpistas apelaram "à população para manter a calma" após os incidentes ocorridos durante uma manifestação em Niamey organizada para os apoiar, durante a qual foram hasteadas bandeiras russas e entoadas palavras de ordem antifrancesas.

As alegadas declarações de Yevgeny Prigozhin surgem no momento em que se realiza em São Petersburgo a segunda cimeira Rússia-África, na qual participam dezenas de delegações de países africanos e o Presidente russo, Vladimir Putin.


terça-feira, 23 de maio de 2023

Bakhmut fez de Prigozhin um herói para o povo russo e uma ameaça para as altas patentes do Kremlin. O que se segue? “Ele está mortinho por sair de lá”

Yevgeny Prigozhin, líder do grupo Wagner (Foto: AP)

João Guerreiro Rodrigues   CNN  23/05/23

O grupo Wagner pode estar prestes a desaparecer da Ucrânia e a rumar a paragens ainda mais lucrativas

Foram a vanguarda da batalha mais violenta deste século. Durante 224 dias, os "músicos da orquestra", como são conhecidos na Rússia, tentaram de tudo para conquistar a pequena cidade de Bakhmut, na região do Donbass. As perdas foram “assombrosas”, milhares de vidas perdidas, com as tropas ucranianas a fazerem com que os mercenários pagassem caro cada avanço. Agora, menos de dois dias depois de anunciar a sua conquista, Yevgeny Prigozhin, líder do infame grupo Wagner, anuncia que vai dar ordem para os seus homens se retirarem da cidade no início de junho. Os especialistas consideram que as intrigas políticas, negócios em África e a incapacidade de defender o território ocupado podem levar os mercenários do Kremlin a desaparecer da guerra na Ucrânia.

“O grupo Wagner não parece ter potencial necessário para aguentar o terreno que conquistou. É preciso soldados para defender o território conquistado. Prigozhin quer sair de Bakhmut como o grande vencedor que conquistou a cidade, e não como o homem que não a soube manter. Ele está mortinho por sair de lá”, explica o major-general Isidro de Morais Pereira.

Yevgeny Prigozhin e os seus mercenários chegaram à periferia de Bakhmut no final de agosto. Tinham sido chamados pelo então líder da “operação militar especial”, o general Serguei Surovikin, que planeava direccionar para a cidade o principal golpe para tentar conquistar a região do Donbass, um dos principais objetivos militares de Vladimir Putin. O grupo comandava entre 45 a 55 mil soldados, compostos por um misto de veteranos, voluntários e muitos prisioneiros, alistados após uma controversa campanha de recrutamento em várias prisões russas, onde lhes foi prometido o alívio das sentenças em troca de seis meses de serviço militar.

Na frente de batalha, eram precisamente estes os homens colocados na linha da frente. “Continua a avançar até morrer”, recorda um dos reclusos capturados pelas forças ucranianas, nos arredores de Bakhmut, quando questionado sobre as ordens dadas pelos seus superiores. O resultado desta estratégia foi o envio de sucessivas “ondas humanas” contra as defesas ucranianas, algumas delas pre-posicionadas há mais de oito anos, depois de a cidade ter sido atacada por grupos armados apoiados por Moscovo, em 2014. Segundo o Conselho Nacional de Segurança norte-americano, estas táticas resultaram num número de baixas “assombroso”, que pode chegar aos 20 mil mortos e 80 mil feridos, apenas do lado russo.

“No auge do combate, em fevereiro e março, os homens de Prigozhin chegaram a ter cerca de 100 a 120 por dia. As perdas foram terríveis e acredita-se que agora o número de homens ao seu dispor não deve ultrapassar os 15 mil homens”, refere o major-general, que insiste que um número tão elevado de baixas fazem com que as unidades militares do Wagner sejam ineficazes do ponto de vista militar. Por isso, o futuro deste grupo paramilitar com ligações ao Kremlin deve passar por um período de reorganização, que deverá durar cerca de seis meses. “Prigozhin vai reagrupar. Ele deverá retirar-se para uma aérea mais segura para reunir os seus militares, dar-lhes descanso, recrutar novos militares e refazer o seu pequeno exército. Esse deverá ser o seu principal objetivo”, conclui Isidro de Morais Pereira.

A piorar a situação, o Kremlin fechou a porta de Prigozhin à sua principal fonte de mão-de-obra: o sistema prisional russo. Outrora uma fonte quase inesgotável de soldados com que atirar contra as linhas de defesa ucranianas, o grupo Wagner vê-se obrigado a fazer uma gestão mais cautelosa dos seus ativos. "Para o major-general Isidro de Morais Pereira, os 15 mil homens que o grupo Wagner dispõe podem não ser sequer suficientes para manter os ganhos na cidade, particularmente enquanto as tropas ucranianas continuam a avançar nos flancos da cidade, podendo mesmo acabar por cercar os homens que defendem o seu interior.

Na última semana, a Ucrânia lançou com sucesso uma série de contra-ataques contra as posições russas ocupadas nos arredores da cidade, a Norte e a Sul, que começam a ameaçar os soldados russos que se encontram no interior das ruínas desta cidade. Para o major-general, este pode ser o verdadeiro motivo pelo qual Prigozhin terá de recuar.

“Bakhmut está praticamente tomada pelas forças do grupo Wagner, mas os mercenários não têm potencial para aguentar o terreno que conquistaram. As perdas dos combates foram tremendas e o grupo ficou reduzido a uma pequena fração daquilo que era no início dos combates”, insiste o especialista militar.

Ambições maiores que a Ucrânia

O empresário russo anunciou o plano de criar posições defensivas no interior da cidade e de, entre o dia 25 de maio e 1 de junho, transferir a defesa dessas posições para o exército russo. Mas estas operações não são fáceis de executar e podem criar sérios riscos para as tropas regulares das Forças Armadas russas, aumentando as tensões numa relação muito difícil entre o líder dos mercenários e as mais altas patentes militares do Kremlin. No auge dos combates por Bakhmut, Prigozhin criticou diretamente o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o líder das forças armadas russas, Valery Gerasimov, acusando-os de ser responsáveis pela morte dos seus homens ao não enviarem as munições de artilharia necessárias e chegou mesmo a ameaçar retirar-se da frente de combate. Para os especialistas, este tipo de declarações só são possíveis com a conivência do presidente russo, Vladimir Putin, que poderá ver alguns benefícios em “dividir para reinar”.

“Este tipo de situações protagonizadas por Prigozhin são impensáveis na Rússia atual, onde se prendem cidadãos por dizer que decorre uma guerra. Acredito que estas declarações são incentivadas pelo presidente russo. Ele não poderia repetir essas afirmações se não tivesse ordens claras para o fazer”, afirma o historiador António José Telo.

De acordo com o Institute for the Study of War (ISW), uma organização que estuda assuntos ligados à Defesa, o líder do grupo Wagner está a utilizar esta guerra para se tornar numa figura política proeminente na Ucrânia. A verdade é que esta campanha em Bakhmut valeu a Prigozhin o estatuto de herói na Rússia e essa popularidade pode transformar-se em poder político. Aos olhos das alas mais ultranacionalistas russas, o Grupo Wagner mostrou-se mais competente em conquistar território à Ucrânia do que o exército regular russo e, por isso, Prigozhin começa a ser cada vez mais uma “alternativa credível ao poder”.

Além disso, o empresário russo conta com o controlo de uma vasta rede de bloggers militares com milhões de seguidores no Telegram, que propagam e ampliam as conquistas dos mercenários e do seu líder. Esta combinação, torna-o bastante incómodo para a chefia militar russa, particularmente para o ministro da Defesa, Serguei Shoigu.

“Prigozhin encarna um tipo de herói que agrada à população russa. É patriota, desafia a autoridade instalada, mas sem deixar de ser um russo que cumpre os seus deveres patrióticos. Ele também controla uma parte significativa dos bloggers militares e essa proeminência faz com que a sua imprensa seja uma boa imprensa. Tudo isto faz com que possa ser um incómodo do ponto de vista político”, afirma Diana Soller, professora e investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade NOVA de Lisboa.

Regresso a "oportunidades mais lucrativas"

Na sua essência, Yevgeny Prigozhin é um empresário e o grupo Wagner é uma ferramenta para fazer dinheiro. Isidro de Morais Pereira reforça que, apesar das perdas humanas, o líder dos mercenários é agora um homem "cada vez mais rico". Mas, ao mesmo tempo, enfraqueceu o dispositivo mercenário em alguns países onde tinha operações montadas. O perigo que este apresenta para as chefias militares russas pode fazer com que Prigozhin se veja obrigado a focar os seus esforços noutros locais, onde já fez muito dinheiro. Os especialistas apontam que o futuro do grupo de mercenários pode voltar a passar por um foco em regiões como a República Centro Africana, Líbia, Sudão, Síria ou o Mali, onde “a orquestra” tem uma parte muito significativa das suas operações.

Antes do conflito na Ucrânia, o grupo foi utilizado pelo Kremlin para fortalecer as relações russas com regimes autoritários em muitos países africanos a troco de concessões de explorações de recursos naturais, como minas de ouro, diamantes, entre outros. E o futuro do “chefe de Putin”, alcunha que ganhou quando montou um lucrativo negócio de catering com o Kremlin, pode mesmo ficar restrito a esses países até conseguir recuperar da longa batalha de Bakhmut.

“Podemos vê-lo desaparecer por razões políticas ou por razões financeiras, para se dedicar a países que lhe possam trazer o lucro que ele procura”, frisa Diana Soller.

sábado, 29 de julho de 2023

Prigozhin celebra golpe no Níger e diz que grupo Wagner pode dar uma ajuda

Yevgeny Prigozhin em São Peterburgo em julho de 2023 Imagem Orchestra_W Telegram

Por CNN,  29/07/23

O fundador e financiador do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, foi visto em São Petersburgo, na Rússia, na quinta-feira, de acordo com contas nas redes sociais associadas ao grupo mercenário. (Imagem Orchestra_W/Telegram)

Enquanto a comunidade internacional, incluindo muitos Estados africanos, condenou o golpe de Estado no Níger, o líder mercenário russo Yevgeny Prigozhin tem a sua própria opinião.

Numa longa mensagem publicada nas redes sociais, Prigozhin atribuiu a situação no Níger ao legado do colonialismo e alegou, sem provas, que as nações ocidentais estavam a patrocinar grupos terroristas no país. O Níger foi em tempos uma colónia francesa e, antes do golpe de Estado desta semana, era uma das poucas democracias da região.

Prigozhin parece ainda estar em liberdade, apesar de em junho ter liderado uma rebelião armada contra o Kremlin.

A revolta de curta duração terminou quando Prigozhin e as suas tropas concordaram em ir para a Bielorrússia, mas o líder da milícia foi visto em São Petersburgo na quinta-feira, reunido com um dignitário africano à margem de uma cimeira entre nações africanas e a Rússia.

A missiva de Prigozhin era também uma espécie de proposta de negócio. Dizia que a sua empresa militar privada, o Grupo Wagner, é capaz de lidar com situações como a que se está a passar em Niamey, a capital nigeriana. Centenas de contratados da Wagner estão no vizinho Mali, a convite da junta militar do país, para enfrentar uma insurreição islamista que é mais forte na área onde as fronteiras do Mali, Burkina Faso e Níger se encontram.

“O que aconteceu no Níger está a ser preparado há anos”, disse Prigozhin. “Os antigos colonizadores estão a tentar manter os povos dos países africanos sob controlo. Para os manter sob controlo, os antigos colonizadores estão a encher esses países de terroristas e de várias formações de bandidos. Criando assim uma crise de segurança colossal”.

Prigozhin continuou depois com o seu típico discurso de vendedor.

“A população sofre. E esta é a razão do amor pela PMC (empresa militar privada) Wagner, esta é a alta eficiência da PMC Wagner. Porque mil soldados da PMC Wagner são capazes de estabelecer a ordem e destruir terroristas, impedindo-os de prejudicar a população pacífica dos Estados”, afirmou.

Várias investigações da CNN e outras de grupos de defesa dos direitos humanos revelaram o envolvimento e a cumplicidade do grupo Wagner em atrocidades contra populações civis no Sudão, no Mali e na República Centro-Africana, onde os mercenários foram utilizados para ajudar as forças de defesa locais contra rebeliões e insurreições e suprimir a oposição.

Os comentários de Prigozhin na sexta-feira foram contrários à opinião do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, que apelou à “libertação imediata” do Presidente Mohamed Bazoum pelos militares.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

O líder do grupo paramilitar Wagner convocou hoje uma revolta contra o alto comando militar da Rússia, garantindo que tem 25.000 soldados e convocando os russos a juntarem-se a estes numa "marcha pela justiça".

© Mikhail Svetlov/Getty Images

POR LUSA  23/06/23 

 Prigozhin nega "golpe militar" e convida russos para marcha "por justiça"

O líder do grupo paramilitar Wagner convocou hoje uma revolta contra o alto comando militar da Rússia, garantindo que tem 25.000 soldados e convocando os russos a juntarem-se a estes numa "marcha pela justiça".

"Somos 25.000 e vamos determinar por que é que reina o caos no país (...) As nossas reservas estratégicas são todo o exército e todo o país", frisou Yevgeny Prigozhin numa mensagem de áudio, instando "quem se quiser juntar" para "acabar com a confusão".

No entanto, Prigozhin defendeu-se de qualquer "golpe militar", alegando estar a liderar uma "marcha por justiça".

"Este não é um golpe militar, mas uma marcha pela justiça, as nossas ações não atrapalham as Forças Armadas", assegurou, numa mensagem de áudio.

Prigozhin acusou hoje o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.

"Realizaram ataques, ataques com mísseis, na retaguarda dos nossos acampamentos. Um número muito grande dos nossos combatentes foi morto", sublinhou Yevgeny Prigozhin numa mensagem de áudio transmitida pelo seu serviço de imprensa.

A mensagem de Prigozhin foi acompanhada por vídeo com cerca de um minuto, onde se vê uma floresta destruída, alguns focos de incêndio e pelo menos o corpo de um militar.

O Exército russo negou de imediato a realização de ataques contra acampamentos do grupo Wagner.

"As mensagens e vídeos publicados nas redes sociais por Prigozhin sobre alegados 'ataques do Ministério da Defesa da Rússia nas bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner' não correspondem à realidade e são uma provocação", referiu o governo russo em comunicado.

Numa outra reação, o líder do Wagner afirmou que as chefias do grupo decidiram que era preciso parar aqueles que têm "responsabilidade militar pelo país".

"Aqueles que resistirem a isso serão considerados uma ameaça e destruídos imediatamente", acrescentou Prigojine, prometendo "responder" aos alegados ataques.

Estas fortes acusações de Prigozhin expõem as profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.

O líder do grupo Wagner tinha referido antes que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporijia, respetivamente, contradizendo as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kyiv era um fracasso.

Prigozhin disse que o mesmo está a acontecer em Bakhmut, onde as forças ucranianas estão a penetrar nas defesas russas.

Os comentários de Prigozhin, que não podem ser verificados de forma independente, contradizem o Presidente russo, Vladimir Putin, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que afirmaram que o exército estava a repelir todos os ataques ucranianos.


Leia Também: Prigozhin acusa Exército russo de atacar mercenários. Moscovo nega

quinta-feira, 1 de junho de 2023

YEVGENY PRIGOZHIN: Bakhmut? "Liderada por palhaços que transformam pessoas em carne"

© Mikhail Svetlov/Getty Images

Notícias ao Minuto   01/06/23 

Ao celebrar o seu 62.º aniversário, esta quinta-feira, num campo de treino, o líder do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, também confirmou que os seus homens iriam finalmente deixar a cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.

O líder do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, referiu que as suas forças continuariam a lutar na Ucrânia se os seus homens conseguissem uma secção separada da frente sem terem de depender dos "palhaços" que dirigem grande parte das forças armadas russas.

Ao celebrar o seu 62.º aniversário, esta quinta-feira, num campo de treino, Prigozhin também confirmou que os seus homens iriam finalmente deixar a cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, a 5 de junho, depois de a terem entregue ao exército russo.

"Se toda a cadeia (de comando) falhar a 100% e só for liderada por palhaços que transformam pessoas em carne, então não participaremos nela", referiu Prigozhin, citado pela Reuters.

"É bonito, não é?", questionou aos jornalistas russos com um sorriso, olhando para um céu noturno iluminado por explosões e clarões vermelhos em resultado de ataques.

De seguida, descreveu detalhadamente as próteses de pernas que os seus homens feridos receberam, incluindo os que continuaram a combater.

Prigozhin salientou ainda que os seus homens queriam descansar em campos na Ucrânia controlada pela Rússia durante cerca de um mês e que depois as coisas ficariam mais claras. "Foi um ano difícil. Depois veremos como correm as coisas", afirmou.

O líder do grupo russo ganhou notoriedade durante os 15 meses de guerra na Ucrânia e tem insultado regularmente as altas patentes militares do presidente Vladimir Putin, em especial o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, pelo seu desempenho. Nem Shoigu nem Gerasimov responderam aos seus insultos em público.

Prigozhin, que na semana passada afincou que a sua alcunha deveria ser "carniceiro de Putin" em vez de "chefe de cozinha de Putin", afirmou, na quarta-feira, que tinha pedido aos procuradores para investigarem se os altos responsáveis da Defesa russa tinham cometido algum "crime" antes ou durante a guerra na Ucrânia.


sábado, 24 de junho de 2023

"Ninguém se vai entregar a pedido do presidente", responde Prigozhin... Líder do Grupo Wagner dirigiu-se diretamente a Vladimir Putin.

© Press service of "Concord"/Handout via REUTERS

Notícias ao Minuto   24/06/23 

Os combatentes do grupo Wagner estão "prontos para morrer", afirmou, este sábado, Yevgeny Prigozhin, que assegurou que "ninguém se vai entregar a pedido do presidente" da Rússia, Vladimir Putin.

Numa mensagem divulgada na rede social Telegram, o líder do grupo Wagner mostrou firmeza na rebelião em curso no país.

"Estamos todos prontos para morrer. Todos os 25.000 e depois outros 25.000", disse Yevgeny Prigozhin. "Estamos a morrer pelo povo russo", acrescentou.

Mais tarde, numa mensagem de áudio citada pelo The Guardian, Prigozhin comentou o discurso de Vladimir Putin, naquela que foi a primeira vez que se dirigiu diretamente ao presidente russo.

O líder do grupo Wagner disse que Putin "estava profundamente enganado" ao acusá-lo de traição. "Ninguém se vai entregar a pedido do presidente... Não queremos que o país continue a viver na corrupção e na mentira", afirmou.

"Somos patriotas e aqueles que estão contra nós são os que se reuniram em torno dos bastardos", rematou.

Recorde-se que o presidente russo, Vladimir Putin, classificou hoje de "traição" a rebelião armada promovida pelo líder do grupo paramilitar Wagner, prometendo "defender o povo" e a Rússia.

"Aquele que organizou e preparou a rebelião militar traiu a Rússia e vai responder por isso", declarou Putin.

De realçar que Yevgeny Prigozhin apelou na sexta-feira a uma rebelião contra o comando militar da Rússia, que acusou de atacar os seus combatentes.

Hoje de manhã, Prigozhin anunciou que o grupo paramilitar controla as instalações militares e o aeródromo de Rostov, uma cidade-chave para o ataque da Rússia à Ucrânia.

O líder do grupo paramilitar Wagner disse ter 25.000 soldados às suas ordens e prontos para morrer, instando os russos a juntarem-se a estes numa "marcha pela justiça".

Prigozhin acusara antes o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.


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quinta-feira, 24 de agosto de 2023

"Era um homem de negócios talentoso": Putin quebra silêncio sobre Prigozhin e envia condolências às famílias

Vladimir Putin e Yevgeny Prigozhin (AP) 

Por  cnnportugal.iol.pt    24/08/23

Sem nunca confirmar que o líder do grupo Wagner morreu, o Presidente russo referiu-se ao passado de Prigozhin e disse que "informações preliminares sugerem que elementos do grupo Wagner também estavam a bordo" de um avião que caiu e que tinha Prigozhin na lista de passageiros

O presidente russo, Vladimir Putin, quebrou esta quinta-feira o silêncio sobre a suposta morte de Prigozhin. Putin destacou que o líder do grupo Wagner "era um homem de negócios talentoso". 

Em declarações citadas pela Agência Reuters, Putin envia condolências à família de Yevgeny Prigozhin, que, sublinha, “conhecia desde os anos 90”. “Em primeiro lugar, quero expressar as minhas mais sinceras condolências às famílias de todas as vítimas desta tragédia”, disse.

“Informações preliminares sugerem que elementos do grupo Wagner também estavam a bordo”, acrescentou, numa reunião com o líder local da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, no Kremlin.

O presidente russo destacou ainda a importância do trabalho do grupo Wagner na guerra da Ucrânia: “Gostava de destacar que estas pessoas tiveram um importante contributo na nossa causa, a luta contra o regime neonazi.”

Sobre o acidente do avião que tinha o nome de Yevgeny Prigozhin entre a lista de passageiros, Putin diz que os peritos vão ter tempo para investigar e que “se verá o que a investigação diz”.


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quarta-feira, 19 de julho de 2023

Prigozhin volta a aparecer? "Bem-vindos a solo bielorrusso, rapazes!"

© Reprodução Twitter

Notícias ao Minuto   19/07/23 

O fundador do Grupo Wagner parece surgir num vídeo divulgado esta quarta-feira a dar as boas-vindas aos seus combatentes Wagner, no que será a primeira vez que Prigozhin é visto em público desde que, juntamente com os seus mercenários, liderou uma rebelião armada na Rússia no mês passado.

O fundador do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, parece surgir num vídeo divulgado esta quarta-feira a dar as boas-vindas aos seus combatentes Wagner na Bielorrússia e dizendo-lhes que não vão participar mais na guerra na Ucrânia.

Embora a Reuters não tenha conseguido verificar imediatamente a autenticidade do vídeo, se confirmado, será a primeira vez que Prigozhin é visto em público desde que, juntamente com os seus mercenários, liderou uma rebelião armada na Rússia no mês passado.

No vídeo, um homem cuja voz e aparência se assemelham a Prigozhin é ouvido a dar as boas-vindas aos seus combatentes. 

"Bem-vindos, rapazes! Estou feliz em cumprimentar-vos a todos. Bem-vindos a solo bielorrusso! Lutamos com dignidade! Fizemos muito pela Rússia", refere quem parece ser Prigozhin, numa gravação que foi publicada em canais pró-Wagner no Telegram e depois partilhada na conta do próprio Prigozhin. 

No vídeo, o líder do grupo Wagner parece repetir as suas críticas ao planeamento e execução de operações militares do Ministério da Defesa da Rússia na Ucrânia: "Lutámos com honra. Você fizeram muito pela Rússia. O que está a acontecer na linha da frente é uma vergonha na qual não precisamos nos envolver", frisou.

Prigozhin pediu ainda ao seus combatentes para se comportarem bem com os habitantes locais e ordena que treinem o exército bielorrusso e reúnam forças para uma "nova jornada em África".

"E talvez voltemos à SMO [operação militar especial na Ucrânia] em algum momento, quando tivermos certeza de que não seremos forçados a nos envergonhar", acrescentou.

Recorde-se que o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, avançou, no mês passado, com uma rebelião na Rússia, que acabou por suspender menos de 24 horas depois, após ter feito um acordo mediado por Lukashenko, o presidente da Bielorrússia.

Prigozhin acusara antes o exército russo de atacar acampamentos dos seus mercenários, provocando "um número muito grande de vítimas". As acusações foram negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Veja o vídeo acima.


sábado, 3 de junho de 2023

GUERRA NA UCRÂNIA: Líder do Grupo Wagner acusa fações do Kremlin de destruírem Estado russo

© Getty Images

Notícias ao Minuto   03/06/23 

"Algumas torres do Kremlin decidiram fazer jogos perigosos", acusou Yevgeny Prigozhin, referindo-se a determinadas fações internas da liderança russa.

O líder dos mercenários russos, Yevgeny Prigozhin, acusou este sábado as diferentes fações do Kremlin de estarem a destruir o Estado russo, ao tentarem semear a discórdia entre ele e os combatentes tchetchenos, reporta a Reuters. Nas suas palavras, tal disputa já foi resolvida, embora as lutas internas na liderança russa tenham aberto uma "Caixa de Pandora".

O chefe máximo do Grupo Wagner começou por explicar que uma disputa entre os mercenários e as forças tchetchenas, que também lutam ao lado do exército russo na Ucrânia, tinha sido culpa de algumas fações não identificadas do Kremlin - a que decidiu chamar "torres" na sua argumentação. 

O esquema ficou, a certo ponto, tão fora de controlo que o presidente russo, Vladimir Putin, foi obrigado a repreender essas mesmas fações numa reunião recente do Conselho de Segurança, disse ainda Yevgeny Prigozhin.

"A Caixa de Pandora já está aberta - e não fomos nós que a abrimos", elaborou o líder dos mercenários, numa mensagem divulgada pela sua assessoria de imprensa, aqui citada pela Reuters. E acrescenta: "Algumas torres do Kremlin decidiram fazer jogos perigosos".

"Os jogos perigosos tornaram-se comuns nas torres do Kremlin... Estão simplesmente a destruir o Estado russo", referiu ainda Yevgeny Prigozhin, que não deixou claro sobre quais fações fazia referência. Porém, se continuassem a tentar semear a discórdia, teriam "um inferno para pagar".

O Kremlin não fez, até ao momento, qualquer comentário a estas declarações. Porém, a reunião do Conselho de Segurança de sexta-feira tinha sido, de facto, dedicada ao que se diziam ser as relações "interétnicas" dentro do país.

Prigozhin afirmou ainda que qualquer batalha entre as forças especiais Akhmat, lideradas pelo tchecheno Ramzan Kadyrov, e entre o Grupo Wagner resultaria num intenso derramamento de sangue, mas que não havia dúvidas sobre quem venceria.

Recorde-se que o líder destes mercenários é, também ele, membro do círculo mais alargado do presidente Vladimir Putin, tendo ganho uma maior notoriedade com a guerra na Ucrânia, que continua sem fim à vista.


sábado, 25 de março de 2023

YEVGENY PRIGOZHIN: Rússia perdoa 5 mil prisioneiros que combateram no grupo Wagner

© Getty Images

 POR LUSA  25/03/23 

Mais de 5.000 prisioneiros russos foram perdoados pelos tribunais, depois de terem lutado como mercenários na Ucrânia, admitiu hoje Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo Wagner.

Os presos foram perdoados, assim que os seus contratos de seis meses terminaram, afirmou Yevgeny Prigozhin, numa mensagem colocada no Telegram.

O responsável indicou que apenas 0,31%, daqueles que foram libertados após cumprirem o seu contrato, cometeram crimes ao regressar à Rússia.

"Posso dizer com segurança que reduzimos dez vezes as taxas de criminalidade na Rússia", sublinhou.

Ao justificar o recrutamento nas prisões russas, Prigozhin respondeu aos críticos que é melhor para mercenários ou condenados lutar na Ucrânia, "do que os seus filhos".

No início de fevereiro, Yevgeny Prigozhin anunciou que a sua companhia militar tinha parado de recrutar condenados, que, segundo outras fontes, foram perdoados pelo Kremlin antes de chegarem à frente.

O grupo Wagner teria recrutado cerca de 50.000 prisioneiros russos desde o início da guerra na Ucrânia, de acordo com a organização que zela pelos direitos dos prisioneiros, Rus Siadiaschi.

Segundo a ativista Olga Románova, no início do ano, restavam apenas cerca de 10.000 antigos prisioneiros na Ucrânia, já que os demais morreram, desapareceram, desertaram ou foram presos.

Recentemente, especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) alertaram que o recrutamento de prisioneiros, que ocorreria também em prisões localizadas nos territórios ocupados por tropas russas na Ucrânia, poderia constituir um crime de guerra.

Os especialistas da ONU asseguraram que estes recrutas das prisões sofreram frequentes ameaças e maus-tratos, por parte dos seus superiores, alguns deles publicamente como advertência aos seus colegas, enquanto outros que tentaram desertar foram executados.

O Estado-Maior ucraniano denunciou, em meados deste mês, que a Rússia enviou um comboio cheio de prisioneiros comuns aos territórios que controla na região de Donetsk para compensar as numerosas baixas sofridas no assalto à "fortaleza de Bakhmut".


Leia Também:

Francisco Pereira Coutinho, da Nova School of Law, esteve este sábado em direto na CNN Portugal. Em análise, estiveram os últimos acontecimentos na guerra da Ucrânia, sobretudo, a iminente queda de Bakhmut que se tem vindo a prolongar no tempo e como parece estar a haver cada vez mais fricções entre as forças russas.


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sexta-feira, 23 de junho de 2023

O líder do grupo paramilitar Wagner acusou hoje o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.

© Mikhail Svetlov/Getty Images

POR LUSA   23/06/23 

 Prigozhin acusa Exército russo de atacar mercenários. Moscovo nega

O líder do grupo paramilitar Wagner acusou hoje o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.

"Realizaram ataques, ataques com mísseis, na retaguarda dos nossos acampamentos. Um número muito grande dos nossos combatentes foi morto", sublinhou Yevgeny Prigozhin numa mensagem de áudio transmitida pelo seu serviço de imprensa.

Prigozhin garantiu ainda que irá retaliar por estes ataques que, de acordo com o líder do grupo Wagner, foram ordenados pelo ministro da Defesa russo.

A mensagem de Yevgeny Prigozhin foi acompanhada por vídeo com cerca de um minuto, onde se vê uma floresta destruída, alguns focos de incêndio e pelo menos o corpo de um militar.

O Exército russo já negou a realização de ataques contra acampamentos do grupo Wagner.

"As mensagens e vídeos publicados nas redes sociais por Prigozhin sobre alegados 'ataques do Ministério da Defesa da Rússia nas bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner' não correspondem à realidade e são uma provocação", referiu o governo russo em comunicado.

Estas fortes acusações de Prigozhin expõem as profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.

O líder do grupo Wagner tinha referido hoje que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporijia, respetivamente, contradizendo as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kyiv era um fracasso.

Prigozhin disse que o mesmo está a acontecer em Bakhmut, onde as forças ucranianas estão a penetrar nas defesas russas.

"Não há controlo, não há sucessos militares" por parte de Moscovo, declarou Prigozhin, afirmando que os militares russos estavam a "lavar-se no seu próprio sangue", uma forma de dizer que estavam a sofrer pesadas perdas.

Os comentários de Prigozhin, que não podem ser verificados de forma independente, contradizem o Presidente russo, Vladimir Putin, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que afirmaram que o exército estava a repelir todos os ataques ucranianos.

Nos últimos dias, Putin tem repetido que a contraofensiva ucraniana estava a ser um fracasso e que as forças de Kyiv sofreram perdas quase catastróficas.

Na quinta-feira, Shoigu disse que o exército ucraniano estava a reagrupar-se, depois de não ter conseguido romper as defesas russas.

Prigozhin descreveu as declarações vitoriosas do Ministério da Defesa em Moscovo como um "profundo engano" e acusou o Estado-Maior de esconder as dificuldades e as perdas russas no terreno.


Leia Também: O ex-presidente e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, afirmou, que se estivéssemos no século XVIII, o presidente da Polónia, Andrzej Duda, seria "severamente executado por esquartejamento" por ter referido que a Rússia deve ser "abatida" por ser como um "animal selvagem".

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Afinal, líder do Grupo Wagner não está na Bielorrússia (e nem Lukashenko sabe do seu paradeiro)

Yevgeny Prigozhin (AP)

Por cnnportugal.iol.pt   06/07/23 

Há uma semana, o presidente bielorrusso informou que o líder do Grupo Wagner tinha sido transferido para Minsk. Esta quarta-feira, Alexander Lukashenko já não tem certezas sobre o paradeiro de Yevgeny Prigozhin

Afinal, o líder do Grupo Wagner não está na Bielorrússia, tal como havia sido indicado há uma semana pelo presidente bielorruso, Alexander Lukashenko, na sequência da rebelião dos mercenários. 

Esta quarta-feira, Alexander Lukashenko surpreendeu os jornalistas numa conferência de imprensa, em Minsk, quando sugeriu que Yevgney Prigozhin poderia estar na Rússia. Questionado sobre o paradeiro dos mercenários, o presidente bielorrusso indicou que os combatentes do Grupo Wagner estão nos seus "acampamentos regulares", sugerindo que os mesmos não estão na Bielorrússia.

"Em relação a Yevgeny Prigozhin, ele está em São Petersburgo. Ou talvez esta manhã ele esteja a viajar para Moscovo ou outro destino. Mas agora não está no território da Bielorrússia", informou, citado pela CNN Internacional.

De acordo com Lukashenko, a Bielorrússia disponibilizou-se para acolher os mercenários em "antigos campos militares que foram usados ​​nos tempos soviéticos, incluindo perto de Osipovichi". "Se eles concordarem", ressalvou.

"Mas o Grupo Wagner tem uma visão diferente para a sua colocação", assinalou, citado pela agência de notícias russa TASS, sem dar mais detalhes sobre esta discrepância de visões, acrescentando apenas que o assunto da recolocação dos mercenários russos ainda não está resolvida.

Perante a insistência dos jornalistas, Lukashenko limitou-se a dizer que o paradeiro dos mercenários do Grupo Wagner não é uma questão que lhe diga respeito, uma vez que se trata de uma "companhia russa".

As declarações de Lukashenko são ambíguas, não sendo possível perceber se o líder do Grupo Wagner chegou a ir para a Bielorrússia, tal como anunciado no passado dia 27 de junho, ou se ainda se encontra na Rússia após a rebelião armada dos mercenários russos em Moscovo. Mas o presidente bielorrusso deu uma certeza aos jornalistas: Prigozhin está "absolutamente livre".

Questionado sobre as armas nucleares táticas implantadas pela Rússia em Minsk, Lukashenko assegurou aos jornalistas que estas armas só foram instaladas com "propósitos defensivos", mas voltou a ameaçar o Ocidente com uma "resposta imediata" em caso de "agressão".

"Não vamos atacar ninguém com armas nucleares. Desde que não nos toquem, esqueçam as armas nucleares. Mas se cometerem uma agressão, a resposta será imediata. Os alvos já foram determinados", ameaçou, citado pela Reuters.

Entretanto, o Kremlin já reagiu às declarações de Lukashenko, assegurando que não está a rastrear os movimentos do líder do Grupo Wagner.

"Nós não seguimos os seus movimentos. Não temos nem a capacidade, nem o desejo de o fazer", frisou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela agência RIA Novosti.

Peskov respondeu ainda ao interesse manifestado por Lukashenko para se encontrar com os responsáveis russos de modo a resolver o "tópico Wagner", adiantando que ainda não há qualquer reunião marcada nesse sentido.


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