A Rede Nacional das Associações de Pessoas com HIV na Guiné-Bissau (Renap), denunciou nesta sexta-feira (09.11.), que há cerca de quatro meses que se assiste a uma rotura no fornecimento de antirretrovirais aos infetados. O Governo guineense não tem recursos financeiros para pagar o transporte do medicamento do Brasil para a Guiné-Bissau.
Em declarações à DW África, a presidente da rede, Maria de Lopes Machado, disse que há cerca de quatro meses que várias pessoas com o vírus HIV não estão a receber medicamentos devido "à incapacidade do Governo guineense de pagar o transporte dos medicamentos fornecidos pelas autoridades brasileiras". De acordo com Lopes Machado, o cenário é preocupante e deita por terra todos os esforços que as associações têm desenvolvido.
"Até então não nos dizem nada e ficamos em stand by. É preocupante porque as pessoas devem tomar medicamentos todos os dias e agora estão há quatros meses sem medicar-se. É uma situação muito complicada. Haverá casos críticos e de mortes, porque o virus vai aumentar a resistência e não sei como vamos fazer com essas pessoas”, destacou a presidente da Renap.
SIDA: Dístico colocado sobre a
estátua Maria da Fonte, na rotunda
do Império, praça dos Heróis
Nacionais, em Bissau.
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Para a Maria de Lopes Machado, líder da rede que congrega 15 associações de pessoas infetadas com o HIV e seus familiares, o Governo guineense é o principal responsável pela falta de medicamentos antirretrovirais no país, tendo sublinhado que o problema maior está com as pessoas com o virus HIV2, cuja a taxa de prevalência é maior na Guiné-Bissau.
Se não houver uma solução para breve, a Renap vai realizar manifestações pelas ruas de Bissau com marchas e vigílias e até poderá decidir que os seus membros não votem nas próximas eleições legislativas para precisamente mostrar o descontentamento pela forma como os direitos dos seropositivos estão a ser violados pelo Governo guineense.
"Essas pessoas com o vírus HIV, direta ou indiretamente dão contribuições a vários níveis para o desenvolvimento da Guiné-Bissau e portanto os seus direitos devem ser respeitados. Se não houver medicamentos no país, vamos levar as pessoas para as ruas, vamos fazer vigílias até que os seus direitos sejam respeitados, porque não é normal que continuem a sofrer”.
Segundo, a presidente da Renap, se as organizações internacionais pararem de financiar os projetos de luta contra o HIV , todos os doentes de Sida vão morrer na Guiné-Bissau.
Há dois fatores na origem da rotura
Entretanto, o responsável programático para o HIV do ministério guineense da Saúde, David da Silva Té, entidade governamental que coordena todas as atividades, confirmou à DW África que a rotura de stocks dos medicamentos para os doentes seropositivos se deve, por um lado, à insuficiência de recursos financeiros para transportar medicamentos do Brasil para Guiné-Bissau e, por outro, pelo aumento de mais de mil novos infetados no primeiro semestre do corrente ano, quando as previsões apontavam para a cobertura de 12.000 no período de doze meses.
Centro de tratamento de doentes com VIH Sida em Bissau
"O que acontece é que até meados de junho deste ano, já tínhamos mais de 13.000 pacientes em tratamento. Havia recursos para assegurar o tratamento de 12 000 pacientes até ao final de dezembro de 2018, mas na metade do ano, já tínhamos 13 000, ou seja mil a mais. E nos 12 000 previstos, 15% seria suportado pela doação do Governo brasileiro que cumpriu a sua parte desde o início do ano enquanto as autoridades guineenses não conseguiram disponibilizar dinheiro para pagar o transporte dos medicamentos do Brasil para Bissau”, detalhou à DW África David da Silva. Este acrescenta que o Governo brasileiro já está a envidar esforços no sentido de enviar os medicamentos para Bissau.
Haverá abastecimento na próxima semana
Sobre as previsões para o abastecimento dos medicamentos no país, Divida da Silva disse que uma parte dos antirretrovirais comprados pelo Fundo Mundial já está nos armazéns de Bissau e falta apenas a distribuição que terá lugar na próxima semana.
"Estamos a ter cautela no sentido de quantificar o número exato de pacientes em cada estrutura para distribuir medicamentos de forma equitativa, a fim de evitar que alguns lugares tenham mais ou menos medicamentos do que precisam".
Atualmente o combate ao HIV/SIDA, tuberculose e malária na Guiné-Bissau é apoiado pelo Fundo Mundial da ONU, com um orçamento de 29,6 milhões de euros para um período de três anos.
DW