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POR LUSA 18/03/23
A batalha de Bakhmut, no leste da Ucrânia, dura há mais de sete meses, com baixas estimadas em milhares de soldados de ambos os lados, avanços territoriais insignificantes e desfecho incerto.
Esta é a batalha mais longa e sangrenta desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro do ano passado, e que se intensificou recentemente, após as forças de Moscovo terem perdido Kharkiv, no nordeste do país, e Kherson, no sul, concentrando a sua ofensiva em Bakhmut, na tentativa de conquistar a totalidade da província de Donetsk, ilegalmente anexada em setembro.
Com contínuos combates de grande violência, numa luta de trincheiras já comparada à I Guerra Mundial, as tropas russas têm a cidade praticamente cercada, mas não tomaram o centro, e na região terão apenas conquistado 60 quilómetros quadrados, segundo uma estimativa do projeto de investigação jornalística Grid.
Quanto às forças da Ucrânia, recentemente reforçadas, estão agora a resistir contra ataques do norte, leste e sul e a sua única via de abastecimento situa-se a oeste e sob fogo da artilharia russa.
A importância estratégica de Bakhmut é duvidosa, mas ambas as partes, segundo analistas, continuam apostadas numa campanha de desgaste, antecipando a intensificação das ofensivas ucranianas e russas que são esperadas na primavera.
"É preciso ganhar tempo para construir reservas e lançar uma contraofensiva, que não está longe", disse o chefe das forças terrestres da Ucrânia, Oleksandrem Syrskyi, em comunicado no domingo, embora tenha reconhecido depois que a situação em Bakhmut era difícil.
Do lado russo, Yevgeny Prigozhin, o fundador do Grupo Wagner, que lidera o cerco a Bakhmut, através do Telegram, disse o mesmo, descrevendo um cenário "difícil, muito difícil", em que "o inimigo luta a cada metro", num momento em que esta empresa de mercenários mantém relações tensas com o Estado-Maior e o Ministério da Defesa da Rússia, acusando-os de incompetência ou mesmo de traição por falta de fornecimento de munições de artilharia.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou no domingo que houve mais de 1.100 mortos de militares russos nos dias anteriores, enquanto o Ministério da Defesa da Rússia alegou, na segunda-feira, 220 perdas ucranianos em 24 horas.
Embora a ordem de Kiev seja resistir, vários aliados e analistas entendem que as forças ucranianas deveriam abandonar Bahkmut e concentrar-se na contraofensiva iminente, havendo relatos, segundo o jornal Guardian, de dezenas de vídeos na rede TikTok na semana passada de soldados ucranianos apelando a Zelensky para uma retirada.
Agências de informação ocidentais estimam que a Rússia tenha sofrido entre 20 mil e 30 mil baixas só na batalha de Bakhmut, um número em linha com as autoridades ucranianas, que apontam que 30 mil dos 50 mil soldados do Grupo Wagner, muitos dos quais recrutados em prisões russas, desertaram, foram mortos ou feridos, a grande maioria nesta cidade e arredores.
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, afirmou, por sua vez, na terça-feira, que a Ucrânia perdeu mais de 11 mil soldados em fevereiro, igualmente em Bakhmut e arredores, números que são recusados por autoridades ocidentais, citadas pela BBC.
"A indiferença do regime de Kiev em relação ao seu próprio povo é surpreendente", afirmou Shoigu, no Telegram, numa declaração que pode ser interpretada como uma ironia de devolver o mesmo tipo de acusação à forma como a Rússia usa os seus militares como 'carne para canhão'.
No passado dia 05, o tenente Petro Horbatenko, um combatente ucraniano na batalha de Bakhmut, descreveu ao Wall Street Journal que houve dias em que até 18 vagas de homens das tropas do Grupo Wagner atacaram uma única trincheira num período de 24 horas.
A guerra dos números e respetivas propagandas não permitem certezas, sobretudo pela enorme diferença apontada pelas partes e até analistas.
Mykhailo Podolyak, conselheiro de Zelensky, estimou no início de dezembro que até 13 mil ucranianos foram mortos desde o começo da guerra.
Mas, segundo o projeto Grid, no início de novembro, o chefe do Estado-Maior os EUA, general Mark Milley, calculou que cada lado teve cerca de mais de 100 mil soldados mortos ou feridos. Mais recentemente, em 22 de janeiro, o chefe das Forças Armadas da Noruega, Eirik Kristoffersen, também apontou 100 mil baixas das tropas de Kiev e 180 mil das de Moscovo.
As perdas da Rússia são ainda mais díspares. Na semana passada a Ucrânia indicou 155 mil mortos russos, mas o Kremlin numa atualização distante, em setembro, enumerou apenas 5.937 baixas.
Um relatório da Meduza, um meio de comunicação russo independente, e da filial russa da BBC, confirmou pelo menos 10 mil soldados russos mortos até dezembro do ano passado.
Mais recentemente, um estudo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, estimou que entre 60 mil e 70 mil soldados russos foram mortos entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023.
Estas estimativas, segundo o relatório consultado pela Lusa, incluem soldados russos regulares, Serviço de Segurança Federal e Serviço de Guarda Federal, combatentes de milícias pró-Rússia, como a Milícia do Povo de Donetsk e a Milícia do Povo de Lugansk; e empresas militares privadas como o Grupo Wagner. Somando os feridos e desaparecidos, o número atinge a escala de entre 200 mil e 250 mil.
"A Rússia sofreu mais mortes em combate na Ucrânia no primeiro ano da guerra do que em todas as suas guerras desde a II Guerra Mundial juntas, de acordo com uma nova análise do CSIS da disposição da força e das operações militares das unidades russas e ucranianas", refere o documento.
As baixas russas integram ainda oficiais superiores: 13 generais russos foram mortos, segundo as autoridades ucranianas, enquanto os serviços de informação dos EUA coloca o número entre oito e dez, de acordo com o Grid.
Quanto a equipamentos militares, o projeto Oryx, com sede de Holanda, calcula, na totalidade, 9.628 perdas russas, entre aviões, 'drones', mísseis, peças de artilharia, tanques, viaturas blindadas, de transporte de infantaria ou postos de comando; do total, 6.161 foram destruídos, 280 atingidos, 382 abandonados e 2805 capturados.
O projeto Oryx ganhou destaque internacional desde a invasão russa, contando e acompanhando as perdas materiais com base em provas visuais e informações abertas nas redes sociais e verificáveis.
Do lado ucraniano, são indicadas perdas de equipamentos militares bastante menores, num total de 3.077, dos quais 1.958 destruídos, 156 atingidos, 79 abandonados e 886 capturados.
Também o número de civis mortos é incerto. A estimativa mais recente das Nações Unidas é de mais de 8.100, mas a organização observa constantemente que o número deve ser bastante superior, bem como o cálculo do total de vítimas -- uma combinação de fatalidades e ferimentos -, que são mais de 21 mil.
Antes da guerra, Bakhmut tinha uma população de mais de 70 mil pessoas, e, segundo o Grid, tem hoje menos de cinco mil, sem contar as forças de combate.
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