segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Líder do PAIGC acusa Presidente guineense de facilitar narcotráfico

Em entrevista exclusiva à DW, Simões Pereira diz que "não é completamente inocente" a nova postura do Presidente da Guiné-Bissau de pretender controlar as pescas. E acusa o Governo de fechar os olhos à entrada de droga.

José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira em 2014
O líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) acusou, na Cidade da Praia, o Presidente José Mário Vaz de estar ligado ao negócio do narcotráfico na Guiné-Bissau. "Não sou eu que estou a dizer, há organizações da sociedade civil que apresentaram elementos sobre isso", disse à DW África Domingos Simões Pereira.

E essas organizações "têm relatórios objectivos a demonstrar na Guiné-Bissau quem é quem e quem é que está ligado a essas práticas menos corretas", argumenta o antigo primeiro-ministro, que esteve na capital cabo-verdiana no último fim de semana para o XV Congresso do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).

"Eu penso que não é completamente inocente esta nova postura do Presidente da República em pretender controlar as pescas", afirmou ainda o presidente do PAIGC, partido vencedor das últimas eleições na Guiné-Bissau, mas arredado do poder.

Arquipélago dos Bijagós
"É através das pescas e através das unidades marítimas que tentamos fazer o controlo das águas territoriais guineenses em relação ao arquipélago dos Bijagós. Quando um só homem tenta chamar a si toda esta responsabilidade, ele não está a pretender que o povo compreenda o que acontece, ele está a esconder algo do povo", acrescentou.

Em declarações à DW África, Domingos Simões Pereira também acusou o Governo de Umaro Sissoko Embaló de estar a facilitar a entrada de droga no país. "Se telefonar, alguém em Bissau vai dizer-lhe que na placa do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira está estacionado um avião que é utilizado pelo Governo da Guiné-Bissau de forma indiscriminada que não passa pelos circuitos normais de controlo, que ninguém escrutina o que leva e o que recebe", afirma.

Acordo de Conacri por cumprir

Na semana passada, o presidente da Comissão da Comunidade Econômica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO), Marcel de Souza, pediu os dirigentes políticos da Guiné-Bissau que respeitem o Acordo de Conacri para estabilizar o país e reacendeu a questão sobre os três nomes então falados e no consenso à volta de Augusto Olivais.

"Obtivemos em Conacri uma lista de três nomes para a chefia do Governo e o consenso que conseguimos foi por Augusto Olivais, mas foi Umaro Sissoko que foi nomeado", lembrou Marcel de Souza.

Domingos Simões Pereira diz que este reconhecimento público peca pela demora: "O único lamento que tenho é que tenha levado tanto tempo para o presidente da Comissão da CEDEAO tornar público aquilo que todos nós sabíamos desde outubro de 2016".

O presidente do PAIGC afirma ainda que o Governo de Umaro Sissoko Embaló está em situação de ilegalidade, por não ter conseguido a discussão e aprovação no Parlamento do seu programa e do Orçamento Geral do Estado. "Ouvi há dia o Presidente a dizer que ele não pode sancionar o Governo, porque é a Assembleia Nacional Popular que não convoca a sessão para se poder aprovar o programa. É mais uma tentativa de forçar a barra jogando contra tudo e todos e um pontapé na nossa Constituição", critica.

Ilhas em troca de cooperação

Segundo Domingos Simões Pereira, José Mário Vaz também quis oferecer ilhas da Guiné-Bissau ao Rei de Marrocos e ao ex-chefe de Estado português Aníbal Cavaco Silva.

"Isto não aconteceu só com o Rei de Marrocos. Quando se começou a falar de uma provável visita do então Presidente de Portugal, Cavaco Silva, foi o primeiro momento em que me abordou, dizendo que se nós oferecêssemos uma ilha ao Presidente Cavaco Silva nós ganhávamos um nível de proximidade e de cooperação", conta.

A crise política na Guiné-Bissau começou em agosto de 2015 quando o Presidente José Mário Vaz demitiu o primeiro-ministro eleito Domingos Simões Pereira. Desde então já houve mais quatro governos, mas nenhum conseguiu a aprovação do Parlamento.

DW

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