sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Jovens na Guiné-Bissau lutam para entrar no mercado de trabalho

Fonte: DW.COM  30.10.2020

Na Guiné-Bissau, os jovens apostam na formação para aumentar as possibilidades de encontrar emprego. Mas entrar no mercado de trabalho é muito difícil.

Apesar dos esforços dos jovens que frequentam os centros de formação mesmo em tempos da Covid-19, o mercado de trabalho da Guiné-Bissau não tem praticamente capacidade para absorver todo o capital humano. E até os centros de formação começam a chegar aos seus limites. Mais de 500 pessoas concorreram para 63 lugares de licenciatura em língua portuguesa na Escola de Formação dos Professores "Tchico Té", em Bissau.

"Depois de terminar este curso, quero lecionar pelo menos três, quatro ou cinco anos, e depois ver como fazer outra formação superior", disse à DW África Fransual Cá. Abrão Nanque diz querer apenas o que todo o mundo quer: um emprego que dê para viver. "Espero concluir aqui, entrar no mercado do trabalho, para conseguir ter acesso à vida normal", revela Nanque. Um outro candidato ao estudos, Iancuba Baldé, afirma: "A expetativa é que, quando eu terminar aqui, entro no mercado de trabalho". Mas também Baldé planeia continuar a formar-se após a licenciatura.

Muitos jovens sem acesso ao mercado de trabalho

Há cerca de dez anos, o Estado introduziu uma lei para incentivar a integração de professores, médicos e enfermeiros nas suas fileiras. É por isso que estas áreas se tornaram um "refúgio" para milhares de jovens, até para aqueles que se formam noutras disciplinas. Quem tira um curso na área da saúde ou educação, tem praticamente emprego garantido.

Mas para muitos outros jovens, as portas do mercado de trabalho continuam fechadas. Não há números oficiais atualizados sobre a taxa de desemprego na juventude guineense, mas estima-se que a cifra seja elevada.

Empresários corruptos

A carreira de docente é uma das mais desejadas pelos jovens guineenses

Num mercado de trabalho difícil, como o da Guiné-Bissau, mesmo conseguir um estágio pode ser bastante complicado. Érica Mendes, da organização não governamental ESSOR, que promove a formação e inserção profissional dos jovens, explica que, muitas vezes, as empresas pedem contrapartidas.

"O que acontece muitas das vezes é as empresas perguntarem: estou a inserir este jovem e o que é que vou ganhar como retorno por parte do projeto [da ESSOR] e do próprio Governo? As empresas querem saber o que podem ganhar,” com a contração de jovens.

Por outro lado, segundo Érica Mendes, firmar parcerias com o Estado para integrar os jovens também tem sido complicado, devido à instabilidade política. "Nós já tentámos parcerias com as entidades que trabalham nessa área, como é o caso do Ministério da Função Pública. Mas as quedas e mudanças do Governo não ajudam muito," disse a ativista à DW África.

Inércia do Estado

Em janeiro, o Governo guineense criou a Agência Nacional do Emprego Jovem para acompanhar os recém-formados no ingresso no mercado de trabalho. Entretanto, a agência obteve uma nova designação e chama-se agora Agência de Empreendedorismo Juvenil. A DW África tentou contactar a instituição, sem sucesso.

A inércia das autoridades perante o problema do desemprego jovem preocupa a presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Aissato Forbs Djaló, deixa um aviso: "O Estado tem que levar em consideração que a juventude é o maior grupo populacional do país e uma das suas necessidades é o emprego. Quando o jovem não tem emprego é mais fácil entrar em delinquência, em questão de tabaco, droga e não poder ser útil para o país, mas sim um fardo para a economia."

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